Leia a íntegra da entrevista do presidente Lula à Rádio Espinharas, da Paraíba

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O ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva concedeu entrevista à Rádio Espinhara, de Patos (PB), na terça-feira, 15. A conversa com os apresentadores Josivan Antero e Sarah Viana foi transmitida para 38 cidades da Paraíba, Pernambuco e Rio Grande do Norte, com retransmissão pela Rádio Serrana (Araruna – PB), Difusora (Cajazeiras – PB), Rádio Princesa (Princesa Isabel – PB), Rádio Teixeira FM (Teixeira – PB), Rádio Interativa FM (Santa Cruz do Capibaribe – PE) e Rádio Santa Rita FM (Santa Cruz – RN).

Leia a íntegra da transcrição:

Jozivan Antero: Presidente Lula, seja muito bem-vindo. Está em São Paulo, muito obrigado a sua assessoria e a todos que contribuíram para que essa entrevista fosse concedida pela Rádio Espinharas, e a gente daqui a pouquinho também fala da rede de rádios que se formou justamente para atender. Está tudo pronto aí Mateus? Presidente, o senhor me escuta?

Luiz Inácio Lula da Silva: Estou te ouvindo, Jozivan.

Jozivan Antero: Seja bem-vindo, presidente. Receba aqui as nossas felicitações e fica aberto para as suas considerações iniciais, já agradecendo a oportunidade de receber no sertão da Paraíba o senhor aqui.

Luiz Inácio Lula da Silva: Olha, Jozivan, primeiro, boa tarde a você, a Sarah, aos ouvintes da Rádio Espinharas e ao povo de todo o sertão, e ao povo da cidade de Patos. Primeiro, é uma alegria imensa poder voltar a falar com o nosso querido Nordeste e, dentro do Nordeste, falar com o povo do sertão brasileiro, um povo trabalhador e muitas vezes povo esquecido por aqueles que governam esse país. Eu quero me colocar, Sarah e Jozivan, à inteira disposição para vocês, deixar vocês muito à vontade, dizer que não tem pergunta proibida. Vocês perguntam o que vocês quiserem, da forma que vocês quiserem. A única coisa que pode acontecer de diferente é eu não saber dar uma resposta e eu falarei para vocês que eu não sei responder e aí vocês fazem outra pergunta. Mas, eu quero fazer uma entrevista muito sincera, muito objetiva e, obviamente, que vocês são os donos dessa entrevista, eu sou aqui apenas um instrumento para tentar reverberar para a sociedade brasileira aquilo que vocês perguntarem. Então, eu quero agradecer de coração a vocês, à direção da Rádio Espinharas, às pessoas que trabalham com vocês, ao Stuckert, que está aqui cuidando para que a gente tenha um bom programa, uma boa imagem. 

E estou pronto, estou pronto. Sabe, queria aproveitar, antes de começar, para dizer que eu rezei a Ave Maria com vocês aí. Então, eu quero agradecer ao Dom Everaldo, que é o nosso bispo da cidade de Patos, quero agradecer aos companheiros do PT de Patos, o PT da Paraíba, o presidente Jacques Macedo, quero cumprimentar os companheiros do PT de Patos, o Lenildo Moraes e o vereador José Gonçalves. Quero cumprimentar o nosso querido deputado Frei Anastácio, os deputados estaduais Anísio Maia, Cida Ramos, Estela Bezerra, Jeová Campos, os três últimos recém-chegados ao Partido dos Trabalhadores, que saíram do PSB. Quero cumprimentar o nosso querido companheiro Veneziano Vidal, e cumprimentar as pessoas que vão nos acompanhar. Eu estou à inteira disposição. Eu sei que tem uma rede de rádios que fizeram parcerias com vocês, mas eu vou esperar que vocês citem essas rádios que fizeram a parceria para depois eu cumprimentar os ouvintes dessas rádios que estão nos ouvindo. Estou à disposição, Jozivan e Sarah, para a entrevista.

Jozivan Antero: Primeiro, dizer que é uma honra receber o senhor aqui, vem de uma missão também de América Latina, recém-chegado do México, onde fez vários contatos, e a gente fica muito feliz por a Rádio Espinharas ter sido, nesse exato momento, aquela que abriu espaço para que as demais emissoras, as demais pessoas que estão compartilhando nesse exato momento, possam acompanhar essa entrevista com o presidente Lula, que nesse exato momento está em São Paulo nos concedendo essa entrevista.

Sarah Viana: Agradecer também, Jozivan, ao presidente pela disponibilidade, e as redes que estão se formando nesse momento, as rádios que se formou para essa entrevista, a Rádio Líder FM, de Souza; Rádio Interativa FM, de Capibaribe, Pernambuco; Rádio Brasilsat, de Souza, Paraíba; Rádio Difusora, de Cajazeiras, Paraíba; Rádio Princesa, de Princesa Isabel, Paraíba; Rádio Teixeira FM, Teixeira, Paraíba; Rádio Santa Rita FM, Santa Cruz do Rio Grande do Norte; Rádio Insubmissa, de Natal, Rio Grande do Norte; além da TV Roda de Conversa, de João Pessoa, e também as redes sociais da Rádio Espinharas e as oficiais do presidente Lula. 

Jozivan Antero: Eu queria agradecer também aos assessores Chrispiniano, Ricardo Stuckert e Cristina Charão, que nos ofereceram aqui esse contato e tão sincero como foi dado ao presidente. Presidente, fica aberto para as suas considerações iniciais ao povo de todo o sertão da Paraíba, e a gente vai tentar fazer um pá e bola, assim, o mais objetivo possível. Centenas de pessoas fizeram contato comigo hoje querendo fazer pergunta, mandando abraço, querendo mandar presente. E eu sei que é muito difícil, mas fica aberto para as suas considerações aí e a saudação a todo o povo sertanejo.

Luiz Inácio Lula da Silva: Jozivan, eu queria até pedir desculpas porque eu esqueci o extraordinário companheiro que é o nosso companheiro Ricardo Coutinho, por quem eu tenho um apreço e uma afinidade política muito grande. Olha, Jozivan e Sarah, eu poderia começar dizendo para vocês que eu vivo, de vez em quando, meio triste pela situação que está passando o Brasil. Eu, sinceramente, quando deixei a presidência da República, o Brasil estava numa situação altamente privilegiada. A economia crescia a 7,5%, o comércio varejista crescia mais de 14%, a gente tinha uma dívida pública muito pequena a, gente tinha acumulado reservas internacionais, a gente tinha começado a fazer a obra mais importante do Nordeste que era a transposição do Rio São Francisco, que Dom Pedro tinha tentando começar a fazer desde 1846. 

