A fala de Jair Bolsonaro no domingo, com ameaças a opositores, minorias, movimentos sociais e imprensa, foi mais grave do que o vídeo de seu filho, Eduardo Bolsonaro, dizendo que, com um cabo e um soldado, daria para fechar o Supremo Tribunal Federal (STF).
As declarações do deputado federal Eduardo Bolsonaro (PSL-SP) não surpreenderam. Ele mostrou despreparo e visão autoritária. Em 2016, ao votar a favor da abertura do processo de impeachment da então presidente Dilma Rousseff, ele disse que o fazia “pelos militares de 64, hoje e sempre”.
O ministro Celso de Mello, decano do STF, teve a reação mais contundente e correta. Classificou a fala de Eduardo Bolsonaro como “inconsequente”, “golpista” e “irresponsável”. FHC também falou duro e acertadamente. Disse que a coisa cheirava a fascismo. E cheira mesmo.
Em contraponto político, foi lembrado um vídeo do deputado federal Wadih Damous (PT-RJ) em que ele criticava o Supremo. Mais uma vez houve tentativa de nivelar desiguais. Ao longo dos 13 anos em que esteve no poder, o PT não tentou fechar o STF. O histórico do partido não autoriza que a legenda seja retratada como uma ameaça à democracia.
Mas as falas de Jair Bolsonaro ao longo de sua carreira política e o discurso para manifestantes na Avenida Paulista mostram que o candidato do PSL é, sim, uma ameaça à democracia. Jair Bolsonaro fez um discurso típico de ditaduras.
Ele disse representar uma maioria, “o Brasil de verdade”, e que uma minoria, “essa turma, se quiser ficar aqui, vai ter que se colocar sob a lei de todos nós”. Ora, é um óbvio desrespeito às minorias.
O candidato do PSL também ameaçou colocar opositores na cadeia, onde Lula apodreceria. Numa democracia, é o Judiciário que manda as pessoas para a cadeia.
Ele criminalizou os movimentos sociais, dizendo o seguinte: “Bandidos do MST, bandidos do MTST, as ações de vocês serão tipificadas como terrorismo”. Atacou a imprensa que o desagrada. Chamou o jornal Folha de S.Paulo de a maior fake news do país e ameaçou cortar verba de publicidade.
São os ditadores que ameaçam opositores, minorias, imprensa e movimentos sociais. Uma democracia se legitima e se fortalece com oposição, respeito às minorias, liberdade de imprensa e diálogo com movimentos sociais.
A uma semana da eleição, um candidato prestes a virar presidente deveria ter atitude conciliatória, mas Bolsonaro fez o contrário. Assim, dá um sinal preocupante para seus liderados, seus guardas da esquina, num momento em que deveria enviar mensagem de união e moderação.
Esse discurso de Bolsonaro é o mesmo de Nicolás Maduro na Venezuela, país que virou uma ditadura. Não é a fala de um democrata. É melhor o Brasil já ir se preocupando.
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