Na quinta, 24 de março, o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva concedeu entrevista à Radio Super Notícia, que abrange a região metropolitana de Belo Horizonte (MG). Confira abaixo a conversa com os jornalistas Adriana Ferreira, Ricardo Corrêa e Rodrigo Freitas, no programa Café com Política:
Luiz Inácio Lula da Silva: É um prazer outra vez estar falando com vocês.
Adriana Ferreira: Bom dia.
Rodrigo Freitas: O prazer é todo nosso de ouvi-lo mais uma vez. E eu queria só começar esclarecendo que a gente, e isso já aconteceu outras vezes, a gente vai chamar o ex-presidente Lula de presidente quando referirmos a ele porque é assim que funciona no jargão político. As pessoas, normalmente, chamam aqueles que já ocuparam cargos públicos pelo último cargo que ocuparam, pelo maior cargo que ocuparam. Então, já fizeram esse questionamento para a gente anteriormente e a gente se refere a Lula como presidente, assim como faríamos se estivéssemos ouvindo Dilma Rousseff, Fernando Henrique Cardoso, Michel Temer e José Sarney. Feito esse esclarecimento para começar o nosso bate-papo aqui, presidente, eu gostaria de perguntar ao senhor e começar esse nosso diálogo falando a respeito da situação de Minas Gerais, falando aqui do nosso terreiro e do nosso quintal. Minas tem um cenário muito interessante porque o senhor e o prefeito Alexandre Kalil têm feito gestos e movimentos de aproximação, o senhor já externou que gostaria que Kalil fosse um palanque para o senhor aqui em Minas Gerais. Eu queria saber se Kalil vai ser realmente esse palanque para o senhor, e queria saber como é que ficaria essa costura em relação ao PT e ao PSD em Minas já que aqui em Minas o PT, por exemplo, apresenta como um eventual candidato ao Senado o deputado federal Reginaldo Lopes, mas o PSD também tem candidato ao Senado, que é o senador Alexandre Silveira. Por onde vai passar essa costura para que o senhor efetivamente tenha Kalil como um palanque e um nome diretamente ligado ao senhor aqui em Minas?
Luiz Inácio Lula da Silva: Olha, eu, sinceramente, Rodrigo, não sei por onde vai passar. Eu tenho conversado com o Kalil. O problema que você levantou é um problema real, ou seja, o PSD tem um candidato que é o suplente do Anastasia, o Alexandre, que assumiu o Senado, e é um direito dele querer ser um candidato à reeleição, nós temos que levar isso em conta. Mas nós temos que levar em conta também que o PT quer ter um candidato a senador da República e o companheiro está brigando para ser candidato pelo PT. Eu tenho conversado com o Kalil.
A verdade nua e crua é que a eleição de Minas Gerais é uma eleição importante para o PT, é uma eleição importante para o PSD, e eu estou levando em conta a necessidade de manter as conversas com o Kalil. Nós estamos chegando no dia 02 de abril e vai ter que ter uma definição. A eleição em Minas Gerais, por todas as pesquisas que eu tenho conhecimento, ela está polarizada de um lado entre a candidatura minha e a candidatura do atual presidente, e ela está polarizada entre o atual governador e o Kalil.
Então, meu caro, isso vai ter que ser acertado. Eu não quero dizer o que vai acontecer porque em política a gente precisa ter muito cuidado com as palavras. A única coisa que eu tenho certeza é que o Kalil precisa de mim, a única coisa que eu tenho certeza é que eu preciso do Kalil, e a única coisa que eu tenho certeza é que, se nós dois nos juntarmos, nós faremos uma chapa muito forte em Minas Gerais.
Obviamente, que não será fácil a disputa, será uma disputa complicada, mas eu estou trabalhando para ver se a gente encontra uma solução. Eu já tenho tido várias reuniões com o PSD, tive reuniões com o Kassab. Aí em Minas Gerais tem muito disse-me-disse, é uma questão de comportamento do PSD em Minas Gerais. Mas, de qualquer forma, eu não quero antecipar nada.
Quando chegar o dia 02 de abril, Rodrigo, eu posso falar com você o que vai acontecer definitivamente. Até porque eu vou tomar a decisão da minha candidatura possivelmente no final de abril. Eu não tenho pressa porque a eleição é muito longa, ainda falta muito tempo, e a eleição é uma maratona de vários e vários quilômetros que a gente tem que andar, porque senão a gente chega cansado na reta final. Mas eu te diria, de forma muito categórica, que a possibilidade de Kalil e Lula estarem juntos é muito grande. É muito grande, e falta pouca coisa para que a gente possa acertar isso.
Adriana Ferreira: Presidente, sobre a filiação de Geraldo Alckmin ontem ao PSB, notícia do dia, inclusive. Isso que pode ser o ato que pode ser um primeiro passo para oficializar o lugar de vice na chapa do senhor. O que dizer às pessoas que acham um tanto quanto contraditório a presença do Alckmin numa possível chapa com o senhor, já que vocês dois estiveram em lados opostos aí durante mais de 30 anos?
Luiz Inácio Lula da Silva: Olha, contraditório, Adriana, seria eu ter um vice do PT, porque seria uma soma zero. Lula mais alguém do PT seriam dois PTs que não acrescentaria nada na expectativa eleitoral da sociedade brasileira. Ora, o dado concreto, eu já tive o José Alencar de vice, uma pessoa que eu não conhecia, uma pessoa que eu não quis nem participar da festa de 50 anos, e depois eu resolvi ir e lá fui convencido de que o José Alencar seria o meu vice, e tive o prazer de conviver com uma das pessoas mais extraordinárias que eu conheci na vida. Quisera Deus que todo presidente da República no mundo tivesse um vice da qualidade do José Alencar, da ética, da competência, da capacidade de persuasão, da capacidade de entendimento da vida política na adversidade.
Então, veja, o Alckmin foi o meu adversário em 2006, foi meu adversário, foi adversário da Dilma também, ou seja, isso não é problema. Ou seja, porque nós estamos na verdade é tentando construir uma proposta de reconstrução do Brasil, uma proposta que leve em conta a necessidade de começar a pensar num modelo de desenvolvimento que leve em conta o desenvolvimento regional dentro de cada estado, o que é necessário, o que é preciso fazer. Dentro do estado, a gente ver o que é possível fazer em cada região, para que a gente discuta um novo modelo de desenvolvimento que leve em conta essa realidade loucura da chamada indústria digital, da indústria de dados.
Ou seja, tem milhões de brasileiros trabalhando em aplicativos e ganhando quase nada. Quando você tem um sistema que exige inteligência, que exige capacidade, o povo é banido por um trabalho desqualificado, porque muita gente está trabalhando com aplicativo, entregando comida, trabalhando de Uber, muita gente está trabalhando em casa às vezes e ganhando menos do que ganhava se estivesse trabalhando no seu local de trabalho.
Então, a minha junção possível, porque ainda não foi oficializada, porque o PSB tem que procurar o PT e agora os dois partidos tem que se entender, é na perspectiva de que nós temos consciência de que é preciso recuperar o Brasil. O Brasil está destruído.