Ou seja, a gente tinha o Brasil andando, o Nordeste com muitas faculdades, com muitas escolas técnicas, o Nordeste com muitos doutores. A gente estava diminuindo a mortalidade infantil, a gente estava dando comida ao povo, tinha acabado com a falta de trabalho, ou seja, eu tinha a perspectiva, às vezes eu ficava sonhando, o Nordeste às vezes crescia mais do que a China. E eu achava que esse era o papel de um presidente da República de um país que tem 8 milhões e meio de quilômetros quadrados, que tem 27 estados na Federação, e que caberia ao governo ser uma espécie de indutor para que o desenvolvimento se espraiasse, que a Educação se espraiasse, que a Saúde se espraiasse por todo o território nacional, e que as pessoas pudessem viver mais dignamente e melhor. 

Eu vim para São Paulo com 7 anos de idade, saindo de Caetés, e eu nunca aceitei a ideia do Nordeste só aparecer na imprensa como um lugar que tinha mais analfabeto, como o lugar que tinha mais êxodo rural, como o lugar que tinha mais mortalidade infantil, como o lugar que tinha menos investimentos em ciência e tecnologia. Eu achava um absurdo que o Nordeste não tivesse a chance de se igualar a outros estados do Sul, do Sudeste, do Centro-Oeste, para que o Brasil pudesse ser um país mais justo. E trabalhei com muita intensidade para que a gente pudesse fazer com que o desenvolvimento acontecesse por todos os lados. Lamentavelmente, depois do impeachment da Dilma, houve uma espécie de destruição desse país. 

Você veja que hoje, Jozivan e Sarah, você tem lugar do Brasil que a gasolina está 8,50, tem lugar que a gasolina está 8, tem lugar que a gasolina está 7,50. Você tem lugar que o óleo diesel está insuportável para os motoristas, você tem lugar em que o gás chega a 110, 115, 120, 150 reais um botijão de 13 quilos. Você tem lugar em que está ficando insuportável as pessoas sobreviverem. Vocês devem notar, na Paraíba, mais gente na rua, mais gente dormindo na calçada, mais gente desempregada, mais gente passando fome. Ou seja, esse país, que no nosso governo deixou de ser a 12ª economia do mundo e passou a ser a 6ª economia do mundo, ou seja, o Brasil estava próximo, estava no calcanhar da França, da Inglaterra, da Alemanha, para se transformar numa nação efetivamente justa, uma nação solidária, uma nação soberana, que pudesse dar a todos os seus filhos o direito de sorrir, o direito de comer, o direito de sonhar, o direito de passear, o direito de ter acesso aos bens materiais que ele próprio produz. 

Lamentavelmente, isso está sendo destruído porque nós não temos governo, o que nós temos é um paira que não tem noção do que está fazendo no Brasil, que nunca falou a palavra livro, ele só fala a palavra arma, que nunca foi solidário com alguém que morreu do Covid, nunca foi solidário com as vítimas de nada. Ou seja, é um negacionista, destruidor, não fala em amor, fala em guerra, não fala em livro, fala em arma, não fala em paz, fala em ódio. Ou seja, é uma pessoa que efetivamente o Brasil não merecia. Lamentavelmente, quem sabe o que aconteceu em 2018 sirva de lição para que a sociedade brasileira possa se aprimorar, se aperfeiçoar, pensar melhor politicamente. Não é votar no Lula, é votar em alguém que seja digno, decente, respeitoso, alguém que trata as pessoas com afeto, alguém que trata as pessoas com carinho. Eu acho que é disso que o Brasil está precisando nesse momento. Então, sinceramente, não vou ficar fazendo discurso aqui porque senão eu não paro, e daqui a pouco vocês vão falar: Puxa vida, o Lula só fala e não deixa a gente perguntar. E eu vou parar, Jozivan e Sarah, para vocês poderem me perguntar. Eu quero que vocês sejam os donos da entrevista, eu vou tentar ser curto nas respostas para vocês perguntarem o máximo possível que vocês perguntarem. E se faltar alguma pergunta, aí vocês me convidam para outra entrevista e eu darei uma outra entrevista para vocês.

Jozivan Antero: Isso é bom demais. Presidente, justamente com relação à Petrobras. A Petrobras é uma das empresas estratégicas para o Brasil, sinônimo de prosperidade desde que foi fundada, desde que foi descoberta lá em Getúlio Vargas, mas se encontra destruída e seus lucros servindo a uma minoria de acionistas que se locupletam com isso. Bilhões e bilhões, o lucro da Petrobras no ano passado foi de mais de 100 bilhões. E a empresa, aqui na cidade de Patos mesmo, a gente tem várias pessoas aqui sofrendo com essa questão, como em todo o Brasil. Como o presidente pretende trazer a Petrobras para ser de fato uma empresa estratégica, mas que sirva justamente aos interesses do país?

Luiz Inácio Lula da Silva: Jozivan, tem uma coisa que é importante a sociedade compreender. Toda vez que a elite brasileira, que os representantes do capitalismo conservador brasileiro querem destruir alguma coisa, eles passam a vender a ideia de que a empresa não é produtiva, que a empresa não é rentável, que a empresa é má gerenciada, que tem corrupção. Ou seja, eles criam todo um processo de mentiras e de destruição para que a sociedade, então, comece a dizer, não, a iniciativa privada é melhor, vai ser tudo maravilhoso. Quando eles querem fazer uma guerra, eles primeiro criam o inimigo, vendem o inimigo, criam o terrorismo e depois convencem a sociedade de que a guerra é necessária. E assim é o mundo. 

Veja a Petrobras, ela foi transformada em 2010, no meu governo, na Bolsa de Valores de São Paulo, na segunda empresa de petróleo do mundo. Nós fizemos a maior capitalização da história do capitalismo. Não foi feita no Japão, não foi feita nos Estados Unidos, não foi feita na Alemanha, Jozivan. A maior capitalização de uma empresa na história da humanidade foi feita exatamente no Brasil, na Bolsa de Valores de São Paulo. Quando nós descobrimos o pré-sal, fizemos uma regulamentação, criamos a Lei da Partilha e nós, para que a Petrobras tivesse dinheiro para continuar fazendo investimento na construção de sonda, na construção de navios, na construção de plataforma, nós então capitalizamos a Petrobras. E foi o momento de ouro porque a Petrobras não era tratada como se fosse uma empresa de petróleo. 

A Petrobras é uma empresa de petróleo, de óleo, de gás, mas também é uma empresa que investe no desenvolvimento do país. Porque, quando nós adotamos a política de fazer com que as coisas produzidas no Brasil tivessem conteúdo nacional, por exemplo, o navio da Transpetro, uma plataforma ou uma sonda, quando ela era construída, a gente exigia que ela tivesse, por exemplo, 65% ou 70% de componente nacional. Isso fez com que se criasse uma quantidade enorme de empresas para produzir e fornecer produtos para a Petrobras. Ao mesmo tempo, a Petrobras investia muito em ciências e tecnologia. Se a gente não investisse em tecnologia, a gente não tinha descoberto o pré-sal, se a gente não tivesse investido em tecnologia, você está lembrado, Jozivan e Sarah, que, quando nós anunciamos o pré-sal, os nossos adversários diziam: é, anunciaram o pré-sal, mas não vão conseguir tirar o pré-sal porque o pré-sal estava a 6 mil metros de profundidade, a 7 mil metros de profundidade, em alto mar. 

