Leia a íntegra da entrevista de Lula para a rádio Metrópole, de Salvador (BA)

Compartilhar:

No último dia 1º, o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva concedeu entrevista para a rádio Metrópole, de Salvador (BA). Leia abaixo a íntegra da conversa com o jornalista Mário Kertész.

Mário Kertész:
Tendo o prazer de conversar com essa figura. Bom dia, Lula, como vai você?

Luiz Inácio Lula da Silva:
Bom dia, Mário Kertész, bom dia. Eu quero que você saiba que a recíproca é verdadeira porque além do grande jornalista que você é, além do grande comunicador, eu te considero um amigo. Porque o amigo não é apenas aquele que fica alisando, o amigo é aquele que às vezes chama para a responsabilidade, aquele que cobra, e você tem sido um jornalista exemplar em tratar com democracia os meios de comunicação. Bom dia para você, bom aos companheiros que trabalham na Rádio Metrópole, bom dia ao povo baiano que está assistindo o nosso programa, e bom dia para as rádios que estão conectadas com a Rádio Metrópole 101.3 FM. É um prazer Mário, é um prazer estar falando contigo, estou à tua inteira disposição.

Mário Kertész:
Primeiro, mas olhe, parabéns aí, você fisicamente perfeito, forte, bonito, com uma fisionomia boa assim de quem está de bem com a vida, que é fundamental. Você está vindo para Bahia hoje Lula, e aí, como é que será o seu encontro aqui na Bahia?

Luiz Inácio Lula da Silva:
Bom, eu chego na Bahia às 4 da tarde, vou diretamente para o hotel, depois eu vou jantar com o nosso querido governador e com os amigos que a gente tem aí na Bahia, Wagner, Otto, Jerônimo, e depois eu vou fazer um grande evento no estacionamento do Estádio da Fonte Nova na Bahia, às 11 horas aproximadamente de amanhã, mas antes eu vou dar uma visitada no 02 de julho. Eu vou participar um pouco da caminhada do 02 de julho. 

Eu estou com saudade, e como nós estamos fazendo 200 anos da independência e eu acho que a Bahia tem muita, muita responsabilidade de consagrar e definir a independência brasileira. Porque se não fossem os baianos com aquela coragem, com a participação de três mulheres extraordinárias, a Joana Angélica, a Maria Felipa e a Maria Quitéria, que tiveram coragem de enfrentar os portugueses, enxotá-los do Brasil, quem sabe a gente não tivesse a nossa independência consagrada. Então eu vou passar aí um dia e meio, vou encontrar com a minha baianidade e poder discutir um pouco com o povo da Bahia.

Mário Kertész:
Lula, você tem candidato a governador na Bahia? Porque aqui há uma ideia assim, algumas pessoas dizem: não, Lula tem candidato, mas também vai ter o voto com outro candidato. Como é que é esse negócio aí, você tem um candidato a governador que você apoia, que diga eu apoio? Tem ou não tem?

Luiz Inácio Lula da Silva:
Veja, eu apoio, tem o companheiro Jerônimo que é o candidato do PT, todo mundo sabe disso, que eu apoio os candidatos do PT em todos os estados. Agora, eu sempre digo o seguinte Mário, o Paulo Souto pode ser testemunha, no meu primeiro mandato ele era governador do estado, e cada vez que eu visito um estado eu não quero saber de que partido é o governador, não quero saber se o governador é mais da esquerda, mais da direita, mais ao centro. 

Ou seja, a minha relação é institucional, e eu trato todo mundo com muita deferência, com muito respeito, coisa que o atual presidente não faz, o atual presidente ele não gosta de governador, ele não gosta de prefeito, ele não gosta de conversar com pessoas que não pensem igual ele, a ponto desse cidadão chegar a dizer que era importante vetar uma lei que falava, a Lei Paulo Gustavo, que falava de cultura, dizendo que o Rui não sabia como aplicar o dinheiro na cultura. Ou seja, esse cidadão não sabe sequer a grandeza da cultura baiana para o restante do território nacional. 

Então eu vou aí conversar com as pessoas, vou discutir com as pessoas, vou dizer que eu tenho um candidato a governador, mas que eu quero fazer uma campanha civilizada, que eu não quero agredir ninguém, que eu não quero falar mal de ninguém. Eu quero falar bem das coisas que eu pretendo fazer. Porque tem uma coisa, Mário, que eu vou te falar aqui talvez em primeira mão, é o seguinte, eu sou candidato para reconstruir esse país. A minha tarefa nesse instante é assumir a minha responsabilidade, por isso eu fiz um acordo com o Alckmin e ele aceitou ser meu vice, para a gente começar a reconstruir o país. 

Ora, daqui a quatro anos a gente vai ter gente nova disputando eleições, vai ter gente nova sendo candidato a presidente, o que eu quero é deixar o país preparado, o que eu quero é lutar contra a fome, contra a miséria, contra a pobreza. O que eu quero é gerar emprego, o que eu quero é diminuir a inflação e aumentar o salário, o que eu quero é cuidar da questão climática com muito respeito, de todos os biomas brasileiros, mas sobretudo a questão da Amazônia, para não permitir. 

E eu quero uma coisa mais importante, Mário, eu quero tentar juntar toda a inteligência brasileira, a inteligência que está fazendo experiência bonita numa universidade, num bairro, numa vila, eu quero que essa gente participe da construção desse país e da reconstrução, porque é isso que vale a pena. Ou seja, eu não vou ser um presidente da República que está pensando na sua reeleição. Eu não vou ser um presidente, eu vou ser um presidente que vai estar pensando em governar esse país quatro anos e deixá-lo tinindo, tinindo para que o povo brasileiro recupere definitivamente o bem-estar social, a alegria, o prazer de viver, o prazer de ser baiano, o prazer de ser brasileiro, é isso que eu quero deixar. 

Então eu tenho quatro anos da minha vida para dedicar a cuidar deste povo. Eu quero cuidar desse povo, eu quero cuidar desse país, eu quero cuidar dos estados, eu quero estabelecer uma relação irmã com os governadores, com os prefeitos. Porque não é possível um país dar certo você brigando, você estimulando ódio, você estimulando divergência. Isso aí não pode dar certo. Então eu vou tentar mostrar que é possível esse país voltar a ser feliz, as pessoas voltarem a comer, as pessoas voltarem a trabalhar, as pessoas voltarem a cuidar da sua família, ser feliz, é isso que eu vou fazer. 