Eu poderia pegar Minas Gerais como exemplo para mostrar para você o seguinte, praticamente dobrou o número de pessoas que estão vivendo abaixo da linha da pobreza. Aumentou e muito, praticamente dobrou. Eu posso dizer para você que dobrou o número de pessoas que vivem hoje na miséria absoluta em Minas Gerais, pessoas morando na rua, pessoas dormindo na sarjeta. A queda de rendimento do trabalhador brasileiro caiu muito nesses últimos tempos. E nós, então, temos condições de recuperar isso.
Eu tenho dito para todo mundo, em todas as entrevistas, que a solução do problema do Brasil passa por incluir o pobre no orçamento do estado, no orçamento da União e no orçamento da prefeitura. Enquanto a gente não se der conta que o pobre tem que ser a solução desse problema, e para ele ser a solução nós temos que incluí-lo na economia, inclui-lo no mercado, torná-lo trabalhador e ao mesmo tempo torná-lo consumidor. Porque quando tiver dinheiro circulando e rodando na sociedade um pouquinho no bolso de todo mundo a economia vai dar um salto de qualidade, vai surgir indústria, vai surgir um crescimento no setor de serviço, no setor de comércio.
Então, a minha junção com o Alckmin, se ela acontecer, e com outros companheiros, com o PSD, com o PSOL, com o Partido Verde, com o Solidariedade, e a tentativa de fazermos isso com o PSD, é na perspectiva de que nós podemos recuperar o Brasil. O Brasil está sendo destruído e nós queremos recuperar o Brasil. Fazer o Brasil voltar a ser alegre, fazer o Brasil voltar a acreditar no futuro, fazer as pessoas sonharem, acordar e tornar os seus sonho realidade. É isso que nós queremos fazer.
Por exemplo, agora mesmo em Minas Gerais quando a gente fica pensando, vou dar exemplo para vocês, o metrô, quando Bolsonaro entrou no governo o metrô era R$ 1,80, agora o metrô é R$ 4,50. Ou seja, o salário do povo não teve o mesmo aumento, o salário do povo não teve o mesmo crescimento, o número de geração de emprego não teve o mesmo crescimento. Mas o número de gasto das pessoas aumentou muito, além da inflação, além do preço de arroz, a cesta básica cresceu, o café aumentou 78%, o açúcar aumentou 48%, a gasolina aumentou quase 60%, o óleo diesel aumentou muito.
Então, nós queremos recuperar o Brasil. É por isso que se eu fizer a aliança e ela for concluída com o Alckmin eu posso dizer para vocês que será uma aliança muito forte para ganhar e para mudar o Brasil.
Ricardo Corrêa: Presidente, bom dia antes de mais nada, fica um convite ao senhor, quando vier ao Distrito Federal, conhecer a nova redação de O Tempo, e quem sabe até comer um pão de queijo mineiro aqui na capital federal. Mas, eu pergunto ao senhor o seguinte: muitos aliados do senhor colocam, fazem a análise sobre qual seria o Lula da campanha, qual seria o Lula do governo. O ministro Ciro Nogueira, que foi aliado do senhor e hoje é o adversário, disse que seria o Lula de 89, que é aquele Lula antes da carta aos brasileiros, antes do Lulinha paz e amor. E durante essa campanha a gente vê algumas declarações que indicam um governo mais à esquerda do que os governos que o senhor fez, embora essa proximidade com o Alckmin também indique um pragmatismo. A pergunta que eu faço ao senhor, na campanha, e principalmente no governo, a gente vai ver aquele Lulinha paz e amor, o Lula que foi dos dois governos, ou seria a jararaca que o senhor citou durante a batalha da Lava Jato?
Luiz Inácio Lula da Silva: Ricardo, eu acho muito engraçado a pessoa ter uma preocupação que Lula eu sou em 2022. Obviamente, que eu não posso voltar a ser o Lula de 89, porque eu estou algumas décadas mais velho. Mas também eu estou algumas décadas mais experiente, mais sabido, mais calejado, tive a experiência de ver tudo o que aconteceu nesse país, e tive uma experiência de oito anos de governo muito bem sucedido.
Eu tenho tanto orgulho que eu posso dizer o seguinte, eu voltarei governar esse país, se eu disputar e ganhar as eleições, como uma pessoa mais experiente do que o Lula de 2002 e de 2003. Voltarei com mais vontade de fazer mais coisas, porque eu tenho dito para todo mundo, eu não posso voltar e empatar o jogo. Eu não posso fazer igual, eu tenho que fazer mais.
E os empresários sabem do que eu sou capaz de fazer, o sistema financeiro sabe do que eu sou capaz de fazer, e o povo trabalhador sabe do que eu sou capaz de fazer. Primeiro a capacidade de conversar com todos os setores da sociedade, conversar com todos sem distinção.
Mas, ao mesmo tempo, todo mundo tem que saber que o Lula de 2023 será um Lula que, embora vá governar para todo mundo, as pessoas têm que saber que vai ter um pedacinho de carne a mais no prato do mais pobre, vai ter um ovo a mais, vai ter um aumento de salário. O salário mínimo vai voltar a aumentar, a gente vai cuidar daqueles que nunca foram cuidados nesse país. As pessoas tem que saber disso.
A pessoa tem que saber que não venham querer me impor Lei de Teto de Gasto, porque teto de gasto é da responsabilidade do presidente da República. Eu aprendi o que é gasto, ter responsabilidade com uma mulher analfabeta que criou oito filhos, todos tem profissão, eu fui o primeiro a ter a profissão, e ela conseguiu administrar o pouco que a gente ganhava e cuidar da casa. Então, eu sei o que é responsabilidade.
Quem não sabe, faz uma lei, quem não sabe, faz uma lei para quê? Para atender os interesses dos sistemas financeiros, para garantir que eles recebam os juros da dívida, quando na verdade o governo tem que assumir um compromisso é para cuidar das pessoas pobres, das pessoas que estão desamparadas, das pessoas que precisam de saúde, de educação, de transporte, para as pessoas que precisam viver dignamente nesse país. Então, todo mundo tem que saber. Todo mundo tem que saber.
Eu já fiz o Conselho de Desenvolvimento, os empresários participavam junto com os trabalhadores, eu fiz mais de 74 conferências nacionais para decidir as políticas públicas brasileiras. E é isso que eu vou fazer, na perspectiva de chegar na hora de entregar o governo o Brasil estar melhor, crescendo mais, com mais distribuição de riqueza. Eu vou te dar um exemplo, Ricardo, quando eu fui presidente 90% dos acordos salariais das categorias organizadas tinha aumento real acima da inflação, hoje apenas 7% das categorias têm aumento real acima da inflação.
Então, as pessoas podem saber que vai ser um país diferente, será um Lula diferente sim, será um Lula de cabelo branco, com menos cabelo obviamente, mas um Lula com muita vontade de acertar. Eu não tenho outra chance, meu caro. O meu desejo de concorrer às eleições para presidente da República e voltar é porque eu acho que a gente pode recuperar o prestígio do Brasil a nível internacional, a gente pode recuperar o prazer de ser brasileiro, a gente pode recuperar o direito do povo ter três refeições por dia na mesa. Nessa hora estar todo mundo tomando um belo de um café com leite e pão com manteiga, um queijinho de Minas lá da Serra da Canastra.
