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Íntegra da entrevista de Lula à CBN Vale do Paraíba

Leia a íntegra da entrevista que o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva concedeu à Rádio CBN Vale do Paraíba, na última quarta-feira, 26 de janeiro.

Lula participou do programa CBN Vale 1a edição, apresentado pelo jornalista Fernando Carlos e com participação do repórter Marcelo Rocha e do comentarista Hélcio Costa.

Fernando Carlos: Presidente Luiz Inácio Lula da Silva, pré-candidato do PT à presidência, eleições 2022, que gentilmente atende a reportagem da CBN e vai conversar conosco e também com você da população, você que é morador de São José e toda a região do Vale do Paraíba. Presidente Luiz Inácio Lula da Silva, bom dia, muito obrigado pela atenção aqui com a CBN Vale, presidente.

Luiz Inácio Lula da Silva: Bom dia Fernando Carlos, bom dia Marcelo Rocha, bom dia Élcio Costa, bom dia companheiros da CBN e, certamente, bom dia companheiros e companheiras do Vale do Paraíba! É um prazer imenso estar à disposição de vocês para responder às perguntas que vocês entenderem que devam ser feitas.

Fernando Carlos: Agora, presidente, religião do Vale do Paraíba, em termos de lembranças, de histórias, até mesmo como sindicalista. O que vem na memória do presidente, quando se fala de Vale do Paraíba, presidente?

Luiz Inácio Lula da Silva: Ah, eu fui muitas vezes, Fernando, a São José dos Campos. Eu fui muitas vezes fazer assembleia em porta de fábrica, eu fui muitas vezes fazer comício em São José dos Campos, eu fui muitas vezes em Taubaté, fui muitas vezes em Jacareí, eu fui algumas vezes em Pindamonhangaba também, me veem uma história muito interessante, porque a gente tinha uma relação sindical muito forte em São José dos Campos, quando eu era presidente do Sindicato dos Metalúrgicos. 

A GM, naquele tempo, estava em franco crescimento, geração de empregos, desenvolvimento, eram momentos importantes em que a classe trabalhadora tinha uma capacidade de mobilização muito grande, eram muitas greves… E foi um momento de ouro para os trabalhadores brasileiros, não só do ponto de vista da sua organização, mas do ponto de vista das suas conquistas. Eu fui muitas vezes à Embraer, fui visitar muitas outras fábricas aí em São José dos Campos. 

Eu tenho uma lembrança… fui muito na Volkswagen, em Taubaté… uma relação muito boa com o movimento sindical. Depois, a gente ganhou as primeiras eleições para prefeito em São José dos Campos, com a Ângela. E,  depois, a gente ganhou com o Carlinhos. Faz algum tempo que eu não vou à região do Vale do Paraíba, eu espero que agora, quando terminar o Covid, eu possa voltar a fazer as viagens pelo Vale do Paraíba e, sobretudo, ir a São José dos Campos.

Fernando Carlos: É, e nesse momento é fundamental o resguardo, não é? O distanciamento, a gente tem uma Covid que ainda está matando, ainda é muito preocupante. Mas já que falamos do Vale do Paraíba, presidente, nós temos aí um filho aqui da terra, que é o ex-governador Geraldo Alckmin, nascido em Pindamonhangaba. E temos neste momento uma tratativa entre o Geraldo Alckmin, o PT, para uma possível chapa, com o senhor candidato a presidente e ele como vice. Como é que está essa situação no momento, já tem uma definição, ela vem quando? O Geraldo Alckmin, no seu entender, é a pessoa certa para ser o seu companheiro aí na chapa para as eleições presidenciais, presidente?

Luiz Inácio Lula Da Silva: Olha Fernando Carlos, o problema se a gente vai fazer uma chapa comum depende de dois fatores: depende da minha decisão de ser candidato ou não, que deverá se dar agora no final de fevereiro, no começo de março; e vai depender, obviamente, da filiação do companheiro Alckmin num partido político que faça aliança com o Partido dos Trabalhadores.

Eu tenho dito para todo mundo, companheiro Fernando Carlos, que o problema do Brasil hoje não é ganhar as eleições, o problema do Brasil hoje é ganhar e conseguir consertar o país. Porque o Brasil está muito mais desestruturado do que estava em 2003. A inflação está maior, o custo de vida está maior, o desemprego está maior, os prejuízos salariais estão muito maiores. 

Você pega uma cidade como São José dos Campos, você pega aqui, nós temos mais desemprego do que já tivemos em qualquer outro momento, e os trabalhadores organizados, já faz três anos que não tem aumento real de salário. 

As instituições estão muito, muito prejudicadas, com um Congresso Nacional hoje que praticamente domina o governo, o governo não governa, quem governa é o Congresso Nacional. As instituições precisam ser reconquistadas para funcionar de forma harmônica. Nós precisamos entender que o Governo governa, que o Legislativo legisla e que o Judiciário julga, e isso pode conquistar uma certa harmonia na sociedade brasileira. 

É por isso que  a aliança política que se faz necessária. Tem muita gente que acha que é difícil fazer aliança, eu acho que é importante fazer aliança porque você precisa ganhar as eleições e, depois de ganhar, você precisa governar. E no meu caso tem que governar bem, porque eu preciso fazer mais do que eu fiz no primeiro mandato. 

É importante lembrar que, quando eu deixei a presidência, dia 31 de dezembro de 2010, eu tinha 87% (avaliação) de bom e ótimo, talvez a maior aprovação que um presidente já teve na história desse país, e eu não sei se na história da democracia. 

Então, eu tenho que voltar para fazer mais, e para fazer mais eu preciso de mais gente do meu lado. Por isso, estou conversando com todo mundo, e espero que dê certo essa conversa, espero que o Alckmin escolha o partido político adequado, que faça aliança com o PT, espero que o PT compreenda a necessidade de fazer aliança, espero que o povo brasileiro possa acolher aquilo que ele tem como expectativa, uma possível volta do PT liderada pelo Lula, para governar o Brasil. 

Eu vou trabalhar muito, acredito, sabe, estou tentando conversar, porque eu não quero tomar a decisão antes de fechar alguns acordos com outros partidos políticos. Eu tenho que conversar com muita gente ainda e, quando chegar o momento certo, eu vou tomar a decisão. 

Qualquer outro candidato pode arriscar, eu não posso arriscar. Eu se voltar a governar esse país, é para fazer mais do que eu fiz, e fazer mais do que eu fiz significa me dedicar muito mais, trabalhar muito mais, conversar muito mais, ter muito mais aliado para que a gente possa ter tranquilidade para fazer as mudanças que o Brasil precisa para o povo voltar a ter esperança e a ter cidadania neste país.

Fernando Carlos: Está certo. Presidente Lula, vou colocar nessa conversa o meu amigo Élcio Costa, jornalista, para já também entrar nesse bate-papo com o ex-presidente Lula, pré-candidato à presidência da República. Bom dia, Élcio!