Então meu caro é o seguinte, não esperem do Lula um candidato nervoso, bravo, raivoso. Não. O Lula é um candidato que tem consciência do que ele representa no Brasil, tenho consciência da importância do PT, mas tenho consciência das necessidades do povo brasileiro. E é com essa cabeça, com esse coração muito aberto, um coração de um homem apaixonado. Você sabe que eu casei dia 18 de maio, então é esse homem que está exalando alegria, na verdade eu estou exalando alegria e disposição de trabalhar, que eu vou ajudar a cuidar da Bahia, cuidar de Pernambuco, cuidar de São Paulo, cuidar do Rio Grande do Sul, a cuidar do povo brasileiro. É esse Lula, Mário Kertész que vai voltar e eu espero que durante o mandato você me entreviste muitas vezes para a gente continuar conversando com esse povo excepcional que é o povo baiano.

Mário Kertész:
Lula, e o Congresso Nacional? Você sabe, já foi presidente oito anos, foi deputado federal inclusive, tem uma vasta experiência, eu não conheço alguém que conheça o Brasil mais do que você. Quando, eu me lembro de uma vez eu entrevistei, você presidente da República lá no Palácio do Planalto e eram vários jornalistas e todo mundo que faziam perguntas para você sobre tal estado, sobre tal estrada, você não olhava para papel nenhum, você chegava e dizia: não, isso aqui é assim, isso aqui é assim. O Congresso Nacional, Lula, eu nunca vi um Congresso num nível tão baixo como está agora, e eles estão fazendo tudo para se perpetuarem no poder qualquer que seja o presidente, inclusive você. E aí, como é que vai ser essa relação sua com o Congresso?

Luiz Inácio Lula da Silva:
Mário, você entende bem de política e você sabe que o Congresso Nacional, embora as pessoas xinguem o Congresso, embora as pessoas xinguem deputado, eu sempre digo que o Congresso é a cara da visão política que a sociedade tinha no dia do voto. A votação de 2018 foi uma votação raivosa, foi uma votação nervosa, foi uma votação feita com base em mentiras, com base em fake news, uma votação feita com denúncias falsas eu inclusive eu estava preso, porque tomaram a decisão de me prender para não deixar eu disputar as eleições porque eles sabiam que eu ganharia as eleições de 2018. 

Então, o que nós estamos colhendo hoje é isso, um Congresso que é a primeira vez na história do Brasil que o Congresso Nacional se apodera do orçamento e tem o poder de liberar dinheiro sequer sem falar com os ministros. Às vezes tem mais dinheiro do que o próprio presidente da República para fazer investimento, isso nunca aconteceu na história do Brasil. Ou seja, o Congresso se apoderou do orçamento da União. Então uma das coisas que nós vamos ter que brigar e conversar muito, Mário, é que nós precisamos restabelecer a normalidade no Brasil. A normalidade do funcionamento do Poder Judiciário, a normalidade do funcionamento do Poder Executivo, e a normalidade do funcionamento do Congresso Nacional. É três coisas chaves, primeiro o Tribunal julga de acordo com a Constituição Brasileira, para manter o regime democrático. O presidente da República executa porque foi para isso que ele foi eleito, e o Congresso legisla. Então, nós temos que votar. 

O que está é uma confusão no Brasil, uma confusão criada pelo presidente da República, eu diria, porque ele agora pegou uma mania de qualquer bobagem que ele faz ele decreta um sigilo de cem anos. Eu não sei se você já percebeu que ele disse que não tem corrupção no governo dele, mas ele sigilou as coisas do filho dele por cem anos, sigilou a questão do Pazzuello por cem anos, sigilou a questão do Queiroz por cem anos, ou seja, qualquer trambique que aconteça no governo é sigilo de cem anos. Por isso é que eu digo que vai ter um revogaço no meu primeiro dia de governo, que eu vou revogar todos os decretos de sigilo de cem anos porque não há possibilidade, se o cara roubou não tem que esperar cem anos para investigar, investiga agora. 

Faça como nós fizemos. No meu governo a gente tinha lei, a Lei de Acesso à Informação, que a gente dava informação de tudo, as pessoas sabiam. A gente cuidava disso com carinho, a gente tinha a Lei da Transparência, então funcionava as coisas. A Controladoria funcionava com o Jorge Hage, que é um baiano, um exemplo, um juiz de muita qualidade, um deputado que foi meu controlador, a gente funcionava. Se tivesse denúncia a gente apurava. Se a pessoa estivesse errada a pessoa pagava, é assim que se faz. Agora, qualquer coisa, qualquer denúncia que surge contra você, você decreta um sigilo de cem anos… Depois do que o Pazzuello fez com a vacina na pandemia, depois da quadrilha que foi montada para comprar vacina pagando, recebendo um dólar por causa da vacina comprada, você decreta sigilo de cem anos, onde é que nós vamos parar? 

Então, meu querido, nós vamos cuidar diferente desse país, nós vamos fazer as coisas conversando com o Congresso, nós vamos conversar muito com o Congresso. É difícil, mas nós vamos conversar. Eu e o Alckmin sabemos conversar. O Alckmin foi governador de São Paulo por 16 anos, ele tem muita experiência de conversar, eu tenho muita experiência, eu gosto de conversar. Então, nós vamos tentar fazer com que o país volte à normalidade porque o que interessa nesse instante para a Bahia, para Pernambuco, para o Brasil, para Alagoas, para o Rio Grande do Sul, para Santa Catarina, para o Amazonas, para o Tocantins, o que interessa é esse país voltar a normalidade, a gente acabar com a fome nesse país, a gente gerar emprego, gerar salário, gerar renda e gerar bem estar social. 

É isso que nós precisamos, fazer voltar a investir em Educação, da creche à universidade, voltar a investir em Ciências e Tecnologia, tentar discutir a recuperação da Petrobras. Eu, sincerament,e não me perdoo de não ter tido força para evitar a privatização da Refinaria Landulfo Alves aí na Bahia. Eu sinceramente não consigo, como é que pode deixar privatizar, inclusive os poços que tinham no Recôncavo Baiano foram todos vendidos, ou seja, é um absurdo, é um absurdo o desmonte que eles fizeram na Petrobras para entregar um litro de gasolina por R$ 8,00, um litro de diesel por R$ 7,00, e um botijão de gás que deveria estar na cesta básica da sociedade, por R$ 150,00, R$ 130,00 R$ 115,00, dependendo do estado. 

E é importante lembrar que quando eu fui presidente o gás não aumentou. É importante lembrar que quando eu era presidente, com a crise do Lemann brother o preço do petróleo chegou a 140 dólares o barril e o preço da gasolina no Brasil, aí na Bahia, você enchia o seu tanque, Mário Kertész, por R$ 2,60. Porque não tem explicação também a paridade de preço a nível internacional, não existe. Isso teria sentido se o Brasil fosse um importador de petróleo, mas o Brasil não é importador de petróleo, o Brasil é autossuficiente, o Brasil na verdade, o projeto que nós tínhamos para o Brasil era de que o Brasil devesse ser exportador de derivados de petróleo para a gente poder ganhar mais dinheiro, para a gente investir mais na Educação, para a gente investir mais na Saúde, para a gente fazer com que as coisas funcionassem nesse país. 