Ou seja, esse Brasil que eu acho que nós vamos recuperar e criar. Se eu pegar, por exemplo, eu poderia dizer nós fizemos, contratamos mais de 400 mil casas do Minha Casa Minha Vida em Minas Gerais, entregamos 328 mil. Pergunto: quantas casas foram entregues depois que houve o golpe da Dilma? Quantas casas foram entregues em Minas Gerais? Nada. Nada. Então, esse país, esse Lula que vai voltar é um Lula mais preparado, é um Lula mais calejado, é um Lula mais sabido.
E a primeira coisa que eu vou fazer, Ricardo, é ainda no mês de janeiro convocar uma reunião com todos os governadores eleitos para que a gente estabeleça um plano de trabalho, com definição das obras de infraestrutura mais importante em cada estado, para que a gente não perca um dia sequer dos quatro anos de mandato que a gente pode ter se ganhar as eleições.
Pode ficar certo, Ricardo, que eu vou a Minas Gerais antes e depois para você ver o que vai acontecer no Brasil. Você vai perceber que, se eu ganhar, o clima em Brasília será mais leve, você vai num bar tomar um café você vai ver que o clima está mais alegre, as pessoas estão com mais esperança, as pessoas estão acreditando que tem um governo legítimo e não um governo paralelo.
Porque, no caso do Bolsonaro, ele não governa o Brasil. Ele não discute economia, não discute trabalho, não discute com sindicato, não discute com político, não discute com governador. Ou seja, ele tem tudo paralelo na vida dele. Teve a vacinação paralela, que foi montado quase que uma quadrilha para comprar vacina, provada, como diz a CPI. Ao mesmo tempo, agora nós descobrimos uma outra educação paralela.
A educação está muito ruim, mas ele tem a educação paralela dele dirigindo com fins específicos para alguns setores de igrejas. Ou seja, o que demonstra que esse homem não está preparado, não esteve preparado, e não pode continuar governando o Brasil. É por isso que o povo de Minas Gerais no dia 02 de outubro vai dar um final nesse governo incompetente que governa o nosso país.
Rodrigo Freitas: Presidente, o senhor citou aí a ex-presidente Dilma Rousseff e eu queria saber, num eventual terceiro mandato, terceiro governo seu, algumas figuras petistas históricas, José Dirceu, a própria Dilma, Genoíno, seriam pessoas que teriam espaço no primeiro escalão do senhor? Como é que ficaria isso? O senhor já parou para pensar nessa situação?
Luiz Inácio Lula da Silva: Eu não penso nisso porque, primeiro, por que não tem sentido uma ex-presidente da República trabalhar de auxiliar num outro governo. Eu tenho um profundo respeito pela Dilma. A Dilma tem uma competência técnica extraordinária, mas eu acho que tem muita gente que surgiu depois que nós governamos esse país, tem muita gente nova, e tem muita gente que nós vamos colocar.
E essas pessoas que têm experiência podem me ajudar dando um palpite, podem me ajudar conversando. Às vezes, as pessoas podem me ajudar não fazendo nada, porque nós vamos fazer um governo muito, muito baseado na necessidade básica do povo, com a gente nova que está participando do processo da campanha.
Eu acho que essas pessoas continuam tendo muito valor para mim, todos eles são meus amigos, que eu tenho profundo respeito. Profundo respeito. E, obviamente, que eles não vão repetir a passagem deles pelo governo, não há necessidade. Eu poderia te dizer, se eu conheço as personalidades que você citou, nenhum deles aceitaria. Eu vou te antecipar, nenhum deles aceitaria participar porque eles sabem da importância que eu tenho de fazer um governo ousado para o período de 2023 a 2026.
Rodrigo Freitas: Presidente, deixa eu só fazer um questionamento, o senhor diz que não faz sentido uma ex-presidente trabalhar num outro governo. Mas o senhor chegou a ser anunciado como ministro da ex-presidente Dilma naquela reta final do governo dela. Por que, então?
Luiz Inácio Lula da Silva: Deixa eu lhe contar, quando eu fui convidado pela Dilma, eu disse para a Dilma que um palácio não cabe dois presidentes. Eu tentei, fiquei até 1 hora da manhã conversando com a Dilma, mostrando para ela da ineficácia de tentar levar um ex-presidente para dentro do palácio, seria um incômodo para ela e seria um incômodo para mim. É que a situação estava muito difícil, o ministro Jaques Wagner e o ministro Ricardo Berzoini acharam que eu deveria aceitar, mas depois não deu certo.
Mas, eu entendo que não deva participar, eu entendo. Eu tentei convencer, um dia você pode entrevistar a Dilma e conversar com a Dilma. Eu não queria por conta disso, porque um palácio não cabe dois presidentes, um palácio não cabe dois reis, não cabe duas rainhas, a prefeitura não cabe dois prefeitos. Então, era isso, eu tenho clareza disso, eu tenho clareza disso.
Adriana Ferreira: Presidente, hoje a gente vê um cenário eleitoral muito polarizado entre o presidente Jair Bolsonaro e o senhor. Bolsonaro seria o melhor adversário que o senhor poderia ter? Ele é o melhor adversário ou não? E essa polarização, o senhor considera algo bom ou algo prejudicial?
Luiz Inácio Lula da Silva: Adriana, essa palavra polarização eu não sei quem foi o gênio que inventou ela como uma coisa problemática. A polarização ela existe em qualquer país do mundo quando tem disputa entre duas pessoas. A polarização entre Atlético Mineiro e Cruzeiro é muito forte. Mesmo o América estando crescendo, o que a gente percebe é que a polarização histórica é entre o Cruzeiro e o Atlético Mineiro, entre Corinthians e Palmeiras, entre Flamengo e Vasco, entre PT e PSDB.
A polarização histórica desse país foi entre PT e PSDB, nós polarizamos na verdade em 94 com o Fernando Henrique Cardoso, em 98 com o Fernando Henrique Cardoso, em 2002 com o Serra, em 2006 com o Alckmin, em 2010 com o Serra, em 2014 com o Aécio. A polarização histórica do Brasil foi entre PT e PSDB. Acontece que o PSDB teve problemas e ficou um partido fragilizado, e que está muito diferente daquele PSDB histórico que nós conhecemos. Então, houve uma polarização, que é uma polarização política antiga, decente, não tinha ódio, não tinha fake news, não tinha mentira.
Nós agora estamos disputando com um cidadão que, segundo a imprensa, conta oito mentiras por dia, um cidadão que não gosta de educação, que não gosta de universidade, que não gosta de negro, que não gosta de sindicato, que não gosta de tratar dos problemas das mulheres. Ou seja, um cidadão que a única coisa que ele gosta é de fazer passeio de motociata, é fazer passeio de motocicleta. É um cidadão que nunca visitou um parente de alguém que morreu por conta do Covid.
