Leia a íntegra da entrevista de Lula para a rádio Difusora de Manaus (AM)

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Na última quinta-feira, 23, o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva concedeu entrevista à rádio Difusora, de Manaus (AM).  Confira abaixo a íntegra da conversa com os apresentadores Rafael Campos e Rosiene Carvalho

Luiz Inácio Lula da Silva:
É um prazer imenso falar com a rádio Difusora. Para mim é uma alegria muito grande voltar a falar com o estado do Amazonas, estado que eu espero agora, entre julho e agosto fazer uma visita já em campanha eleitoral para conversar de perto com o querido povo do Amazonas.

Rosiene Carvalho:
Muito bem, presidente, a gente quer ouvir o senhor e é impossível não começar por esse assunto, porque é uma pauta nacional e internacional das mais importantes. As instituições que deveriam monitorar e fiscalizar a floresta amazônica sofrem hoje um contundente esvaziamento e enfraquecimento. Em entrevista ao Jornal Folha de São Paulo, revista essa publicada no domingo, o indigenista Bruno Pereira expôs as condições de assédio e perseguição que ele e outros funcionários da FUNAI que atua na proteção dos povos isolados sofrem pela atual direção desta fundação, desta autarquia. E o lobby de parlamentares e representantes do agronegócio retrógrado da autarquia. Duas perguntas sobre essa questão: como o senhor avalia a manutenção de Marcelo Xavier na FUNAI nessas condições, e como o senhor pretende fortalecer esse órgão, esses órgãos, não só FUNAI, outros órgãos também, num eventual governo?

Luiz Inácio Lula da Silva:
Olha, Rosiene, é lamentável, é muito triste a morte do jornalista inglês, é muito triste a morte do indigenista brasileiro, e é grave porque nós vimos um processo de ascendente de fortalecimento da FUNAI, de fortalecimento da Polícia Federal na região de fiscalização, na região em função do tráfico de armas, do tráfico de drogas. Lamentavelmente depois do golpe que deram na presidenta Dilma, ou seja, toda a estrutura de acompanhamento das reservas indígenas, todo o sistema de fiscalização que tinha sido montado foi sendo destruído, foi sendo destruído e incentivado pelos governos fascistas de que era importante abrir a porteira para passar o gado, de que era importante abrir as fronteiras para passar o garimpo, de que era importante abrir as fronteiras para que pescadores profissionais fossem pescar em lugares que eram reservas indígenas, ou seja, uma reserva que permitia que os índios tivessem alimento e fartura. As pessoas iam pegar de forma profissional, pescar para venderem em outros lugares. É uma pena que o governo inexista nesse momento nessa região. É uma pena que o governo tenha cometido um descaso com a preservação da Amazônia, com a preservação do território indígena, com a saúde da população. 

Então eu penso que, o que eu posso te dizer é que nós vamos voltar a fazer aquilo que a gente já vinha fazendo. Nós tínhamos diminuído o desmatamento na Amazônia em 80%, nós estávamos fazendo a maior demarcação de terras indígenas da história desse país, nós estávamos fazendo territórios que a gente queria que fossem reservas florestais para que a humanidade pudesse viver mais dignamente com aquilo que a Amazônia poderia contribuir com a humanidade. Mas desde 2016 para cá tem gente governando esse país que não se preocupa com isso, que passa por cima disso. Você tem um presidente da República que vai a Manaus ao invés de visitar quem sabe parente das vítimas, ao invés de visitar famílias do Bruno, ao invés de ter uma palavra de conforto ele vai fazer motociata como se nada tivesse acontecido da forma mais irresponsável. 

Um presidente que não tenha derramado uma única lágrima por mais de 670 mil pessoas que morreram de Covid, o que se espera disso? Ora, o que se espera na verdade é que a democracia volte a reinar no Brasil e que o povo possa voltar a ter uma certa normalidade porque nós temos que cuidar da Floresta Amazônica, nós temos que cuidar do povo da Amazônia que precisa ter emprego, precisa ter salário, precisa ter qualidade de vida. Nós precisamos cuidar dos indígenas porque é até um dever moral a gente cuidar daqueles que descobriram o Brasil bem antes dos portugueses e que tem direito de viver dignamente da forma que eles quiserem viver, para que a gente possa manter a cultura indígena viva no nosso país. Então é lamentável, e eu só posso dizer para você que quando eu for a Manaus eu vou ver se eu consigo conversar com os indígenas, quem sabe visitar o Vale do Javari para que a gente possa marcar uma posição mais forte com relação àquilo. O que eu posso te dizer agora na primeira pergunta é o seguinte, não haverá garimpo em terras indígenas. Essa é uma questão de lei, é uma questão da Constituição, é uma questão, um dever moral da sociedade brasileira para com os indígenas brasileiros.

Rosiene Carvalho:
Muito bem presidente. Eu vou insistir na primeira pergunta que eu fiz em relação a atual direção da FUNAI em função de tudo que o Bruno relata nessa entrevista na Folha de São Paulo e que traz, é trazido também pelos funcionários da FUNAI, de assédio, de funcionários que tentam fazer a defesa dos territórios e sofrem assédio sendo perseguidos. Há um relato, um dossiê a esse respeito e o atual presidente da FUNAI Marcelo Xavier não faz nenhuma questão de esconder a relação que ele tem, o histórico que ele tem com pessoas de influência, de interesses diversos aos interesses dos interesses indígenas. Qual a sua opinião a respeito da manutenção desse nome diante de tudo o que essa questão está causando ao país internacionalmente?

Luiz Inácio Lula da Silva:
Olha, desde que esse governo tomou posse, Rosiene, que a gente vê que a política dele não é cuidar, é descuidar. Não é preservar, é desmatar. Por quê? Porque ele colocou o ministro do Meio Ambiente que queria destruir, que não queria preservar a nossa floresta, que não queria preservar as terras indígenas, ou seja, desde o início, desde o começo da posse é o discurso do presidente incentivando. Então, o presidente da FUNAI é a cara do presidente da República, é a cara do desgoverno. Porque não tem nenhum cuidado, ou seja, o fato do Bruno ter sido mandado embora pelas posições que ele tinha em defesa dos índios, em defesa das nações indígenas, é a demonstração maior de que esse governo não tem responsabilidade nenhuma. 