Élcio Costa Bom dia Fernando.  Bom dia, todo mundo que nos acompanha. Bom dia, presidente Lula. É um prazer conversar com o senhor na manhã desta quarta-feira. Eu vou insistir um pouquinho na questão do Geraldo Alckmin, que tem uma importância para o Vale do Paraíba, ele é de Pindamonhangaba, aqui pertinho, e também tem a ver com a questão da governabilidade que o senhor acabou de falar. Os vice-presidentes na gestão do PT, o José Alencar e o Michel Temer, em que pese o peso deles na composição da chapa, eles acabaram não tendo um peso expressivo no governo. Qual o papel de um vice que o senhor vislumbra, de um vice-presidente de um eventual novo governo Lula? Ou, traduzindo aqui para a gente: que papel teria o vice-presidente Alckmin num futuro governo Lula, caso o senhor seja eleito nas eleições de outubro?

Luiz Inácio Lula Da Silva: Esses dias eu brincava com algumas pessoas, eu dizia que se tem alguém que tem experiência de serviço é o Alckmin.

Élcio Costa: É uma boa piada.

Luiz Inácio Lula da Silva: Ele e o Mário Covas. Então, veja, o vice é vice. O vice, ele está lá para contribuir, para participar. O José Alencar participava de todas as reuniões de governo que eu fazia. Quando eu fazia reunião de governo, o José Alencar participava, ele falava, ele dava opinião, ele representava o governo. Eu coloquei o José de Alencar inclusive no Ministério da Defesa. 

Ou seja, o vice tem muita importância, e o vice é um parceiro de primeira hora, ele participa das decisões, ele participa das coisas boas, ele participa das coisas ruins, porque ele tem que estar muito umbilicalmente ligado ao presidente da República. Esse é o papel do vice, sabe, além do papel de substituir o presidente na ausência do presidente. 

Quando você escolhe uma pessoa para vice, você está estabelecendo uma relação de confiança. O vice não é uma pessoa distante, o vice é um cara que tem que estar na sala, na cozinha, sabe?! Ele tem que estar em todo lugar junto com o presidente, porque ele faz parte da governança do país. Eu trato o vice com muito respeito, com muito carinho. 

Obviamente que eu sempre terei dificuldade, e o Alckmin sabe disso, é muito difícil você encontrar alguém para substituir um companheiro como o José Alencar, que era um empresário altamente bem-sucedido, era um mineiro que gostava de torresmo de barriga, era um mineiro que gostava, sabe, de conversar muito, e um homem de uma lealdade extraordinária. 

Eu tenho confiança no Alckmin, eu fui presidente oito anos, tive relações com o Alckmin, sempre foram relações de respeito, sempre foram relações institucionais e, se der certo a gente construir essa aliança, eu tenho certeza que vai ser bom para o Alckmin, vai ser bom para mim, vai ser bom para o Brasil, e sobretudo, deve ser bom para o povo brasileiro. 

É só a gente dar tempo ao tempo para saber se pode ser construída essa aliança, qual o partido que o Alckmin vai entrar. Ele ainda não decidiu, mas, certamente, ele também tem tempo para decidir. Há muita gente querendo levar o Alckmin. E eu acho que ele está apenas fazendo uma aferição, sabe, dos convites que ele está recebendo para ele tomar a decisão. Quando ele tomar a decisão, eu tomo a minha decisão, aí nós vamos sentar e conversar. 

Fernando Carlos: Até mesmo a questão do Geraldo Alckmin, presidente, ontem surgiu a informação de que o PSD também tem interesse em trazer o Alckmin. E aí as negociações começaram com o Gilberto Kassab e a gente sabe que o PSD, ele tem um posicionamento de centro, não é. E aí que está a questão com relação como governar o país.

Élcio Costa: É, presidente, eu ia perguntar para o senhor exatamente isso, que outros partidos tidos como conservadores, por exemplo, o senhor vem conversando, o PSD ou outras legendas? E como num eventual novo governo Lula vai ser a relação, por exemplo, do senhor com o Centrão? Que é essa entidade aí que domina muitos debates políticos, e que faz parte de sucessivos governos, embora muitas vezes seja até demonizado nas críticas que a gente vê, as alianças políticas.

Luiz Inácio Lula da Silva: Élcio, o problema é que o Centrão não é um partido político, o Centrão é uma combinação de um conjunto de partidos políticos que se junta em relação a determinados interesses. 

Eu lembro da criação do Centrão na Constituinte de 88, a gente estava avançando muito nas conquistas sociais. O companheiro Mário Covas era o responsável pela Comissão de Sistematização, e a gente estava conversando, a gente estava avançando muito. Aí, de repente, o Roberto Cardoso Alves, que era um deputado de São Paulo, mais outros, como o deputado Fiuza, o ex-deputado de Pernambuco, se juntaram e criaram o Centrão, que era para tentar frear os avanços dos setores progressistas na Constituinte. Eles se juntaram depois para garantir o mandato do Sarney de cinco anos. É assim toda vez que em momento de crise, eles se juntam para evitar que haja um avanço das conquistas sociais nesse país. Mas eles.. 

O Centrão não é um partido político, você não pode tentar conversar com o Centrão porque ele não é um partido político. Você conversa com as forças políticas que compõem os partidos políticos que fazem parte do Centrão. E eu vou te dizer uma coisa, a gente não negocia com suplente, a gente negocia com quem tem mandato, a gente negocia com quem é eleito e toma posse. 

Então, você vai ter que conversar com deputado, goste ou não goste dele. Quando você tiver um projeto de Lei e mandar para o Congresso Nacional, o líder do governo vai ter que construir a maioria, e a maioria ele constrói conversando com todas as forças políticas do Congresso, convencendo as pessoas, aceitando sugestão, aceitando proposta de mudança, é assim que se dá o jogo político no planeta Terra, onde existe democracia. 

Eu não vejo problema em ter que conversar com o Centrão. O que eu vejo é que nós precisamos eleger um conjunto de deputados que tem uma visão do Brasil um pouco mais otimista, um pouco mais social um, pouco mais humanista. Ou seja, a gente não pode continuar com um Congresso, sabe, que tornou o presidente da República refém. 

Élcio, se você analisar como um homem inteligente da política que você é, você vai perceber que, desde a proclamação da República, a gente não tem um presidente boquirroto que… falou muita bobagem antes das eleições, e que virou refém do Congresso Nacional, como o Bolsonaro. Você não tem na história, em nenhum momento, essa coisa de orçamento secreto, em que os deputados passam a ter mais força do que os governadores nas negociações com os prefeitos, porque os prefeitos não têm mais que procurar o governador para discutir uma obra, ele procura um deputado. 

Os deputados viraram quase Deus, sabe. Não é o deputado quem administra o orçamento, é o Poder Executivo que elabora o orçamento, aprova o orçamento, e executa o orçamento. Você vai ver que o Bolsonaro não executa nada. Se eu perguntar para vocês: Qual é a obra que o Bolsonaro fez em São José dos Campos ou no Vale do Paraíba, vocês não saberão dizer, porque não tem. 

Então, esse é o dado concreto, nós vamos ter que ganhar as eleições e conversar com as forças que foram eleitas. Eu espero que o povo brasileiro possa, no dia da eleição, votar em pessoas que tenham um sentido mais social desse país, que pensem melhor o papel do Estado, que queira mais desenvolvimento, que queira mais geração de emprego, que queira acabar com a pobreza, que queira acabar com a fome, que queira melhorar a Educação, que queira melhorar investimento em Ciência e Tecnologia. 

