Leia íntegra da entrevista de Lula à rádio Itatiaia (MG)

Compartilhar:

O ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva concedeu entrevista à Rádio Itatiaia, de Belo Horizonte (MG), na quinta-feira, 10. A conversa com a apresentadora Kátia Pereira e a repórter Edilene Lopes aconteceu  dentro do Jornal da Itatiaia – 1ª Edição.

Leia a íntegra da transcrição:

Kátia Pereira: A Itatiaia dá sequência hoje, às entrevistas com os pré-candidatos à presidência da República, neste ano de 2022. Nós já conversamos aqui com o Ciro Gomes, do PDT; João Dória, pré-candidato do PSDB. E nos próximos dias também teremos a participação de outros pré-candidatos confirmados. Nesta quinta-feira, nós vamos falar com o ex-presidente Lula, que é do PT. Por isso, a gente vai agora à Brasília, acionar a repórter Edilene Lopes, que participa também dessa entrevista, e faz as primeiras perguntas. Edilene, bom dia pra você.

Edilene Lopes: Bom dia, Kátia. Bom dia, Eustáquio.

Eustáquio: Bom dia!

Edilene: Bom dia ao ex-presidente Lula. Bom dia aos ouvintes da rádio Itatiaia. Ontem ocorreram dois fatos importantes da política nacional, que nós abordaremos aqui nesta entrevista. Um é um anúncio do presidente do senado, Rodrigo Pacheco, do PSD, que não vai mais disputar a presidência da república. E a outra, é a formação de uma federação entre o PV, o PC e o PCdoB, sem o PSB. Mas antes, eu vou fazer pro senhor, uma pergunta relacionada à Minas Gerais. O que que o senhor conversou com o prefeito Alexandre Kalil, na reunião que vocês fizeram aí em Brasília no último dia 24? E há uma exigência do PT para que tenha um senador na chapa de Kalil para que o apoio ocorra, só se tiver senador é que vai ter apoio do PT. E o PT acredita que seja fundamental para o prefeito Alexandre Kalil o apoio do senhor para que ele seja competitivo na disputa ao governo de Minas? Bom dia.

Luiz Inácio Lula da Silva: Bom dia, Edilene! Bom dia, ouvintes da Rádio Itatiaia. Bom dia, queridos companheiros e companheiras do estado de Minas Gerais, da região metropolitana de Belo Horizonte, do Vale do Aço, do Triângulo Mineiro, da Zona da Mata, do Vale do Mucuri, do Vale do Jequitinhonha, do Campo das Vertentes, do Sul de Minas, do Norte de Minas, Região Central, e queridos companheiros e companheiras da região da Vale do Rio Doce. Olha, Edilene, primeiro, eu não estive em Brasília no dia 24, então não houve reunião no dia 24 em Brasília, porque eu não estava lá. 

Edilene: Em São Paulo.

Luiz Inácio Lula da Silva: E, segundo, nós estamos trabalhando, e eu pretendo efetivamente conversar com o Kalil. Eu estou com todo o respeito institucional, porque estou esperando ver se o Kalil é candidato, ele tem que se afastar da prefeitura. Quando o Kalil se afastar da prefeitura, aí sim, eu pretendo conversar com ele e estabelecer a possibilidade de construir uma aliança política.. 

O fato do PT ter feito a Federação com o PV e com o PCdoB é uma coisa muito importante. Eu ainda trabalho com a ideia que o PSB possa entrar nessa Federação, se não entrar nessa Federação nós vamos fazer uma coligação e vamos estar juntos na campanha de 2022. Esses são os fatos políticos. Temos agora todo o mês de março e mais a metade do mês de abril. Vamos esperar a janela dos partidos políticos, porque, você sabe, tem muita gente que troca de partido agora nessa época do ano. É que nem jogador brasileiro na época da janela, todo mundo quer ir embora do Brasil, e as pessoas trocam de partido. 