Ou seja, por isso que a sociedade brasileira precisa ser da conta de que em 2018 o povo brasileiro quem sabe tenha cometido um erro histórico, quem sabe levado pelas mentiras, levadas pela fake news, tenha levado este país ao maior erro histórico de eleger uma pessoa com comportamento fascista, com nenhum comportamento civilizatório. Esse cidadão que eu estou falando ele nunca se reuniu com governadores, nunca se reuniu com prefeitos, nunca se reuniu com sindicalistas, nunca se reuniu com indígenas, nunca se reuniu com mulheres, nunca se reuniu com nenhum movimento nesse país, e ainda mais, ele quer destruir a Zona Franca de Manaus. 

Ou seja, numa demonstração de que esse cidadão não conhece o Brasil, não tem responsabilidade com o Brasil, e não sabe a importância da manutenção da floresta para o planeta Terra e não sabe a importância da Zona Franca de Manaus para a sobrevivência do povo desse estado. Significa que ele não conhece, significa que ele efetivamente só sabe fazer as bobagens, andar de jet ski, andar de motocicleta, ou seja, ele não tem o comportamento adequado como um presidente que teria que ter responsabilidade, que deveria ter visitado o Vale do Javari, que deveria ter visitado, ter ido conversar com os índios, ou seja, isso não faz parte do comportamento dele. Por isso eu acho que as declarações do Bruno eram apenas a constatação do abandono que a FUNAI está renegada desde que foi dado o golpe na presidenta Dilma em 2016.

Fred Lobão:
Presidente, a bárbara morte do Bruno Pereira e do jornalista Dom Philips expôs a fragilidade das nossas fronteiras e a grande influência do narcotráfico em crimes ambientais. Ou seja, a Amazônia servindo como rota do tráfico internacional de drogas e de produtos extraídos ilegalmente da floresta. O que o senhor pretende fazer a esse respeito se vencer a eleição?

Luiz Inácio Lula da Silva:
Olha Fred, essa é uma coisa que eu acho que é nobre a gente fazer uma discussão. Eu vou ter uma reunião na próxima semana com todos os governadores do PT e dos partidos coligados com o PT para que a gente possa a partir da experiência desses governadores a gente saber que política nós vamos ter para nossas fronteiras. Primeiro porque é preciso saber qual será o papel do Exército, ou seja, embora o Exército não tenha papel de polícia, é preciso que a gente rediscuta para saber qual é o papel do Exército ao cuidar das nossas fronteiras. Segundo, qual é o papel da Polícia Federal, ou seja, a Polícia Federal ela precisa fazer concurso, precisa ter mais policiais, porque nós precisamos de mais gente ocupando as nossas fronteiras. 

Eu não sei se você sabe, eu fiz, aquela ponte que nós fizemos entre Assis Brasil no Acre e no Peru, uma estrada que vai até Lima, ou seja, nós ficamos anos sem colocar a nossa Polícia Federal e os nossos representantes da Fazenda para fazer a aduana na ponte porque não tinha funcionário. Ou seja, não é possível que o Brasil não leve em conta que a nossa soberania está ligada à capacidade que a gente tenha de cuidar das nossas fronteiras, seja a fronteira terrestre, seja o nosso espaço aéreo, seja o nosso espaço, a nossa fronteira marítima. Nós precisamos ter em conta que o mundo está mudando rapidamente, que o narcotráfico está crescendo, que o Brasil é uma área de influência e por onde passa muitas drogas que vão para outros países do mundo, tráfico de armas que vem para as grandes regiões metropolitanas desse país. 

Então nós vamos ter que discutir para ter uma posição séria, nós vamos ter que envolver as Forças Armadas, vamos ter que envolver a Polícia Federal, para que as nossas fronteiras deem segurança aos nossos estados, ao nosso povo, e não insegurança. Eu tive quando o Tião Viana era governador do Acre, eu tive relato dele de como os traficantes passavam pelas fronteiras para vender armas e vender drogas. Isso deve acontecer numa fronteira imensa de quase 16 mil quilômetros de fronteira seca, você está muito vulnerável. Então, é preciso que a gente rediscuta a partir do que aconteceu agora, a partir do que vem acontecendo, que é preciso a gente repensar de forma moderna, investimento em inteligência, investimento de todo e qualquer instrumento que possa facilitar a gente ter uma fiscalização mais séria, mais forte nas nossas fronteiras.

Rosiene Carvalho:
Presidente, o senhor acha que é necessário acordos internacionais com países da tríplice fronteira ou países que incluem aí a Amazônia também? Quais as possibilidades de alianças para a proteção das fronteiras e também do combate ao narcotráfico com os atuais presidentes da Colômbia, Peru, Bolívia, da Venezuela também, como é que o senhor observa isso?

Luiz Inácio Lula da Silva:
Rosiene, eu acho que o que está acontecendo na América do Sul é muito importante, nós temos visto um conjunto de presidentes eleitos cada vez mais democráticos. Acabamos de ter a eleição na Colômbia do companheiro Petro, que é um companheiro progressista, que é um companheiro democrata, que é um companheiro que pensa essa questão da Amazônia. Eu penso que, se nós ganharmos as eleições aqui no Brasil nós vamos convocar uma reunião entre os presidentes da região amazônica para que a gente estabeleça uma pactuação de uma política comum entre nós, para a gente cuidar da questão do narcotráfico, da questão do tráfico de droga, do tráfico de armas, inclusive da preservação e do desenvolvimento de toda a região que envolve os países amazônicos. 