E o que aconteceu 8 anos depois? Hoje, o que acontece é que o barril de petróleo tirado a 6 mil metros de profundidade é quase o mesmo preço do barril do petróleo tirado na Arábia Saudita. Porque a Petrobras é uma empresa que tem a mais importante tecnologia de prospecção de petróleo em águas profundas. E isso provou que a Petrobras é uma empresa essencial para o desenvolvimento brasileiro. O que eles fizeram? Eles começaram a destruir a Petrobras, a vender, praticamente, todos os poços de petróleo que tinham no Nordeste, quase todos os poços de petróleo terrestres foram vendidos. Eles começaram a destruir a Petrobras vendendo os gasodutos, vendendo a refinaria, vendendo a BR. E nós estamos numa crise agora porque, veja, faz 40 anos que não se fazia nenhuma refinaria nesse país. 

Nós começamos a fazer no Rio de Janeiro, nós começamos a fazer no Ceará, começamos a fazer no Maranhão, começamos a fazer em Recife, e fizemos a Clara Camarão, no Rio Grande do Norte, que era uma para produzir gasolina de aviões. Ou seja, era isso que iria fazer com que o Brasil não fosse exportador de óleo cru, o Brasil fosse exportador de derivados de petróleo, que é o que traz benefício para um país e lucro para a sociedade. Nós transformamos a Petrobras em uma empresa que o pré-sal teria, praticamente, 50% do royalties da Petrobras para investir em educação, tecnologia e saúde. Nós conseguimos criar um fundo para que esse fundo fosse para toda a sociedade brasileira. Tudo isso foi desmontado, tudo isso foi desmontado, e veja o que é grave, Jozivan, não vá cair da cadeira quando eu falar isso, veja o que é grave. Hoje nós temos 392 empresas importando gasolina a preço de dólar, e essa gasolina chega a preço de dólar fazendo com que o povo brasileiro pague uma das gasolinas mais caras do mundo, se comparada à renda do povo brasileiro. 

Ora, quando na verdade a nossa gasolina foi pesquisada em real, extraída em real, refinada em real, não tem porque ela ter o preço de dólar. Acontece que, como nós não fizemos refinaria, nós hoje temos que importar, porque a incompetência é muito grande de quem governa esse país desde o golpe da Dilma. Se tivessem continuado as refinarias, elas poderiam estar prontas, poderiam estar inauguradas, e o Brasil poderia não estar importando hoje gasolina refinada, óleo diesel refinado. Ao mesmo tempo, o Brasil é o país do etanol, o Brasil é o país do biodiesel, nós fizemos isso em 2007, 2008. O mundo decidiu que ia utilizar até 2020 10% de etanol na gasolina, eles não fizeram. E nem o Brasil, o Brasil não precisa estar subordinado ao preço da gasolina porque nós temos etanol, porque nós temos biodiesel. 

É preciso que tenha um governo com competência, alguém que saiba governar, que já poderia ter reunido o Conselho Nacional de Política Energética e decidido uma política correta para que o povo brasileiro não fosse vítima do preço da gasolina, de um lado quem tem carro, de um lado quem tem caminhão vítima do diesel, o povo pobre vítima do aumento do gás de cozinha, quando, na verdade, quem sofre mais são as pessoas pobres, as pessoas que não têm carro, as pessoas que não têm caminhão, que são vítimas do preço quando vão na bodega comprar o leite, comprar um feijão, comprar uma farinha. Essas pessoas têm que pagar a inflação causada pelo aumento do preço. 

Então, eu estou dizendo essas coisas Jozivan e Sarah porque é uma vergonha, é uma vergonha o Brasil estar passando pelo que está passando. Não venham jogar a culpa em cima da guerra da Ucrânia, não venham jogar a culpa em cima da pandemia. Na verdade, a culpa está na cabeça daqueles que governam este país, que não têm nenhuma preocupação em desenvolver o Brasil, em garantir a soberania desse país, e fazer desse país uma nação efetivamente respeitada e soberana. É isso que está acontecendo com a Petrobras, destruição, vendendo cada vez mais, e os lucros da Petrobras, ao invés de construir refinaria, ao invés de investir mais em pesquisas, são distribuídos em dividendos, sobretudo para os acionistas americanos, que têm muito interesse na Petrobras. Então, meu caro Jozivan, é essa situação que estamos vivendo e eu estou dizendo todo santo dia: se preparem porque nós vamos ganhar as eleições, acho que nós temos todas as condições, e a gente vai recuperar a Petrobras para o povo brasileiro. A Petrobras não é um patrimônio, não é uma empresa privada, a Petrobras não tem que pensar só em lucro, a Petrobras tem que pensar no bem-estar de 213 milhões de brasileiros, aqueles que estão no Sul, no Nordeste, no Sudeste, no Centro-Oeste. A Petrobras é de todos.

Sarah Viana: Presidente, fazendo aqui mais uma pergunta, alguns dias atrás o ex-ministro Joaquim Barbosa, do STF, disse que o senhor poderia ser assassinado por grupos bolsonaristas. O senhor tem redobrado essa atenção a sua segurança?

Luiz Inácio Lula da Silva: Sarah, obrigada pela pergunta, querida. Veja, todo mundo sabe o tipo de político que é o Bolsonaro, um cidadão que não é capaz de fazer um gesto para a Educação, um cidadão que não é capaz de fazer um gesto para combater a pandemia do Covid. Até hoje ele não acredita na vacina, até hoje ele acha que o Covid era uma gripezinha, até hoje ele não foi solidário a nenhuma criança, a nenhum velho, a nenhuma pessoa que morreu de Covid. Um presidente que não gosta de sindicato, um presidente que não gosta de mulheres, um presidente que não gosta de quilombolas, não gosta de negros, não gosta de estudantes, ele só gosta de violência. O negócio dele é a relação dele apodrecida com uma parte dos milicianos desse país, que quem sabe foram os que mataram a Marielle, que ontem completou aniversário da morte dela. 

Então, eu tenho preocupação, eu tenho preocupação, mas como eu sou uma pessoa de muita fé, de muita crença, eu sinceramente acho que o que vai acontecer é que o povo brasileiro vai dar um golpe neste país e vai restabelecer a democracia. Será a morte política de Bolsonaro pela mão dos eleitores brasileiros e do povo brasileiro, e aí esse país vai voltar a ter esperança, vai voltar a ser alegre, vai voltar a ser feliz, vai voltar a ter emprego, o Nordeste vai voltar a ter investimento e universidade, emprego, escolas técnicas, vamos poder contribuir para melhorar o ensino fundamental da creche até as universidades. 