Então essa polarização ela existe, eu não escolho adversário. A verdade é que o presidente tem uma força política considerável, ele está se mantendo nessa força política, e a verdade é que o PT é muito importante na política nacional. Eu fui o segundo em 89, o segundo em 94, o segundo em 98, o primeiro em 2002, o primeiro em 2006, o primeiro em 2010, o primeiro em 2014 e o segundo em 2018, com todas as guerra feitas contra nós.
Então, essa polarização, se ela se der, se ela chegar assim até o final de setembro, e quando chegar no dia 02 de outubro eu tenho certeza que o povo brasileiro vai dar um golpe no fascismo e vai restabelecer a democracia do Brasil. Eu estou convencido disso. Eu acompanho as pesquisas em Minas Gerais, eu acho que a situação está muito boa em Minas Gerais, e a situação do presidente está muito ruim, ele vai ter que fazer um esforço muito grande para ver se ele tem condições de participar em Minas Gerais. Porque ele tem pouco voto em Minas Gerais, até porque ele fez muito menos do que prometeu durante a campanha.
Eu poderia pegar para você e dizer para você que o governo dele em Minas Gerais fez bem menos do que ele prometeu durante a campanha, e aí a gente vai poder trabalhar, o Governo de Minas Gerais, a gente vai trabalhar aquilo que foi feito no nosso governo, e no nosso governo foi feito muita coisa, mas muita coisa, muita coisa que foi feita do nosso governo e qualquer deputado federal vê o que foi feito, qualquer deputado estadual. E vocês jornalistas certamente tem no arquivo de vocês cada obra que o PT fez no seu governo.
E eu olho para vocês aqui, olhando diretamente para a câmera e dizer uma coisa para vocês: nunca antes na história do Brasil o governo investiu tanto em Minas Gerais como o nosso governo investiu. Eu tenho certeza que nunca na história do Brasil um governo investiu tanto em Minas Gerais como nós investimos em Minas Gerais. E é isso que a gente tem que fazer, governar com parceria, com governadores.
Então, se o Bolsonaro chegar lá, nós vamos disputar com o Bolsonaro, se não for o Bolsonaro nós vamos disputar com outro, sempre respeitando a decisão do povo. A hora que fechar a urna e a hora que anunciar o resultado, quem ganhou é presidente da República, toma posse, tem que governar.
Ricardo Corrêa: Presidente, o senhor destacou que não se importa com a polarização propriamente dita, mas no entorno das campanhas, das duas campanhas, a gente vê uma tensão muito grande do ponto de vista de segurança, de riscos e tal, por ser uma eleição com muito ódio envolvido vamos dizer assim, mais tensa do que outras. O senhor considera essa campanha, a gente ouviu isso inclusive de um deputado petista que esteve com a gente aqui, um deputado bolsonarista disse o mesmo, da preocupação com atentado, algo assim. O senhor considera a seleção mais perigosa do que outras que o senhor participou?
Luiz Inácio Lula da Silva: Não, na verdade, na verdade ela pode ser perigosa porque o candidato adversário é anormal. O conceito dele democracia é um conceito muito confuso. Eu já disputei eleições desde 89, Ricardo, desde 89, eu nunca tive problema. Nós tivemos um problema em Caxias do Sul, quando o Collor foi candidato a presidente, e tivemos um problema em Governador Valadares naquela ponte que sai do aeroporto, uma pequena ponte de pessoas, ou seja, e tacaram uma pedra no carro. Foram os únicos problemas que eu tive em campanha política, nunca tive nenhum problema, e espero não ter.
Eu espero que o povo não acredite em mentira, eu espero que o povo efetivamente analise a realidade do país, eu quero que o povo tenha maturidade ao votar para deputado e senador. É preciso escolher as pessoas capazes de, no Congresso Nacional, votar de acordo com os interesses do povo. Então, eu estou convencido da minha parte. Tem muita gente assustada, você tem razão Ricardo, tem muita gente: vai ser violenta, vai ter violência, precisa tomar cuidado.
Eu, sinceramente, estou com a mesma disposição que eu tive em outras eleições, eu vou fazer uma campanha de rua, eu vou visitar o Brasil inteiro, eu vou conversar com as pessoas, eu vou abraçar as pessoas, e, se Deus quiser, e o povo tiver efetivamente disposição, eu vou ganhar essas eleições. E aí, o senhor Bolsonaro pede licença e vai embora, e aí o Brasil vai voltar à normalidade, o Brasil vai voltar a crescer, vai voltar a gerar emprego, vai voltar a aumentar o salário das pessoas, nós vamos voltar a fazer universidade, a investir em ciência e tecnologia, melhorar a qualidade do ensino fundamental, é isso que vai acontecer no Brasil.
Portanto, eu não estou com essa preocupação. Eu sei que tem gente que está preocupado na minha turma, eu sei que tem gente que está preocupado, eu sei que tem companheiro jornalista preocupado que me falam. Mas eu não tenho essa preocupação, vamos ver, vamos ver. Eu espero que a gente dê uma lição de civilidade nessa campanha de 2022.
Da minha parte, não haverá jogo rasteiro, da minha parte não haverá baixo nível, porque eu não vou desrespeitar o povo que está em casa ouvindo rádio, quem está em casa na internet assistindo alguma coisa, ou no celular, ou na televisão. Eu vou tentar fazer com que o nível da campanha tenha como resultado o aumento da consciência política da nossa sociedade.
Rodrigo Freitas: Nós estamos conversando com o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva do PT. Presidente, eu queria falar agora sobre costumes. Em 2018 o atual presidente Bolsonaro foi eleito discutindo amplamente também a pauta de costumes, foi eleito com o apoio da parcela mais conservadora da sociedade brasileira. Nos anos do PT, algumas pautas chamadas progressistas, que foram aprovadas até em alguns países da América Latina, eu cito a legalização do aborto, cito a legalização da maconha, eutanásia como no caso da Colômbia, mais direitos de gêneros, algumas dessas pautas não foram adiante. Num eventual terceiro governo Lula, ele vai ser mais progressista nesse sentido, falando da pauta de costumes, ou o senhor vai equilibrar para não entrar em choque com essa parcela, como eu disse, mais conservadora da sociedade?
Luiz Inácio Lula da Silva: Olha, primeiro, grande parte dessa pauta de costumes ela não sai da presidência para a sociedade, ela normalmente ela sai do Congresso para a sociedade. Porque é exatamente no Congresso que você tem que fazer as leis para que você possa mudar as coisas que existem hoje para melhor na cabeça de alguns ou para pior na cabeça daqueles que são contra.
Foi assim quando a gente discutiu célula-tronco, que foi para a Justiça, foi assim quando a gente discutiu a legalização da terra Raposa Serra do Sol, que também foi decidida na Suprema Corte, foi assim quando a gente discutiu a união civil, que foi para a Suprema Corte. Ou seja, a Suprema Corte ela dirimiu determinados temas polêmicos com a maior naturalidade.
O que nós não podemos é fazer uma radicalização religiosa em torno de coisas que dependem da evolução da sociedade. Eu, por exemplo, tenho sempre dito desde a minha vinda, desde a campanha de 89, eu, Lula, eu pai de família, pai de cinco filhos, eu se perguntado eu falo: eu sou contra o aborto e sempre fui contra o aborto. Agora, eu, chefe de Estado, tenho que tratar a questão do aborto como uma questão de saúde pública.