Essa é uma coisa muito, muito, muito séria nesse século 21, em que a questão climática passa a ter uma importância em qualquer discussão que se faça no mundo sobre desenvolvimento, sobre o novo modelo de produção a questão climática aparece em primeiro lugar porque nós precisamos ter consciência que nós precisamos cuidar do planeta porque senão nós vamos destruí-lo, e já o estamos destruindo. Então é preciso que a gente tenha noção de que as coisas terão que mudar, e eu estou muito feliz com o que está acontecendo nas eleições dos países da América Latina porque vai permitir ao Brasil ter flexibilidade de conversa com os presidentes do Peru, da Colômbia, da Venezuela, da Bolívia, do Equador, para que a gente possa cuidar dessa região que envolve a Amazônia e também para que a gente possa cuidar melhor da tríplice fronteira, para que a gente possa cuidar de toda a nossa fronteira, seja ela marítima ou terrestre. Eu acho que haverá possibilidade de um grande acordo, a gente pode reconstruir o Pacto Andino para que a gente tenha na questão da segurança uma das coisas prioritárias.

Fred Lobão:
Presidente, em 2010, deixa eu contextualizar para o senhor, fazer um breve histórico. Em 2010 a ex-presidente Dilma Rousseff ainda como ministra e pré-candidata inaugurou um trecho de 38 quilômetros da BR 319, naquela ocasião com asfalto inacabado, entre Humaitá e Porto Velho. No primeiro ano do governo Bolsonaro, o vice-presidente Hamilton Mourão prometeu aqui em Manaus comer uma boina se a BR não saísse no governo Bolsonaro. Setores ligados à elite, à indústria, defendem que a conclusão do asfaltamento dessa rodovia é fundamental para o desenvolvimento do Amazonas. Ambientalistas alertam o risco dela para o arco do desmatamento no sul do Amazonas atingindo, por exemplo, áreas mais preservadas e terras indígenas. Marina Silva em entrevista à Band News Difusora disse que a alternativa para a região seria pensar em ferrovias. O que o senhor pensa a respeito da BR 319, essa novela na verdade da BR 319 e como a tratará num eventual governo?

Luiz Inácio Lula da Silva:
Fred, eu já tive muita dor de cabeça e já discuti muito essa questão da rodovia 319 com a Marina, com o Minc quando era ministro, com o Alfredo quando era ministro do Transporte, eu era favorável que se apresentasse um projeto, primeiro de preservação ambiental. Porque a estrada já tinha existido um tempo, a estrada já tinha funcionado, ou seja, o abandono da estrada fez com que a floresta crescesse em alguns lugares que tem a estrada. Eu acho que se você levar em conta a preservação ambiental, fazer com que os animais possam transitar de um lado para o outro fazendo espaços para isso, você pode até construir a estrada. Você pode construir a estrada, você pode ter um sistema de fiscalização forte, pago pelos próprios usuários da estrada. 

O que não dá e o que não é possível é a gente ficar impedindo o desenvolvimento de determinadas regiões envolvendo o estado do Amazonas e o estado de Rondônia. Ou seja, quando nós fizemos a ponte sobre o Rio Negro a gente tinha expectativa que seja possível pensar, ora, se for uma rodovia melhor ainda. Se for uma rodovia melhor ainda. Não tem projeto de de ferrovia, tem projeto de rodovia, esse projeto eu muitas vezes participei de reunião com o Ibama, muitas vezes participei de reunião com o ministro Alfredo, muitas vezes participei de reunião com a ministra Marina e com o ministro Minc na tentativa de encontrar uma solução para que a gente pudesse fazer essa ligação entre dois estados que é muito importante para o desenvolvimento do estado. 

Aí mudaria o desenvolvimento do estado, poderia facilitar o crescimento tanto de Rondônia quanto do estado do Amazonas. Então é possível a gente discutir. Não existe nada que não se possa fazer se você fizer com responsabilidade, se você tomar os cuidados necessários. E aí você tem que ter o compromisso de ter fiscalização. O estado, tanto o estado do Amazonas como o estado de Rondônia e o governo federal teriam que assumir a responsabilidade da preservação, do cuidado e da fiscalização para que você possa fazer uma estrada dessa funcionar. Se for para concluir a estrada para abandonar as terras indígenas ao Deus dará, para abandonar o cuidado com a floresta, é melhor não construir. Mas se você tiver responsabilidade envolvendo os três estados, envolvendo o governo federal, a gente pode construir essa estrada, ajudar o desenvolvimento e a gente continuar preservando as terras indígenas e continuar preservando a floresta amazônica.

Rosiene Carvalho:
Agora não pode por causa do bagre, jogaram um bagre no colo do presidente, o que eu tenho com isso? Essa frase que poderia facilmente ser atribuída ao atual presidente do Brasil, Jair Bolsonaro, o senhor sabe, foi apontada pelo Jornal O Estado de São Paulo como sua em uma reunião em abril de 2007 com então o Conselho Político do seu governo. Segundo o jornal, a reunião tratava dos entraves que o Ibama apresentava ao licenciamento ambiental das hidrelétricas de Santo Antônio e Jirau. Dois anos após a inauguração da obra as comunidades e margens do Rio Madeira, cidades e margens do Rio Madeira vivenciaram a sua maior cheia histórica, espécies de peixes comercializáveis e não comercializáveis sofreram alteração na sua reprodução, e as usinas são apontadas por pesquisadores do IFAM e do INPA como uma das principais responsáveis pela degradação do Rio Madeira. Presidente, o que o senhor pensa hoje sobre as duas usinas, a frase inicial ainda traduz o seu pensamento?