Nós vamos fazer aquilo que nós vínhamos fazendo com tanto amor e com tanto carinho para que esse Brasil se transforme ainda antes da metade do século 21 numa grande nação, admirada e respeitada pelo povo brasileiro. Eu, sinceramente, vou fazer a campanha que eu sei fazer, fazer uma campanha de rua, conversar com as pessoas, vender as propostas para esse país, mostrar como é possível recuperar a economia brasileira, como é possível criar empregos. E não vou fazer o baixo nível do Bolsonaro, não vou fazer fábrica de fake news para brigar com o Bolsonaro, ele que faça o jogo rasteiro que ele quiser. Ele que conte as mentiras que ele quiser. Eu vou fazer o jogo da verdade conversando, olhando no olho de cada homem e de cada mulher desse país, porque é disso que o povo está precisando.

Jozivan Antero: A gente está conversando diretamente de São Paulo com o ex-presidente Lula e também pré-candidato, Luiz Inácio Lula da Silva, do PT, nos dando aqui esse carinho e essa audiência dessa entrevista com exclusividade, agradecendo também as rádios coirmãs e os outros meios de comunicação que nos dão nesse exato momento uma audiência fantástica. Presidente Lula, o golpe chamado de impeachment, que aconteceu com Dilma Rousseff em 2016, a gente sabe que ele fragilizou, de fato, a nossa democracia e causou uma ruptura na questão política. Se o PT tivesse feito uma opção pela questão de ter trabalhado mais a consciência do povo, as bases sociais desse país, e a política de aliança não tivesse sido com setores reacionários, o presidente acredita que poderia ter sido uma outra cena ao invés de ter caçado através de impeachment a presidente eleita, que até agora não se tem nenhuma acusação plausível para a presidente?

Luiz Inácio Lula da Silva: Olha, certamente, nós erramos em algumas coisas, porque o impeachment da Dilma foi uma anormalidade política nesse país. Inventaram uma mentira da pedalada, essa mentira foi transformada numa verdade por amplos setores dos meios de comunicação nesse país, e aí a Dilma foi julgada e condenada por aqueles que queriam condenar, liderados pelo ex-presidente da Câmara, o Eduardo Cunha. Depois, não contentes com isso, inventaram a história do processo de corrupção endêmica causada pelo PT, me prenderam durante 580 dias, e hoje está aprovado que não tem mais nenhum processo contra mim porque a Suprema Corte conseguiu mostrar que o Bolsonaro era uma farsa, que o Dallagnol era uma farsa, e que aquilo tinha objetivos políticos para tentar destruir o PT. Mas a vida é assim. A vida é assim. 

Nós temos que aprender com as lições que nós tivemos para que a gente possa acertar daqui para frente e não permitir que aconteça mais as coisas que aconteceram conosco. Eu estou convencido de que o PT tem condições de recuperar o Brasil. Eu tenho apenas um problema, Jozivan, que é o seguinte: eu só vou decidir se vou ser candidato ou não, talvez, no final do mês de abril. Eu tenho que conversar com mais gente. Porque, o meu problema Jozivan, não é só ganhar uma eleição. O meu problema é ganhar uma eleição e fazer uma revolução nesse país sem dar um único tiro, uma revolução para recuperar o emprego, para recuperar a economia, para recuperar a Educação, para recuperar a ciência e tecnologia, para dar esperança para a juventude brasileira. Essa molecada precisa ter esperança nesse país, acreditar que esse país vai ser construído por eles, e eles precisam ter oportunidade. Oportunidade de estudar, oportunidade de trabalhar, oportunidade de ter acesso ao lazer, de ter acesso à cultura, esse é o papel do governo. 

Então, eu estou conversando com muita gente, porque eu tenho dito para a presidenta Gleisi Hoffmann, que eu não quero ser um candidato apenas do PT, eu quero ser candidato de um movimento, não apenas para ganhar as eleições, mas para reconstruir o Brasil, para fazer com que as pessoas voltem a comer três vezes ao dia, ou quatro, se quiserem, para poder recuperar o direito das pessoas trabalharem, o direito das pessoas viajarem dignamente, o direito das pessoas viverem e criar a sua família com segurança e com compromisso e certeza de que as pessoas vão ter um futuro melhor. Então, essa é a minha preocupação, não é só ganhar, é ganhar e fazer aquilo que a gente ia fazer. 

E deixa eu dizer uma coisa, Jozivan, que é muito importante para o povo brasileiro saber. As pessoas se esquecem que, quando eu cheguei na presidência, em 2003, o Brasil devia 30 bilhões de dólares para o FMI, o Brasil não tinha dinheiro para pagar as suas importações, o Brasil, na verdade, tinha uma dívida pública interna de 65%. O Brasil não tinha 1 dólar de reserva internacional, a inflação estava a 12% e o desemprego a 12%. Ora, o que que nós fizemos? Nós consertamos esse país. A inflação ficou em 4,5%, que era a meta que nós estabelecemos, o desemprego chegou no final do mandato da Dilma a 4.3%, era o menor desemprego da história desse país. A gente reduziu a dívida de 65% para 32%, a gente, que nunca tinha tido reserva, fez uma reserva que hoje está em 370 bilhões de dólares, 370 bilhões de dólares, que é uma espécie de uma poupança que dá estabilidade a esse país. E, ao mesmo tempo, nós pagamos o FMI, e ainda emprestamos 15 bilhões de dólares para o FMI. 

E o que que nós fizemos, qual foi o milagre, Jozivan? Eu digo todo dia, Jozivan e Sarah, que o milagre do país foi incluir o pobre no orçamento. Na hora que o dinheiro começa a entrar no bolso do povo trabalhador, o povo trabalhador não compra dólar, não importa carro, não vai para Miami, o povo trabalhador ele compra o que vestir, ele compra o que comer, ele compra o que calçar, ele compra tijolo para melhorar a sua casa, compra telha para melhorar a sua casa, compra cimento, ou seja, compra mais comida. Então, a economia dá um salto de qualidade de forma extraordinária, quando todo mundo começa a ter um pouquinho de dinheiro para gastar. 

Essa é a revolução que nós fizemos nesse país. Quando nós aumentamos o salário mínimo em 74%, quando nós geramos 22 milhões de empregos, quando nós fizemos o PAA para comprar alimentos do pequeno produtor, quando nós garantimos que 30% da merenda escolar fosse comprada da agricultura familiar, nós fizemos uma revolução nesse país. Quando nós fizemos o puxadinho que era garantir que todo mundo tivesse um dinheiro emprestado para fazer um banheiro a mais na sua casa, para fazer um quartinho a mais, para fazer uma garagem, quando nós fizemos 1 milhão e 400 mil cisternas. Você está lembrando, Jozivan, você é muito jovem, mas na campanha de 89 e de 94 eu dizia o seguinte: a seca é um fenômeno da natureza, a morte de pessoas por conta da seca é um fenômeno da falta de vergonha na cara das pessoas que governavam este país. 

