Leia a íntegra da entrevista de Lula para a Rádio Brasil, de Campinas (SP)

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Foto: Ricardo Stuckert

Leia a íntegra da entrevista que o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva concedeu no dia 9 de fevereiro para a Rádio Brasil, de Campinas (SP). 

Na entrevista, que aconteceu durante o programa Brasil Agora 1ª Edição, Lula conversou com o apresentador Thiago Varella e os jornalistas Elias Aredes e Felipe Zangari.

Thiago Varella: Luiz Inácio Lula da Silva, você que está acompanhando aí pelo Facebook, pelo Youtube, já está vendo o ex-presidente Lula na nossa tela. Presidente, muito bom dia.

Luiz Inácio Lula da Silva: Bom dia, Thiago, bom dia Elias, bom dia Felipe. É um prazer imenso poder estar falando com os ouvintes da Rádio Brasil Campinas, e, sobretudo com os ouvintes do Programa Brasil Agora. Thiago, estou à sua inteira disposição. E eu queria fazer uma pergunta para você: o teu programa, ele é ouvido em toda a região metropolitana?

Thiago: O Programa Brasil Agora e a Rádio Brasil Campinas é ouvido em toda a região metropolitana aqui de Campinas. Toda a região nos acompanhando agora, presidente.

Lula: Então, Thiago, você me permita aqui cumprimentar o povo de Americana, de Cosmópolis, de Hortolândia, de Holambra, de Indaiatuba, de Itatiba, de Jaguariúna, de Montemor, de Paulínia, de Santa Bárbara d’Oeste, Sumaré, Valinhos e Vinhedo. Pois bem, já cumprimentei todo o povo da região metropolitana de Campinas, e agora estou à tua inteira disposição para a nossa entrevista.

Thiago: Bom, como o presidente adiantou, o Felipe Zangari, nosso diretor, Elias Aredes, também vão participar dessa entrevista. Mas minha primeira pergunta para o senhor, presidente, é uma pergunta mais de cunho, digamos, religioso. A Rádio Brasil Campinas é a rádio da Arquidiocese de Campinas, rádio oficial da Arquidiocese de Campinas, uma rádio católica, uma rádio vinculada à Rede Católica de Rádio, à Rede Aparecida de Rádio. O senhor, ao longo da sua vida, sempre teve uma boa relação com alguns líderes católicos, Dom Helder Câmara, Dom Paulo Evaristo Arns, Dom Claudio Hummes, que foi arcebispo lá em Santo André na época que o senhor militava no Sindicato dos Metalúrgicos de São Bernardo do Campo. Tenho duas perguntas, já para a gente começar. Qual é a sua relação com a igreja católica, o que o senhor pensa hoje da influência da igreja católica no Brasil e do Papa Francisco, e qual é o papel da religião, e agora não só da religião católica, mas dos cristãos também evangélicos na eleição e na política brasileira?

Lula: Thiago, primeiro vou dizer para você que eu sou batizado na igreja católica, crismado na igreja católica, e eu sou católico há 76 anos. Quando eu saí da Polícia Federal em Curitiba, não sei se você está lembrado, a primeira coisa que eu fiz foi visitar o papa Francisco, porque eu estava interessado em fazer uma campanha mundial contra a desigualdade. E como o Papa Francisco é uma das figuras mais proeminentes da religião mundial, eu fui conversar com o Papa Francisco, depois eu fui à Suíça, ao Conselho Mundial de Igreja conversar com o Conselho Mundial, porque eu queria fazer uma campanha. Lamentavelmente, depois das reuniões veio o Covid, e aí o Covid fez com que a gente não pudesse tocar a campanha.

Eu fui muito amigo de muita gente da igreja católica, de bispo, de padre, de frei e de pessoas que não eram padres, mas eram religiosos, eram leigos, e eu poderia dizer para você da minha belíssima relação com o frei Beto, com o Leonardo Boff, com o frei Clodovis, com o frei João, posso dizer da minha boa reunião com o nosso querido bispo Dom Pedro Casaldáliga, Dom Marco Borelli, Dom Paulo Evaristo Arns. Eu tenho muitos, muitos, muitos amigos da igreja e, graças a Deus, a igreja teve muito a ver com a minha formação política, teve muito a ver com o sucesso que nós tivemos nas coisas que nós fizemos na vida, sobretudo na luta sindical, muita solidariedade cada vez que a gente fazia greve, e também na construção do PT. Eu posso dizer para você que aonde eu viajava o Brasil que tinha uma igreja progressista, um padre progressista, que tinha uma casa paroquial, lá na verdade haveria uma reunião com a comunidade católica para a gente discutir política.

Então, eu acho que a igreja tem muito a ver com a minha vida política, tem muito a ver com os passos que eu dou na política, porque eu acho que embora eu tenha uma relação com todas as religiões, respeito todas as religiões, eu não tenho vergonha de dizer sou católico, não tenho vergonha de dizer da minha relação de amizade, e é um prazer imenso poder estar falando com uma rádio ligada à diocese de Campinas. Eu tive um prazer imenso de conhecer em momento difícil Dom Helder Câmara, tive um prazer imenso de conhecer o nosso querido Dom Cláudio Hummes desde a Diocese de Santo André, até quando ele foi prefeito do Vaticano, foi muito importante a nossa relação. E eu continuo com essa relação com os católicos, com os evangélicos, com a religião de matriz africana, com o pessoal islâmico, ou seja, eu não tenho preconceito com nenhuma religião, eu acho que a religião deve ser seguida de acordo com a crença de cada um e eu só quero que respeite a minha crença em ser católico.

Thiago: Queria só apresentar e pedir para que você desse o seu bom dia também, Felipe Zangari, jornalista, nosso diretor aqui da Rádio Brasil Campinas.

Felipe Zangari: Obrigado, Thiago. Presidente, uma satisfação tê-lo conosco, muito bom dia. Eu gostaria de trazer a nossa conversa para o campo da economia, presidente, porque acredito que seja hoje a principal urgência do nosso país. A inflação chegou a 2 dígitos, o poder de compra do cidadão está corroído, a informalidade do mercado de trabalho num patamar histórico. Que caminho o senhor pensa em tomar caso seja eleito presidente? Uma postura mais pragmática, como no início do seu primeiro mandato, ou uma atitude mais expansionista, como nós vimos no seu segundo mandato, presidente?

Lula: Felipe, obrigado pela pergunta. Essa pergunta me dá a oportunidade de poder conversar um pouco com a memória dos ouvintes da Rádio Brasil. Ou seja, quando nós ganhamos as eleições, em 2002, e eu tomei posse em janeiro de 2003, a inflação estava 12%, o desemprego era 12%, a dívida pública interna era de 60%, a gente devia 30 bilhões de dólares para o FMI, o Brasil não tinha dinheiro para pagar as suas contas, as suas importações, e era uma situação muito, muito, muito complicada o Brasil, havia muito quem naquela época dissesse que o Brasil estava quebrado, que eu não ia conseguir governar.

Então eu queria responder essa pergunta, Felipe, dizendo para você que hoje o Brasil está muito pior do que estava naquela época. O Brasil está muito pior do ponto de vista político, do ponto de vista social e do ponto de vista eu diria até moral, do ponto de vista econômico, ou seja, porque nós temos um desgoverno, porque nós temos uma crise sanitária profunda, uma crise política, uma crise econômica e uma crise social. E tudo isso nós vamos enfrentar com muita competência, porque nesse momento o Brasil está precisando de alguém que conheça o Brasil, de alguém que conheça o povo brasileiro, de alguém que já teve experiência de resolver coisas difíceis.