Luiz Inácio Lula da Silva:
Você não tem noção, você não tem noção Rosiene de quantas horas de reunião eu fiz para que a gente pudesse discutir Santo Antônio e Jirau. Você não tem noção de quantas reuniões. A última reunião que eu tive foi numa reunião em que nós trouxemos primeiro o maior especialista do mundo em sedimentos em rios de água doce, um cidadão que veio da Índia, numa reunião onde estava presente a Marina, estava presente a assessoria da Marina, estava presente eu, estava presente a Dilma, estava presente vários empresários, estava presente o Ministro Público, a Advocacia Geral da União, era uma reunião muito longa, com muita gente. E nessa reunião nós fizemos uma apresentação sobre a questão do sedimento, o especialista que veio da Índia disse que não tinha problema nenhum, que poderia fazer a barragem. 

E a questão do bagre, ou seja, é importante dizer, muito dos bagres que tem na região do Rio Madeira eles podem ser criados em cativeiros, isso foi provado na reunião. Ou seja, isso foi provado, que todos eles já são criados em cativeiro. Eu até disse para a Marina, olha Marina, se a gente tiver dificuldade, eu quando deixar a presidência vou comprar uma canoa, vou encher de uns bagres aqui e vou levar para ele desovar em outro lugar, aonde ele precisa desovar. Porque é perfeitamente possível você fazer com que os bagres sejam criados pelos próprios povos ribeirinhos. Você pode criar tanques para criar esses peixes e fazer com que as pessoas tenham acesso a rentabilidade. 

Eu não sei, porque faz tempo que eu deixei a presidência, mas nós tínhamos um acordo, tínhamos um contrato entre Ministério Público, entre as empreiteiras, entre o governo e entre a comunidade do que ia ser feito, do que ia ser colocado de dinheiro lá para fazer as benfeitorias. Ora, se isso não aconteceu é preciso saber porque não aconteceu, quem descumpriu os contratos. Mas as hidrelétricas eram extremamente necessárias para o Brasil e elas foram feitas respeitando todas as normas e todos os contratos que nós fizemos. Eu, sinceramente, acho que foi um benefício para o Brasil a gente ter feito essas hidrelétricas no tempo certo e na hora certa para o nosso país, para que a gente pudesse desenvolver a região enquanto a região não tivesse potencial de utilizar toda a energia ela seria vendida para outros estados. E eu acho que elas estão funcionando bem, estão produzindo a energia que o Brasil precisa. 

Agora, o problema é esse, que você tem gente que é contra o uso da energia por princípio e vai ser contra a vida inteira. É como você querer que um torcedor do Vasco torça para o Flamengo, não vai torcer nunca. Ou um flamenguista torça para um vascaíno, por melhor que o Vasco esteja, não vai torcer. Ora, a pessoa que por princípio é contra a hidrelétrica, vai ser contra a hidrelétrica em qualquer lugar. Eu lembro que em 74 quando se discutia a Itaipu, você não tem noção do que se falava de Itaipu, ela ia mudar o eixo da Terra, ela não ia segurar a água porque a água ia transbordar, que iria mudar seriamente o clima da região. Itaipu está inaugurada desde a década de 70 e é uma das coisas mais importantes que o Brasil produziu naquela época. Hoje possivelmente tivéssemos muita dificuldade de fazer a Itaipu, o dado concreto é que o Brasil precisa dela, da mesma forma que precisamos das hidrelétricas de Santo Antônio e Jirau.

Fred Lobão:
Presidente, a possibilidade de obras como a hidrelétrica de Belo Monte, citada aqui, já que o senhor falou, pela própria Marina Silva e por outros ambientalistas, como entrave para a declaração de apoio de voto ao senhor. O senhor faria Belo Monte de novo?

Luiz Inácio Lula da Silva:
Faria. Faria, veja, eu conheço o argumento das pessoas que são contra, eu conheço, ou seja, as pessoas eram contra um projeto. O primeiro projeto nós reduzimos o projeto original em mais da metade, fizemos um projeto com quase, um pouco mais de um terço daquele que era o lago original, fizemos um justo um ajuste de conduta com todos os movimentos, com todos, com madres, com índios, com ribeirinhos, como o Ministério Público, e nós fizemos uma hidrelétrica chamada fio d´água, uma hidrelétrica que não tem lago, ela não tem reservatório de água. O maior reservatório de Belo Monte é efetivamente a cheia do rio, esse é o reservatório. 

Quando o rio enche, o maior reservatório é a enchente do rio. Ou seja, nós vamos ser criticados daqui a 20 ou 30 anos porque nós fizemos ela fio d´água e não fizemos um lago para reservar água. Na questão de Belo Monte eu tinha saído do governo quando ela começou a fazer, mas eu lembro perfeitamente bem que foi feito um acordo que envolveu todas as partes envolvidas que custou 5 bilhões de reais para que se fizesse as benfeitorias que a sociedade reivindicava. E muito foi feito. Ora, se foi feito aplicado ou não eu não sei porque faz, eu deixei a presidência dia 01 de janeiro de 2011 e nunca mais eu fui à Altamira. Mas veja, quem sabe nessa eleição, quem sabe indo ao Pará eu possa ir em Altamira para saber o que foi feito do acordo que nós fizemos. Porque foi acordado tudo.

Rosiene Carvalho:
Presidente, o senhor tem dados a respeito das ações movidas pelo Ministério Público em relação aos danos ambientais e sociais de Belo Monte? O senhor quer comentar?

Luiz Inácio Lula da Silva:
Não, veja, eu não sei o que está a discussão agora Rosiene. Veja, eu estou falando do que eu participei até 2010, é que nós fizemos todas as reuniões que precisou ser feita naquele estado, lá em Brasília eu me reuni com pastores, me reuni com Ministério Público, me reuni com índio, me reuni com pescador, me reuni com os companheiros do MAB, que é o movimento mais importante contra as barragens. E foi feito um acordo com todos eles, e aí nós decidimos fazer Belo Monte. Ela foi feita, eu não sei se esse acordo foi cumprido, porque fazem doze anos que isso aconteceu e eu nunca mais fui lá. Mas o dado concreto é que o acordo foi feito, inclusive com proposta de Dom Coelho assinada.