Então, o que eu penso pessoalmente é meu, é o meu pensamento. Agora, como que eu vou tratar isso como chefe de Estado? Aí eu tenho que tratar, ou seja, todas as mulheres em igualdade de condições, porque tem muita gente que é contra o aborto e corre para Paris, corre para Nova York, corre para Londres para fazer um aborto escondido. Então, enquanto isso as famílias pobres morrem na rua, tem mulher que tenta perfurar o útero com agulha de crochê, com uma chave não sei do que.
Então, cabe ao estado dar a essas pessoas a capacidade de tratamento digno. Esse é o papel do Estado. Então, essa pauta de costume para mim ela não é problemática não, na hora que a sociedade apresentar ela vai ser discutida no fórum que precisa ser discutida, e esse fórum é o Congresso Nacional, seja a Câmara ou seja o Senado.
Adriana Ferreira: Presidente, falando agora sobre a alta dos combustíveis e a política de preços praticada pela Petrobras. Como reverter esse cenário? O senhor já afirmou em entrevistas que a solução seria que o preço dos combustíveis precisasse ser nacionalizados. Aí eu pergunto ao senhor se a sua política seria mais intervencionista, e como baixar o preço do combustível sem intervir?
Luiz Inácio Lula da Silva: Adriana, você me fez uma pergunta que me permite discutir um assunto importante nesse país. Eu não aceito, não tem nesse país nenhum candidato a nada que possa discutir comigo responsabilidade gerencial e responsabilidade fiscal.
Eu vou lhe contar uma coisa, o PT quando esteve no governo, nós fomos o único país do G20, o único país do G20, das 20 maiores economias do mundo que fez superávit todos os anos que nós governamos esse país. Quando nós chegamos na presidência da República a dívida interna pública era de 60%, quando terminou 2014 a gente tinha 32% de dívida pública com relação ao PIB.
Ou seja, esse nosso país devia 30 bilhões para o FMI, nós pagamos e ainda emprestamos 15 bilhões para o FMI. Esse país nunca tinha tido a experiência de reservas internacionais, esse país tinha zero, esse país devia e o Malan, o Malan ia todo ano para Nova York, para Washington atrás de dinheiro para fechar o caixa.
Pois bem, nós além de pagar o FMI, além de reduzir a dívida pública, além de fazer superávit, além de fazer a mais importante política de inclusão social desse país, além de aumentar o salário mínimo acima da inflação todos os anos, nós deixamos 370 bilhões de dólares de reserva, que é o que dá estabilidade a esse país até hoje. É um colchão de segurança que esse país tem.
Então, eu estou convencido, estou convencido que essa questão do combustível é a demonstração mais inequívoca da irresponsabilidade e da falta de criatividade das pessoas. O Brasil hoje é autossuficiente na produção de petróleo, o Brasil estava tendo refinaria, o Brasil desde 1980 não fazia uma refinaria, nós começamos a tentar fazer uma refinaria no Ceará, uma refinaria no Maranhão, uma refinaria Clara Camarão que foi inaugurada, no Rio Grande do Norte, que era uma refinaria para refinar querosene para avião. Nós fizemos a refinaria Abreu e Lima, de Pernambuco, estávamos fazendo o Comperj no Rio de Janeiro, que eles paralisaram.
Ora, esse Brasil hoje, esse Brasil hoje não consegue refinar toda a gasolina que nós precisamos, porque o governo parou a refinaria. Esse país hoje destruiu a BR e, por conta disso, tem 392 empresas importando gasolina dos Estados Unidos, da América do Norte, importando em dólar, e precificando em dólar para nós. O Brasil, que é autossuficiente em petróleo, o Brasil não tem que exportar óleo cru para comprar derivados, o Brasil precisaria refinar o seu petróleo, exportar o excedente e a gente não ter que estar pagando o preço em dólar. A gente teria que estar pagando o preço em real.
Além disso, o Brasil tem etanol, o Brasil tem diesel, e o Brasil pode, efetivamente, fazer uma discussão de inovação de combustível para o Brasil. O Brasil pode usar mais etanol, o Brasil pode usar mais biodiesel, a gente não tem que estar pagando preço em dólar. É por isso que eu disse que, se a gente ganhar o governo, a gente vai abrasileirar os preços do combustível nesse país.
Você está lembrado que, quando nós estávamos na presidência, para fazer sonda e para fazer plataforma a gente estabelecia que tinha que ter 65% ou 70% de componentes nacionais, porque a gente queria criar uma indústria nacional para que a gente pudesse ser, efetivamente, um país mais forte e industrializado. Eles desmontaram tudo isso, desmontaram tudo isso para quê? Ah, não, se tiver mais empresa vai ter mais competitividade, o preço vai ser mais barato. Cadê o preço mais barato? Cadê o preço mais barato?
Agora, o Bolsonaro pegou o metrô com R$ 1,80, elevou a R$ 4,50, e agora estão falando em privatizar o metrô de Belo Horizonte. Por quê? Para ser mais barato. Não vai ser mais barato, vai ser mais caro, porque o empresário que comprar vai querer ter lucro e não vai sequer querer empatar ou ganhar pouco. Então, é preciso parar com essa bobagem de jogar no lixo a soberania de um país do tamanho do Brasil.
O Brasil pode ter gás mais barato, o gás chegou aí em Minas Gerais a R$ 112,00, tem gente pagando R$ 130,00, tem gente pagando R$ 150,00. Nos oito anos do meu mandato na presidência, não teve aumento de gás para o povo. Ora, que falta de respeito que é essa?
Ou seja, a Petrobras é uma empresa brasileira, o petróleo está no solo brasileiro, as plataformas somos nós que fazemos, a sonda somos nós que fazemos, quem recebe em real é o trabalhador que vai tirar o petróleo de lá, depois o que vai refinar. Por que a por gente tem que cobrar em dólar?
E o presidente fala: se eu pudesse eu dava um murro na mesa. Não precisa dar murro na mesa, quem dá murro na mesa é ignorante, que não tem argumento. O presidente da República, ao invés de dar murro na mesa, ele reúne o Conselho da Petrobras, reúne o Conselho Nacional de Política Energética e discute o preço das coisas. Desde a luz elétrica, ao preço do gás, ao preço do diesel, ao preço do petróleo. Acho que ele nem sabe que existe o Conselho Nacional de Política Energética, por isso que ele não reúne.
Então, esse país está desgovernado. Por isso que o preço da gasolina está, sabe, o coitado do motorista, caminhoneiro, que pega um frete as vezes que mal dá para pagar o gasto do pneu do caminhão, e tem que pagar pedágio, tem que pagar óleo diesel a preço de ouro, tem que pagar gasolina a preço de ouro, ou seja, e no fim do mês leva para casa o quê? Nada.
Então, gente, o governo existe para tentar solucionar os problemas do povo, e não para criar problemas para o povo. É por isso que eu digo sempre, esperem porque, se a gente ganhar as eleições, a gente vai abrasileirar os preços da Petrobras.