Eu queria começar dizendo o seguinte, nós no nosso primeiro mandato reduzimos uma dívida pública de 60% para 35%, depois, no segundo mandato ela foi para 32%. Nós pagamos os 30 bilhões que devíamos ao FMI e ainda fizemos uma reserva de 370 bilhões de dólares. Nós fomos o único país do G20 que cumpriu durante todo o período do nosso governo superávit primário. Então, ninguém venha falar para mim em responsabilidade fiscal, ninguém venha falar para mim porque nós tivemos muita responsabilidade fiscal, e nós fizemos aquilo que deveria fazer, nós fizemos a maior política de inclusão social que esse país conheceu em 500 anos de história. Ou seja, partindo do pressuposto de que a solução do Brasil é incluir o pobre no orçamento.

Ou seja, nós definimos que o pobre não era problema, o pobre era solução na medida em que ele se torna trabalhador, na medida em que ele se torna consumidor, na medida em que ele pode consumir alguma coisa, o comércio venda, as lojas, a fábrica fabrica mais, gera mais emprego, a loja gera mais emprego, ou seja, a economia começa a girar como se fosse uma roda gigante. E outras políticas sociais que você sabe que nós fizemos para a agricultura, nós fizemos a cisterna, a transposição das águas, o Luz para Todos, Minha Casa Minha Vida.

Aí mesmo em Campinas você sabe da quantidade de coisas que nós fizemos aí. Campinas no meu governo passou a ser quase que a cidade com mais colhimento e tratamento de esgoto da história do Brasil. Ou seja, quase 90% do esgoto colhido e tratado. Você sabe que eu fui aí inaugurar o Hospital Ouro Verde, e naquele tempo, Felipe, te contar uma coisa, eu fiz um discurso que deixou muita gente estarrecido porque estava havendo muito câncer de próstata, e eu fui falar para os homens que eles precisavam ter coragem, ter coragem de fazer exame de próstata. Não ter medo de fazer um toque. As mulheres fazem tantos exames incômodos e elas fazem, por que é que o homem que acha que é sexo forte não tem coragem de fazer exame de próstata? E eu lembro que na época a imprensa tentou explorar.

Mas eu continuo falando isso, porque eu continuo criticando o Bolsonaro porque não cuidou da pandemia, eu continuo dizendo que metade das pessoas que morreram é da inteira responsabilidade do presidente da República, do ministro da Saúde, do negacionismo da vacina, da venda de remédio que não prestava para nada. Então tudo isso combina com a economia não funcionando. A região metropolitana de Campinas perdeu quase 600 mil postos de trabalho, ou seja, numa região que tem 600 mil pessoas que ficaram desempregadas e que aqueles que arrumaram emprego estão trabalhando na economia informal, ganhando menos, sem direito a férias, sem descanso remunerado, sem direito à Previdência Social, isso é quase que uma volta ao trabalho escravo.

Então nós vamos dizer uma coisa em alto e bom som, Felipe: para que a gente possa recuperar a economia brasileira é preciso que o Estado assuma a responsabilidade de ser o indutor do desenvolvimento, o Estado precisa colocar dinheiro, sobretudo em obras de infraestrutura, na área da Saúde, na área de estrada, de ferrovia, na área de tratamento de água, de esgoto, essas coisas é da responsabilidade do Estado de ser o indutor. Não é que o Estado tem que fazer, ele tem que dar o pontapé inicial, porque se o Estado acredita na sua política, a sociedade começa a acreditar.

Numa região como Campinas, o que eu pretendo fazer no Brasil é começar a fazer algumas reuniões com as universidades, com os empresários e com os trabalhadores, para que a gente comece a discutir a melhor qualificação profissional, a melhor formação, aproveitando essa revolução digital, para ver se a gente cria emprego de melhor qualidade para a população brasileira, para ver se a gente cria melhor emprego de qualidade para o mais jovem nesse país. E eu acho que é isso, o Estado tem que ser o indutor, o Estado tem que colocar dinheiro. E eu vou te contar uma coisa, nós vamos ser muito mais avançados do que nós fomos no primeiro e no segundo mandato, porque o Brasil está mais carente. Então, é preciso mais investimento, é preciso mais arrojo, é preciso mais inclusão social.

E eu digo uma frase para você entender, Felipe, que é o seguinte: a solução é colocar o pobre no orçamento e o rico no imposto de renda. A hora que a gente fizer isso, a gente começa a arrecadar. Eu, por exemplo, defendo que até 5 salários mínimos as pessoas não paguem imposto de renda. Não é possível que as pessoas que ganhem 6 mil reais tenham que pagar imposto de renda porque isso é considerado um setor que faz parte das pessoas mais ricas do país. Não é verdade. Quem ganha 6 mil reais por mês e paga aluguel, e paga os seus impostos, no fundo não sobra nada para ele e ele não precisa pagar. A gente tem que cobrar um pouco de quem ganha mais. Isso tem muita divergência entre economistas, tem muita divergência entre empresários, mas essa é uma boa demanda, Felipe, que eu quero debater com a sociedade brasileira.

Porque a pessoa que vive de dividendo paga menos imposto de renda do que o pobre que trabalha e ganha mais de 2 mil reais. Ou seja, o imposto proporcional, o rico paga menos do que o pobre. Quando vai comprar um quilo de feijão, um quilo de batata, um litro de leite, ou seja, o imposto do pobre termina sendo mais caro. É por isso que a inflação sempre é mais alta para as pessoas que ganham menos. Então, nós precisamos fazer com que o país gere emprego, tenha uma boa política salarial. Eu vou te dar um dado importante, Felipe, no período que eu era presidente da República, 90% dos acordos salariais feitos pelos sindicatos eram com aumento real acima da inflação. Hoje, 80% é feito com acordo abaixo da inflação. Ou seja, significa que está caindo a massa salarial, significa que a renda está caindo e significa que o povo está mais endividado e passando mais dificuldade. Então, nós precisamos urgentemente desenvolver a economia, gerar empregos, melhorar a renda do trabalhador para o Brasil voltar a crescer.

Felipe: Então o senhor assume como prioridade a correção da tabela do imposto de renda no início do seu mandato?

Lula: Ah, ela tem que ser feita. Aliás, Felipe, eu já vi que você é muito preocupado com a economia. Se você for analisar, nos meus oito anos de mandato nós fazíamos a correção do imposto de renda todo ano para o trabalhador. Todo ano. Só para você ter ideia, eu fui várias vezes na porta de fábrica anunciar a correção do imposto de renda que não é feita há muito tempo agora. Não é feita há muito tempo. Ah, porque se fizer a correção vai diminuir o caixa do governo. Ora, aumenta o caixa do governo cobrando de quem tem mais. O que não dá é para querer fazer caixa com o dinheiro de quem não tem dinheiro nem para comer. Então, a gente vai ter que fazer correção do imposto de renda, que eu acho que é uma atitude justa para manter o equilíbrio do povo trabalhador desse país.

Tiago: Quem também participa aqui desse bate-papo com o presidente Lula é o repórter Elias Aredes. Elias, bom dia.

Elias Aredes: Bom dia, Felipe. Bom dia, presidente. Eu queria falar agora de meio ambiente. No período em que o PT ficou na presidência da República, com o senhor e com a presidenta Dilma Rousseff, até que a pasta foi estável, teve apenas três ocupantes no cargo, Marina Silva, Carlos Minc e a Isabela Teixeira. O senhor fez a Lei dos Resíduos Sólidos, aprovada em 2010, e também teve a ênfase também na questão da reciclagem e dos catadores de reciclagem. Só que, nos últimos três anos o que os especialistas dizem é que na questão do meio ambiente o Brasil vive uma situação calamitosa, o desmatamento aumentou, povos indígenas sofrem com problemas de ocupação de terra, apesar, presidente, de que no seu mandato, o da Dilma também, teve um conflito em relação à questão da Usina de Belo Monte. O que eu queria saber do senhor é o seguinte, qual será o plano em relação ao orçamento? O meio ambiente vai receber uma priorização no orçamento do governo? Vai ser algo que terá, por exemplo, a mesma prioridade do que Saúde, Educação, dado o quadro exibido no Brasil na atualidade?