Eu tinha convicção disso. Agora não, agora a Petrobras está ganhando muito dinheiro para dividir todo o ano com os acionistas, sobretudo de Nova York. Então isso nós vamos discutir com muito carinho, Mário, isso vai ser uma coisa bem discutida, inclusive discutir com o Congresso Nacional. Nós vamos dedicar uma boa parte do nosso tempo para discutir política. A primeira coisa que eu quero fazer Mário ao tomar posse é reunir os 27 governadores de estado, não importa de que partido eles sejam, nós vamos fazer uma conversa com eles, porque eu quero recuperar o ente federativo. Ou seja, a gente vai ter que trabalhar junto. Depois eu vou reunir com os prefeitos, muitos prefeitos, vamos participar de muita reunião com os prefeitos porque não é possível o Brasil ser rico se a prefeitura está pobre, e é na cidade que a gente tem que resolver o problema, porque é na cidade que está a escola, é na cidade que está a rua, na cidade que está o transporte, na cidade que está a Saúde, ou seja, é na cidade que está o problema e que nasce o problema, e ele tem que ser resolvido na cidade. Por isso que tem que ter uma boa relação com os prefeitos, e eu vou cuidar disso com um carinho muito grande. 

E depois ouvir a sociedade, ouvir, discutir. Eu vou tentar restabelecer no governo, Mário, uma coisa chamada orçamento participativo que nós já fizemos na Bahia e em muitas cidades que nós governamos. Nós vamos tentar fazer com que a sociedade participe do orçamento, vamos criar uma plataforma para que a sociedade possa dizer qual é a obra importante que ele quer, se ele quer um campo, se ele quer uma praça, se ele quer universidade, se ele quer uma creche, se ele quer um presídio, ou seja, vamos permitir que a sociedade discuta aonde vai o seu dinheiro e para quê vai ser utilizado o seu dinheiro. Eu não sei se é fácil fazer isso, mas nós vamos criar essa plataforma para ter o orçamento participativo feito pela sociedade brasileira.

Você, Mário, vai poder participar dos palpites do orçamento, você vai mandar na plataforma: olha, tal coisa não é importante, tal coisa é importante. Porque senão você não cuida do povo pobre, não sobra dinheiro para o pobre, é sempre o rico chupando, chupando, chupando e para o pobre fica sempre o bagaço. Quando a gente vai discutir a política social, o que sobra é o bagaço. Não, a gente tem que discutir primeiro, nós temos meta de inflação, ótimo, nós queremos baixar os juros, ótimo, mas nós precisamos falar de política social. Política social, ninguém fala disso. 

Você faz reunião com o empresário, ele fica falando de política fiscal, política fiscal, teto de gastos, e eu quero que ele fale da fome, eu quero que ele fale do compromisso com a dívida social que nós temos e que precisamos pagar. Como é que pode um país que é o terceiro produtor de alimentos do mundo as crianças irem dormir sem tomar um copo de leite? Como é que pode as pessoas levantarem de manhã e não ter um café com leite para tomar, não ter um pedaço de pão para comer, não ter um pedaço de carne no almoço? Como é que pode, um país do tamanho do Brasil. E nós tínhamos acabado com a fome, você não via mais criança pedindo esmola nesse país. Então, esse é o meu compromisso, e aí tem muita conversa com o Congresso Nacional para a gente poder mudar esse orçamento participativo. Vamos fazer um orçamento social, ao invés de fazer o orçamento secreto para os deputados, vamos fazer um orçamento público para cuidar da pobreza desse país.

Mário Kertész:
Lula, você concorda que Sérgio Moro foi um dos principais eleitores de Bolsonaro com aquelas ações que ele teve, inclusive contra você, lhe levando para depor forçadamente, sem antes ter sido convocado, e depois a própria prisão sua? E ele acabou se dando mal, porque ele era o grande, ele e Paulo Guedes eram os grandes fiadores, avalistas de Bolsonaro. Porque tinha muita gente, eu me lembro, em 2018, que dizia: esse Bolsonaro, as propostas dele, ele é um pouco assim, assado, não confio. Não, mas ele tem Sérgio Moro de um lado e Paulo Guedes do outro. O que você acha disso? Eu gostei da risada aí, deu uma risadinha. Conte aí para a gente, vai.

Luiz Inácio Lula da Silva:
Mário, eu sou um homem crente, eu creio muito em Deus, eu acho que Deus sempre foi muito generoso comigo e eu acho que eu cuido sempre aquilo que eu planto. Ou seja, eu poderia ter saído do Brasil quando houve a denúncia contra mim, eu tinha convite para sair do Brasil, eu tinha convite para ir para embaixadas. Eu tomei a decisão de não sair para a Polícia Federal lá para ficar preso 580 dias porque era de lá que eu tinha que desmascarar aquela quadrilha de procuradores que me acusavam, que era uma quadrilha, que queria assaltar a Petrobras. Eu não sei se orientada pelo Departamento de Justiça dos Estados Unidos ou pelo menos por alguém do Departamento de Justiça. 

Eu queria desmascarar o Moro, que era um santo de barro feito pela imprensa brasileira, foi criado pela imprensa. Não que a imprensa criou, a imprensa se submeteu as mentiras dele, ou seja, houve uma pactuação. Conta uma mentira para a imprensa que ela transforma a mentira em verdade. Então isso eu quando estava na cadeia eu fiquei pensando: bom, ou eu fico aqui dentro da cadeia dando cabeçada na parede ou eu efetivamente vou me preparar para enfrentar essa gente quando eu sair. Então eu me preparei para ser melhor, e tive a sorte, cara, tive a sorte que eu fui ficando apaixonado dentro da cadeia. Eu comecei a escrever carta para a Janja, ela começou a escrever carta para mim, eu e ela trocamos 580 cartas. 

Mário Kertész:
Que maravilha.

Luiz Inácio Lula da Silva:

580 cartas ela escreveu para mim, 580 cartas eu escrevi para ela. Então, o meu coração foi ficando mais leve. Eu ao invés do ódio, ao invés de vingança eu falava: não, vamos tocar o barco para frente, eu não posso ficar sabendo quem é que me fez o mal, eu quero é evitar que o povo continue sendo vítima desse mal. Porque a Lava Jato, o que não dizem é que ela causou um desemprego para 4 milhões e 400 mil pessoas. O que não dizem é que ela deixou de investir aqui no Brasil, por conta da Lava Jato, 170 bilhões de reais, o que ela não diz é que ela deixou de, por conta da Lava Jato nós deixamos de arrecadar 58 bilhões de impostos, e isso significaria muita coisa para a Saúde, para a Educação. 