Ricardo Corrêa: Presidente, o senhor nos últimos anos enfrentou uma longa batalha judicial, o senhor, o Ministério Público apresentou várias denúncias, numa delas específica o senhor chegou a ser condenado em algumas instâncias, depois o STF anulou essa condenação, outros processos foram arquivados. E agora, nesta última semana, o senhor inclusive ganhou um processo de indenização aí contra o Deltan Dallagnol, o procurador da Lava Jato. A Lava Jato para o senhor agora é uma página virada, o senhor pretende ainda fazer alguma ação, alguma coisa, tentar algum tipo de reparação, ou ainda algum tipo de enfrentamento com a Lava Jato?
Luiz Inácio Lula da Silva: Ricardo, você sabe o que eu tenho pena, falando com você, como um jornalista responsável que vive aí em Brasília. Eu tenho pena porque esses moleques que criaram a força-tarefa em Curitiba, eles não só me prejudicaram como eles prejudicaram a imagem do Ministério Público, que é uma instituição da qual eu e os brasileiros temos que ter o mais profundo respeito. Eles tentaram quase que destruir a Polícia Federal, que também teve delegados irresponsáveis e teve um juiz irresponsável com o cidadão que eu não vou dizer o nome dele.
Essa gente quase destruiu as instituições que nós criamos para dar garantia e fortalecer a democracia no nosso país. Eu fico muito triste porque eles não se deram conta disso, era um bando de messiânicos que contavam mentiras e a imprensa divulgava fartamente as mentiras que eles contavam como se fossem verdade. É isso que é triste. É isso que é pobre nesse país, de você ver as pessoas não questionarem.
O Ministério Público é tão sério, ele é tão importante para o Brasil que, quando eles fizerem uma denúncia, eles têm que ter prova. Eles não podem criar manchete de jornais e depois absolver as pessoas e ninguém é responsável por nada. Eu entrei com um processo contra esse procurador porque ele é um messiânico, ele é um mentiroso. Ele falava em honestidade e tentou criar um fundo para a turma dele com dinheiro da Petrobras, 2 bilhões e meio de reais.
Então, eu achei que eu tinha que entrar com processo, e graças a Deus, graças a Deus, Ricardo, eu tenho todos os meus processos anulados. Todos os meus processos anulados. E tenho, agora, eu ainda vou abrir mais alguns processos, não vou agora discutir no processo eleitoral, que eu não vou mexer nisso, mas as pessoas que mentiram para a sociedade brasileira, as pessoas que mentiram para a imprensa, as pessoas que fizeram acordo com determinadas pessoas em cada jornal, em cada revista, em cada televisão para passar mentira para tentar destruir, essa gente precisa efetivamente ser punida pela instituição.
O Conselho Nacional do Ministério Público precisa cuidar porque uma pessoa como esse Dallagnol não presta serviço à sociedade brasileira, ele depôs contra o Ministério Público. Aquela história do PowerPoint que eu ganhei ontem, na verdade eu estava pedindo 1 milhão de indenização, o juiz, os ministros foram condescendentes com ele dizendo que ele não ganha tanto assim. Mas, as pessoas não podem mentir.
O Ministério Público não pode apresentar uma denúncia falsa, não pode levantar suspeitas sem prova, não pode fazer manchete de jornal. Esses caras não sabem o que fizeram comigo. Eu tive 59 capas de revistas contra mim, eu tive 600 e poucas páginas, primeira página dos jornais, contra mim, eu tive 13 horas de Jornal Nacional contra mim em nove meses.
Eu acho que a direção da Globo poderia, de forma muito gentil, um dia pedir para o William Bonner fazer um editorial dizendo: olha, nós da Rede Globo de Televisão queremos pedir desculpas ao ex-presidente Lula porque nós fomos enganados pela força-tarefa de Curitiba, nós fomos enganados pelo Moro, nós publicamos como verdade mentiras que eles inventaram para nós.
Eu só quero isso. Eu espero que um dia isso aconteça porque a destruição das pessoas, eu posso dizer de um mineiro, o Aécio não aguentou uma capa de revista, já sumiu do mapa. Sabe por quê? No Brasil é assim, as pessoas quando são acusadas de corrupção submergem, submergem, se escondem, desaparecem. Eu resolvi que não tinha que desaparecer. Eu resolvi que tinha que enfrentar, porque quem acreditava e quem sabia da minha inocência era eu.
Então, graças a Deus, graças a Deus eu saí da cadeia, sem ódio, eu às vezes falo isso porque é importante falar sempre que eu posso, porque tem gente que quer que eu esqueça. É como se o escravo tivesse que esquecer as chibatadas que ele tomou, o sal com pimenta que jogaram nas costas dele, ele pode até não utilizar aquilo fazendo vingança, mas ele não pode esquecer. Eu não esqueço o que aconteceu com a minha família, eu não esqueço que a minha mulher morreu por conta daquilo, eu não esqueço o que os meus filhos passaram dentro de casa, os meus netos.
Eu não esqueço o sofrimento que eu tive, mas eu estou de cabeça erguida porque Deus me ajudou a provar que mentira tem perna curta. Mentira tem perna curta.
E, toda vez que você é acusado, Ricardo, toda vez, você vê, eu estou muito feliz pelo que aconteceu com o Pimentel em Minas Gerais. O Pimentel teve um tempo que não conseguia sair na rua em Minas Gerais, e ontem por unanimidade ele é absolvido. Como é que fica os mentirosos que o acusaram? Cadê a prova que apresentaram?
Porque se você tem prova você denuncia e mostra as provas e condena. Você não pode denunciar sem prova e levar as pessoas a um sacrifício enorme, a destruição de pessoas e depois não acontecer nada. Então, eu sinceramente, fiquei feliz ontem. Eu tenho pena e espero que o Ministério Público repare porque não pode mais acontecer com uma instituição da grandeza do Ministério Público o que essa meninada, o que essa meninada, esse bando de messiânico. Agora o Tribunal de Contas está investigando as diárias dele, que eles ganhavam diária mesmo morando em Curitiba.
Então, eu estou hoje um homem mais sadio, um homem mais leve. Eu, efetivamente, só tenho que pensar no futuro do povo brasileiro. Eu tenho 76 anos de idade, Ricardo, eu me cuido, tento me cuidar, faço o meu check-up, faço ginástica, levanto 5:30 da manhã, ando às vezes sem poder andar porque estou as vezes com a coluna doendo, sabe, e eu não vou ficar pensando nisso porque senão eu não governarei.
Eu quero pensar é nos problemas do povo brasileiro, eu quero pensar é no emprego, é na fome, na recuperação de política industrial, é no cuidado do pequeno e médio produtor rural brasileiro, é cuidar da educação, é cuidar da juventude brasileira que precisa ter oportunidades. É isso que me faz voltar a ser candidato a presidente da República, Ricardo.
E a Lava Jato ficou para os livros, a Lava Jato, ainda tem um outro episódio que vai ser o julgamento da ONU, que talvez se dê por esses dias, que se eu for inocentado eu efetivamente estarei feliz da vida, estarei tranquilo e aqueles que me acusaram que comecem a rezar para poder se livrar dos pecados que cometeram contra esse país e contra a minha pessoa.