Lula: Elias, a primeira coisa que eu tenho que te dizer é o seguinte, primeiro, a Marina saiu do governo porque ela quis, o Minc saiu porque foi candidato a deputado, aí teve a Isabela, porque se a Marina quisesse tinha ficado só ela, depois se o Minc quisesse tinha ficado só ele, porque eu não tinha interesse de tirar os ministros. A segunda coisa, é que quando nós chegamos ao governo em 2003, tinha um forte desmatamento no país. Nós levamos dois anos preparando estruturas para que a gente pudesse tomar atitude de proteção ao meio ambiente, e aí nós diminuímos o desmatamento de forma seguida até a gente conseguir reduzir o desmatamento em 80%.

Você está lembrado que em 2009 nós fomos no Congresso em Copenhagen, na chamada COP-15, e o Brasil passou a ser uma referência na questão ambiental, porque a gente tinha propostas, a gente aprovou a lei, a gente aprovou a Lei do Desmatamento e a gente passou a ter mais mecanismo de fiscalização. E aí a gente passou a ser respeitado no mundo inteiro. Qualquer país do mundo que queria discutir meio ambiente, chamava o Brasil para discutir. Foi o momento de ouro do Brasil. Então, o que é que está acontecendo agora? Você agora tem um governo que não tem nenhum interesse, ou seja, ele acha que tem que desmatar a Amazônia, ele acha que tem que derrubar tudo, ele acha que tem que plantar soja, que tem que plantar milho, que tem que plantar…

Olha, ninguém é contra plantar soja ou plantar milho, ou plantar cana, ninguém é contra criar gado. Agora, é o seguinte, tem áreas específicas para você fazer isso. O que as pessoas têm que compreender é que se a gente não respeitar o meio ambiente, os produtos produzidos no Brasil irão valer menos no exterior, irão valer menos na Europa, irão valer menos na China, nós teremos mais dificuldade de colocar os nossos produtos. É importante lembrar que o Brasil é o terceiro produtor de alimento no mundo, e é importante lembrar que o Brasil é o maior produtor de proteína animal do planeta Terra. Então cuidar da floresta é nossa obrigação, não apenas ambiental, mas também comercial. Se a gente quiser ganhar dinheiro a gente vai ter que cuidar da nossa floresta, a gente vai ter que tentar investir em pesquisa para que a gente possa tirar proveito da riqueza, da biodiversidade brasileira, para que a gente possa ajudar a desenvolver a região amazônica.

Se nós quisermos criar emprego lá nós temos que levar emprego limpo, nós temos que discutir com seriedade o que é que a gente vai explorar. Hoje a mata em pé oferece mais oportunidade ao Brasil do que a derrubada da mata. Então somente um irresponsável como o Bolsonaro é capaz de liberar o garimpo, é capaz de invadir as terras indígenas, é capaz de invadir as terras de quilombolas, é incapaz de dizer que não é possível continuar queimando tudo. Aí você precisa começar a fiscalizar pela prefeitura. Não adianta ficar tentando debater na televisão, é preciso saber quais as cidades que estão tendo mais queimadas, chamar o prefeito, reunir os empresários, proprietários de terra, estabelecer um ajuste de conduta para que as pessoas sejam responsáveis pelo desmatamento e pelas queimadas.

E ao mesmo tempo as pessoas ganhem alguma coisa, algum incentivo pela preservação da Amazônia. Nós vamos levar muito a sério porque não é só pensar no meio ambiente falando da Amazônia, é pensar no meio ambiente falando da favela em Campinas, é pensar no meio ambiente falando da cidade que tem esgoto a céu aberto, das pessoas que moram em palafitas, das pessoas que vivem em condições desumanas na beira de córrego, na encosta de morros como a gente está vendo acontecer no Brasil cada vez que chove.

Então, nós vamos levar muito a sério a questão ambiental. Bom, o dinheiro orçamentário nós vamos colocar aquilo que for necessário, dentro das limitações da nossa arrecadação. Eu posso te garantir que hoje a palavra desenvolvimento, a palavra crescimento econômico e a palavra investimento não podem ser faladas se elas não estiverem combinadas com a questão ambiental. Quando você fala de Belo Monte, Elias, é importante lembrar que Belo Monte nós fizemos acordo com todas as instituições de Belo Monte. Nós fizemos acordo com o MAP, com os índios, com os pescadores, com os ribeirinhos, e por isso foi, na época foi um tratado de 5 bilhões de reais para cuidar das coisas de Belo Monte.

Se foi cuidado eu não sei porque eu deixei o governo antes de começar a fazer Belo Monte, mas que foi pactuado, que foi acordado, foi acordado. Não sei se você percebe, Elias, Belo Monte é uma hidrelétrica fio d’água, é uma hidrelétrica que não tem lago, o maior lago do Rio Xingu é o lago da cheia, é que quando chove muito alaga na proporção que a natureza quer. Mas a gente fez ela sem lago para não mudar o ecossistema da região, para não mexer com a biodiversidade. Então, eu sei que tem problema porque muitas coisas que nós acordamos não foram cumpridas. Mas para terminar, Elias, a questão ambiental faz parte do nosso vocabulário para quem quiser governar o Brasil. Não dá para esquecer a questão ambiental.

Thiago: Estamos conversando aqui com o presidente Lula, ex-presidente Lula. Ele que é líder das pesquisas à presidência da República nas eleições deste ano. Presidente que fala que ainda não é pré-candidato, presidente, mas… Tenho a seguinte pergunta para o senhor agora. Quer dizer, nas pesquisas, como eu disse, o senhor está liderando, é o favorito para as eleições deste ano. Agora, eu, particularmente, tenho uma certa dificuldade de enxergar a imagem do presidente Bolsonaro passando a faixa para o senhor caso o senhor ganhe a eleição. Depois do que aconteceu no 7 de setembro do ano passado, de todas as declarações do presidente Bolsonaro, o senhor não tem medo de uma tentativa de golpe até o começo do ano que vem?

Lula: Thiago, nós já tivemos no Brasil um presidente que não passou a faixa para o outro. O presidente Figueiredo não passou a faixa para o presidente Sarney. Vocês estão lembrados disso. Eu não estou preocupado se o Bolsonaro vai passar a faixa ou não, ele que deixe a faixa guardada, tem lugar para guardar a faixa, e a gente vai pegar a faixa, vou pegar alguém do povo brasileiro para colocar a faixa em mim se eu ganhar as eleições e se eu disputar as eleições. Eu te confesso que eu não tenho essa preocupação. Eu te confesso que o Bolsonaro vai ter uma grande lição da vida dele, que vai ser o golpe que o povo vai dar nele. No dia 02 de outubro o povo vai dar um golpe democrático nesse país. O povo, de forma soberana, vai dizer para o Bolsonaro: chega, a gente não quer mais genocida governando esse país, a gente não quer mais fascista governando esse país, a gente não quer mais negacionista governando esse país, a gente não quer mais ninguém contando 8 mentiras por dia para governar esse país. A gente não quer mais efetivamente alguém que não tem sentimento, alguém que não tem amor, alguém que não tem fraternidade, alguém que não tenha solidariedade, alguém que não chora por uma morte de Covid, alguém que nunca visitou um hospital, nunca visitou uma criança que perdeu o pai e a mãe. Ou seja, esse cidadão não tem sentimento e quem não tem sentimento não pode governar um país de um povo tão pacífico e tão ordeiro como o povo brasileiro. Nós somos 213 milhões de seres humanos que gostamos de ser bons, gostamos de amar. Nós queremos livros, não queremos armas. Nós queremos escolas e não centro de treinamento para as pessoas aprenderem a atirar. É isso que vai derrotar o Bolsonaro, é a democracia contra a tirania, é a fraternidade contra a maldade, é o amor contra o ódio. É isto que vai derrubar o Bolsonaro. Por isso ele vai passar a faixa direitinho. Pode depois voltar para casa, chorar, resmungar, mas ele vai passar a faixa, pode ficar certo disso, que o povo vai tomar a faixa dele e vai passar para o outro. E não importa que não seja eu, que seja alguém democrático, que seja alguém que goste do povo, que seja alguém que respeite o povo e alguém que goste desse país.