Rosiene Carvalho:
Muito bem, aproveito um intervalo bem rápido Fred para agradecer aqui as mensagens que a gente está recebendo, viu presidente Lula, uma série de perguntas, mas acho que muitas estão contempladas aqui na entrevista. Um abraço claro para todos os ouvintes de Manaus, Manacapuru, Autazes, Rio Preto da Eva, Careiro Castanho, Careiro da Várzea e Presidente Figueiredo. Bom, vamos para a próxima pergunta. Presidente, o presidente estadual do PT do Amazonas, o deputado Sinésio Campos, que é da base bolsonarista do governo Wilson Lima, ele afirmou em entrevista aqui à Band News Difusora no dia 22 de março que defende a mineração na Amazônia e em terra indígena há mais de vinte anos e o Bolsonaro está com menos de três anos. O senhor acabou de dizer que é contra essa medida. Como o senhor avalia que setores do PT pensem dessa maneira?

Luiz Inácio Lula da Silva:
Não, primeiro eu não sei o que o Sinésio pensa, o que eu posso dizer é que ele não é bolsonarista, eu posso dizer isso abertamente, o Sinésio é um companheiro de muita qualidade, é um companheiro que eu tenho um profundo respeito pela história dele dentro do PT. Eu não acredito que ele defenda isso, se ele defender é um equívoco. Eu lamentavelmente eu nunca discuti isso com o Sinésio, mas você está levantando agora esse problema, eu posso dizer que eu vou ligar para o Sinésio e saber o que ele pensa porque eu sou contra, veja, eu sou contra. 

Se você tiver que explorar algum tipo de riqueza mineral na Amazônia é preciso que isso seja de um cuidado, de uma seriedade, de um compromisso quase que religioso de você fazer uma coisa da maior seriedade. Eu acho que enquanto a gente não precisar mexer a gente não tem que mexer, a gente precisa preservar, a gente precisa aprender a investir mais na exploração do bioma para que a gente possa saber a biodiversidade, a riqueza da biodiversidade e o que isso pode produzir de riqueza para favorecer os milhões de seres humanos que moram no estado da Amazônia. É isso que nós temos que pensar. 

Eu, sinceramente, não acho que a gente precise fazer mineração na Amazônia, se tiver algum minério que seja imprescindível para o país vamos discutir. Vamos discutir com a sociedade brasileira, vamos discutir com o povo da Amazônia, vamos discutir com o Congresso Nacional e vamos fazer uma coisa da maior seriedade envolvendo a sociedade brasileira. Porque a gente não pode brincar em destruir a Amazônia por interesse de um empresário, de um minerador ou de um produtor rural. Não. 

A Amazônia é um patrimônio da humanidade que pertence ao Brasil, portanto, o Brasil não só tem a soberania sobre o território da Amazônia, como nós temos interesse de fazer com que quem queira participar da atividade de pesquisa para saber o que nós temos na Amazônia de verdade, nós vamos chamar. Por isso é que nós vamos, é por isso que eu fiz um acordo com a Alemanha e com a Noruega, que o Bolsonaro recusou. É por isso que eu defendo a ideia de que nós precisamos, precisamos muito, muito, muito, preservar a floresta amazônica. Ao mesmo tempo que nós temos que ter coragem de dizer que a gente vai manter a Zona Franca. Você está lembrado que eu prorroguei a Zona Franca por dez anos, a Dilma prorrogou por cinquenta anos e eles agora querem destruir criando imposto para a Zona Franca. Eles têm que conhecer o Amazonas, eles têm que conhecer o povo da Amazônia, eles precisam conhecer os interesses do povo, as necessidades do povo e não os interesses econômicos de um ou de outro empresário brasileiro ou estrangeiro.

Fred Lobão:
Presidente, no lançamento da plataforma colaborativa do plano de governo Lula-Alckmin na terça-feira, o senhor declarou que, sobre o mesmo, que não pode ser irresponsável de propor coisas que a gente já sabe que não vai executar, e que, abre aspas, algumas coisas a gente vai poder fazer mais e em algumas coisas a gente vai poder fazer menos, fecha aspas. Demarcação em terra indígena não está dentro do seu plano, significa que é coisa que um eventual governo seu poderá fazer mais ou poderá fazer menos?

Luiz Inácio Lula da Silva:
Nós vamos fazer mais. Nós vamos demarcar o que tiver que demarcar e vamos preservar o que precisar preservar. Veja, não se trata mais de política de governo, de política de partido, se trata de uma necessidade da humanidade para que a gente possa preservar aquilo que os humanos ainda não destruíram. Porque se o mundo está pelado é porque alguém destruiu, se nós ainda temos a reserva, a floresta amazônica semipreservada, com muita coisa preservada ainda, já destruíram quase toda a Mata Atlântica, já destruíram outros, já destruíram outros biomas, nós precisamos ter responsabilidade. 

Até pensando economicamente. Até pensando economicamente nós temos que preservar. E as terras indígenas é uma obrigação ética, é uma obrigação moral, é uma coisa de responsabilidade com aqueles que são verdadeiros donos do Brasil. Eles não precisaram descobrir o Brasil, ele já estava aqui quando os portugueses descobriram. Portanto, nós temos que respeitá-lo e garantir o espaço necessário para que eles possam viver do jeito que eles sabem viver, colocar a sua cultura em prática o dia que quiserem, fazerem a cultura como quiserem, e a gente tem que respeitar. E é isso que eu vou fazer.