Rodrigo Freitas: Presidente, ainda nessa seara da Operação Lava Jato, eu queria prestigiar a nossa audiência aqui, nós temos uma pergunta de um ouvinte sobre essa temática, e eu vou selecionar uma pergunta agradecendo aqui ao tanto de perguntas que a gente recebeu, obrigado a todos vocês que estão participando. Essa pergunta, presidente, vem do nosso ouvinte Thales Rosa que mora no bairro Santa Cruz em Belo Horizonte. Ele pergunta aqui: Lula, Antônio Palocci fez uma delação premiada e acusou vários membros do PT de receber propina na casa de 300 milhões, e ele próprio devolveu 100 milhões no acordo que fez. O que o senhor comenta a respeito disso? É uma oportunidade para que o senhor possa esclarecer a partir dessa provocação feita por um dos nossos ouvintes.
Luiz Inácio Lula da Silva: Eu comento o seguinte, se esse companheiro, obrigado pela pergunta, todo mundo sabe que o Palocci era um grande amigo meu, todo mundo sabe do profundo respeito que eu tenho pelo Palocci, e todo mundo sabe que eu tirei o Palocci do governo em 2005 por conta do caseiro, que ele dizia que não ia na casa, o caseiro dizia que ele ia na casa, então como o Palocci não se explicou direito eu tirei ele do governo. Bem, o Palocci contou uma mentira, porque o Palocci queria primeiro se livrar da cadeia, segundo ficar com metade daquilo que ele diz que pegou.
Veja, a delação do Palocci não foi homologada pelo Ministério Público, a delação do Palocci foi feita por um delegado, porque esse delegado utilizava o Palocci contra testemunha, porque eu estou processando esse delegado. Eu estou processando esse delegado pelas mentiras que ele contou também. E esse delegado tentou utilizar o Palocci como testemunha e passou a utilizar o Palocci.
E o Moro, da forma mais irresponsável do mundo, utilizou um depoimento que não tinha nenhuma validade, uma delação que foi uma montagem para tentar criminalizar o Lula, ele utilizou para eleger o Bolsonaro. Isso já está público, isso já está provado, isso já é uma coisa de domínio público. Então, o que eu acho é o seguinte, meu caro, se você tem uma empresa pública e você descobre que alguém daquela empresa pública roubou, o que você faz? Você julga aquela pessoa, investiga aquela pessoa, você condena aquela pessoa, mas você não destrói a empresa.
Ou seja, se você tem dentro de um pé, se você tem um pé de goiaba, um pé de laranja uma goiaba bichada você não corta o pé, você só tira aquela goiaba e joga ela fora. Ora, se alguém na Petrobras ou alguém no Banco do Brasil ou alguém na Eletrobrás roubou, pega aquele alguém que roubou, investiga, pune e condena, se for o caso de condenar.
O que não pode fazer é o que fizeram, companheiro que fez a pergunta, eu vou dizer para você uma coisa séria, aquela brincadeira da Lava Jato ela fez com que 4 milhões e 400 mil trabalhadores nesse país perdesse o emprego. Ela fez com que 270 bilhões de reais deixassem de ser investidos, ela fez com que 58 bilhões de reais deixassem de ser arrecadado pelo governo.
Quando, na verdade, encontrou um culpado, alguém roubou na Petrobras, puna. Puna e condena a quantos anos de cadeia merecer. Porque, companheiro, o governo que mais criou instrumento de fiscalização foi o PT, o que mais criou instrumento para fiscalizar denúncia foi o PT. Pode perguntar para o Ministério Público, pode perguntar para o delegado da Polícia Federal.
Por que não aparece denúncia de governo em alguns governos? Porque é o seguinte, se você jogar embaixo do tapete, cadê o Queiroz? Cadê a investigação do Queiroz? Cadê a investigação da rachadinha? Cadê a investigação da vacina do Pazzuelo e da quadrilha que foi montada? Nada é investigado. Se nada é investigado, não aparece corrupção.
No caso do PT, tudo foi investigado. Tudo foi investigado. Nós criamos a Lei da Transparência. A Lei da Transparência qualquer jornalista, você Ricardo, você Rodrigo, pode, poderiam entrar e saber que papel higiênico a gente comprava no Palácio do Planalto, o que a gente comprava de comida. Hoje é tudo secreto, hoje é tudo secreto. Você, veja, que ele transformou num sigilo tudo o que o Pazzuelo fez por 100 anos.
Então, esse governo não investiga nada. Agora mesmo tem uma quadrilha na educação que você vê na denúncia, isso não é investigado. No meu governo era investigado. Eu dizia: só não será punido quem for inocente. Se alguém de qualquer setor, amigo a inimigo, cometer erro, vai pagar. É assim que a gente faz.
Então, eu posso te dizer o seguinte, Palocci contou uma mentira porque a Lava Jato ela fez uma coisa muito importante para os ladrões, ela resolveu deixar os ladrões ricos. Olha, você me conta uma coisinha, você denuncia o Lula, eu te dou liberdade e você vai gastar o seu dinheiro onde você quiser.
Então, tem muita gente fumando charuto em hotel de luxo, tem muita gente na beira da praia fumando charuto, rindo da cara dos procuradores e o povo brasileiro tem que saber, não tem um dos que me acusaram de ladrão preso. É por isso que eu quis fazer a briga com eles, é por isso que eu resolvi, eu poderia ter saído do Brasil, mas eu não saí do Brasil porque eu queria enfrentar eles em Curitiba. E graças a Deus nós conseguimos derrotá-los.
Adriana Ferreira: Agora sim, a hora do bate-pronto. Presidente, o senhor já esteve em outras oportunidades aqui com a gente no Super N, o bate-pronto é um quadro que a gente tem perguntas objetivas, respostas objetivas, é como se fosse um pingue-pongue. Só que hoje a gente vai fazer diferente, apenas com nomes de personalidades sobre os quais o senhor vai ter que opinar, pode ser?
Luiz Inácio Lula da Silva: Eu te confesso que eu tenho dificuldade de opinar nome de pessoas, porque é sempre muito difícil você fazer julgamento de pessoas. Mas vamos lá…
Rodrigo Freitas: Vamos ver o que o senhor vai responder então. Para começar, Jair Bolsonaro.
Luiz Inácio Lula da Silva: Jair Bolsonaro é um psicopata, isso foi uma política criada nesse Brasil, pior presidente da República. Jamais eu imaginei que ele poderia ser presidente da República.
Adriana Ferreira: Ciro Gomes.
Luiz Inácio Lula da Silva: O Ciro Gomes é uma pessoa que eu tenho gratidão porque foi meu ministro, um homem inteligente, mas que na política, eu acho, que ele está perdido nesse momento. É uma pena, porque o Ciro é um quadro político muito qualificado nesse país.
Rodrigo Freitas: João Dória.
Luiz Inácio Lula da Silva: Eu não conheço o João Dória, eu não tenho relação com ele, não me agrada como político, não me agrada como governador de São Paulo. Tanto é que a rejeição dele em São Paulo é muito grande. Mas eu não conheço, eu não posso fazer o julgamento dele.