Elias: Presidente, a gente sabe que a presidência da República, se a política brasileira fosse restaurante, a presidência da República é a picanha da política, todo mundo espera, esperando na mesa para degustar aquela picanha saborosa, não sei se o senhor gosta de mal passada, ao ponto. A pergunta que eu quero fazer ao senhor é a seguinte: o senhor vai estar lá sentado nesse restaurante, vai esperar o Alexandre de Morais diplomar o senhor, o Geraldo Alckmin seria um belo parceiro de mesa para degustar essa picanha?

Lula: Olhe, primeiro eu quero degustar essa picanha, mas não é só picanha, tem que ter um pouquinho de costela, tem que ter uma costelinha de porco, tem que ter uma asinha de frango bem feitinha…

Elias: E coração, presidente?

Lula: A gente tem um pouquinho de cada coisa porque o povo tem o direito. Primeiro, a mesa vai ser composta pelo povo brasileiro. O povo brasileiro vai fazer a mesa, eu vou ser um convidado. E aí o Alckmin vai junto. O Alckmin não definiu para que partido vai, eu não me defini ser candidato, então a gente não pode nem discutir vice ou não porque primeiro eu tenho que definir ser candidato, depois ele tem que definir o partido, depois a gente tem que conversar. O dado concreto, Elias, é que a minha preocupação maior não é só ganhar as eleições, a minha preocupação maior é como a gente vai reconstruir esse país.

Vocês que moram numa região extraordinária, nesta extraordinária cidade de Carlos Gomes, nessa extraordinária cidade que tem universidade como a Unicamp, nessa região metropolitana estupenda de geração de emprego, de emprego de qualidade, vocês que moram aí vocês sabem o trabalho que nós vamos ter para reconstruir o Brasil. O Brasil está desacreditado no mundo. O Brasil é tratado como se fosse pária. O Brasil não respeita absolutamente nada, não o Brasil, o governo atual.

Então nós vamos ter que recuperar os investimentos nas universidades, os investimentos nas escolas técnicas, os investimentos em ciência e tecnologia, os investimentos na capacidade produtiva desse país. Veja, frei, e veja companheiro Thiago, o que está acontecendo no Brasil, ou seja, as crianças estão voltando para escola e apenas 20% dessas crianças estão vacinadas. E essas crianças estão voltando com atraso escolar, porque as crianças pobres, filhos de pobre, que não tiveram acesso à internet, elas não estudaram durante dois anos. Estas crianças vão voltar mais atrasadas que aquelas que tiveram chance de ter um pai que tivesse internet, que tivesse computador, que tivesse celular.

Então nós vamos ter que fazer um trabalho incomensurável, frei. Felipe, você que cuida também de Educação, nós vamos ter um trabalho, eu diria, monstruoso de grande para que a gente possa recuperar essas crianças que estão voltando atrasadas, que tiveram menos chance. É um trabalho que é quase uma revolução, Felipe. E você que cuida disso, você sabe o que é que nós vamos ter que passar. Então nós temos que gerar empregos, voltar a recuperar programas. Eu posso dizer um programa para vocês lembrarem, o BRT de Campinas, essa obra foi pensada para Copa do Mundo de 2014. Essa obra foi pensada, o projeto, em 2011. Foi disponibilizado mais de 430 milhões. Essa obra começou a ser feita a partir de 2016, porque o projeto demorou. Essa obra foi inaugurada agora, uma parte dela, mas não funciona. Não funciona. Ou seja, de 2011 até 2022 e a gente não consegue colocar para funcionar porque esse é o descaso do país. Então, nós temos que reconstruir o Brasil.

Nós temos que reconstruir inclusive do ponto de vista moral, do ponto de vista dos costumes, do ponto de vista democrático. Nós não queremos induzir as pessoas a serem de uma só religião, as pessoas a torcerem para um único time, as pessoas gostarem de um único tipo de música. Não. Nós queremos que a humanidade seja mega diversa, que ela seja plural, e que a gente respeite o direito de cada um ser como ele é, desde que ele não interfira no direito do outro. É esse mundo que nós vamos fazer com que aconteça na nossa Campinas e que aconteça no nosso país. Por isso nós vamos ter que fazer um esforço imenso, mas muito grande, para cuidar desse país.

Eu estou preparado, Elias. Estou preparado, sei da dificuldade, mas pode ficar certo que eu estou ciente que nós estamos preparados e calejados para fazer desse país voltar a ser feliz, esse país a ter emprego, essa país a ter salário, esse país a ter casa. Pararam até com o Projeto Minha Casa Minha Vida. Os outros projetos, eles vão mudando de nome. Ou seja, os projetos não precisam mudar de nome, os projetos precisam de mais dinheiro, de mais investimento. Então nós temos uma tarefa, e eu estou convidando vocês, se preparem, porque eu ainda vou precisar de cada um de vocês para a gente ajudar a construir esse país de volta. Fazer com que Campinas volte a ser aquela cidade pujante que sempre foi, aquela cidade motivo de orgulho, não para o povo de Campinas, mas para o povo desse país.

É isso que nós vamos fazer. E estejam preparados, porque quando eu falo que eu tenho 76 anos, energia e tesão político de 20, é porque eu tenho mesmo. Eu estou muito motivado, muito animado, eu tem hora que eu chego a pensar que eu estou com 19 anos. Não, mas eu estou com energia de vinte para poder construir esse país. Então quando um homem tem uma causa ele vai em frente. Eu conheci Campinas, eu sei a cidade extraordinária, a cidade bonita, e eu sei o crescimento da pobreza também em Campinas. Eu conheci Campinas sem favela. Eu conheci Campinas sem favela. O tempo que a gente chamava Campinas a Cidade das Andorinhas. O jovem de hoje não sabe disso, mas nós, que somos mais velhos, sabemos disso.

Então, é o seguinte, meu caro, nós vamos ter que reconstruir o Brasil e vamos precisar de vocês. Vamos precisar de cada um dos 213 milhões. Aí todo mundo vai sentar na mesa de um churrasco, Elias. Todo mundo. Você também vai sentar. Vai sentar você, vai sentar o Alckmin, vai sentar os meus adversários. Não precisa gostar de mim para sentar na mesa, só precisa gostar do Brasil. Não precisa gostar de mim para recuperar esse país, querer fazer investimento nesse país, querer gerar emprego nesse país, querer melhorar a vida da Educação, da Saúde, do transporte desse povo.

Aí, nós sentamos numa mesa grande, tem espaço para todo mundo comer, tem espaço para todo mundo beber uma cervejinha, porque também não pode beber muito porque em trabalho a gente não bebe, ou seja, e a gente voltar a ver o povo brasileiro feliz. Pode ficar certo que nós vamos fazer esse churrascão. Quem sabe aí em Campinas? Quem sabe no centro de Campinas, naquela praça na frente da prefeitura ou da matriz a gente pode fazer esse nosso churrasco com essa mesa ampla, geral e irrestrita para que a gente recomece a construir o nosso país.