Então eu estou aqui leve, leve, solto, apaixonado pela Janja, apaixonado pelo Brasil, e apaixonado pelo povo brasileiro. Porque se tem uma coisa que eu gosto é ver na cara desse povo, é olhar a alegria, à disposição, mesmo sabendo que esse povo está sofrendo, mesmo sabendo que esse povo chega em casa às vezes e não tem um bocado de feijão com arroz para comer. Mesmo assim esse povo não perde a alegria, não perde a esperança, e é por isso que eu disse para você no começo, eu tenho quatro anos da minha vida, quatro anos em que eu quero dedicar cada minuto, mas cada minuto mesmo para ver se a gente consegue fazer em quatro anos mais do que eu fiz em oito, para que a gente possa entregar um Brasil para o Brasil, a gente entregar um Brasil feliz, um Brasil sorridente, um Brasil com alegria, um Brasil com emprego, um Brasil com salário, um Brasil com boa Previdência. 

Um Brasil que não se permita que uma pandemia possa destruir esse país e matar quase 700 mil pessoas das quais o presidente da República tem responsabilidade pelo menos por metade. Porque se ele tivesse criado um Conselho de Crise ele poderia ter resolvido esse problema, poderia ter comprado a vacina. Ele não derramou uma única lágrima por ninguém das 700 mil pessoas que morreram, ele não tem um gesto de grandeza quando tem uma enchente, ele sobrevoa de helicóptero para tirar fotografia, mas depois não faz nada. Ele não chora pelo sofrimento do povo. Então Mário, eu sinceramente, eu acho que eu saí da Polícia Federal maior do que eu entrei, com um coração maior, com um coração pulsando muito, muito, muito, estou cheio de saúde, cheio de vontade, e vou querer consertar esse país. E não vou consertar sozinho, mas eu vou precisar do povo brasileiro. 

Eu quero pegar todas as experiências bem-sucedidas, nós temos uma ruma de governadores novos, nós temos desde o Rui Costa até o Camilo no Ceará, o Wellington no Piauí, o Flávio Dino no Maranhão, o Renan Filho em Alagoas que fez uma administração excepcional. Então nós temos uma ruma de governadores, nós temos uma ruma de gente nova na universidade, nós temos gestores extraordinários, nós temos gente na sociedade, eu quero juntar toda essa gente e falar: o Brasil não é dele, o Brasil é nosso. Cuidar desse país não é da minha responsabilidade, é da nossa responsabilidade, e trazer todo mundo para governar esse país. 

Por isso que eu estou dizendo para você, vai ser a mais importante revolução já feita nesse país, uma revolução sem dar um tiro, uma revolução sem distribuir um revólver, sem distribuir um rifle, mas vai distribuir livro, vai distribuir abraço, vai distribuir fraternidade, solidariedade, fazer com que as mulheres sejam tratadas com respeito, fazer com que os homens negros e os jovens sejam tratados com respeito. Voltar a fazer mais universidades, voltar a incluir mais gente na economia desse país, é isso que eu quero fazer, Mario, só tenho quatro anos e vou precisar da sua ajuda, só tenho quatro anos. E ainda vou precisar eleger deputado, vou fazer campanha para deputado, vou pedir voto para deputado, vou tentar montar um time para que a gente possa fazer com que esse país volte à normalidade e esse povo possa viver com muita tranquilidade, como Deus quer que a gente viva. 

É isso Mário que me move, é isso que me faz feliz, é isso que me faz dizer todo dia, eu tenho 76 anos de idade, energia de 30, e tenho o tesão à política de 20 anos. É isso, eu quero trabalhar, quero fazer, você vai ver que eu vou viajar mais por esse país. Não vou fazer motociata, eu vou conversar com o povo, eu vou conversar com o povo, sabe, é por isso que eu estou indo lá no 02 de julho que é para abraçar, conversar com o povo, falar: gente, olha, levante a cabeça que tem jeito, levante a cabeça que a gente vai consertar esse país, e vamos consertar mesmo. É isso, Mário, é por isso que eu estou assim tão elegante e tão bonito.

Mário Kertész:
Ah, você está elegante e bonito mesmo, com todo o respeito. Com todo o respeito, está mesmo rapaz, sua fisionomia está ótima, rapaz, bem vestido, a barba, está bom. Agora me diga uma coisa Lula, o PT na Bahia sempre foi um grande apoiador seu em todos os momentos. Todos. Aqui na Bahia você vai, varre tudo. E o PT da Bahia aqui está muito ansioso pelo seu apoio firme assim, estou com o PT, estou com o Jerônimo, estou com o candidato Otto, o candidato ao Senado, os deputados, aumentar a bancada do seu partido e de partidos coligados. Você vai se dedicar um pouco a isso também aqui, aos seus companheiros da Bahia?

Luiz Inácio Lula da Silva:
Eu vou me dedicar. Eu vou me dedicar porque eu quero ajudar o companheiro Rui Costa, que é um governador extraordinário, quero ajudar o Wagner que é meu amigo, o meu companheiro e senador da República, o Otto que é uma pessoa que eu tenho um carinho. E o Jerônimo, que é um companheiro que teve um trabalho extraordinário cuidando da questão da agricultura familiar. O Geraldo Júnior, eu quero ajudar essa gente e quero tentar ajudar deputados. Eu vou tentar ajudar o Brasil inteiro, vou fazer uma campanha pedindo voto para deputado, vou visitar todos os estados em que a gente tem aliados para tentar eleger as pessoas. 

É isso que eu vou fazer e vou fazer com muita força e com muito carinho. Porque eu acho que as experiências bem-sucedidas precisam continuar funcionando no Brasil. Nós não temos o direito de retroceder, nós não temos o direito de piorar as coisas. Você sabe que quando eu deixei a presidência da República a economia estava crescendo 7,5%, o comércio varejista estava crescendo quase 14%, a gente tinha gerado milhões de empregos, o salário de todas as categorias organizadas tinham aumentado acima da inflação, a renda, a massa salarial crescia, o salário mínimo tinha aumentado 70%, a gente estava com reserva internacional, a gente não devia mais ao FMI, a gente tinha reduzido a dívida pública de 65 para 39% ou 38, ou seja, a gente tinha provado que esse país tratado com seriedade… 

Porque tem algumas coisas que nós temos que fazer, veja, a primeira coisa que um presidente tem que ter é credibilidade. Um presidente da República quando ele abre a boca para falar alguma coisa a sociedade precisa acreditar no que ele está falando, por isso ele tem que ser sério. A segunda coisa que um presidente tem que ter é previsibilidade, a gente não pode ficar inventando todo dia uma coisa. A terceira coisa que a gente tem que garantir é estabilidade. Estabilidade para que as pessoas tenham disposição de investir, você ter estabilidade política e você ter estabilidade jurídica. 