Eu espero que a gente consiga fazer isso no processo eleitoral. Mas, quando você é eleito presidente, você vai ter que conversar com quem foi eleito, meu caro. O ideal seria que o PT pudesse eleger todos os deputados, e (isso) não vai acontecer. Muito mais importante é que a esquerda devesse eleger a maioria dos deputados, eu acho que é difícil acontecer. 

Então, meu caro, você negocia com quem está eleito, você negocia com a direita, você negocia com a esquerda, você negocia com o centro, você negocia com católico, com evangélico, com ateu, você negocia com quem tem mandato para você poder aprovar as coisas que o Brasil precisa que sejam aprovadas. Essa é a política e este é o exercício da política. 

Fernando Carlos: O exercício da política que foi exercido durante dois mandatos pelo ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva e, agora, a possibilidade de participar de uma nova eleição. Marcelo Rocha, também participando desta conversa com o presidente Lula, aqui na CBN Vale. Bom dia Marcelo!

Marcelo Rocha: Bom dia Fernando! Bom dia presidente! Muito obrigado pela entrevista logo cedo aqui no jornal CBN 1ª Edição. E eu queria falar, presidente… O senhor tocou num assunto aqui na nossa região do Vale do Paraíba, uma região importante de Ciência, Tecnologia. Nós percebemos, nos últimos tempos, um desmonte justamente nessas áreas, a queda do investimento da ciência, aqui o nosso INPE, aqui da nossa região, também foi muito prejudicado. Além disso, nós também tivemos muitas perdas de fábricas, fechamentos de fábricas aqui na região, como a Ford, a LG, muitos trabalhadores perderam seus empregos. E eu queria saber do senhor o que é possível ser feito nessas questões do investimento, retomada do investimento, caso o senhor venha a se configurar, seja eleito no próximo mandato, nessas questões de investimentos aqui para a nossa região, geração de empregos. E outra questão também, a questão da Saúde, como é que a gente pode virar a chave para extirpar o negacionismo que existe ainda em muita gente, sendo induzida ao erro, principalmente em relação à vacina, presidente?

Luiz Inácio Lula da Silva: Olha, Marcelo, bom dia, Marcelo! Eu queria te dizer que essa pergunta me dá a oportunidade de poder explicar algumas coisas para vocês. Primeiro, eu tenho muito orgulho, mas muito orgulho, de ter ganhado as eleições em 2003, e ter gerado, no tempo em que o PT governou o Brasil, 22 milhões de empregos formais com carteira profissional assinada. Isso é um orgulho que eu tenho. 

E tenho mais orgulho ainda, Marcelo, de dizer para você que durante todo o período do meu governo, 87% dos acordos firmados pelo Movimento Sindical Brasileiro tiveram aumento real acima da inflação. Esta é uma conquista extraordinária, isso significa crescimento econômico, porque na hora que você cria mercado, sabe, você cria consumo, você cria poder de compra. Esse consumo gera emprego na fábrica, gera emprego no comércio e faz a economia funcionar corretamente, gerando muitos empregos e muitas oportunidades. 

Nós estamos com a economia atrofiada, o Estado não tem capacidade de investimento, o Estado está permitindo a falência das universidades, o Estado diminuiu quase… a verba, o orçamento da Ciência e Tecnologia, o Estado destruiu o INPE, o Estado nunca visitou, nunca deu importância para o ITA. Venderam a Embraer da forma mais escabrosa possível. Ainda bem que a Boeing, depois, não pode ficar com a Embraer. A Embraer era o centro de excelência dos investimentos em tecnologia e da credibilidade tecnológica para o país. A Embraer era a terceira empresa de aviação do mundo. 

Eu tive o prazer de viajar muitos países, Marcelo, vendendo avião da Embraer, fazendo propaganda de avião da Embraer, pedindo para empresários e para governos comprarem avião da Embraer. Porque cada avião comprado da Embraer eu sabia que tinha, sabe, um trabalhador produzindo uma pequena peça daquele avião. 

Mas o que que nós temos que fazer agora? Primeiro, nós temos que recuperar o crescimento econômico. O crescimento econômico, ele se dá de duas formas: primeiro, o presidente da República tem que ter muita credibilidade, tem que ter um modelo econômico que seja previsível. Você precisa convencer a sociedade interna e externa, para que haja investimento. De preferência, se você puder, convencer o investimento direto externo, é muito importante. Mas você precisa convencer os empresários internos a fazerem investimentos. 

Os empresários serão convencidos de duas formas: uma, se ele perceber que o governo está acreditando no que ele fala, e o governo colocar dinheiro. Porque o Poder Público tem que ser, em muitos casos, o indutor do desenvolvimento. E, segundo, se tiver mercado para comprar aquilo que as pessoas vão produzir. Se o povo tiver falido, se o povo estiver devendo como hoje –  74% das famílias estão endividadas – se o povo não tiver poder de compra, ninguém vai investir, porque não tem para quem vender. 

Eu posso dar um exemplo para você entender isso, Marcelo. Quando eu deixei a Presidência, em dezembro de 2010, o Brasil vendia 3 milhões e 800 mil carros. Hoje, o Brasil está vendendo menos de 2 milhões de carros. Ou seja, 12 anos depois, a gente está vendendo metade dos carros que a gente vendia em 2010. Isso significa o quê? Significa desemprego, significa fechamento de empresa, significa retração no mercado e significa menos investimento. Menos investimento é menos emprego, menos emprego é menos salário, menos salário é menos consumo, menos consumo significa empobrecimento do país.

Então, nós precisamos fazer isso e nós vamos fazer. Por isso é que eu tenho dito: a solução não tem mágica, a solução é a gente colocar o pobre no orçamento e colocar o rico no imposto de renda, porque rico não paga imposto sobre dividendos. Então, é preciso que o rico compreenda que ele tem que pagar mais imposto que o cara que ganha um salário mínimo. E o povo trabalhador, na minha opinião, quem ganha até 5 salários mínimos, não deveria pagar imposto de renda. 

É preciso que a gente, efetivamente, crie no Brasil a consciência de que as pessoas devem pagar de acordo com o que ganham. E não fazer com que o pobre, que compra um quilo de feijão, pague o mesmo imposto proporcional aquilo que paga o dono do Bradesco, aquilo que paga o dono do Itaú, aquilo que paga o dono da GM. Não é possível e isso, nós vamos ter que mudar.

Então, eu acho que, se você colocar o pobre no orçamento e o rico no imposto de renda, se você tiver política de inclusão social, que o pobre comece a ter dinheiro para ir no supermercado, para comprar uma camisa, para comprar um short, para comprar um vestido para a filha, para comprar um sapato, para comprar caderno, sabe, a economia vai crescendo por si só, não tem outra mágica. 

Não tem essa do governo fazer um plano emergencial para gerar emprego. O que tem, na verdade, é a gente dinamizar a economia para gerar emprego. E eu tenho consciência do que aconteceu na região do Vale do Paraíba quando eu era presidente da República, eu tenho consciência do que aconteceu. Bem, então é isso que a gente vai fazer para fazer voltar a economia. 