E é por isso que nós fizemos a transposição do São Francisco. É engraçado porque nós fizemos a transposição do São Francisco, eu e a Dilma chegamos a fazer quase 90% de toda a transposição, o Temer deve ter feito uns 3%, o Bolsonaro me parece que fez 6 ou 7%, e ele agora acha que ele fez a transposição do São Francisco. Ou seja, é uma piada de um cara que gosta de contar sete mentiras por dia, oito mentiras por dia. Quando nós resolvemos fazer a cisterna é porque uma pessoa que nasce na Avenida Paulista, em São Paulo, na Avenida Copacabana, no Rio de Janeiro, não tem noção do que é uma cisterna para um povo pobre que vive no sertão, não tem noção do que é a seca, não tem noção do que é ver a sua galinha morrer por falta d’água, o seu cachorrinho morrer, a sua cabritinha morrer por falta d’água, a pessoa não tem noção. 

E quando nós fizemos isso é porque a gente queria mostrar que é possível com políticas corretas, com políticas justas, a gente fazer um Nordeste ser um centro extraordinário para a gente conviver, para a gente morar, para a gente trabalhar. Eu quero o nordestino vindo para São Paulo para passear, eu quero nordestino viajando de avião para todo lugar para passear, eu não quero nordestino vindo para São Paulo por causa da fome, como eu vim em 52, eu não quero nordestino fugindo do analfabetismo como minha mãe fugiu com oito filhos pequenos. Não. Eu quero que o nordestino tenha a chance na sua cidade local, porque o povo adora morar na sua cidade, o povo adora viver no seu cantinho ali. O que nós precisamos é dar garantia para as pessoas viverem. E é isso que eu quero voltar a fazer outra vez, é isso que eu pretendo voltar a fazer, ou seja, o Nordeste não é lugar de fome, de desemprego, de analfabetismo, de mortalidade infantil, o Nordeste é um lugar de desenvolvimento, de educação de qualidade, de emprego de qualidade, que é a coisa que nós vamos fazer. E é fácil fazer, é só colocar o pobre dentro da economia. 

E você sabe, Jozivan e Sarah, que é uma coisa que eu sei fazer. Eu viajei para o mundo inteiro mostrando como é que a gente tinha recuperado o Brasil, eu viajei o mundo inteiro, você está lembrado, quando veio a crise de 2008, que muita gente dizia acabou o mundo, acabou o mundo. Eu dizia: essa crise aqui no Brasil vai ser só uma marolinha, nós vamos dar um pontapé logo. E não passou de uma marolinha, sabe. E nós tivemos a crise de 2009, e logo em 2010 a economia voltou a crescer 7,5% e gerar muitos empregos e elegemos a companheira Dilma. Esse país pode ser reconstruído. 

Pode ser reconstruído na cidade de Patos, porque você sabe o que nós fizemos nas escolas em Patos, você sabe o que foi feito no campus de Patos, na Universidade Federal de Campina Grande, você sabe a criação do campus de Pombal, da Universidade Federal de Campina Grande, você sabe da abertura dos institutos federais de Patos, Pombal, Itaporanga, Princesa Isabel e Santa Luzia, você sabe da quantidade de casas que nós construímos na Paraíba, foram mais de 104 mil casas construídas, aí em Pombal foram mais de mil casas. Ou seja, o que foi feito depois que nós deixamos a presidência aí? Quantas casas foram feitas? A Casa Verde Amarela, o povo não quer casa verde amarela, o povo quer casa branca, azul, vermelha, cor de rosa, lilás. Ou seja, as pessoas ficam inventando nomes, utilizando a bandeira nacional de forma escrachada, utilizando a camisa da seleção brasileira para tentar mostrar que são mais brasileiros do que nós. 

Os caras que fazem isso e os caras que dizem “o meu partido é o Brasil” é porque não têm partido. Quem tem partido é como eu, faz como eu, a minha bandeira é vermelha e tem uma estrela guia, essa é a estrela do meu partido, tem música, tem hino, tem manifesto. Agora, a bandeira do meu Brasil é a bandeira dos 213 milhões de brasileiros, as cores verde e amarela são cores do povo brasileiro e não de um picareta de um candidato. É isso, meu caro, que a gente vai voltar a fazer pelo Nordeste, esse Nordeste vai voltar a sorrir como você está agora rindo, como a Sarah vai rir, porque o Nordeste não é um lugar apenas de sol, é um lugar de gente saudável, de gente bonita, de gente feliz, gente que gosta de passear, de vir para São Paulo, de ir para Buenos Aires, se quiser vá para Miami também, se quiser vai para a Europa, porque o povo pobre tem o direito, tem o direito de viver bem e passear bem.

Jozivan Antero: Presidente, eu sou um militante, eu sou um militante de esquerda, estou com 48 anos, mas eu sou militante desde os meus 17 anos, e eu nunca tinha visto tanto ódio no nosso país. É uma coisa assim escabrosa, a gente já fez política sendo oposição, em política de direita, de esquerda, mas o que a gente está vendo agora é uma política fascista, de ódio, de esmagamento, de ameaça, de chacota, de mentira. E eu particularmente gostaria muito que esse momento passasse de bolsonarismo, nesse momento de ódio, de fascismo, de células nazistas no nosso país, mais de 500 células nazistas. Eu me envergonho do que se tornou o nosso país, eu me envergonho. E presidente, esse programa só é possível ser feito graças a imprensa também, graças a própria rádio que acredita na linha editorial do programa, mas nós temos algumas empresas. E nós gostaríamos que o presidente fosse mais objetivo porque de fato a bagagem que o senhor tem não deixa ser mais objetivo diante de situações complexas. Presidente, nós queremos perguntar ao senhor, está acontecendo uma aliança do PT, do Partido dos Trabalhadores com outros partidos também, que já há uma discussão muito grande porque existem setores mais à esquerda, existem setores mais revolucionários e muita gente quer saber se de fato o senhor já confirmou o Geraldo Alckmin, que tem uma linha mais de privatista, tem uma linha mais voltada para também os interesses do neoliberal, saber se essa estratégia, se o senhor de fato já confirma que o Geraldo Alckmin será o seu vice-presidente diante dessa aliança que está sendo feita. 