Então quando eu disputar essas eleições, se eu ganhar, eu vou viajar para restabelecer a relação que o Brasil tinha com todos os países da Europa, da América do Sul, da África com a China, com os países árabes, com os Estados Unidos, com a Alemanha, com a França, ou seja, nós vamos restabelecer a relação não apenas entre Estados, mas a relação com os empresários para que eles voltem a acreditar na capacidade de investimento dentro do Brasil, não para comprar as nossas empresas públicas, não para tentar comprar a Petrobras, Eletrobras, mas para fazer coisas novas que nós precisamos. 

É por isso que quando eu tomar posse eu vou reunir os governadores e nós vamos fazer um grande programa de infraestrutura para que a gente possa preparar o Brasil definitivamente para que o Brasil se transforme em uma grande economia, que o Brasil não saia mais de ficar entre as oito economias do mundo. O Brasil chegou a ser a sexta, agora está a décima terceira e nós precisamos fazer o Brasil crescer para que a gente volte a melhorar. Esse país é possível construir, o povo está sonhando com isso. 

Eu sempre brinco Mário dizendo o seguinte, eu quero fazer com que o povo volte a ter o prazer do final de semana reunir a sua família e fazer um churrasquinho. Um churrasquinho com uma cervejinha gelada, com muita música, com muito axé, com muita alegria, com muito prazer, porque é isso que dá para a gente sentido à vida. Quando a gente está com os nossos familiares, com os nossos filhos, com os nossos pais, a gente consegue ser feliz, a gente consegue ser alegre, a gente consegue ter esperança, a gente consegue acreditar no futuro e é isso que eu quero fazer para este povo, é fazer com que a gente volte a ser feliz, a gente acredite no amanhã. 

Não tem dificuldade que não possa ser vencida se você tiver pensando de forma positiva. Se você ficar pensando de forma negativa, se você levantar de manhã querendo ofender alguém, querendo agredir alguém, não vai para lugar nenhum. Então é preciso a gente acordar bem. A gente acorda tem que agradecer a Deus por ter, por viver mais um dia, a gente tem que agradecer o dia anterior, pedir ajuda para o dia seguinte e assim a gente vai fazendo esse país voltar a normalidade. 

Você não tem noção como é que sonho com isso, eu sonho todo dia, sonho todo dia, e quando chegar no dia 31 de dezembro de 2026, que a gente for entregar o mandato para outra pessoa, esse país estará de bem, esse país estará alegre, esse país estará pujante, esse país estará crescendo, as pessoas estarão trabalhando, esse mundo ambiental será tratado com muito respeito, e aí o Brasil vai voltar à normalidade. É isso que eu sonho, isso está na minha cabeça e todo dia quando eu deito e todo dia quando eu levanto eu fico projetando como é que a gente vai cuidar desse país, como é que a gente vai… é como se tivesse cuidando da família, cuidando do filho, cuidando do caçulinha, é muito dengo com esse país porque esse país merece. 

E aí aqueles que são fascistas, aqueles que querem ódio, aqueles que querem vender armas, aqueles que querem provocar, vão ser muito minorias e vão ficar com o rabinho no meio das pernas. Porque a maioria quer viver bem, a maioria quer viver vivendo democracia. É isso que a gente vai fazer nesse país Mário, e eu tenho certeza que a Bahia da mesma forma que teve a coragem de no dia 02 de julho de 1823 consagrou a independência do Brasil, a Bahia vai continuar consagrando os avanços democráticos desse país.

Mário Kertész:
Lula, o presidente Bolsonaro sempre fica ameaçando sair das quatro linhas da constituição, meu Exército, as Forças Armadas. Até eu estranhei muito o ministro da defesa, general, mandar uma carta para o Superior Tribunal Eleitoral dizendo que se sentiu desprestigiado e que querem acompanhar a apuração. Inclusive chegou-se a aventar que houvesse uma linha de transmissão das urnas eletrônicas que vai para o Superior Tribunal Eleitoral e nunca tivemos problema com isso, fosse também para um quartel das Forças Armadas. Qual a sua posição em relação a isso?

Luiz Inácio Lula da Silva:
Mário, obrigado por essa pergunta, querido. O papel das Forças Armadas não é cuidar de urna eletrônica, quem tem que cuidar de urna eletrônica é a Justiça Eleitoral, quem tem que fiscalizar é a sociedade civil, e quem tem que fazer as mudanças é o Congresso Nacional. Esse cidadão que não acredita nas urnas eletrônicas ele foi eleito vários mandatos de deputado pelo voto eletrônico, os filhos dele foram eleitos, ele foi eleito presidente da República pelo voto eletrônico, não tem um prefeito questionando, não tem um governador questionando, não tem um deputado, só ele. Só ele. O que ele quer na verdade? Ele quer criar confusão, ele quer criar confusão, ele quer fazer a mesma coisa que o Trump fez nos Estados Unidos. Ou seja, uma mentira contada mil vezes pode ganhar cara de verdade e ele quer levantar suspeitas de que ele vai ser roubado. Ora roubar ele roubou em 2018 com a fake news, roubar ele roubou sendo eleito contando mentiras. 

Então é o seguinte, eu acho que as Forças Armadas têm uma função muito nobre que é a função de garantir a soberania desse país. As forças Armadas têm que cuidar da segurança do nosso povo, ela tem que cuidar da nossa fronteira seca, da nossa fronteira marítima, do nosso espaço aéreo, ela tem que ajudar a sociedade a cuidar das nossas riquezas minerais, das nossas florestas, das nossas águas, As Forças Armadas não têm que ficar preocupada com urna eletrônica, isso é um dever da Justiça Eleitoral e um dever da sociedade civil. Quem está falando isso são alguns militares ligados ao Bolsonaro, que querem na verdade criar caso, ele quer levantar suspeita como o Trump levanta suspeita até hoje. Ora, a sociedade não pode aceitar. 