Rosiene Carvalho:
Presidente, dentro dessa questão dos indígenas e o direito às terras a gente tem uma situação ainda mais delicada, o senhor sabe, que são os indígenas isolados. Os indígenas isolados. Então quatro das seis terras indígenas com presença de isolados na Amazônia, que são protegidas por um instrumento chamado Portaria de Restrição de Uso dessa área estão com documentos com prazos vencidos, ou com períodos de validade considerado por especialistas insuficientes para garantir a segurança e a vida desses indígenas. E renovação desse instrumento que protege o território, territórios não demarcados, ela costumava ter periodicidade de três anos nos governos anteriores, e a partir do governo Jair Bolsonaro a FUNAI adotou uma política de prorrogar por apenas seis meses ou nem prorrogá-lo, nem renovar essa a proteção administrativa dessas terras. Em entrevista ao Jornal Folha de São Paulo, mais uma vez o indigenista Bruno Pereira, que foi brutalmente assassinado lá em Atalaia do Norte, ele listou as terras e apontou que elas estão no centro de interesses e lobby fundiários de mineração. Que compromissos o senhor pretende ter com os povos isolados, que optam pelo não contato?

Luiz Inácio Lula da Silva:
Veja, primeiro, na obrigação de preservar os povos isolados. Nós temos obrigação, o território dele tem que ser intocável, nós temos que aprender com essa gente e não tentar destruí-los. Nós temos que aprender com essa gente, essa gente pode ensinar a humanidade a ter um comportamento diferente, sobretudo nesse momento histórico no Brasil em que os humanos estão ficando desumanos, em que o ódio prevalece a todo amor. A ofensa ela prevalece sobre educação sobre o respeito. 

Você viu na televisão esses dias um procurador do estado em São Paulo, na cidade do Bolsonaro, batendo numa mulher, e ainda bateu na outra que foi tentar ajudar a companheira, a procuradora que estava apanhando. Então o mundo está violento, porque nós temos um presidente violento, porque nós temos um presidente que pratica a violência todo dia, a violência verbal. Quando ele vai à cidade de Manaus e não oferece nada para o povo, vai só fazer uma carreata e vai inaugurar uma obra que começou no governo da Dilma, esse cidadão deveria ter tido a pachorra de ir visitar a família do Bruno, esse cidadão deveria ter tido a pachorra de ir visitar o Vale do Javari. Vai lá, tem lancha especial, tem helicóptero, vai lá fazer uma visita, vai conversar, dá uma mensagem de otimismo, uma mensagem de carinho para o povo. Não, ele vai, junta os trogloditas dele, faz a motociata e vai embora. 

É preciso perguntar o seguinte, gente, é só olhar o que o PT fez quando governou para o estado do Amazonas e olhar o que aconteceu com o Amazonas depois que deram o golpe na Dilma. É só olhar e você vai perceber que eles não fizeram nada. Nada. O máximo que foi feito foi inaugurar alguma coisinha que o PT tinha começado, porque o Minha Casa Minha Vida eles não criaram nada para colocar no lugar, inventaram o nome de Casa Verde e Amarela, que não fizeram nada. Eles não fizeram nada, água potável que foi encanada ainda foi no meu primeiro mandato, as escolas que foram feitas foram feitas no meu mandato, as escolas técnicas foram no meu mandato, o gasoduto foi no meu mandato, ou seja, o que eles fizeram na verdade para o estado? Eles mentem, mentem descaradamente. 

Então eu queria dizer para vocês o seguinte, olha, esse país está precisando de alguém que saiba cuidar desse povo, esse povo não pode conviver com 33 milhões de pessoas passando fome. Nós tínhamos acabado com a fome nesse país, nós tínhamos gerado 22 milhões de empregos formais. O Brasil era protagonista internacional, o Brasil era respeitado no mundo inteiro. Nós fizemos um acordo com a Noruega e com a Alemanha para tentar ajudar a cuidar da preservação da Amazônia. Essa gente jogou tudo isso fora. É como se fosse um vendaval, não é uma brisa, é um vendaval que quer destruir tudo sem dizer o que vai colocar no lugar. É apenas interesses econômicos, agora junto com interesses eleitorais, ou seja, o presidente tenta fazer em três meses tudo o que ele não fez em três anos na perspectiva de que ele pode enganar o povo andando de motociata, falando palavrão, ofendendo as pessoas. Não. Não. 

O povo não vai aceitar mais isso, o povo não precisa mais de bravata. Mentira chega a de 2018, que se mentiu muito nesse país, se mentiu muito contra o PT, se mentiu muito contra o Lula, se falou muita bobagem. E hoje essa gente está desmascarada, porque feliz era esse país quando estava crescendo há 7,5% ao ano, quando o comércio varejista crescia 13, 14% ao ano, quando os trabalhadores tinham aumento real todo ano no salário-mínimo, quando toda as categorias organizadas recebiam aumento real acima da inflação, quando o povo tinha esperança e expectativa de ter uma casinha como o Minha Casa Minha Vida, como o pequeno agricultor tinha esperança com o PAA e PNAE para ajudar a agricultura familiar. Esse país já foi bom. 

Eu lembro quando eu fui a Coari visitar a universidade que a gente tinha feito lá, ou seja, depois do gasoduto. É uma coisa extraordinária você levar uma faculdade ligada à Universidade Federal lá para Coari, a tantos quilômetros, no meio da Floresta Amazônica. Sabe por que que eu fiz isso? Porque eu acho que o povo que está distante tem direito a ter o direito de estudar perto da sua casa, perto da sua cidade, não tem que ficar viajando 300, 400, 500 quilômetros para poder estudar ou ir para a capital. Então eu acho que o país precisa voltar a uma certa normalidade, o país está precisando de afago. Eu sempre brinco que o país está precisando de chamego, o país precisa ter alguém que goste de fazer cafuné no povo, que goste de acarinhar o povo, que goste de garantir que o povo tenha direito. 

E o povo não quer muito, Fred e Rosiene, o povo não quer muito, o que o povo quer? O povo quer ter o direito de trabalhar, ele quer sustentar a sua família com o seu salário trabalhando honestamente, o povo quer ter uma casinha, o povo quer que os filhos tenham direito a uma Educação de qualidade e possam chegar à universidade, o povo quer que as pessoas tenham uma qualidade de saúde. E nós fizemos isso com o Mais Médicos levando Saúde para todos os lugares da Amazônia, levar médico para as cidades pequenas que muitas vezes os prefeitos querem contratar e ninguém quer ir. Ou seja, então o povo está precisando disso, gente, o povo está precisando de carinho, está precisando de ser lembrado, está precisando ser cuidado. 