Felipe: Presidente, eu gostaria de pegar aí na esteira desse caminho de reconstrução que o Elias colocou para trazer mais um assunto à tona, que é a questão dos combustíveis no nosso país. Estão em tramitação em Brasília projetos que têm o objetivo de reduzir a carga tributária sobre o preço dos combustíveis, no entanto, quando a gente aprofunda a discussão a gente percebe que a questão de fundo está na política de preços da Petrobras, que tem privilegiado hoje a remessa dos lucros aos seus acionistas com base numa equiparação do preço aos padrões internacionais que estão todos vinculados ao preço do dólar. O senhor entende que a Petrobras pode ser uma empresa com responsabilidade social e, ao mesmo tempo, ser capaz de atender os interesses daqueles que colocam dinheiro, os seus acionistas? O que o senhor pensa sobre essa política de preço, presidente?

Lula: Olha, ela já foi assim. Felipe, você está lembrado que em 2010 nós fizemos um processo de capitalização da Petrobras que transformou a Petrobras na segunda empresa de energia no mundo. Nós fomos na Bolsa de Valor(es) fazer uma capitalização de quase 70 bilhões de reais na Petrobras, que era o equivalente a 5 bilhões de barris de petróleo do pré-sal. Você sabe que a Petrobrás só descobriu o pré-sal porque ela investiu, ela saiu de 3 bilhões de investimento para quase 30 bilhões de investimento. Quando nós decidimos fazer sonda e plataforma no Brasil e resolvemos que ia ter componente nacional de 65 a 70%, era porque a gente queria fortalecer a empresa nacional, gerar emprego no Brasil.

Ora, a Petrobras sempre regulou os seus preços. A gente não é necessariamente dependente do preço internacional, a gente tem petróleo. A gente não tem que importar petróleo, a gente produz o petróleo. E o pré-sal é extraído de quase 6 mil metros de profundidade ao mesmo preço de um barril de petróleo tirado da Arábia Saudita a 500 metros de profundidade. A diferença é de 1 dólar. Então, o Brasil tem que dar dividendo para o acionista? Tem. Mas não pode ser tudo. O Brasil não precisa dar 70 bilhões de dividendos para os acionistas e deixar o povo brasileiro sem nada.

É importante que uma parte do dinheiro, do lucro da Petrobras seja reinvestido na Petrobras. Eles, ao invés de investir, estão vendendo a Petrobras, estão fatiando a BR e vendendo, estão vendendo os gasodutos. Agora mesmo eu fui ao Rio de Janeiro, duas plataformas que faltavam 10% para aprontar, eles desmancharam e venderam como sucata. Isto não é possível acontecer. Então, eu posso te dizer, Felipe, olhando assim no teu rosto e olhando na câmera, de que nós vamos cuidar do preço do petróleo aqui no Brasil, do preço da gasolina, do gás e do óleo diesel, porque o Brasil é autossuficiente e o Brasil não precisa importar esses derivados a preço do dólar.

O Brasil pode produzi-los a preço de reais. Tem gente que não gosta que eu falo isso, ótimo, como tem gente que não gostava quando eu dizia em 2002 que a gente tinha condições de produzir navios. Eu lembro que o presidente da Petrobrás naquela época dizia que eu era mentiroso, que eu não sabia o que eu estava falando. Nós não só produzimos navio como a gente saiu de quase 3 mil trabalhadores para 82 mil trabalhadores da indústria naval. Eles agora desmontaram tudo. Então, o esforço que nós fizemos para pesquisar e para descobrir o pré-sal, quando nós fizemos a lei, a regulação do petróleo e nós criamos a Lei da Partilha, era porque a gente queria dizer, o petróleo é do povo brasileiro, vai ter que se criar um fundo para o povo brasileiro e um outro fundo para investir em educação, ciência e tecnologia e saúde. Tudo isso estava preparado para funcionar.

Eles inventaram, e eu vou entrar num assunto que eu não queria entrar, que é a Lava Jato, eles inventaram a Lava Jato, fizeram toda a sacanagem a serviço das empresas petroleiras do mundo, na tentativa de destruir a Petrobras. E isso ainda está em andamento. E tudo isso já está mais ou menos provado, e nós vamos parar com isso. Portanto, Felipe, pode ficar certo que nós vamos mexer no preço do combustível, porque o povo brasileiro não é palhaço para pagar o preço do combustível em dólar quando ele não ganha em dólar.

Tiago: Presidente, em 2012 eu acompanhei como repórter, eu trabalhava no Uol na época, em São Paulo, eu acompanhei como repórter a campanha do Fernando Haddad à prefeitura de São Paulo, era chamado aquele repórter carrapato. Então eu acompanhei a campanha inteirinha do Fernando Haddad para prefeito, a primeira, em que ele foi eleito. E a gente via nas periferias, não só nas franjas da cidade de São Paulo, mas também, principalmente entre a classe média, muita esperança com o Haddad, com o PT. Seis anos depois, se a gente for considerar a eleição que elegeu o Bolsonaro, a gente viu o inverso, principalmente da classe média, e aqui no interior paulista tem um sentimento muito grande de uma classe média desiludida com o Partido dos Trabalhadores, desiludida com o PT, uma classe média que votou no Bolsonaro muito por causa do antipetismo. Hoje, 2022, se a gente for ver o índice de rejeição, comparado com o presidente Bolsonaro, o seu índice de rejeição não é tão alto quanto o dele, mas ainda existe um certo sentimento antipetista entre a classe média. Só que paralelamente a isso, o senhor falou de Campinas, da pujança, a cidade das andorinhas… Se a gente for andar aqui no centro da cidade de Campinas, como na maioria das grandes cidades do Brasil, a gente vê moradores em situação de rua, gente passando fome, gente comendo osso. Quer dizer, a impressão que me dá é que existe um deslocamento muito grande de classe média e classe baixa. Minha pergunta é a seguinte, como que o senhor pensa em fazer essa união, principalmente em torno da classe média, nesse momento tão delicado que o nosso país passa, presidente?

Lula: Companheiro Thiago, Elias, Felipe, você tem no Brasil o antipetista como você tem em Campinas anti-Ponte Preta, anti-Guarani, você tem em São Paulo anti-corintiano, anti-palmeirense, anti-são-paulino, anti-santista. Ou seja, agora quando você faz uma pesquisa, qualquer instituto de pesquisa, e faz uma pergunta, qual é o partido da sua preferência nacional, o PT aparece entre 20 e 30%, e o segundo partido aparece com 1%, ou seja, significa que não existe um outro partido político, existe o PT.

E você sabe que o que eu estou falando é verdade, o PT é o mais importante partido político de esquerda da América Latina, eu dizia que não tem similar no mundo igual o PT do ponto de vista partidário. Um partido plural, um partido que tem vários pensamentos ideológicos, que tem vários pensamentos religiosos, um partido que tem igualdade de participação entre mulheres e homens, ou seja, paridade. O PT é a inovação da política brasileira.

E obviamente que não tem ninguém que seja unanimidade. Não tem ninguém. Eu nunca fui eleito no primeiro turno no Brasil, quando eu ganhei do Serra, quando eu ganhei do Alckmin eu tinha 47, 46%, ou seja, o que é bom é que você tem na democracia a possibilidade de construir essa maioria durante o processo de disputa política. Então, o que é que o PT faz? O PT foi o partido mais atacado, eu poderia te dizer, Thiago, como jornalista jovem, mas experiente, que não existe na história do Brasil um partido que foi atacado como o PT.

Aliás, não existe um político que foi atacado como eu. Eu diria que eu sou o político mais censurado na história do país. Eu passei mais de cinco anos sem aparecer num canal de televisão, e vocês sabem do que eu estou falando. Eu passei mais de cinco anos sem ter o direito de resposta. Eu não estou me queixando não. Não estou me queixando. Eu lembro quando eu era candidato a 2006, eu era presidente da República, e uma vez eu percebi que num programa de televisão e num canal de televisão, a Heloísa Helena, que tinha 2%, tinha mais espaço do que eu. As pessoas só tiraram a Heloísa Helena da televisão quando descobriram que ela tirava voto do Alckmin e não meu.