Eu estou muito à vontade. Primeiro, porque eu acho que nós temos que ter uma preocupação, que é a reconstrução do Brasil. O Brasil está numa situação muito difícil. O Brasil está numa situação, que eu diria, até meio desesperadora, e nós pretendemos construir um movimento. Eu digo sempre para a minha presidenta Gleisi, Edilene, que a minha candidatura não é a candidatura de um partido político, é a candidatura de um movimento para reconstruir a democracia brasileira, para reconstruir a economia brasileira e para voltar a sonhar com o crescimento econômico e com a distribuição de renda. Nós temos muitas coisas para reconstruir nesse país. E eu penso que nós vamos construir em torno dessa perspectiva um movimento muito grande, que vai envolver muita gente da sociedade, gente de partido, gente de fora do partido, para que a gente possa garantir que o povo brasileiro volte a ser feliz outra vez.

Edilene: O senhor sabe que todos os assuntos que importam para Minas importam para Itatiaia. Por isso, eu volto nessa questão: Há alguma exigência do PT para apoiar o prefeito Alexandre Kalil, por exemplo, ter um candidato ao Senado na chapa? Ou o Partido dos Trabalhadores apoiaria o prefeito Alexandre Kalil na candidatura ao governo de Minas se o candidato do Senado fosse do PSD, como o Alexandre Silveira, que é o pré-candidato do partido do prefeito neste momento?

Luiz Inácio Lula da Silva: Olha, como eu não conversei com o Kalil ainda, eu não posso te dizer que está havendo conversa, mas pode haver conversa. É notório e público que o PT tem interesse de ter o Reginaldo como candidato ao Senado, porque ele é um bom candidato, ele já provou que tem voto, ele já provou que é o deputado mais votado, ele é uma pessoa muito querida no estado de Minas Gerais, e nós trabalhamos com a ideia de que o Reginaldo seja o candidato a senador pelo Partido dos Trabalhadores. Obviamente, que nós vamos sentar para conversar com o PSD, vamos sentar para conversar com o Kalil no momento certo, mas eu posso te dizer que o Reginaldo é o nosso candidato ao Senado. 

Edilene: E o PT tem um pré-candidato que pode ser lançado em Minas Gerais? Fala-se do Daniel Sucupira, de Teófilo Otoni, fala-se também do ex-deputado federal aqui por Minas Gerais, tem essa possibilidade, o Miguel Correia Junior?

Luiz Inácio Lula da Silva: Olha, Edilene, eu respeito todas as pessoas que querem ser candidatos. Obviamente, todas as pessoas merecem a minha consideração, seja o Daniel Sucupira, seja o Sérgio, seja o Virgílio Guimarães, seja o Patrus, seja o Pimentel.  

O dado concreto é que o PT tem que medir as possibilidades de poder ou não ser candidato a governador do estado. Nós já fizemos uma situação, na minha opinião vexatória, lançando um candidato a prefeito de Belo Horizonte, quando na verdade seria melhor a gente ter construído logo aliança com o Kalil, já que o PT está no governo, e não fazer o Nilmário passar o sufoco que ele passou. Porque o Nilmário é uma figura tradicional, é uma figura histórica do PT. Eu acho que o PT de Minas Gerais tem maturidade para saber o seguinte: nós temos condições de ter candidatura própria? Essa candidatura pode ser competitiva? Ora, se nós não temos, nós temos que reconhecer que não temos, nós temos que reconhecer que não construímos essa candidatura, e então, precisamos procurar com quem fazer aliança. 

Com quem a gente pode fazer aliança hoje em Minas Gerais? É com o Kalil. É uma figura de projeção, é um companheiro que está governando bem a cidade de Belo Horizonte, é um companheiro mais próximo de enfrentar o atual governador. Então, eu acho que o PT precisa tentar construir isso. Obviamente, nós sempre respeitamos as decisões dos PTs regionais, do PT Municipal, mas eu quero te dizer que, quando terminar o mandato do Kalil, que ele estiver livre, vamos iniciar esse processo de conversa porque eu acho que temos condições de ganhar a Presidência da República no estado de Minas Gerais e temos condições de ganhar o governo de Minas Gerais com o Kalil.

Edilene: E o senhor acredita, como mostram algumas pesquisas, não apenas de vocês, mas pesquisas também de adversários, que o prefeito Alexandre Kalil só tem condições de ganhar as eleições se tiver o apoio do PT? E sobre a reunião em São Paulo, eu tive informações seguras de que essa reunião ocorreu, eu queria que o senhor confirmasse se ocorreu ou não ocorreu, e o que foi tratado, se o senhor não puder revelar tudo.