Luiz Inácio Lula da Silva: Deixa eu dizer uma coisa para vocês. Eu disse agora há pouco que é importante a gente não apenas ganhar as eleições, mas a gente juntar gente para fazer as mudanças que precisamos. Veja, não está certa a questão do Alckmin por duas razões, primeiro é porque eu ainda não defini a minha candidatura. Segundo porque o Alckmin não definiu o partido que ele vai se filiar, então nós temos que ter um pouco de paciência para saber como é que isso vai ficar. Você veja, todo mundo sabe que aí na Paraíba eu estou altamente convencido da necessidade de fazer uma aliança com o MDB, com o Veneziano, nós precisamos juntar mais gente que quer juntar gente aí no estado. 

Agora, estamos num processo de conversação, tem gente que é favorável, tem gente que é contra, tem gente que gosta do Alckmin, tem gente que não gosta, tem gente que gosta do Lula, tem gente que não gosta. Mas política é assim mesmo, a gente vai conversando, vai discutindo, vai tirando a diferença, chega uma hora que você tem que bater o pênalti, e aí você tem que bater com muita força para o goleiro não pegar, e aí é que a gente vai então definir qual é o time que vai entrar em campo. Eu acho que até o final de abril a gente vai ter uma definição de quem são os partidos aliados, nós estamos muito, muito, muito trabalhando com o setor do MDB, com o PSB, com o PCdoB, com o PSOL, com o Solidariedade, com outros partidos, outras forças políticas que querem conversar conosco, e nós vamos fazer. Eu tenho muita paciência porque quando era mais novo eu tinha muita sede ao pote, eu achava que tudo tinha que ser muito rápido, e agora eu acho que tudo tem que ser no tempo certo. Portanto, fique tranquilo Jozivan que logo logo você vai saber da minha candidatura e vai saber quem será o meu vice. 

Jozivan Antero: Fico feliz por isso. A Sarah tem uma pergunta para o senhor.

Sarah Viana: Pronto, Jozivan, a pergunta é relacionada às reformas, presidente Lula, com relação a PEC dos gastos, que congelou por 20 anos os recursos públicos, reforma trabalhista e previdenciária, além da proposta da reforma administrativa e do desmonte de empresas públicas, foram e são nocivas ao povo. O que Lula sendo eleito pretende fazer com relação a esses pontos tão sensíveis?

Luiz Inácio Lula da Silva: Sarah, eu digo sempre que o povo mais humilde sempre aprendeu o seguinte, toda vez que a gente fala em reforma, o povo acredita que é para melhorar. Ah, eu vou reformar a minha casa, é para melhorar, eu vou reformar a minha bicicleta, é para melhorar, eu vou reformar o meu carro, é para melhorar. É sempre assim. Aqui no Brasil toda vez que a elite brasileira fala em reforma é para destruir aquilo que a gente tem. A reforma da Previdência foi para piorar, a reforma trabalhista foi para piorar, a reforma administrativa é para piorar. Eu sinceramente não acredito em teto de gastos, teto de gastos é incompetência de quem governa o país, precisa ter um teto de gastos. Um presidente da República senta com os seus ministros, elabora um orçamento e diz: nós vamos precisar gastar tanto nisso, tanto naquilo, tanto naquilo, e nós vamos fazer o necessário. Não tem que você limitar, porque quando você limita é para gastar menos para o benefício do povo. Eles consideram pagar aposentadoria gasto, eles consideram pagar salário gastos, eles consideram fazer investimento para melhorar a saúde gasto. 

Você está lembrada que acabaram com o Mais Médicos, que tinha 12 mil médicos trabalhando nesse Brasil imenso, mandaram embora e colocaram o que no lugar? Nada. Porque é preciso fazer contenção, não pode ter gastos. Ora, como é que não pode ter gastos se eles gastam todo santo dia. Eu estava vendo aqui agora, não sei se vocês tem visto pela imprensa, Sarah, a Petrobras está pagando 13 milhões de bônus para apenas nove diretores. Então, você tenta fazer um teto de gastos para não fazer as coisas para o povo pobre, mas você não faz teto de gastos para conter o abuso dos altos salários nesse país dos executivos de empresas públicas, que não deveriam ganhar bônus. 

Então, eu sinceramente quero dizer para você, nós vamos trabalhar com muita força para recuperar os direitos do povo trabalhador, para que a gente possa garantir uma política de segurança social para que o povo tenha a certeza de que na velhice ele vai ter uma certa tranquilidade. E você faz isso discutindo com o povo, e eu tenho dito o seguinte, nós vamos encontrar uma solução meio mágica, é colocar o povo no orçamento da cidade, no orçamento do estado, no orçamento da União, e colocar o rico no imposto de renda. Não sei se vocês sabem que dividendos nesse país não paga imposto de renda, quem paga imposto de renda é quem trabalha, quem recebe salário. Então, nós vamos ter que fazer uma discussão. 

Por isso para mim nessas eleições de 2022 é muito importante o eleitor levar em conta a necessidade de votar em deputados e senadores que pensem igual ao povo. Você não pode botar uma raposa para tomar conta do seu galinheiro. Você sabe que a raposa vai comer as galinhas. O que você precisa na verdade é votar em pessoas que tenham o compromisso de beneficiar os mais necessitados nesse país. Então, eu quero te dizer que nós vamos tentar recuperar os direitos do povo pobre desse país, nós vamos fortalecer as políticas sociais. É preciso fortalecer. Nós vamos gerar emprego, nós vamos ajudar a micro e pequena empresa, nós vamos tentar fazer o que for necessário para melhorar a vida do povo. E vamos gastar aquilo que for preciso gastar, porque muitas vezes o gasto é investimento. Eu lembro que quando eu cheguei na presidência em 2003, Sarah, numa primeira reunião que nós fizemos, que eu fui discutir que eu queria fazer universidade, o meu ministro da fazenda falou: não, nós não podemos gastar. Eu falei: olha, daqui para frente está proibido utilizar a palavra “gasto” quando se tratar de educação, de ciência e tecnologia e de saúde, é isso que vai ser feito nesse país.

Jozivan Antero: A gente fica muito feliz com isso, presidente Lula. A gente está conversando com o ex-presidente pré-candidato à presidência da República, Luiz Inácio Lula da Silva, o Lula, que está em São Paulo nos dando aqui o carinho da sua audiência com a rede de rádios que nesse exato momento retransmitem essa entrevista tão importante para que a gente entenda esse cenário. Presidente, estamos assistindo ao maior desmonte das leis ambientais de todos os tempos. A Amazônia, de acordo com professores-pesquisadores, corre o risco de não se recuperar diante dessa devastação que está sendo feita, matando índios, pessoas, matando as pessoas por lá, que é a questão do garimpo ilegal, das madeireiras, inclusive a saída do Ricardo Sales, que é considerado agora como uma pessoa que contribui com o tráfico internacional de madeiras, e foi derrubado justamente com esses escândalos. Como é que o presidente pretende rediscutir essa questão do meio ambiente já que Bolsonaro nesses últimos três anos tem promovido uma tragédia ambiental jamais vista aqui no Brasil, e de fato referendada a nível de mundo, o mundo está assistindo a essa devastação da natureza. Como é que o presidente pretende rediscutir e trazer a natureza para a sua preservação?