A economia não cresce enquanto tiver milhares de pessoas dormindo na sarjeta e na rua. A economia não cresce enquanto você tiver 19 milhões de pessoas passando fome. Ou seja, esse não é modelo de desenvolvimento. Hoje nós vivemos no Brasil numa situação, Marcelo, em que não tem um gesto do Governo Federal de investimento. Se você analisar o orçamento que o Bolsonaro aprovou agora, você vai perceber que é o menor investimento do governo em toda a história da República. Se o governo não tem dinheiro para investir, se o governo não é indutor de investimento, quem vai investir? 

Se você fosse empresário e você percebesse que o governo não acredita nele mesmo, que o governo não investe, por que você vai tirar o seu dinheiro da conta do banco para fazer investimento? Você precisa, primeiro, que o governo seja sério; segundo, que tenha consumidor para comprar o produto que você vai produzir. E é isso que nós vamos fazer nesse país. Nós já fizemos uma vez. 

Você está lembrado, Marcelo, que quando eu cheguei na Presidência as pessoas diziam: ‘o Brasil está quebrado, o Lula não vai conseguir governar, o Brasil está devendo 30 bilhões para o FMI, o Brasil não está conseguindo pagar as suas importações, o Brasil não está conseguindo fazer isso, não está conseguindo fazer aquilo’. 

Eu vou te dar um exemplo do milagre, eu vou te dar um exemplo: quando eu cheguei na Presidência, a dívida pública interna era 60%. Quando eu saí, era 35 (%). O Brasil tinha uma dívida de 30 bilhões, nós pagamos 30 bilhões ao FMI, ainda emprestamos 15 bilhões, e deixamos 370 bilhões de dólares na reserva, que deu ao Brasil uma garantia que ele jamais teve na sua história. 

E, ao mesmo tempo, nós fizemos isso com uma forte inclusão social e com muita responsabilidade fiscal. Vocês lembrem que foi o PT, e no governo do PT, o Brasil foi o único país do G20 que durante todo o nosso período fez superávit primário. Todos os anos. 

Eu aprendi com a dona Lindu, uma mulher que me pôs no mundo, que nasceu analfabeta e morreu analfabeta: a gente só gasta o que tem, e quando a gente fizer uma dívida, a gente tem que ter consciência de que a gente precisa criar alguma coisa para pagar essa dívida. 

Então, se você faz uma dívida e cria um ativo produtivo capaz de gerar riqueza e aumentar o patrimônio do país, ótimo. Mas, você não pode fazer dívida para custeio, porque se você fizer dívida para custeio não tem retorno… E essa coisa nós vamos cuidar com muito carinho. 

Você está lembrado, Marcelo. Eu vou te dizer algumas coisas: o nosso governo, a gente criou a Farmácia Popular e criou o Aqui tem Farmácia Popular, que era uma coisa extraordinária, que vendia 120 tipos de remédio para as pessoas que precisavam tomar de forma contínua. 

Você está lembrado que nós criamos o Brasil Sorridente, eu tinha uma necessidade de garantir ao povo pobre que ele não precisaria ficar sorrindo sem dente na boca. Era preciso que o Estado assumisse a responsabilidade de garantir que as pessoas pudessem mastigar um pedaço de carne ou um amendoim, nós criamos o Brasil Sorridente. Criamos centenas de centros de recuperação odontológica. 

Nós criamos o SAMU, que hoje é motivo de orgulho para todo mundo. Nós trouxemos o Mais Médicos, para garantir que as pessoas mais pobres, das cidades mais pobres, tivessem um doutor, porque não tem doutor nas cidades pobres. As pessoas querem ficar nos grandes centros urbanos, as pessoas não querem trabalhar no sertão ou na periferia porque tem violência. 

Então nós já provamos, Marcelo, que o Brasil pode ser bem melhor; que o Brasil pode ser mais fraterno, mais solidário, mais humanista; que o Brasil pode ser mais inclusivo. E é isso que nós vamos voltar a fazer no país. Um país de todos e não um país de poucos.

Marcelo Rocha: Presidente, perfeito, aproveitando essa pauta que o senhor falou dos projetos envolvendo saúde. A saúde é hoje um grande pilar que move a nossa economia, porque as pessoas estão ficando doentes, a pandemia está com força total. E eu queria saber do senhor, como é que o senhor analisa aí as ações do Governo Federal em relação ao trato com a pandemia, esse atraso na compra de vacinas? E, por outro lado, nós temos também o próprio ministro da Saúde, que eventualmente vem apresentando assim críticas em relação à própria vacina, que é público, ele vem demonstrando assim, uma certa, uma não promoção tão grande que poderia fazer em relação a vacinação infantil. Como é que o senhor analisa aí o trato do Governo Federal em relação à Saúde Pública hoje, principalmente em relação à pandemia, presidente?

Luiz Inácio Lula da Silva: Marcelo, a Saúde é uma área em que a gente pode desenvolver um extraordinário potencial industrial na área da Saúde. Nós já tínhamos feito isso em 2009, começamos a trabalhar a ideia de criar uma forte indústria na área da Saúde, para produzir coisas para a Saúde – de remédio a aparelhos modernos, como se produz na Alemanha, como se produz no Japão, nos Estados Unidos. Esse é um lugar que, quando a gente fala em política industrial, nós temos que pensar que a Saúde é um nicho extraordinário para que a gente possa explorar o potencial de desenvolvimento industrial. 

E aí, nós temos que investir em Ciência e Tecnologia. É só a gente ver o papel do ITA na história do Brasil, para a gente saber que investimento em Ciência e Tecnologia é muito importante. É só a gente ver o papel do INPE, a gente ver o papel, sabe… No nosso governo, nós chegamos a ser o terceiro país em produção científica das revistas especializadas, porque nós fizemos um investimento de mais de 41 bilhões num PAC que nós criamos só para a Ciência e Tecnologia. 

Essa é uma coisa importante que na área da Saúde nós vamos ter que explorar bem, para que o Brasil se transforme em um país competitivo. O Brasil pode fazer a vacina, o Brasil tem estrutura para fazer a vacina. Agora, o que acontece? 

O que acontece, Marcelo, é que nós temos um governo que não é Governo. Nós nunca tivemos nesse país, nós nunca tivemos ministro da Saúde com um pensamento retrógrado e atrasado como nós temos hoje. Nós nunca tivemos. Eu tive quatro ministros da Saúde, o Bolsonaro não conseguiu indicar um único ministro da Saúde que significasse um cara interessado em cuidar do povo. O último dele, que foi aquele Pazuello, é uma vergonha. Aquele cidadão, depois daquela CPI, ele deveria estar preso. 

O que que o Bolsonaro fez? Fez um decreto dando sigilo de 100 anos para as aberrações e para a loucura que o Pazuello fez. Você ter um ministro da Saúde que tenta dificultar a vacina para criança, quando toda a ciência orienta de que não tem outro remédio a não ser a vacina, e o segundo remédio é você tentar evitar aglomeração. 

É todo o mundo, é todo o planeta Terra, todos os cientistas, todos os médicos do mundo orientam isso. Só o Bolsonaro é que conseguiu descobrir no Brasil um nicho de fascistas, que não acreditam na ciência. Não sei porque que estudaram Medicina. Mas veja, eu estou convencido que o Bolsonaro é responsável por mais da metade das pessoas que morreram nesse país. Eles ainda continuam receitando remédio que não vale nada para enfrentar o Covid-19. Não vale nada. 