O que o Bolsonaro sabe é o seguinte, ele sabe que o problema dele não é urna eletrônica, ele sabe que o problema dele chama-se povo brasileiro. Povo brasileiro. É por isso que ontem ele mandou várias medidas para dar dinheiro, aumentar o auxílio emergencial, que era uma reivindicação da oposição, de R$ 600,00, aumentar o vale gás, que foi uma coisa do deputado federal do PT, o Zarattini, dar o auxílio para os motoristas autônomos. Tudo isso, acho que tudo bem, acho que o povo tem que pegar o dinheiro. O povo tem que pegar o dinheiro. 

Mas não é isso que resolve o problema porque tudo isso vai acabar em dezembro. Na verdade o projeto que ele mandou é um projeto eleitoral, ele acha que ele pode comprar o povo. Ele acha que o povo é um rebanho. Ele acha que o povo não pensa, ele acha que o povo vai acreditar em mentira e não vai. Não vai. Chega. As pessoas podem mentir para uma, para duas, para três, mas não se pode mentir para o mundo inteiro todos os dias. Então, ele vai deixar a presidência da República porque uma coisa chamada povo brasileiro, quase 150 milhões de eleitores vão para a urna eletrônica dizer chega, chega, o Brasil precisa de gente melhor, o Brasil precisa de gente que fale em amor, que fale em paz, que fale em solidariedade, que fale em fraternidade, alguém que conheça a palavra carinho, alguém que conheça a palavra compaixão, e não uma pessoa que só vende ódio, só vende ódio, só vende o ódio, só instiga o ódio, só instiga a divergência. 

Então, meu caro, é o seguinte, ele pode ficar certo, que ele vai continuar mentindo, levantando suspeita sobre tudo, ele acusou os governadores, ele se meteu no ICMS dos estados porque ele não teve coragem, não teve coragem, a palavra é essa, ele não teve coragem de mexer com a Petrobras. Porque ele é responsável pelo que está acontecendo. Quando o Pedro Parente instituiu o preço de paridade ele não consultou o Congresso, não consultou a sociedade, foi a direção da Petrobras que fez o preço de paridade. Portanto, para mudar isso o presidente poderia fazer, o presidente da Petrobras poderia fazer, o Conselho da Petrobras poderia fazer. 

Como ele não tem coragem de brigar com as empresas que estão importando gasolina, porque foi ele que facilitou a criação dessas empresas… A gente vendeu a BR dizendo que ia ter mais concorrência, que ia ter mais empresa, que a gasolina ia ficar mais barata e a gasolina hoje é cara e tem 392 empresas importando gasolina dos Estados Unidos quando a gente produz a gasolina aqui. Quando o petróleo está aqui, quando os trabalhadores recebem em reais e não em dólar. Então esse cidadão, com medo de todo mal que ele está fazendo, ele então está criando caso, ele está querendo criar confusão, está querendo criar confusão e nós não vamos entrar nas provocações. 

Ele precisa saber que nós com muita tranquilidade, muita tranquilidade, vamos nos dirigir no dia 02 de outubro às urnas, vamos votar e vamos dizer: Bolsonaro, chega, você teve a sua chance e você não foi capaz de tratar ninguém com respeito nesse país. Eu acho que é isso que vai acontecer, e eu acho que as Forças Armadas brasileiras têm uma função nobre, estabelecida na Constituição, e todo mundo sabe que as Forças Armadas precisam existir de forma mais preparada possível. Nós temos que investir em armamento, inteligência, nós temos que nos preparar contra possíveis inimigos internos, e não gastar a energia das Forças Armadas para ficar facilitando a contagem de mentira de um presidente da República. É isso que eu acho que vai acontecer no Brasil, ele vai perder as eleições porque o povo quer mudar, e ele sabe que não adianta instigar porque as Forças Armadas não vão fazer o papel ridículo que ele quer que as Forças Armadas faça,.

Mário Kertész:
Lula, vamos falar agora sobre cenário internacional. Você chegou a ser chamado por Barack Obama de o cara, essa expressão, um cara sortudo em inglês quer dizer esse é realmente uma pessoa excepcional, que se distingue em tudo. Hoje, hoje eu tenho vergonha do Brasil internacionalmente, que está afastado de tudo, isolado, mal visto, se relaciona somente com Putin, com o cara da Hungria e com outros tipos de ditadores. A política de relações exteriores do seu governo, você sendo eleito, terá um trabalho enorme de refazer isso, e olhe que você conseguiu esse prestígio internacional todo apesar da desconfiança que sempre se causava num presidente da esquerda. Você se lembra bem disso. No início, eu me lembro que em uma das eleições que você não ganhou o então presidente da Federação dos das Indústrias de São Paulo, esqueci o nome dele agora, acho que Mário alguma coisa, disse que se você ganhasse ele ia embora.

Luiz Inácio Lula da Silva:
Mário Amato.

Mário Kertész:
Isso. Disse que se você ganhasse a eleição ele fugiria do Brasil e os empresários também. E aí fale um pouquinho sobre isso. Nós vamos continuar essa vergonha?

Luiz Inácio Lula da Silva:

Na época, que 800 mil empresários iriam deixar o Brasil. E depois elegeram, eles elegeram o Collor e o Collor sequestrou a poupança e muitos empresários quebraram. Veja, eu tenho na política externa uma crença muito forte… porque deixa eu lhe contar um pequeno caso. Quando nós chegamos à presidência o Brasil não tinha reservas internacionais, o nosso fluxo de balança de comércio exterior, entre aquilo que você vende e aquilo que você compra, não chegava a 100 bilhões de dólares, e o Brasil não tinha dinheiro para pagar as suas importações. Ora, cinco anos depois o Brasil não devia nada para o FMI, pelo contrário, o FMI passou a dever 15 bilhões de dólares que nós emprestamos para o FMI, o Brasil tinha na época 280 e poucos bilhões de dólares de reserva, hoje tem 357 bilhões de dólares de reserva, isso feito pelo governo do PT. 

E a gente tinha uma relação excepcional, nós tínhamos uma bilateral entre Brasil e Índia e África do Sul, que eram três grandes democracias, nós constituímos o BRICS, nós fortalecemos o Mercosul, expulsamos a ALCA, nós criamos a UNASUL, nós criamos a CELAC, nós criamos grupos de discussão política entre a América do Sul e a África, entre a América do Sul e os países árabes. Ou seja, nós passamos a ter relação com o mundo, eu fui o primeiro presidente brasileiro a participar de todas as reuniões do G7 e depois ajudamos a criar o G20 quando o Brasil era tratado com muita deferência. Sabe por quê? Porque respeito é bom, eu gosto de dar e gosto de receber. 