Luiz Inácio Lula da Silva: Jozivan, hoje não é possível você discutir desenvolvimento econômico, crescimento econômico, melhorar a vida do povo, se você não colocar a questão ambiental, a questão climática na ordem do dia e dentro da pauta de discussão. Até porque nós somos um mundo pequeno, o planeta Terra não é muito grande, e nós sabemos a importância das nossas águas, a importância das nossas florestas, a importância da nossa fauna. Então, manter a espécie, cuidar do nosso ecossistema, cuidar da nossa biodiversidade e tentar extrair dela benefícios para toda a humanidade, é um compromisso de honra dos humanistas deste país. Então hoje, nós já fizemos isso em Copenhague em 2009 quando nós assumimos o compromisso de evitar 80% do desmatamento nesse país, e conseguimos fazer. Nós já assumimos um compromisso para diminuir a emissão de gases de efeito estufa em 36.9%, isso eu estou falando de 2009. 

Então, a gente vai efetivamente fazer a discussão ambiental na hora que a gente for discutir a economia. Não é possível fazer garimpo na Amazônia e nas terras indígenas, não é possível achar que desmatando você ganha mais do que mantendo as árvores em pé, não é possível você não levar em conta a seriedade que a humanidade tem e a necessidade que ela precisa da manutenção das águas não poluídas e da nossa floresta amazônica. Então, não é mais uma questão de coragem ou não, é uma questão de compromisso de honra do Estado Brasileiro. Não vai poder desmatar a Amazônia. Não vai poder desmatar o Pantanal, a gente vai ter que cuidar disso como se a gente estivesse cuidando de um filho, como se tivesse cuidando de uma coisa que a gente ama. Porque é a nossa própria sobrevivência. Então, nós pretendemos voltar a fazer compromisso. Você está lembrado, Jozivan, que fui eu na presidência que fiz o acordo com a Alemanha e com a Noruega para a criação do Fundo Amazônia, que parou de funcionar. Nós vamos voltar a criar muitos fundos de investimento para que os países ricos contribuam para que a gente possa manter a floresta em pé e para que a gente possa pesquisar, para transformar a riqueza da nossa biodiversidade em algo que possa gerar benefícios, riqueza e emprego de qualidade para o nosso povo. É isso que nós pretendemos fazer no Brasil tão logo a gente decida disputar as eleições, e tão logo a gente receber de forma generosa os votos do povo brasileiro.

Jozivan Antero: Sem dúvida. A gente está aqui numa grande agitação nas redes sociais, muita gente mandando mensagem. Eu queria me desculpar com as pessoas que estão mandando várias mensagens, alô, pedindo alô aqui e mostrando a importância que tem essa entrevista para todo o sertão da Paraíba e para as rádios coirmãs que chegam ao Rio Grande do Norte, Pernambuco, Ceará, e todo o país que nesse exato momento estão ouvindo. Presidente, nós já estamos quase caminhando aqui para o finalzinho da nossa entrevista, mas a nossa querida Sarah tem uma pergunta aqui para o senhor.

Sarah Viana: É para falar a respeito Jozivan, do centrão, que é um grupo de parlamentares ricos que se autointitulam centrão, que dominam o parlamento, fazem as suas leis, se posicionam de acordo com os seus próprios interesses. Eu queria saber do Lula: presidente, como fazer que o parlamento tenha pessoas que representem o povo.

Luiz Inácio Lula da Silva: Olha Sarah, primeiro é com uma certa tristeza que eu vou contar uma história para vocês. O doutor Ulysses Guimarães na Constituição de 1988 ele dizia para nós, toda vez que a imprensa fala que o Congresso precisa mudar ele piora. E eu posso te dizer com 50 anos de experiência política, Sarah, que nós nunca tivemos um Congresso tão ruim, tão conservador, tão contra a soberania nacional, tão vendilhões da pátria como nós temos agora. Sinceramente, é importante que o povo brasileiro olhe que nós precisamos fazer a revolução agora no processo eleitoral. A gente precisa votar em pessoas que tenham um compromisso com a questão ambiental. 

Vamos exigir que as pessoas assumam compromisso conosco, nós precisamos votar nas pessoas que gostem do povo brasileiro, das pessoas que defendam a soberania brasileira, das pessoas que queiram preservar as nossas riquezas minerais, as pessoas que queiram preservar a nossa cultura. É preciso pesquisar, a gente não pode votar no primeiro cara que entrega um panfleto para a gente ou no primeiro que conta uma mentira no celular não. É preciso que a gente analise a história de cada pessoa, ninguém é candidato dizendo eu sou fazendeiro rico. Não. O cara sempre fala, eu sou advogado, eu sou médico, eu sou pecuarista, eu sou contador, ele sempre inventa uma forma de se passar por um profissional liberal porque ele sabe que se ele falar que é um grande fazendeiro ele vai ter menos votos, se ele falar que é um banqueiro ele vai ter menos votos, se ele falar que é um grande empresário ele vai ter menos voto. Então, ele vai sempre inventar uma outra profissão. 

Então, é importante que a gente pense corretamente para a gente poder escolher os deputados que tenham compromisso. Pesquise, veja na sua cidade, veja no seu bairro, veja no seu estado quem é que tem compromisso, pegue a biografia, estude quem é a pessoa para que a gente possa colocar gente que tenha compromisso com o povo brasileiro. É quase um apelo que eu faço à sociedade brasileira, no dia 02 de outubro é a chance que a gente tem de mudar o Brasil. Se você não quiser votar no candidato de esquerda, você tem que votar em alguém que tenha compromisso com você, alguém que seja honesto, alguém que seja leal, alguém que seja fraterno, alguém que seja humanista, alguém que goste de educação, alguém que que pense com o coração e não apenas com a cabeça ou com números. 

Alguém que não veja a economia apenas com números, mas a economia a gente tem que ver é na cara das pessoas para saber se as pessoas estão participando. Não adianta falar o PIB vai crescer. O PIB vai crescer para quem, cara pálida? O PIB vai crescer, ele vai ser distribuído de forma justa para o povo ou ele vai ser distribuído para meia dúzia de pessoas? É como o lucro da Petrobras, você disse agora a pouco Jozivan, que o lucro chegou a 106 bilhões, e esse dinheiro poderia metade desse dinheiro, dos lucros, deveria ser para aplicar em novas refinarias, em novas pesquisas para que a Petrobras continuasse crescendo. Entretanto, foi feito uma repartição para os acionistas e o povo ficou chupando o dedo, ou seja, é o povo pobre pagando o luxo do povo rico, é o povo pobre pagando o pato do preço daqueles que lucram com a guerra, daqueles que lucram com o aumento da gasolina, daqueles que lucram com a destruição da Petrobras. Essa é a verdade nua e crua.