Ele ainda continua negando a vacina. Ele, esses dias, teve o pudor de dizer, sabe, que 300 crianças que morreram é pouca coisa, que não é nada. Ou seja, esse cara não tem sentimento!? Esse cara não tem filho!? Esse cara não tem coração!? Esse cara não pensa nos outros!? Esse cara não é humano!? Porque é um descalabro a gente estar assistindo o que está assistindo no Brasil: um presidente que não gosta de falar na imprensa porque ele prefere mentir sete, oito vezes ao dia através da sua rede social, produzindo fake news. 

Então, Marcelo, efetivamente, eu estou convencido que voltar a governar o Brasil será uma verdadeira guerra para recuperar o Brasil para os brasileiros. Fazer as coisas funcionarem corretamente, fazer a pessoa perceber que ter livro é melhor do que ter arma. Fazer as pessoas compreenderem que investimento em Saúde não é gasto, é investimento; que investimento em Educação não é gasto, é investimento; que investimento na juventude brasileira é o mais importante investimento que a gente possa ter. E isso não está na cabeça. Não sei se você percebeu, nós conseguimos em doze anos colocar quase 8 milhões e meio de jovens na universidade, quando. Nós chegamos, tinham 3 milhões e meio. 

O que é que está acontecendo agora? Em 2016, nós tivemos 16 milhões de jovens fazendo ENEM. Agora tivemos só 3 milhões e 600. Ora, se você não investe na Saúde, não existe na Educação, não investe no emprego… a pergunta que eu faço é: para que governo? Para que governo? Então, eu acho que a sociedade brasileira tem que pensar seriamente, sabe, tem que pensar seriamente. Se não quiser votar no Lula, não tem nenhum problema, mas não pode permitir que o Bolsonaro ou um outro fascista governe esse país. 

Esse país precisa aprender a gostar da democracia, exercer a democracia, porque é uma coisa importante para a sociedade. As pessoas precisam aprender a reclamar, as pessoas precisam aprender a se indignar. Ora, como é que pode um país que é o terceiro produtor de alimentos do mundo, um país que é o maior produtor de proteína animal do mundo, ter uma pessoa na fila do açougue para pegar um osso? 

Como é que pode o país que tem 8 milhões e meio de quilômetros de costa marítima, sabe, esse país ficar vendo as pessoas comerem cabeça de piaba, cabeça de sardinha, porque não tem dinheiro nem para comprar um peixe? 

Como é que pode uma cidade rica, como São José dos Campos, ter gente dormindo na sarjeta e nas calçadas, pessoas passando fome? Isso não tem explicação. Isso não está na Bíblia, não está na Declaração Universal dos Direitos Humanos e muito menos na nossa Constituição. Então, é preciso, Marcelo, é preciso, Fernando Carlos, é preciso Élcio, que a gente não perca a nossa capacidade de indignação. 

A palavra correta é a seguinte: eu vou ser um cara indignado porque esse país precisa tratar o seu povo com respeito. É isso que nós temos que dizer alto e bom som, todo santo dia. A sociedade precisa estar indignada. Indignada é a palavra correta. 

Por isso eu fui visitar o Papa, quando eu saí da prisão, eu fui visitar o Papa. Por isso eu fui visitar o Conselho Mundial das Igrejas, porque eu queria viajar o mundo fazendo uma campanha, sabe, de indignação contra a fome e a miséria. Lamentavelmente, o Covid apareceu e eu, como exemplo, eu tenho que me cuidar ficando dentro de casa, evitando participar de atividades com muita gente.

Fernando Carlos: Presidente, deixa eu dar sequência aqui nessa conversa com o senhor, porque o nosso tempo vai passando, e é sempre bom ouvi-lo, porque a visão que o senhor tem de governabilidade, diferente do atual governo, dá a possibilidade do eleitor pensar em qual opção ele vai escolher para as próximas eleições. Mas eu quero aqui agradecer a todos que estão participando pelo Facebook e pelo Instagram, pelo YouTube. Nós temos uma audiência gigantesca aqui em São José dos Campos e região do Vale do Paraíba, e o programa está reforçado com a presença do presidente Luiz Inácio Lula da Silva. Mas eu quero dar sequência, presidente, o Élcio Costa tem mais uma questão com o presidente Lula. Pois não, Élcio.

Élcio Costa: Nós temos várias questões, não é, porque a presença do presidente Lula suscita vários debates. Mas o senhor citou agora, respondendo ao Marcelo, a questão do desemprego no Brasil. Historicamente, fazendo uma análise dos últimos anos, o desemprego do Brasil, ele começou, ele deu uma estilingada, chegou a um nível crítico, ainda no governo Dilma, chegou a 12 milhões e 800 mil desempregados, 13 milhões de desempregados, e esse não voltou a refluir desde então. O senhor concorda com essa análise, o que aconteceu de repente naquele período para o desemprego dar essa estilingada e não recuar? Isso é uma pergunta, e acho que é interessante. O senhor citou outra coisa, que são as reformas que o senhor falou que precisa fazer. O senhor já falou que vai rever, por exemplo, a reforma trabalhista.  O senhor fez uma série de críticas. Que outras reformas, de repente, podem ser revistas ou propostas no eventual governo Lula, por exemplo? Vai mexer no imposto de renda, tributar grandes fortunas, o que pode ser esperado a partir daí?

Luiz Inácio Lula da Silva: Élcio, obrigado, obrigado pela pergunta. Deixa eu te dizer o que eu penso a respeito disso. Primeiro, nós tivemos o maior crescimento de emprego formal da história desse país em nosso governo. É importante a gente não perder de vista, quando a gente faz a crítica, a gente reconhecer alguma coisa importante. 

Em 2014, em dezembro de 2014, o Brasil tinha 4.3% de desemprego, 4.3% de desemprego significa padrão Dinamarca, padrão Suécia, padrão Suíça, padrão… Ou seja, é aquilo que a gente chama de pleno emprego. A gente chegou. Em função do agravamento da crise econômica internacional, vocês estão lembrados que houve uma série de desonerações feita pelo governo da presidenta Dilma, ainda com o Guido no Ministério da Fazenda. Foram muitos bilhões que foram desonerados na perspectiva de construir o emprego. 

Eu tenho uma tese muito simples que é a seguinte: as coisas começaram a piorar efetivamente no segundo mandato da Dilma, quando o Eduardo Cunha virou presidente da Câmara. Por quê? Porque ele, diferentemente do que o Temer tinha feito com o Fernando Henrique Cardoso, em 99, que a economia, vocês estão lembrados, o Fernando Henrique Cardoso foi eleito, a economia estava praticamente quebrada, o Brasil quebrou duas vezes. E o presidente Temer fez uma contribuição no sentido de aprovar coisas para ajudar que o Fernando Henrique Cardoso conseguisse recuperar, e isso foi acontecendo. 