Então eu fui muito bem tratado por todos os presidentes da República, pelo Bush, pelo Obama, pelo Chirac, pelo Sarkozy, por outros que passaram pela Alemanha, pela Itália, fui muito bem tratado pela Medvedev, pelo Putin, pelo Hu Jintao, então eu acho que o Brasil é um país que pode se dar bem com todo mundo. E como eu quero cuidar do povo pobre, eu quero cuidar da questão ambiental, eu quero cuidar da pessoa voltar a comer, eu tenho certeza, e eu quero que você esteja preparado na frente do microfone, eu tenho certeza que vai entrar muito investimento direto aqui nesse país, porque eu quero construir parceria. Mário, eu vou te dar um dado, essas coisas eu digo assim só para as pessoas saberem. 

Quando eu deixei a presidência a gente estava vendendo 3 milhões e 800 mil carros por ano, 3 milhões e 800 mil carros por ano, hoje a gente está vendendo 2 milhões, metade do que a gente vendia há 12 anos atrás. A Ford fechou aqui na Bahia, a Ford fechou em São Bernardo, por quê? Porque não vende carro vai embora mesmo, não vende carro. E quando eu era presidente eu lembro que uma vez eu fiz uma reunião com a Federação da Indústria Automobilística e eu dizia: vocês querem vender carro, vocês precisam baratear o preço e aumentar a prestação, se o povo não pode pagar em 14 meses, em 15 meses, o povo pode pagar em 30, 40, então aumente. E aí o povo brasileiro queria comprar um carro, todo mundo quer um carrinho novo, do jardineiro, do pedreiro, todo mundo sonha ter um carro. 

Quem é nesse Brasil, qual é a mulher que não quer casar com um homem sério, um homem trabalhador, de preferência bonito, qual é o homem que não quer casar com uma mulher trabalhadora, uma mulher honesta, uma mulher séria? Qual é as pessoas que não querem uma casinha, que não querem um carro, que não querem uma televisão, que não querem um computador? Isso é o mínimo que todo mundo tem que ter . Então nós vamos visitar o mundo, vamos restabelecer a nossa credibilidade internacional e o Brasil vai voltar a ser um país em que você quando chegar no aeroporto e mostrar o seu passaporte brasileiro você vai ver o orgulho que você vai ser recebido. 

Porque veja, acabaram com o Minha Casa Minha Vida nesse país, inventaram uma coisa chamada Casa Verde Amarela, eles não sabem que o cara, o cara não gosta só de verde e amarelo, o cara gosta de branco, de azul, de verde, de amarelo, de cor-de-rosa, de preto, o povo gosta de muitas cores. Agora, acontece que eles não fizeram casa, quanta casa eles fizeram na Bahia? Nós fizemos, só aqui na Bahia foram 180 mil casas entregues no Minha Casa Minha Vida, foram na verdade 568 mil famílias beneficiadas com o Luz para Todos, foram 339 mil cisternas entregues aqui na Bahia. Porque para nós o que interessa é as pessoas lá de fora perceberem que o povo brasileiro está bem, porque quando eu falo soberania Mário, soberania não é apenas o país ser forte e ter uma independência. Não. 

Soberania é o povo comer, é o povo estudar, é o povo trabalhar, é o povo ter saúde, é uma coisa mais nobre. Mário, você não tem soberania com fome, você não tem independência com fome. Então esse país Mário, esse país eu provei que era possível mudar, e agora eu estou com muito mais vontade de provar outra vez. 

E vamos restabelecer a credibilidade internacional. Eu vou conversar com o Biden, eu vou conversar com os alemães, com os franceses, com os italianos, com os ingleses, com os japoneses, com os chineses, com os russos, com a Venezuela, com a Argentina, com o Chile, com o Peru, com o Equador, com a Colômbia, com o Paraguai, sabe, eu vou conversar, trazer toda essa gente aqui, abraçar, dar um tapinha na cabeça, um tapinha nas costas e falar: vamos juntos porque todos os países precisam crescer juntos. Eu lembro Mário, eu lembro que quando eu cheguei na presidência da República o fluxo da balança comercial com a Argentina era 7 bilhões de dólares, tudo que a gente comprava e que a gente vendia. Quando eu deixei a presidência era 39 bilhões de dólares. O nosso fluxo de comércio exterior era menos de 100 bilhões de dólares, quando nós deixamos a presidência era R$ 482 bilhões de dólares. 

Então meu caro, é o seguinte, quando eu trouxe o Furlan para ser meu ministro eu falei: Furlan, eu não quero você de ministro, sabe, de comércio exterior, eu quero um mascate, eu quero que você ponha as coisas que o Brasil produz e saia pelo mundo como aquele mascate saía antigamente aqui na Bahia, de casa em casa, batendo palma, e oferecendo coisa para vender. Eu quero que a gente faça isso. A gente não quer vender empresa estatal, a gente quer vender produtos produzidos por essa empresa estatal, pelas empresas públicas, pelas empresas privadas, pela agricultura brasileira. É isso que a gente vai voltar a fazer. A gente vai respeitar todo mundo e todo mundo vai respeitar a gente. É esse Brasil, Mário, que você vai viver. Pronto, pronto, pronto, e aí você vai ter orgulho de dizer: eu sou brasileiro e não desisto nunca. É assim que vai ser o Brasil.

Mário Kertész:
Quando você foi eleito em 2002, houve, o dólar cresceu, a Bolsa, antes de tomar posse. Depois você não teve nenhum problema com o chamado mercado, com a Faria Lima, que é a elite da elite do povo brasileiro, que sempre dominou de uma forma burra e perversa a grande maioria do povo brasileiro, porque eles estando bem, vivendo em apartamentos, em condomínios fechados, com muita segurança, em carros blindados, o resto que se lixe. Nós estamos…

Luiz Inácio Lula da Silva:
E mais Mario, gastando dinheiro com publicidade para a imprensa falar bem deles.

Mário Kertész:
Pois é rapaz, isso é um negócio terrível. Porque vai chegar num, ponto, se continuar assim, se não houver uma mudança, que esse povo não vai aguentar isso., você viu na pandemia, o governo descobre que tinha 60 milhões de brasileiros invisíveis, que se tornaram invisíveis, que caíram inclusive no poder de renda. E esse mercado fica cheio de frufru, porque governo de esquerda e não sei o que. Ah, pelo amor de Deus Luiz Inácio.

Luiz Inácio Lula da Silva:

Mário, eu tenho feito reuniões, eu tenho feito vários jantares com empresários e eu faço porque eu gosto de discutir abertamente como eu estou discutindo com você aqui. E é o seguinte, cara, na cabeça dessa gente não existe pobreza, não existe fome, não existe gente dormindo na rua, não existe gente dormindo na sarjeta, não tem criança morrendo de desnutrição, essa gente só fala em teto de gasto, em política fiscal. Ou seja, eles não falam em política social, eles não falam em distribuição de renda, eles não falam em distribuição de riqueza. É uma coisa maluca, parece que eles vivem numa redoma de vidro em que o mundo gira em torno dele e dos interesses dele. 