Então eu tenho muita tranquilidade para dizer para você, Thiago, que esse antipetismo ele primeiro é construído contra o PT. Ele é construído. O PT é muito atacado pelas coisas más, pelas coisas boas, o PT erra, o PT acerta, e a gente paga o preço por isso. O que é que eu tenho orgulho? Eu tenho orgulho de ter deixado a presidência da República com 87% de bom e ótimo. Não era de aprovação médio e regular, era 87% de bom e ótimo, 10% de regular e 3% de ruim e péssimo. Hoje, desde que eu saí da presidência até hoje, quando se pergunta em qualquer pesquisa, quem foi o melhor presidente da história do Brasil, as pessoas vão dizer que foi o Lula.

Se você perguntar em que momento teve a maior política de inclusão social, de mais aumento de salário, as pessoas vão dizer: foi no governo do presidente Lula. É por isso que eu fico lisonjeado e fico emocionado com o carinho do povo brasileiro, me colocando como o primeiro nas pesquisas de opinião pública, depois de passar o que eu passei. Na verdade tinha muita gente, Thiago, que achava que quando eu fui preso com as acusações mentirosas desse juiz que eu não vou falar o nome dele porque ele está querendo ter protagonismo, ele tem que crescer para ele ter protagonismo. Quando eu fui preso pelas mentiras deles, eles imaginavam que eu tinha acabado na política. Imaginava que o PT tinha acabado na política. E o que é que eu estou vendo hoje? Nós estamos num processo quase que de ressurreição, sabe?

A gente está crescendo, o PT está ganhando credibilidade, as pessoas estão vendo o que aconteceu no tempo do PT, e nós estamos tentando mostrar o que foi o Toninho na prefeitura de Campinas, que morreu muito cedo. Mas o que foi o governo do PT em Campinas com Jacó Bittar, era muito melhor do que os que vieram depois. Era muito mais política de inclusão social. Ora, não é à toa que foi o melhor período para investimento em Educação, mais pobres foram para universidade, mais negros, mais índios foram para universidade, mais acordos salariais. Olha, só da categoria metalúrgica nós fizemos uma inclusão de 1 milhão de empregos no tempo em que nós governamos esse país.

Então, é isso que as pessoas têm na memória, e é isso que nós temos que conversar com o povo, para que o povo lembre o país que ele tinha antes de nós, o país que ele teve quando nós chegamos ao governo e o país que ele tem agora. E, lógico que sempre vai ter gente contra o PT, e é bom, porque eu não acredito em partido único. Eu não gosto de partido único, e eu também não aceito a ideia de que tem pessoas que são imprescindíveis, pessoas que são, eu diria insubstituíveis. Não. A democracia pressupõe rotação de poder. A democracia pressupõe alternância de pessoas e de setores sociais.

É importante lembrar que eu fui o primeiro metalúrgico operário a chegar na presidência da República. É importante lembrar que o Evo foi o primeiro índio a chegar na presidência da República, e foi feita uma coisa extraordinária, nós mudamos esse país. Então, o PT precisa trabalhar muito. E vou te dizer uma coisa, Thiago, eu todo dia eu fico imaginando que nunca foi tão possível o Haddad ganhar o governo do estado como será agora.

Eu acho que o Haddad vai ganhar o governo de São Paulo, se ele fizer as alianças que tem que fazer, se ele conversar com as pessoas certas. Ele é muito humilde, mas é muito competente. Para a gente poder construir a vitória do Haddad será a primeira vez na história de São Paulo que vai ter um jovem progressista governando essa cidade, esse estado que é o mais importante do Brasil. Então, nós vamos acabar com esse antipetismo. A gente nunca vai conseguir acabar totalmente porque tem gente do PSDB, tem gente do PMDB, tem gente de outros partidos políticos que não querem que o PT ganhe. Mas cabe ao PT convencer inclusive aqueles que não são petistas, de que o PT pode ser melhor para a vida deles, para a cidade deles e para o estado deles.

Thiago: Eu ia abrir agora para o Elias Aredes, mas o senhor falou do ex-prefeito Haddad, do ex-ministro Haddad, então eu quero aproveitar esse gancho. A gente está vendo muita conversa do PT com o PSB, o PSB é um partido importante, pelo jeito em Pernambuco essa aliança já está se desenhando de uma maneira mais clara do que aqui em São Paulo, nessa semana que passou o Márcio França, nome forte do PSB, disse que tem muita chance da sua aliança com o Alckmin, que ele vê com bons olhos isso. E há poucas semanas, aqui no microfone da Brasil, o ex-prefeito de Campinas, Jonas Donizetti, que também é um nome forte do PSB em nível estadual, em nível nacional, disse que chegou até a participar de reuniões na casa do Fernando Haddad, que está com diálogo aberto com Fernando Haddad. A gente sabe, o nome do Jonas é inclusive ventilado para vice do Haddad, por mais que ele não tenha nem negado e nem afirmado que deve ser candidato a vice do Haddad. Como é que estão as tratativas dessa aliança do PT com o PSB, sendo que tanto o Haddad quanto o França querem sair candidato a governador?

Lula: Olha, eu não sei com quem o Haddad está conversando, eu sei que o Haddad gosta de conversar, e o Haddad é esperto, o Haddad está conversando com todo mundo que queira conversar com ele. Eu fico feliz de saber que o Donizetti tem essa expectativa e que ele está trabalhando para que as coisas possam acontecer. Nós chegamos a um momento, Thiago, é muito engraçado isso, nós chegamos a um momento em que nós precisamos juntar todas as pessoas de bem nesse país para a gente reconstruir o Brasil. Eu tinha cansado de perder três eleições, e eu perdia todas as eleições com 30% e faltava 20% para ganhar as eleições.

Eu fui procurar um grande empresário, eu na verdade eu não conhecia o Zé Alencar, eu fui a Minas Gerais para uma festa de 50 anos de vida empresarial dele, contra a minha vontade. Quando eu ouvi o discurso do Zé Alencar e ouvi ele falando da vida dele, eu saí de lá e falei, acho que eu encontrei o meu vice. Na semana seguinte, eu fui a Brasília conversar com o senador José Alencar e fui dizer que eu gostaria que ele fosse o meu vice. Discutimos com ele, saímos, tiramos ele do PMDB, colocamos ele num outro partido político, ele foi um vice extraordinário.

Então, o PT não tem a ambição de ganhar sozinho, nem São Paulo e nem o Brasil. Nós precisamos compartilhar a campanha e compartilhar a vitória e compartilhar, eu diria, a responsabilidade de reconstruir o Brasil. Não é tarefa para um partido, é tarefa para muita gente. Eu digo para a minha presidenta Gleisi, eu não quero ser presidente do PT, eu quero ser presidente de um movimento. O movimento pela reconstrução desse país, um movimento pela reconstrução dos direitos dos trabalhadores brasileiros, um movimento para restabelecer a democracia desse país. É assim que eu quero chegar à presidência da República, se em março eu decidir que eu vou ser candidato.

Eu estou muito tranquilo. Eu sinceramente estou muito tranquilo, estou muito sereno com relação a isso. Acho que o que eu passei na minha vida me serviu para calejar a minha vida. Eu sou um homem sem ressentimento, eu sou um homem sem ódio, eu sou um homem que mesmo aqueles que fizeram as mentiras que fizeram contra mim, eu acho que hoje eles sofrem mais do que eu, porque ninguém consegue dormir bem com a consciência pesada. Eu tenho certeza que muitos deles tomam remédio para dormir porque sabem que mentiram a esse país.