A Dilma, todas as propostas que a Dilma mandava para o Congresso Nacional, ela virava uma pauta-bomba, porque ela mandava desonerar, sabe, esse óculos aqui, o Eduardo Cunha colocava cinquenta produtos para desonerar. Quando a Dilma tentou acabar com a desoneração, não conseguiu porque não foi votado. 

Então, obviamente que nós temos culpa também, acho que o PT tem culpa, porque a gente poderia ter cuidado para evitar tanta desoneração, a gente deveria ter feito desoneração com a contrapartida, sentava o patrão com o trabalhador junto, para dizer qual é a parte do trabalhador. Já que eu vou dar uma devolução de dinheiro para o patrão, o que o trabalhador ganha? Isso nós fizemos em 2010, eu fiz 47 bilhões de desoneração, e toda desoneração que nós fizemos, nós tínhamos a contrapartida. Eu não sei por que que deixou de ter contrapartida. Então, nós temos responsabilidade também porque o desemprego começou a crescer ainda no nosso governo. Mas é importante que se dê, há má vontade do presidente da Câmara em tentar estabelecer uma pauta correta com a presidenta Dilma. 

A segunda coisa que nós temos que levar em conta é que a economia entrou num retrocesso muito ruim, e quando a política não está bem, a economia não vai bem, fica mais difícil você consertar, fica muito mais difícil você consertar. Ou seja, eu acho que houve um determinado momento, que veio a manifestação de 2013, aí não conseguiu recuperar mais. Esse é um dado concreto e objetivo que levou a gente a uma situação muito difícil. E, depois, o golpe na Dilma, a maior desfaçatez, a maior ofensa à democracia foi a mentira da pedalada para tirar a Dilma do governo. E aí, Élcio, construíram uma coisa chamada ¨Ponte para o Futuro¨, não sei se você está lembrado, e essa Ponte para o Futuro, na verdade, não era uma ponte, era um abismo.

Élcio Costa: Presidente, o senhor está falando sobre, o senhor está fazendo uma boa, rememorando o governo da presidente Dilma, e surge uma questão: que papel, por exemplo, a presidente Dilma pode vir a executar num novo governo Lula? Ela será, o senhor acha que ela é um quadro interessante de ter participação num eventual novo governo do PT?

Luiz Inácio Lula da Silva: Olha, eu acho que nós não vamos trabalhar para remontar o governo de 2003, 2004, 2005. Ou seja, o tempo passou, tem muita gente no pedaço, tem muita gente nova no pedaço, e eu pretendo montar um governo com muita gente nova, com muita gente importante, e com muita gente com muita experiência também. 

E a Dilma é uma pessoa que eu tenho o mais profundo respeito e o mais profundo carinho. A Dilma, tecnicamente, é uma pessoa inatacável. A Dilma tem uma competência extraordinária. Onde é que a companheira Dilma, na minha opinião, erra? É na política, ela não tem a paciência que a política exige que a gente tenha para conversar, para ouvir as pessoas, para atender as pessoas, mesmo quando você não gosta do que a pessoa está falando. Você não pode ficar agressivo, você precisa entender. Eu sou daqueles políticos que, se o cara tiver contando uma piada que eu já sei, eu não vou dizer para o cara eu já sei essa. Não, conta outra vez. Se for necessário rir eu vou rir, sabe, de uma piada que eu já ri, porque a pessoa se preparou para contar aquela piada, a pessoa se preparou para falar aquilo comigo. Então eu tenho que ter paciência. Eu acho que isso, efetivamente, nós cometemos um equívoco pela pressão em cima da Dilma. Vocês não acham que foi brincadeira o que aconteceu em 2013, 2014, 2015, 2016 em cima da presidenta Dilma, foi muita violência, muita violência. 

E parte dessa violência se deve ao Aécio Neves, porque esse país era tranquilo quando eu disputava as eleições com Fernando Henrique Cardoso, quando eu disputei com Serra, quando eu disputei com Alckmin, o país era civilizado. A gente disputava, a gente discordava, a gente tinha pensamento diferente. Mas a gente tinha, era capaz de se encontrar no restaurante, depois de um comício, e se cumprimentar. A gente era capaz de falar bom dia e boa noite para as pessoas, a gente era capaz de se comportar de forma civilizada.

A partir de 2013, esse país perdeu isso. Aí esse país foi tocado pelo ódio, com grande culpa da imprensa brasileira, com grande culpa da imprensa brasileira, que contribuiu para estimular o ódio, para estimular a mentira, para estimular a antipolítica. 

A coisa mais absurda num país, Élcio, a coisa mais absurda, é quando você nega a política. Porque, quando você nega a política, o que vem no lugar da política é o fascismo. Hitler negou a política e veja o que aconteceu na Alemanha. Stalin negou a política, veja o que aconteceu na Itália. Aqui no Brasil se negou a política, o que a negação da política pariu? O Bolsonaro. É isso. Então, é melhor que a gente aprenda a eleger pessoas que falem menos bobagens, pessoas que prometam, sabe, menos verdade, e pessoas que falem aquilo que o povo precisa saber. 

Não tem mágica para consertar o Brasil. Não existe mágica. Se pudesse, a gente trazia o mágico daqueles que aparecem na televisão e consertava. O que vai consertar o Brasil é muita seriedade, é muita responsabilidade, é muito juízo, é muita conversa com a sociedade. 

Você tem que ouvir os trabalhadores, você tem que ouvir os artistas, você tem que ouvir o povo que está querendo casa, o povo que está querendo terra, o povo que está querendo emprego. Por isso que eu fiz 574 conferências nacionais…. não, melhor, 74 conferências nacionais para discutir as políticas públicas desse país, para que a gente possa ter certeza de que a sociedade está participando. 

E eu quero avisar vocês, Élcio, Fernando e Marcelo, que num próximo governo meu, a sociedade brasileira não será coadjuvante, ela será sujeito da história, porque ela vai participar das principais decisões. Eu vou reunir, eu vou recriar o Conselho de Desenvolvimento Econômico e Social para participar: empresários e trabalhadores, índio, padre, pastor. 

Ou seja, a sociedade vai ter que dizer o que ela quer do Brasil, porque o Brasil não é meu, o Brasil é do povo brasileiro, e ele precisa dizer o que ele quer, como é que ele quer, e para que ele quer. O Brasil não pode ser governado para 35% da população. O Brasil tem que ser governado para todo mundo, os pobres têm direito a andar de avião, os pobres tem que ter direito de ir no restaurante comer, o pobre tem direito de ir num teatro, ele tem direito de comprar carro. 

A  gente não gosta de coisa de segunda categoria. Tem gente que acha que pobre gosta de carne de segunda, de laranja de segunda. Não, a gente quer tudo de primeira. Para isso, a gente tem que ganhar um salário digno, mas a gente tem que trabalhar. É esse Brasil que a gente pode construir. 

Eu queria dizer para vocês três: é possível construir esse país. E eu quero dar o meu testemunho, eu vivi este país, eu vivi esse país sendo o país mais respeitado do mundo. A gente era respeitado pelos Estados Unidos, a gente era respeitado pela China, a gente era respeitado pela Argentina, a gente era respeitado pelo país mais pequeno que é Uruguai, mas também pelo maior, que era a China e a Índia. Porque respeito é uma coisa que a gente gosta de receber, mas a gente também tem que dar. Então, é esse Brasil que pode ser construído, é esse o Brasil que eu acho que é possível reconstruir. 