Os ricos não precisam do governo, quem precisa do governo é o povo pobre, é o povo trabalhador, é o povo que vive na beira dos igarapés, é o povo que vive, ribeirinho, pescando, são os indígenas, são os quilombolas, são as pessoas pobres da periferia que são violentadas todo dia que precisam de um governo forte para cuidar dessa gente. Então eu tenho certeza Fred e Rosiene, que esse país vai voltar a ser feliz. Eu tenho certeza. Eu tenho certeza que esse povo sabe que ele já viveu melhor, ele sabe que ele já comeu melhor, ele sabe que ele poderia ir no restaurante no final de semana com a sua família, ele sabe que ele poderia fazer um churrasquinho no final de semana, ele sabe que ele podia comprar um tambaqui se ele não pescasse, fazer uma costelinha de tambaqui assada, ele sabe disso, ele sabe. Então, a gente vai voltar a fazer isso, que é o que o povo quer. 

O povo não quer muita coisa não, o povo quer essencialmente aquilo que está na Constituição, o povo quer aquilo que está na Declaração Universal dos Direitos Humanos, e o povo quer aquilo que está na Bíblia, nós queremos ser tratados com respeito e com decência. É o que nós queremos. Nós queremos trabalhar, viver, comer, estudar, ter acesso à cultura, ter acesso ao lazer, e ter liberdade de ir e vir, é isso que a gente vai garantir para esse povo.  A gente não quer gente dormindo na rua, porque nos grandes centros urbanos do país tem muita gente dormindo na rua, tem muita criança pedindo esmola. E isso nós tínhamos acabado, e vocês são prova que em Manaus tinha acabado criança pedindo esmola. Esse povo estava trabalhando, esse povo estava ganhando e esse povo estava vivendo dignamente. Só isso que nós queremos que volte a acontecer no Brasil.

Fred Lobão:
Presidente, nos próximos cinco minutos nós vamos adotar aquela dinâmica que a gente chama popularmente de pingue-pongue. Então eu vou dar um tema aqui e o senhor responde de forma objetiva, vamos começar? Vamos lá. Zona Franca de Manaus e reforma tributária. 

Luiz Inácio Lula da Silva:
Veja, a Zona Franca de Manaus tem que ser tratada de forma especial, vai ficar do jeito que estava para que a gente possa atrair mais empresas, gerar mais empregos e melhorar a vida do povo do Amazonas.

Fred Lobão:
Reforma tributária.

Rosiene Carvalho:
Em relação, como a Zona Franca será tratada na reforma tributária, pingue pongue presidente.

Fred Lobão:
Sobre reforma tributária em relação à Zona Franca de Manaus, como o senhor pretende tratar?

Luiz Inácio Lula da Silva:
Eu disse para você que a Zona Franca será intocável, nós já tínhamos prorrogado por dez anos, a Dilma prorrogou por mais cinquenta anos os benefícios da Zona Franca, e nós vamos manter o benefício da Zona Franca para que a Zona Franca possa atrair mais empresas, para que possa gerar mais empregos, pagar mais salários e melhorar a vida do povo trabalhador no estado do Amazonas. 

Rosiene:
Segundo o tema do pingue pongue, presidente, aborto, em relação à criança e mulheres vítimas de estupro. 

Luiz Inácio Lula da Silva:
Eu, veja, eu acho que a lei já diz, a lei já garante que a vítima de estupro tem direito a fazer o aborto legalmente, protegido pela medicina brasileira.

Fred Lobão:
Presidente, CPI da Petrobras.

Luiz Inácio Lula da Silva:
Deixa eu dizer uma coisa, eu não sei o que eles querem com essa CPI. Veja que engraçado, veja que engraçado, eles estão tentando destruir a Petrobras a cada passo, tentar destruir a imagem e tentar destruir o crescimento, tentar destruir investimento. Eu só vou dar um dado para vocês sobre vários gasodutos que nós tínhamos feito. Eles já privatizaram a BR com o argumento para a população que se tivessem muitas empresas vendendo gasolina ela seria mais barata. Hoje nós temos 392 empresas importando gasolina nos Estados Unidos vendendo a preços estrangeiros, quando a gasolina é retirada do nosso solo e do fundo do mar a preço de reais. Portanto, não tinha que ser o PPI, o Preço de Paridade Internacional. 

E o Pedro Parente quando criou a PPI ele assinou ele, não foi uma discussão no Congresso Nacional, não foi nada, ele que fez. O Bolsonaro não tem coragem, não tem coragem que ele tem medo dos acionistas, ele tem medo, por isso ele não quer mexer. Então jogou a culpa em cima dos governadores, que podem aprovar o ICMS, mas não vai reduzir o preço da gasolina como ele quer. E agora ele quer fazer uma CPI para quê? Para jogar a culpa em cima da Petrobras? A culpa é do governo. A culpa é do governo e somente do governo. Como a gente não tem governo porque o Bolsonaro não governa, ele não governa, ele não vai ao Palácio para trabalhar, ele não trabalha, ele só faz fake news. 

Então meu caro é o seguinte, ele deveria fazer uma CPI sobre o Bolsonaro, deveria fazer uma CPI sobre o governo, sobre as mentiras do governo, sobre as mazelas das vacinas que foi feita pelo general que era ministro da Saúde, sobre as mazelas do comportamento dos filhos dele, sobre as mazelas daquele amigo dele que nunca foi investigado. Nunca foi investigado. Então meu caro, CPI contra a Petrobras para quê, para tentar jogar a culpa…? 