Essa brincadeira da Lava Jato, companheiro Elias, companheiro Felipe e Thiago, custou ao Brasil 4 milhões e 400 mil desempregos. Eu vou repetir, 4 milhões e 400 mil pessoas perderam o emprego. Essa brincadeira fez com que o país deixasse de ter 270 bilhões de reais para investimento. Esta brincadeira fez com que o país deixasse de ter 58 bilhões de reais de arrecadação, além de quebrar a quantidade de empresas que quebrou. Quebrou a nossa empresa de gás e óleo, a nossa indústria, quebrou a nossa indústria de engenharia. Então, é isso que aconteceu no Brasil.

Então, estas pessoas que mentiram ao Brasil e a imprensa que compactuou com essa mentira, a imprensa que transformava as mentiras em verdade, sabe que o que eu estou dizendo é verdade. Então eu não posso ficar com ódio, eu tenho que ter muita paz, muita tranquilidade, muito amor no coração para dar, e muita paz na minha cabeça para poder fazer as coisas bem pensadas, bem discutidas, sem ressentimento. É esse país que vai tentar passar durante o processo de campanha, e é esse país que será governado por alguém sem ódio, por alguém que queira dar livro de graça e não vender arma, por alguém que queira fazer mais centro de pesquisa, mais laboratório, mais universidade, mais escolas técnicas, e não um centro de treinamento militar. Porque esse país não é um país paramilitar.

Então pode ficar certo, pode ficar certo, Thiago, que nós estamos com a cabeça certa para fazer as coisas certas, tentando reunir as pessoas de bem desse país. E tudo vai terminar na mesa farta, com a picanha gordurosinha que o Elias está desejando comer. Ele tem que se comportar bem porque senão eu não vou deixar ele sentar na mesa, vai ficar em pé viu, Elias, se você não se portar bem até lá.

Thiago: Quero abrir aqui a última rodada de perguntas, porque nosso tempo está estourando, daqui a pouco temos o programa de esporte aqui na Brasil, o Brasil Esporte Clube. Aliás, se o presidente Lula quiser continuar aqui no Programa Esporte Clube, só não pode falar mal das Ponte Preta e do Guarani hein, presidente. Quero abrir agora para o Elias Aredes.

Elias: Presidente, o senhor que se afeiçoou muito à leitura nos últimos tempos, eu não sei se o senhor leu o livro ‘Engenheiro do Caos’, do Giuliano de Empoli, em que ele fala o avanço da extrema direita no mundo e fala especificamente do que aconteceu na Itália, da operação Mãos Limpas e a formatação do Matheus Salvini, que é o líder da extrema direita italiana. Aí a gente vê um cenário em que um podcaster é demitido porque faz um discurso a favor do nazismo. Hoje um comentarista de uma rádio de São Paulo foi demitido porque fez uma saudação nazista no encerramento do programa. O que eu quero perguntar para o senhor é o seguinte, o senhor sempre teve críticas fortes e ferozes em cima de Sérgio Moro e de Jair Bolsonaro. E muitos cientistas políticos afirmam que eles, de um jeito ou de outro, colaboraram para esse caos institucional que muitos apontam no Brasil na atualidade. Presidente, quem tem mais culpa, é o Jair Bolsonaro? É o Sérgio Moro? Ou são os dois? Ou nenhum dos dois?

Lula: Olha, Elias, eu sou obrigado a te dizer que desde 2013 esse clima foi sendo construído no Brasil. Em toda a história da humanidade, toda vez que se negou a política o que veio depois é bem pior. Então, no Brasil se negou muito a política, se destruiu muito a política, jogou-se desconfiança em todo mundo, a ponto de um cara como o atual presidente ser deputado há 28 anos, mais 4 de vereador, e passou a campanha inteira vendendo a ideia de que ele não era político e de que não gostava de política. Veja o absurdo, o que é a mentira.

Então veja, nós vivemos então o resultado da negação da política, e toda vez que a gente nega a política o que vem é pior. Portanto, a gente precisa aprender a gostar da política para a gente poder melhorar a política. O político, ele pode ser ruim, mas você pode trocá-lo, um ditador você não troca, um ditador, antes de sair, mata muita gente. Um ditador, antes de sair, causa muito prejuízo. No regime democrático você troca quando você quiser. Ah, você votou num deputado, você não gostou dele, vota em outro. Ah, você votou num prefeito, você não gosta dele, não vota outra vez, vota no outro.

Então o que é importante é a gente ter clareza de que essas pessoas são resultado dessa negação à política. Eu acompanhei muito a questão da operação Mãos Limpas, eu não li o livro, mas li muito sobre a operação Mãos Limpas, e eu li, eu li sobretudo a tese do juiz. Ou seja, ele fez um pacto, ele visitou todas as redações dos jornais em São Paulo. Ele visitou a Folha, o Estadão, ele visitou o Globo, visitou as revistas, visitou os canais de televisão, e aí ele montou um esquema de que todas as mentiras que ele e o Dallagnol contavam eram vendidas no noticiário como se fosse verdade.

Então, o resultado é esse que está aí. Eu não vou ficar chorando o leite derramado, eu quero ajudar a mudar outra vez. Então, nós temos que aproveitar o momento político do país e a gente dizer chega, nós precisamos de um outro país, com um governo democrático, plural, um governo que não tenha preconceito, um governo que goste mais de livro didático do que de armas, um governo que não desrespeite ninguém, nem preto, nem branco, nem índio, nem mulher, nem LGBT. O presidente da República, ele tem que gostar do povo brasileiro e não da família dele ou dos milicianos dele. Então, eu sinceramente acho que a negação da política está chegando ao fim. Está chegando ao fim.

É muita, é muita mentira. É muita canalhice aos ouvidos do povo brasileiro. Você ter um presidente que mente no fake news oito vezes por dia. Um presidente que não tem compromisso com a verdade. Esses dias, quando aconteceu aquele problema do metrô de São Paulo, ele jogou a culpa em cima de mulher: ah, tem muita engenheira mulher. Então a mulher não está preparada para aquilo. Depois chamou o nordestino de pau de arara. Depois disse que o negro do quilombo tinha que ser pesado em arroba. Ora, esse cidadão não tem efetivamente, não tem o direito de governar esse país. Se o povo errou num determinado momento, o povo tem que consertar agora.

É isso que está em jogo, Elias, e é isso que eu torço para que aconteça. E vou repetir para você, não precisa ser o Lula, tem que ser alguém democrático, alguém que goste do Brasil, alguém que goste de democracia, alguém que goste de educação, alguém que goste do movimento sindical, alguém que goste dos índios, dos negros, alguém que goste do povo brasileiro e que seja democrático. E que seja respeitoso com a sociedade brasileira.

Felipe: Presidente, a gente tem acompanhado nessa esteira dos debates pré-eleitorais uma discussão bastante forte também sobre o papel dos meios de comunicação, o senhor até mencionou aí quando fez a sua explanação sobre a questão da Lava Jato. Eu tenho para esse tema duas rápidas perguntas para o senhor. A primeira, o senhor confia no jornalismo profissional que é feito hoje no Brasil? O senhor acredita que a imprensa brasileira hoje está mais madura para lidar com esse fenômeno das fake news e das leviandades que estão ou que fizeram parte do discurso nos últimos anos? Esse é o primeiro ponto. E o segundo, o que é que o senhor pretende elaborar como política para o setor da mídia regulada no Brasil, rádio e televisão aberta, por favor?

Lula: Olha, eu vou começar pela segunda, Thiago. Veja, primeiro, em 2009 eu era presidente da República, nós fizemos um seminário que participou, um seminário não, uma conferência nacional, a conferência foi feita no município, depois ela foi feita nos estados e depois ela foi feita a nível nacional. Participaram quase 3 mil delegados e se aprovou uma regulação da mídia televisada, da mídia do rádio e da internet. Ou seja, depois aquilo não foi para o Congresso Nacional, não sei porque o ministro Paulo Bernardo, que era o ministro na época, da Comunicação, não mandou aquilo para o Congresso Nacional, talvez por orientação da própria presidenta Dilma. Então não foi para o Congresso Nacional.