E eu só vou poder reconstruir com a ajuda de vocês, com a compreensão de vocês, sabe, com a imprensa dizendo a verdade, por mais dura que ela seja. É importante lembrar o seguinte: eu nunca, nunca na minha vida… eu tenho 76 anos, eu nunca conversei com um jornalista…nunca liguei para o Roberto Marinho, nunca liguei para a Folha, nunca liguei para o Estadão para pedir: fale bem de mim, faça uma matéria favorável. Nunca. A imprensa fala o que quer, quanto mais livre ela for, melhor.  Agora, ela tem que ser verdadeira. Ela tem que ser verdadeira, ela tem que dizer o fato como ele é.

Fernando Carlos: Presidente, a gente sabe que o senhor terá aí pela frente uma missão, logicamente, de campanha. E terá pela frente adversários que vão apontar falhas do PT num recente passado, a questão de dinheiro, de Lava Jato, de corrupção. E a gente sabe que a campanha agora, como entra nas redes sociais, ela ganha uma outra proporção, principalmente com a divulgação de fake news. Como o senhor encara essa campanha, essa eleição, esse debate, o senhor acredita realmente que vai ser uma situação? O senhor já falou sobre isso, antes tinha debate, tinha conversa, tinha diálogo. Vai ser conversa ou vai ser uma guerra essa campanha 2022, presidente?

Luiz Inácio Lula da Silva: Fernando, se depender de mim, você acompanhou a minha disputa com o Collor em 89; em 94 e em 98, com o Fernando Henrique Cardoso; em 2002, com o Serra; em 2006, com o Alckmin. Nós sempre fizemos campanhas de debate de ideias e debates programáticos. É isso que eu pretendo fazer. Eu não vou jogar o jogo rasteiro de alguns adversários, eu não vou entrar no lamaçal que eles estão entrando, na perspectiva de me atacar. 

Muitas vezes, vocês perguntam assim para mim: presidente Lula, não tem nenhuma autocrítica sua para fazer? E eu falo “por que que eu tenho que fazer autocrítica”? Se eu fizer autocrítica, eu vou dar o direito da minha oposição me criticar, então deixa a oposição me criticar, é ela que tem que mostrar os defeitos do PT, ela que tem que mostrar os defeitos do meu governo, e eu tenho que mostrar aquilo que nós fizemos. 

Esse debate de ideias é muito interessante. Eu quero saber quem é que vai resolver o problema do emprego. Quero saber quem vai resolver o problema da economia, quem vai reconquistar a credibilidade do país. Como é que a gente vai fazer, Fernando? Como é que a gente vai fazer para recuperar o atraso escolar de milhões de crianças pobres da periferia que não tiveram oportunidade de estudar corretamente durante a pandemia? 

Uma criança de classe média, média ou de classe média alta, ele conseguiu ainda estudar porque tinha computador, porque a escola funcionava, porque recebia… E as crianças pobres, que perderam praticamente um ano e meio? Nós vamos ter que fazer um imenso esforço, vamos ter que chamar os educadores brasileiros, os professores e as professoras, fazer um verdadeiro mutirão, utilizar o que a gente tiver de instrumento, para que a gente possa recuperar esse atraso educacional e colocar as crianças no mesmo padrão educacional, e se tornar… 

Porque a educação é que permite que as pessoas progridam na vida. Nós temos que garantir que eles tenham a mesma qualidade de Educação, que eles aprendam as mesmas coisas, essa é uma das preocupações que eu tenho. 

Então, eu acho que nós temos pessoas que vão fazer campanha só no fake news. Eu acompanho a imprensa brasileira, e eu vi esses dias que o Bolsonaro conta sete mentiras por dia. Se ele conta sete, o filho mais novo conta sete, o outro conta mais sete, o outro conta sete… Se você imagina, quatro pessoas contando sete mentiras, já são 28, sabe. Então, o país não pode estar subordinado a mentira. Eu, sinceramente, não entrarei nesse jogo, não entrarei. 

Se o povo brasileiro preferir votar em alguém que mente, então é o seguinte, não precisa me escolher. Não precisa me escolher, porque eu acho que o Brasil está precisando da verdade. O Brasil está precisando de fraternidade, o Brasil está precisando de amor, o Brasil está precisando de solidariedade, de carinho. O Brasil precisa de livro didático, de livro de história, de livro de geografia, sabe, de livro de matemática, e não de armas, não de fuzil, não de espingardas, não de pistola. 

O povo brasileiro não quer ser pistoleiro. Parece que a gente está voltando ao tempo do Velho Oeste, sabe, que as pessoas têm que ter armas. Não, nós queremos ter livros, ter acesso a cultura. Nós queremos participar da vida cultural desse país e não ficar treinando tiro ao alvo. 

Esses dias eu vi no jornais… abriram 700 cursos de tiro nesse país. Enquanto isso, as escolas estão fechando, as universidades estão fechando. Os professores não estão podendo ter aula, não tem dinheiro para cortar a grama na entrada da universidade, não tem dinheiro para investimento em vacina, sabe, que maluquice que é isso, que loucura que é essa que esse país está vivendo? 

Então, eu não me proponho a esse jogo não. Eu vou fazer a minha campanha, o povo brasileiro me conhece, me conhece desde 1978, quando nós fizemos as primeiras greves no ABC. Eu tenho uma história que é muito pública, tem os meus inimigos já, já me despiram, já me viraram do avesso, sabe, e eu sempre faço a política pautada… 

Porque eu acho que quando eu estou falando com vocês, Fernando, Élcio e Marcelo, quando eu estou falando com vocês, eu não estou respondendo às perguntas só para vocês, eu estou falando com a dona de casa que está dentro de casa ouvindo rádio, eu estou falando com a família que está no carro, e pode ter uma criança ouvindo o que eu estou falando, então eu não tenho o direito de mentir para essa criança. Eu não tenho o direito de falar com ela coisa que eu não tenho coragem de falar para os meus filhos. 

Esse mundo está precisando da verdade. Esse mundo está precisando de amor, de paz, de tranquilidade, de harmonia, e não essa loucura que a gente está vivendo. É esse país que eu me proponho a oferecer, é esse país que eu me proponho a discutir durante o processo da campanha, sabe. Eu nunca peço para as pessoas gostarem de mim porque, sabe, nem Cristo teve o apoio de todo mundo. Eu não quero isso, o que eu quero é que o povo brasileiro tenha consciência de que a gente pode melhorar esse país. 

É a única coisa que eu quero é isso: pelo amor de Deus, não tem necessidade desse país ter gente que vai dormir com fome, não tem necessidade desse país ter criança desnutrida, não tem necessidade desse país ter criança fora da escola. Esse é um país grande, esse é um país que tem tudo. 

O que é preciso é a gente ter vergonha na cara e saber que, quando a gente governa, a gente governa para o povo, e não para os nossos amigos. É isso que a gente tem que ter claro. E é isso que eu quero fazer, é com essa força, sabe, com essa força que eu quero governar esse país. E tenho certeza, como eu tenho fé em Deus, de que a gente vai governar esse país melhor do que eu já governei, oferecendo mais para o povo do que eu já ofereci. Esse povo vai voltar a sorrir. 