Esses dias eu fiz reunião com alguns banqueiros importantes e eu falei: vocês não pensam no povo? Vocês não pensam na pobreza, vocês não pensam no povo que está na rua, vocês não pensam no povo, vocês só querem ganhar dinheiro? Ah, não. Não. Eu na verdade é o seguinte, eu quero, banqueiro não vota em mim. Banqueiro não vota em mim, eu tenho certeza que não vota em mim. Não vota em mim porque eles olham a minha pele assim e falam: esse cara nem sabe falar direito, esse cara é nordestino, esse cara não tem diploma universitário, depois esse cara ganha, esse cara quer aumentar salário de trabalhador, depois esse cara quer regularizar o trabalho da empregada doméstica, depois a empregada da minha mulher vem trabalhar na sexta-feira com um perfume que a minha mulher usa. Então, não dá, não dá, não dá. 

Não dá, esse pobre, esse cara vai estimular o povo pobre a comprar carro e aí o trânsito vai ficar pior, esse pobre, esse presidente pobre vai incentivar o povo a viajar de avião, aí os aeroportos vão virar rodoviária. Então ele não pode vir, tem que vir alguém que não cheira e nem fede, sabe aquelas pessoas que não cheira e nem fede? Aquelas pessoas que são neutras, não fazem bem e não fazem mal, mas também não fazem nada. E o Brasil está precisando de alguém que faça alguma coisa. O Brasil está precisando de alguém que diga o seguinte, olha, eu vou ganhar as eleições, eu vou governar para 220 milhões de brasileiros, mas todo mundo tem que saber que o povo pobre vai ter prioridade, o pequeno vai ter prioridade. Nós vamos querer gerar emprego, nós vamos querer aumentar o salário, já vamos querer aumentar o salário-mínimo, nós vamos querer que a massa salarial cresça e as pessoas vão viver bem. 

E eles também vão viver bem. Sabe quantas pessoas eu bancarizei quando eu fui presidente? 70 milhões de pessoas entrou no sistema financeira por conta das nossas políticas de inclusão social, por conta do PAA, por conta do PNAE, por conta do Minha Casa Minha Vida, por conta do Luz para Todos, por conta do Água para Todos, por conta da cisterna, por conta da transposição do São Francisco. Sabe, Mário, essas pessoas não podem ser ignorantes de quererem só acumular riqueza. Ah, o fulano de tal é o mais rico do mundo, tem 50 bilhões de dólares, o outro tem 70 bilhões, o outro tem 50, pra que, você vai gastar no que? Para que você quer acumular tanto dinheiro imbecil? Distribua uma parte disso em salário, porque na verdade quando o cara diz que acumulou 70 bilhões não foi ele não, porque ele não levantou de manhã para trabalhar, ele apenas teve dinheiro para colocar em prática. Ele deve o crescimento dele ao povo trabalhador, então retribua com um pouco de salário, retribua com alguns benefícios. 

Então, quando eu estou fazendo esse discurso aqui, Mário, muita gente fala ah, não dá pra falar no Lula não porque esse Lula está muito bravo. Estou bravo mesmo. Porque eu não posso aceitar a fome. Eu não posso aceitar uma criança pedindo esmola na rua, eu não posso aceitar uma mulher num país que é o primeiro produtor de proteína animal do planeta Terra, uma mulher entrar num açougue para ficar esperando um osso. Eu não me conformo. Eu tenho uma coisa que me machuca muito, é que a sociedade brasileira perdeu a capacidade de se indignar. Indignar, essa é a palavra que deve permear eu, você e todo mundo. Nós precisamos estar indignados com o que está acontecendo com o Brasil. Esse país não precisa ter pessoas morrendo de fome, crianças desnutridas, esse país não precisa ter por que nós temos como fazer. O que precisa é colocar dinheiro na mão do povo, que aí o povo vai comprar. 

Então, Mário, se prepare, querido, se prepare porque essa Bahia vai voltar a viver melhor e o Brasil vai voltar a viver melhor. Eu quero que nordestino vá pra São Paulo pra passear, para passear. Sabe que às vezes eu fico nervoso? Porque eu vim de Pernambuco para São Paulo em 1952, eu tinha 7 anos de idade, sabe por que eu vim para São Paulo? Por causa da fome, porque a minha mãe estava lá com oito filhos, e eu fui comer pão com sete anos de idade, a gente tomava café era uma farinha com água, que também não tinha pó de café, sabe, aquele era o café da gente. Então a minha mãe levou a gente para São Paulo para ver se a gente sobrevivia. 

E hoje as coisas estão ficando piores. Não, não pode. Não pode, eu sou indignado, e essa minha indignação é que vai me ajudar a governar esse país bem. Por isso eu estou convencido que nós vamos ganhar essas eleições, vamos ganhar aqui em Pernambuco, vamos ganhar em vários estados, São Paulo. Você sabia que o Haddad vai ganhar em São Paulo, você sabia que a gente vai ganhar em Minas Gerais também com o Kalil, sabe, aí sim a gente vai dar um salto de qualidade para melhorar esse país. Pegar muita gente nova, pegar essas pessoas que são inteligentes, essas pessoas que governaram bem, trazer tudo para o governo para a gente fazer o mais eficaz, o mais produtivo e o mais competente governo que já teve na história do Brasil. É isso que vai acontecer. 

Mário Kertész:
Meu querido amigo Lula, muito obrigado viu. É um prazer enorme ver você. Você está bonito mesmo rapaz, não é brincadeira não viu, sua esposa vai ficar com ciúmes de você nessas circuladas aí, você está com a fisionomia ótima.

Luiz Inácio Lula da Silva:
Mas eu estou bonito por causa dela.

Mário Kertész:
Ah, mas está bonito mesmo.

Luiz Inácio Lula da Silva:
Ela que me deixa assim, rapaz, está achando o quê?

Mário Kertész:
Estamos esperando você aqui na Bahia, viu Lula. Um abração para você.

Luiz Inácio Lula da Silva:
Se você pudesse eu gostaria de te dar um abraço, Mário. Eu gostaria de te dar um abraço.

Mário Kertész:
Vai dar. 

Luiz Inácio Lula da Silva:
Um abraço, Mário, obrigado. Obrigado ao pessoal que trabalha com você, obrigado às rádios coligadas com você, um beijo no coração e até as 4 horas da tarde, quando estarei chegando na Bahia. 

Mário Kertész:

Valeu, grande Lula, um abração.