É como a urna eletrônica, Fred. Veja, esse cidadão foi eleito desde 98, desde 98 esse cidadão foi eleito com o voto eletrônico. 98, 2002, 2006, 2010, 2014, 2018. Por que agora ele está jogando a culpa no voto eletrônico? Na verdade, o que ele está fazendo é o que o Trump fez nos Estados Unidos, ele está tentando criar uma confusão na pessoa, tentar jogar a suspeita onde não tem suspeita, porque se tivesse suspeita eu não teria sido presidente em 2002, eu não teria sido reeleito em 2006, a Dilma não teria sido presidenta. Porque se tivesse que roubar era contra o PT. 

Então meu caro, eu quero dizer para vocês, esse cidadão está tentando mentir para o povo para que depois justificar, quem sabe, uma bobagem qualquer. O que ele está com medo na verdade não é da urna eletrônica, ele está com medo é do povo brasileiro, ele está sabendo que o povo o vai derrotar e ele por isso ele está com medo, e por isso quer a CPI da Petrobras. O que ele quer é confusão. É aquele cara que entra em campo e não quer jogar, ele quer atrapalhar o jogo.

Rosiene Carvalho:
Muito bem, presidente, pingue pongue, prisão do ex-ministro do MEC Milton Ribeiro e a influência de pastores evangélicos em suspeita na corrupção no Ministério.

Luiz Inácio Lula da Silva:
Olha, eu acho, veja, eu acho que a prisão ela depende de apuração, depende de prova. Você não pode prender porque você vai prender. Não. Você tem prova contra o cidadão? Está provado que ele roubou? Você faz um processo e daí a Justiça decide se vai prender ou não. Eu defendo direito, a defesa para todo mundo, o direito à defesa é um valor monumental da democracia nesse país. E por isso eu não sei se já foi investigado sem ter autorização do juiz para prender, mas que ele foi um mau ministro da Educação, foi. Aquela reunião dele distribuindo dinheiro para pastor é uma vergonha nacional.

Fred Lobão:
Presidente, qual é o papel do senador Omar Aziz num eventual governo Lula?

Luiz Inácio Lula da Silva:
Olha, o Omar Aziz é um grande companheiro. Deixa eu lhe dizer, eu acho que ele vai ser candidato ao Senado, se for candidato ao Senado eu quero, eu quero estar junto com ele nisso, eu quero o apoio dele e quero apoiá-lo. Eu acho que nós ainda estamos tentando construir uma aliança política no estado, e eu espero que nesse mês de junho e no começo do mês de julho a gente conclua os acordos para que eu possa ir a Manaus fazer uma atividade política com todas as pessoas que querem nos apoiar para presidente.

Rosiene Carvalho:
Eduardo Braga será o seu palanque, seu candidato ao governo no estado do Amazonas?

Luiz Inácio Lula da Silva:
Olha, nós vamos construir um palanque, pode ficar certa que nós vamos construir um palanque. Eu estou com muita calma, eu já falei para o Sinésio que era preciso marcar uma reunião com os nossos aliados aí no Amazonas para a gente discutir o que a gente vai fazer. Eu sei das várias candidaturas que tem, nós vamos ter que tentar saber com qual a gente pode contar, com qual a gente pode se aliar e a gente vai trabalhar. Eu sei que nós já temos senador, já temos a chapa de candidatos a deputados federais, nós temos que fazer uma aliança, nós temos o José Ricardo, temos o Sinésio, temos companheira como a Vanessa Grazziotin, e temos o seguinte meu caro, nós temos que fazer acordo com o PMDB ou não? É preciso discutir a nível nacional com o PMDB. E nós temos o Omar Aziz que é um aliado dele que estava no governo do Amazonas e no Senado e ele teve um comportamento extraordinário com relação ao PT, com relação a mim.

Fred Lobão:
Presidente, eu quero agradecer em nome da Rede Difusora de Rádio a sua participação aqui nessa entrevista, nessa primeira de várias entrevistas com pré-candidatos à presidência da República. Muito obrigado aí por dispor do seu tempo e esclarecer questões tão importantes aqui para o estado do Amazonas. É isso não é, Rosiene?

Rosiene Carvalho:
Sim, é isso, muito obrigada presidente Lula pela disponibilidade da entrevista, e tenho um espaço para as suas considerações finais.

Luiz Inácio Lula da Silva:
Fred e Rosiene, eu quero agradecer a vocês, eu espero que quando eu for ao estado do Amazonas eu possa fazer uma visita a vocês, quem sabe uma entrevista ao vivo, quem sabe a gente possa fazer uma conversa tête-à-tête para que vocês possam perguntar.

Rosiene Carvalho:
Já está marcado.

Fred Lobão:
Topamos.

Luiz Inácio Lula da Silva:
Eu quero agradecer e aproveitar cumprimentar o José Ricardo, cumprimentar o Sinésio, cumprimentar a nossa querida secretária nacional das mulheres, a Ane Dalh, quero cumprimentar os nossos companheiros deputados estaduais, vereadores, e quero cumprimentar a nossas Vanessa Grazziotin, do PCdoB, que é uma aliada histórica nossa, na defesa da companheira Dilma. E quero cumprimentar o povo do estado do Amazonas, quero cumprimentar os sindicalistas, quero cumprimentar os indígenas, quero cumprimentar o povo que efetivamente trabalha para construir esse estado, quero cumprimentar os empresários que querem crescer, que querem ganhar dinheiro, mas querem preservar a Amazônia também. Porque hoje as pessoas sabem, que aqueles que trabalham para exportar produtos agrícolas sabe que vai ficar cada vez mais difícil a gente exportar se a gente não tiver preservando o nosso meio ambiente. Então, um abraço. Um abraço a você Fred, um abraço Rosiene, e até um encontro pessoal se Deus quiser.

Fred Lobão:
Obrigado presidente. E com isso também a gente vai encerrando a nossa participação aqui nessa entrevista. O programa continua, mas eu quero te agradecer pela tua companhia Rosiene, eu conheço o teu trabalho já há bastante tempo aqui na Band.