Eu, quando falo sempre, Fernando, que a gente vai voltar a comer uma picanhazinha, uma costelazinha, sabe, e tomar uma cervejinha… Eu também tenho que falar que o cara que não gosta de carne, o cara que é vegano, o cara também tem direito de comer uma boa verdura orgânica. Nós precisamos fomentar o surgimento da agricultura orgânica. 

Mas a gente tem que ter o direito de… sabe, tem gente que não gosta de pobre no aeroporto, tem gente que acha que pobre não pode ir no teatro, porque o teatro é coisa de rico. Não gente, sabe, o povo tem que ter direito a tudo. 

Eu, quando tinha 16 anos de idade, eu tinha uma calça preta e uma camisa, acho que era banlon que chamava na época, aquela, uma vermelha com uma golinha. E tinha um trio caipira que ia no circo, aqui na Vila Carioca, aqui no Ipiranga, onde eu morava.  Zelão, Pininho e Verinha, era um trio caipira, tem um circo todo furado, e eu colocava a roupa mais bonita que eu tinha para ir ver as duas artistas cantarem. Eu até achava que elas estavam cantando para mim. O povo gosta de coisa boa, o povo gosta de coisa boa. 

O povo, quando vai na feira, ele não quer ir às 11:30, meio-dia, para comprar a xepa. Ele, se pudesse, ia às 9, para comprar a melhor laranja, a melhor manga, a melhor espiga de milho, a melhor macaxeira, sabe. O povo que vai no final fica até apertando o ovo para saber se ele está bom, se ele está estragado. Não, a gente gosta de coisa boa, gosta de se vestir bem, gosta de comer bem, gosta de passear bem, a gente quer viajar de avião, não quer ir de busão. 

É isso que o povo sonha, gente, e é isso que nós temos que garantir para esse povo, oportunidade desses pobres estudarem e virarem doutores. Coisas que nós fizemos com o ProUni, com o FIES e com o REUNI. Esse povo quer fazer escola técnica. Nós encontramos 140, que foi feita em um século, e nós fizemos mais de 500. Esse país pode, e nós podemos, é só a gente querer, e como a gente quer, nós vamos fazer. 

Fernando Carlos: Presidente, eu quero agradecer a sua participação.  Élcio, ele denunciou a idade ao falar qual a camisa que ele colocava.

Élcio Costa: Falou em camisa banlon, aí ficou feio, passou atestado da idade aí, já avançou um pouquinho.

Luiz Inácio Lula da Silva: Mas eu não nego a minha idade não, eu tenho orgulho. Eu quero que vocês cheguem na idade que eu estou com a saúde que eu estou.

Élcio Costa: Tomara! Presidente, o senhor falou uma coisa, rapidamente aí, o senhor disse que o senhor está, o espírito do senhor é mais ou menos o Lulinha paz e amor. O senhor vai encarar a campanha de uma forma positiva. Mas o senhor vai estar na frente de dois personagens que têm sido bastante críticos com o senhor nos últimos tempos, o presidente Jair Bolsonaro e o ex-juiz Sérgio Moro. Num debate de televisão, por exemplo, o que que o senhor vai perguntar para eles?

Luiz Inácio Lula da Silva: Se eu falar agora ele vai ficar preparando.

Élcio Costa: Ah, mas dá uma dica, presidente, dá uma dica aí, pelo menos para os ouvintes que tem acompanhado a gente, está bombando o programa aqui.

Luiz Inácio Lula da Silva: Eu nem tenho, vai que esse Bolsonaro resolve tomar uma facada para não ir no debate, eu não vou. Vai que o Moro pega o Código Penal e fala: o Código Penal não me deixa ir. Não. Deixa acontecer, sabe, eles vão estar diante de um ser humano civilizado.

Fernando Carlos: E o senhor prefere quem?

Luiz Inácio Lula da Silva: Um ser humano humanista, porque é um cara que sabe falar com o coração. Que é um cara que conhece a alma desse povo, eles vão saber.

Fernando Carlos: E o senhor prefere o que, ganhar no primeiro turno ou chegar no segundo turno com o Bolsonaro ou com o Moro, presidente?

Luiz Inácio Lula da Silva: Olha, eu tenho muita experiência no segundo turno, eu já ganhei, todas as eleições do PT foi no segundo turno, é mais sofrido. É mais sofrido, mas obviamente que a gente, quando entra numa campanha, você entra para ganhar. Eu vou trabalhar para ganhar, aconteça no momento que acontecer, mas eu vou trabalhar para ganhar. Eu não escolho adversário, sabe, quem tem que escolher os adversários é o povo brasileiro. 

É o seguinte, Fernando, eu penso assim: qualquer candidato que nunca governou esse país pode prometer o que quiser. Eu sei o que é fazer as coisas, eu sei o sacrifício de fazer, sabe, eu sei o que é você sentar com uma pessoa para convencer a pessoa de acreditar numa coisa que você quer falar. E aí é esse Congresso, é essa relação com o Congresso que eu quero ter para a gente mudar as coisas e voltar a funcionar. 

O Congresso não pode se meter no Poder Judiciário, o Judiciário não pode se meter no Congresso. O presidente da República não pode querer mandar no Congresso, o presidente da República não pode querer mandar no Poder Judiciário, cada um cumpra com a sua função tal qual está na Constituição. Se cada um cumprir o que está na Constituição e cada um ficar na sua, o país vai ganhar, o Brasil vai ganhar, e o Brasil ganhando o mundo ganha. E o que eu quero é esse povo comendo, trabalhando, estudando e sorrindo. É isso que eu quero.

Fernando Carlos: Está certo, presidente, muito obrigado pela sua atenção aqui com a CBN Vale. A gente passou um pouco do tempo que havia sido combinado com a sua assessoria, mas é sempre bom e interessante poder ouvir tudo que o senhor tem a falar a respeito do momento e do futuro do nosso país. Então, muito obrigado, uma ótima semana, e os contatos continuarão, em breve de volta aqui na CBN Vale viu presidente.

Luiz Inácio Lula da Silva: Fernando Carlos, obrigado a você, obrigado ao Élcio Costa, obrigado ao Marcelo Rocha, obrigado aos ouvintes. Eu quero aproveitar e dar um abraço para o meu amigo Carlinhos, que foi prefeito do PT; para a Ângela Guadagnin, que foi prefeita do PT;  para o nosso Marco Aurélio, de Mogi, e de Jacareí, e ao povo de São José dos Campos. 

Gente, não perca a esperança não, fique de cabeça erguida, porque a gente que tem fé, a gente que acredita, a gente consegue. E o Brasil nasceu para ser um país poderoso, um país governado por humanistas. Acreditem nisto que nós vamos mudar o Brasil. Um beijo no coração.

Fernando Carlos: Um grande abraço, obrigado. Obrigado ao ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, participando conosco desse CBN 1ª Edição Especial. Hoje foi uma hora, praticamente, de bate-papo, de conversa com o presidente, expondo suas ideias, seus pensamentos a respeito do momento do Brasil e o futuro político do nosso país.

Veja o vídeo da entrevista:

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