Jozivan Antero: Presidente, eu estou extremamente satisfeito com essa entrevista que o senhor foi capaz de conceder aqui para a Rádio Espinharas. Dizer que estou muito feliz porque justamente tenho posições políticas já bem definidas, sou militante da esquerda, não escondo isso para ninguém, aqui na rádio todo mundo sabe disso e os meus ouvintes também. Mas a gente sabe da importância que teve o Partido dos Trabalhadores e que tem o Partido dos Trabalhadores durante o período que ficou como governo aqui no Brasil, inegavelmente. Nós estamos vivendo um momento de extrema antipolítica, eu odeio a antipolítica, a politicagem, me distancio muito disso, mas eu queria parabenizar o senhor pela eloquência e pela capacidade que o senhor tem de entender os problemas sociais, dos mais diversos. 

Espero que a gente possa fazer de fato uma transformação nesse país, uma revolução nesse país porque nós estamos precisando. Essa campanha do ódio, da mentira, da ignorância, do ataque à tecnologia, do ataque à educação, do ataque à civilidade, do ataque à cultura, isso tem que cessar e eu espero que o senhor também possa ser um canalizador desse processo de retomada de nosso país, juntamente com outras forças políticas e sociais. A Sarah tem aqui um finalzinho e a gente vai deixar aberto para as considerações finais do senhor, já agradecendo profundamente pelo carinho da sua audiência e agradecendo também para as rádios que são parceiras nesse exato momento.

Sarah Viana: Presidente, eu quero agradecer pessoalmente ao presidente Lula pela oportunidade de como pessoa pobre ter tido condições de fazer uma universidade. Então Lula, meus agradecimentos, hoje eu tenho a minha casa, hoje eu sou formada graças aos seus programas de governo. 

Jozivan Antero: A Sarah está emocionada aqui viu Lula, vá dando um desconto aí. Fica aberto para as suas considerações.

Luiz Inácio Lula da Silva: Sarah, eu queria dizer uma coisa para você, a coisa mais gratificante que a gente tem na vida quando a gente governa um país, uma cidade, é você encontrar as pessoas na rua e você saber a gratidão que as pessoas têm por um benefício que foi oferecido. Porque na verdade a Sara estudou pelo esforço dela, pela competência dela, o que o governo fez foi apenas escancarar as oportunidades para ela poder escolher. O ProUni foi uma revolução nesse país, o FIES foi uma revolução, as escolas técnicas foram uma revolução nesse país. E você pode pegar, Jozivan, o que nós fizemos pelo país afora de escolas, de cisternas, você vai perceber que foi uma coisa imensa. Não é que nós fizemos tudo, nós fizemos apenas uma parte, é preciso fazer muito mais, muito mais porque esse povo está muito sofrido. 

Você sabe que eu fui candidato em 89, 94, 98, 2002, 2006, você nunca viu uma campanha minha estimular o ódio, você nunca viu uma campanha minha ficar xingando o adversário, você nunca viu. Porque uma campanha é um debate de ideias, quando eu estou falando no rádio, eu estou falando com você Jozivan e com a Sarah, mas eu sei que eu estou falando com gente que está em casa ouvindo o seu radinho, estou falando com gente que está no carro ouvindo o seu rádio. Então eu não posso ficar contando mentiras, eu não posso ficar ofendendo as pessoas. Quando eu estou falando na televisão eu penso que estou falando com milhões de pessoas, mas eu estou falando com milhões individualmente. É a mulher que está dentro de casa com as suas crianças, com o seu marido, e eu tenho que ser respeitoso quando eu falo com eles. Eu tenho que ser delicado, eu tenho que ser uma pessoa fraterna, bondosa ao meu dirigir as pessoas. 

Eu acho que, eu quero te dizer uma coisa, Sarah e Jozivan, se depender de mim nós vamos dar uma lição de como fazer uma campanha civilizada. Eu não irei instigar o ódio, eu não irei fazer fake news, eu não irei contar mentiras, essa campanha vai ser uma campanha em que a verdade vencerá a mentira, a verdade vencerá os fake news, o amor vencerá o ódio, o livro vencerá as armas, e a consciência política do povo vencerá essa loucura fascista que está criada no Brasil. Portanto, obrigado a vocês dois pela entrevista, obrigada aos nossos ouvintes. Eu quero pedir desculpa se eu falei demais, é porque eu estava com tanta vontade de falar e quando eu vejo aqui o microfone aqui no meu peito, eu fico doido para falar. Se eu pudesse, eu dava era um pulo aí para falar ao vivo com vocês. 

Mas se Deus quiser, como nós já fomos a Monteiro levar água do São Francisco, e falta pouco, eu estou aqui com uma informação que falta apenas o chamado terceiro eixo das águas para o São Francisco, é a gente pegar a água do Mauriti no Ceará para o Vale do Piancó na Paraíba, é uma obra que custa só 250 milhões de reais. Então, como esse incompetente do Bolsonaro não vai fazer, como ele gosta de mentir muito, porque ele só fez 7% da transposição, acabou aquilo que a gente começou e está falando que é ele que fez, nós vamos terminar essa obrinha aqui e vamos inaugurar para que o povo da Paraíba nunca mais sinta a falta d’água. Que a água seja um bem que todos os seres humanos têm o direito, e é da responsabilidade do governo garantir que as pessoas tenham água boa para beber, água para plantar, água para cuidar dos seus animais, e água para que as pessoas possam fazer desse país uma grande nação. No coração um abraço Jozivan, um abraço Sarah, que Deus abençoe vocês, e até a próxima oportunidade. Eu espero que eu não tenha cansado vocês e vocês de vez em quando vocês lembrarem: vamos chamar aquele cara que fala muito. E eu com o maior prazer estarei à disposição de vocês. 

Jozivan Antero: Eu fico muito feliz, o Lula fala ao coração dos sertanejos e a gente fica muito feliz com por isso, agradece profundamente a Rádio Espinharas, as rádios coirmãs que nesse exato momento aqui quebraram as suas algemas aqui, e de repente fizeram uma grande cadeia de rádio aqui levando a palavra do pré-candidato Luiz Inácio Lula da Silva a todas as cidades e a todos os rincões. A todos vocês muito obrigado pelo carinho da audiência, a gente espera voltar amanhã com o programa Polêmica. Agradecer profundamente a todos os assessores aqui que fazem a assessoria do pré-candidato Luiz Inácio Lula da Silva, e parabenizar ao Lula pela entrevista tão esclarecedora que deu nesse exato momento. A todos vocês boa noite, muito obrigado pelo carinho da audiência, amanhã a gente espera voltar.

Sarah Viana: Boa noite a todos, agradecendo a audiência, esperamos voltar amanhã.