E aí, quando a gente fala em regulação fala em censura. Ninguém quer censurar. O censurado sou eu. Não tem na história do Brasil alguém mais censurado do que eu. Por isso, Thiago, eu agradeço a vocês a oportunidade de poder estar falando nessa extraordinária comunicação que é a Rádio Brasil. Mas na verdade as pessoas não me davam sequer o direito de resposta aos meus advogados. Durante anos. Você não tem noção o que é ficar sentado no sofá com a família ouvindo dizer que você é ladrão durante 20 minutos, e depois você pedir o direito de resposta e não ter. Então, veja, o que é que nós queremos fazer? Nós achamos que tem que fazer uma regulação na televisão, no rádio.

Agora, quem é que vai fazer? É a sociedade. Primeiro através do Congresso Nacional, e o que a gente pode fazer é fomentar um debate na sociedade brasileira. Não é o presidente da República que vai fazer. E também agora porque tem internet, você está vendo a confusão na internet. Ou seja, se a gente não discutir como regular a internet para que ela seja um instrumento do bem, para que ela seja um instrumento para discutir coisa séria, para ela ser um instrumento para contribuir com o entretenimento, com a formação cultural das pessoas e não com o ódio, não com estímulo ao ódio, não com mentira.

Eu sei o que eu passei quando morreu o meu netinho, o filho do Bolsonaro chegou a dizer no Twitter dele, a melhor notícia do ano. Foi a morte do meu neto. E como é que a gente pode conviver com isso? Como é que a gente pode ficar com gente estimulando a morte, com gente vendendo o preconceito todo o santo dia, atacando a honra das pessoas? Então é preciso ter uma regulação. Não pergunte para mim que eu não sei como regular, Thiago. Eu não sou especialista nisso, mas o Brasil deve ter muita gente nas universidades, na sociedade brasileira, que vão saber fazer uma regulação em que a gente não censure, mas a gente não permita a libertinagem que tem hoje nos meios de comunicação.

Você mesmo acabou de falar agora do cara que foi, fez uma despedida nazista num meio de comunicação que é concessão do Estado. Não era um jornal escrito que é da responsabilidade dele, é um instrumento de concessão do Estado. Você liga a televisão, você vê quanta bobagem você vê todo dia. Não é possível que não tem um mínimo de responsabilidade para as pessoas que têm esse meio de comunicação. Essa é uma coisa. A outra coisa é a questão do, eu gostaria de que a gente tivesse um jornalismo muito sério no Brasil e no mundo.

Você veja uma coisa, o Assange está preso todo esse tempo, quando ele deveria ter sido transformado no herói da humanidade. Quando ele deveria ter sido transformado num herói da imprensa mundial. Porque o que é que ele fez? Ele apenas divulgou a sacanagem feita pelo governo americano, pela CIA, pelo estado profundo dos Estados Unidos. Ele apenas divulgou. Quando ele deveria ser homenageado pelo mundo inteiro, não, ele está lá preso na Inglaterra e os Estados Unidos querendo levar ele para os Estados Unidos para confiná-lo à pena de morte. E o que é que a gente está fazendo? Nada. Esse cara deveria todos nós estarmos aplaudindo ele por ser o símbolo da democracia. Qualquer safadeza feita no mundo vai ser divulgada para o povo saber quem está fazendo a safadeza. Não. Ele foi punido e o outro está exilado em Moscou.

Então, eu acho que a gente deve continuar sonhando com o jornalismo sério. O que vocês estão fazendo aqui é jornalismo sério, vocês estão fazendo as perguntas que vocês querem fazer, eu respondo aquilo que eu quero responder. Isso é jornalismo sério. Vocês vão entrevistar outras pessoas. Isso é jornalismo sério. O que não pode ser sério é você mentir, é você só dar voz a um lado, você só ouvir um lado, você só conhece a cor azul, você não conhece a cor vermelha, a cor branca, a cor verde. Ou seja… Então eu acredito nisso, Thiago.

Eu continuo acreditando que nós vamos caminhar para uma imprensa muito responsável. O que é que eu desejo na imprensa? O censor do jornalista que escreve é o leitor, o censor do jornalista que fala é o ouvinte, e o censor do jornalista que está na televisão é, eu diria, a pessoa que está assistindo o programa de televisão. Enfim… Agora, o que é que você tem que fazer? Você tem que ter seriedade. Você vai dar oportunidade ao Lula, dê ao Ciro, dê aos outros candidatos, dê ao presidente da República. Não é só um lado que tem que ouvir. Então eu acho que isso a gente vai conseguir ter com o tempo, ter uma imprensa efetivamente plural, democrática, que garanta oportunidade para todos.

Thiago: Isso que o presidente falou aqui na Brasil é verdade, esse microfone aqui está aberto para todos os pré-candidatos, estamos aí conversando com as assessorias e a gente espera falar com todo mundo. Alguns não gostam de falar, mas queremos falar com todo mundo, de Bolsonaro a Ciro, a Moro, todo mundo, gostaríamos muito que participassem aqui dessa rodada de entrevistas como participou o ex-presidente Lula, líder das pesquisas presidenciais deste ano, a quem eu quero agradecer demais. Muito obrigado pela entrevista, muito obrigado por esse bate-papo aqui com os ouvintes da Brasil.

Lula: Thiago, eu queria aproveitar a oportunidade para mandar um abraço para os companheiros do PT de Campinas, e sobretudo para o meu companheiro Pedro Tourinho, que teve uma participação na campanha para candidato a prefeito extraordinária. O Tourinho, além de ser um extraordinário médico, ele vai se transformar na grande revelação política da cidade de Campinas, eu estou sabendo que ele é candidato a deputado federal. Eu talvez ainda vá a Campinas por esses dias porque eu estou devendo uma visita a Campinas para fazer um encontro com os petistas, com os sindicalistas e com o movimento social.

Eu de qualquer forma, Thiago, quero agradecer de coração a você, quero agradecer ao Elias, quero agradecer ao Felipe, por essa oportunidade. Eu acho que se a gente tiver um mundo verdadeiro, em que o jornalista pergunte aquilo que quiser, não tem que ter censura na pergunta, não tem que ter, o entrevistado ficar nervoso, ficar bravo, não gostar da pergunta. Não. Se tem uma pergunta que não gosta, não responda, não fica brigando com o entrevistado. Então, eu estou muito à vontade. Quero te dizer que eu vivo um bom momento da minha vida. Um bom momento. Eu cheguei a essa idade, eu diria, muito calejado, muito preparado para poder enfrentar as adversidades. Estou muito mais experiente do que eu estava em 2003, com muito mais responsabilidade e muito mais sabedor das minhas tarefas com esse país, e com o mundo, porque o Brasil tem que voltar a ser respeitado no mundo.

Thiago: Mais uma vez um forte abraço. Queria agradecer também Felipe Zangari e Elias Aredes. Felipe, obrigado, um abraço.

Felipe: Obrigado, Thiago. Presidente, muito obrigado. Até a próxima.

Thiago: Elias, obrigado também, um abraço.

Elias: Um abraço e boa picanha para o presidente, se ele gosta de coxão, de picanha, alcatra, aí é do gosto dele.

Lula: Elias, agora, quem não gosta de carne pode comer uma salada orgânica, pode comer comida orgânica.

Elias Aredes: Cogumelo, presidente. Cogumelo. Cogumelo na manteiga fica uma delícia.

Lula: Isso. Cada um coma o que quer. Cada um coma o que quer. Prefiro uma picanhinha assada, um filezinho.

Tiago: Esse papo está me deixando com fome. Ponto final no Brasil Agora. Você fica agora com a mensagem do arcebispo metropolitano de Campinas, Dom João Inácio Miller na sequência. O Brasil Esporte Clube, eu conto sempre com a audiência e a companhia de todos. Forte abraço.