Adriana Ferreira: Sérgio Moro.
Luiz Inácio Lula da Silva: Não me fale dessa pessoa porque essa é uma pessoa asquerosa, é o maior mentiroso que já passou pela história do Brasil, que conseguiu enganar 100% da imprensa, conseguiu enganar 100% da política, conseguiu enganar a sociedade. Como mentira não dura a vida inteira, finalmente a casa caiu e ele virou essa coisa grotesca que está se apresentando como candidato a presidente da República.
Rodrigo Freitas: André Janones.
Luiz Inácio Lula da Silva: Olha, eu não conheço André Janones, eu só vejo falar do André Janones, as pessoas de vez em quando me mostram um vídeo dele no supermercado. Eu acho uma figura interessante, é um jovem interessante, impetuoso, está fazendo um trabalho que eu acho que está dando um bom resultado para ele.
Adriana Ferreira: Simone Tebet.
Luiz Inácio Lula da Silva: Olha, eu tinha mais amizade com o pai da Simone Tebet, que quando eu tomei posse como presidente da República. Eu não a conheço pessoalmente, eu não posso fazer um julgamento da Simone. Eu só vi a Simone Tebet quando eu fui no enterro do pai dela, ela era prefeita de Três Lagoas, no Mato Grosso do Sul. Então, não posso fazer julgamento.
Rodrigo Freitas: Eduardo Leite… Perdão, interrompi o senhor, pode concluir o seu raciocínio.
Luiz Inácio Lula da Silva: Não, eu espero um dia poder conhecer a Tebet. Eu não conheço Eduardo Leite. Eu sei que é um jovem que foi prefeito de Pelotas e é governador do Rio Grande do Sul, só isso que eu sei dele.
Adriana Ferreira: Geraldo Alckmin.
Luiz Inácio Lula da Silva: O Alckmin ele foi vice-governador do Mário Covas desde 1996, ou seja, foi vice até 2000, 2000 assumiu o governo, governou São Paulo quase cinco vezes, ou seja, é uma figura muito conhecida. É uma figura com quem eu tive embates, mas ao mesmo tempo eu tive muita relação de respeito porque ele foi sempre muito educado quando eu era presidente e quando ele era governador.
Rodrigo Freitas: Lula por Lula.
Luiz Inácio Lula da Silva: Eu acho que eu não posso me analisar. Eu só posso dizer para vocês que eu sou um homem que tem uma causa, e essa causa me dá vida. E essa causa é tentar melhorar a vida desse país, a vida do povo brasileiro. Porque eu sei o que é, eu sei que é o sofrimento, eu quando vejo uma pessoa na rua eu sei o que essa pessoa está passando. Quando eu vejo uma mulher com criança na calçada pedindo esmola, eu sei o que ela está passando. Então, é essa causa que me move na política.
Por isso que eu estou dizendo para vocês que eu vou viver até 120 anos, porque a ciência diz que o cara que vai viver 120 anos já nasceu e eu acho que pode ser eu, então eu estou me preparando para essa vida longa que eu espero ter. Porque a vida é o dom mais importante que Deus nos deu.
Adriana Ferreira: No Café com Política de hoje, conversamos com o ex-presidente da República Luiz Inácio Lula da Silva, do PT, ele que deve lançar oficialmente a pré-candidatura dele a presidência no mês de abril. Presidente, obrigada mais uma vez por ter nos atendido, por estar aqui no Café com Política, e espero nos falarmos em breve durante a campanha eleitoral.
Luiz Inácio Lula da Silva: Adriana, eu quero agradecer a vocês três, quero agradecer ao Rodrigo, ao Ricardo, a você. Quero cumprimentar os ouvintes da Rádio Super FM, as pessoas de Belo Horizonte, Contagem, Betim, Ibirité, Nova Lima, Ribeirão das Neves, Sete Lagoas e Brumadinho, que é onde vocês alcançam com essa audiência extraordinária.
Eu logo, logo estarei em Belo Horizonte, eu quero ir a Contagem, quero ir à Juiz de Fora, quero ir ao Vale do Jequitinhonha, Vale do Mucuri, ao Vale do Aço, eu quero ir ao Vale do Rio Doce, ou seja, eu quero visitar Minas Gerais porque Minas é um estado muito, muito, muito importante.
De vez em quando eu acho que Minas é o equilíbrio desse país. Minas é uma espécie de equilíbrio desse país. Então, eu logo, logo espero estar com vocês aí na nossa querida cidade de Betim.
Segunda coisa dizer para o companheiro Ricardo que, quando eu for a Brasília, eu vou pedir para o Stuckert te telefonar e você vai me oferecer um pão de queijo quentinho com café, não mineiro porque o café mineiro costuma ser fraco e vocês costumam colocar mais água do que pó, então quero um café um pouco mais forte. Aí você vai me oferecer um café expresso.
No mais, gente, muito obrigado. Muito obrigado. Eu vim muito preparado para essa entrevista porque eu trouxe todas as coisas que o PT fez em Minas Gerais, todas as coisas, eu vou só dizer um número aqui Adriana, me desculpe, na despedida.
O PT fez 729 obras do PAC 1, PAC 2, concluídas em Minas Gerais. 980 obras do PAC 1 e 2 estavam com execução em mais de 50%, sendo que delas 231 tinham mais de 90% concluídas e que foram paralisadas depois do golpe contra a Dilma.
Quando eu disputar as eleições e ganhar e voltar, nós vamos fazer a radiografia de todas essas obras que não foram concluídas, porque o Brasil não pode se dar ao luxo de ter obra não concluída. No mais, um beijo no coração das nossas ouvintes e dos nossos ouvintes e um grande abraço em cada um de vocês três.
Rodrigo Freitas: Muito obrigado, presidente Lula, ex-presidente da República Luiz Inácio Lula da Silva, nosso convidado de hoje aqui no Café com Política. Quero agradecer ao Ricardo Corrêa, editor chefe de O Tempo em Brasília, nosso comentarista. Ricardo, é sempre bom ter essa sua parceria aqui, até a próxima.
Ricardo Corrêa: Eu que agradeço, um abraço Rodrigo, Adriana, todos os ouvintes, em especial ao ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva.
Adriana: Obrigada Ricardo.
Rodrigo Freitas: Eu quero aproveitar Adriana, antes de encerrarmos aqui, só para dar um último recado aqui. Primeiro, a gente recebeu novamente muitos questionamentos de porquê chamar Luiz Inácio Lula da Silva de presidente. Gente, no jargão político é assim que funciona, a gente chama um ex-presidente pelo último cargo, pelo maior cargo que ele ocupou. É assim com o Temer, é assim com Dilma, é assim com Collor, é assim com Sarney, é assim com Fernando Henrique Cardoso. Segundo, queria aproveitar também Adriana, para dar um recado de que nós estamos em tratativas com o presidente Jair Bolsonaro para que possamos fazer com ele uma entrevista assim como fizemos agora a pouco com o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, uma entrevista nos mesmos moldes e com a mesma extensão. Estamos com essas tratativas e aguardando um retorno evidentemente da equipe do presidente Jair Bolsonaro.