Luiz Inácio Lula da Silva: Veja, deixa eu te falar, quando houver a reunião com o Kalil você vai ficar sabendo, Edilene. Primeiro, porque eu tenho interesse em divulgar e,  segundo, porque eu tenho interesse que o povo de Minas saiba se eu me reuni ou não com o Kalil. Então, quando chegar o momento certo, e esse momento certo será a partir do dia 27, quando o Kalil deixará o cargo de prefeito e ficará livre para disputar, aí nós vamos conversar. 

Primeiro, vou conversar com o PT de Minas Gerais, depois vou procurar o Kalil para conversar, e procurar quem sabe outras forças em Minas Gerais, porque tem muita gente. Minas Gerais é um estado muito grande, Minas Gerais é um estado com quase 900 municípios, portanto, nós temos que conversar com muita gente, com muita, com muita gente. E eu pretendo conversar com todas as pessoas necessárias porque eu acho que resolver os problemas do Brasil hoje, Edilene, não é um problema de um candidato à presidência, é um problema de uma sociedade. Então quanto mais gente nós envolvemos nesse processo de reconstrução do Brasil, melhor, para o PT, melhor para o candidato a presidente, melhor para os candidatos a governadores, e melhor para o povo brasileiro.

Edilene: Daqui a pouco o Eustáquio vai fazer uma pergunta para o senhor, eu vou só encerrar nessa, que é uma pergunta a composta e eu queria que o senhor respondesse as duas partes. Primeiro, o PT acredita que o Kalil só ganha com apoio do Partido dos Trabalhadores? Segundo, a saída do Rodrigo Pacheco do cenário nacional, não vai ser mais candidato a presidente da República, mexe como com esse cenário, já que o PSD pode ter como candidato Eduardo Leite, que hoje é governador do Rio Grande do Sul? Eu queria que o senhor respondesse rapidamente essas duas perguntas para os colegas também perguntarem. E, na sequência, o Eustáquio vai fazer uma pergunta para o senhor.

Luiz Inácio Lula da Silva: Olha, primeiro seria presunção da minha parte dizer que o Kalil só ganha com o apoio do PT. Ou seja, uma política de aliança é como se fosse uma via de mão dupla. Se nós nos juntarmos ao Kalil nós vamos ajudar o Kalil, mas certamente o Kalil vai nos ajudar. Senão, não precisaria estar junto. Essa política de reciprocidade é muito necessária para que a gente possa construir uma aliança saudável, alguma coisa que seja positiva para o povo de Minas Gerais. Então, eu acho que é uma ajuda mútua. 

A segunda coisa é com relação ao Rodrigo Pacheco. Eu, sinceramente, nunca vi no Rodrigo Pacheco, desde que foi anunciado, nenhuma intenção de ser candidato a presidente da República. Ele nunca demonstrou isso nos seus discursos, ele nunca falou isso claro, nas conversas que ele tem com outras pessoas, a gente não vê ele se colocar como candidato. Ou seja, se alguém tentou lançar o nome dele na expectativa de que ele pudesse ter projeção nas pesquisas, isso também não aconteceu. Eu acho que ele tomou a decisão certa, ontem à noite, de falar: olha, eu não estou candidato, eu não sou candidato e fim de papo. Disse que está bem no Senado, disse que quer cuidar do Senado com muito carinho para preservar a democracia no Brasil. E eu acho que será um papel importante o papel que ele pode exercer no Senado, Edilene.

Edilene: Obrigada, agora o Júnior vai fazer uma pergunta para o senhor. Júnior Moreira também na linha falando de Belo Horizonte.

Junior Moreira: Ex-presidente, bom dia!  Primeiramente, eu quero falar um pouco sobre corrupção. Não há como negar que durante o governo do senhor aconteceu um grande esquema e, para chegar nessa conclusão, acho que o leitor basta olhar para os milhões devolvidos aos cofres públicos. Segundo informações da Justiça, pessoas e empresas envolvidas devolveram  cerca de 1 bilhão de reais. Mas, eu não quero falar de passado não, quero falar de futuro. Como que o senhor vai governar dessa vez? Teremos mais um período de corrupção? Como é que o senhor vai mudar essa história toda para não acontecer novamente?

Luiz Inácio Lula da Silva: Primeiro, você já falou do passado, você poderia começar fazendo a pergunta dizendo que a Suprema Corte anulou todos os processos contra mim. Seria mais justo da tua parte começar assim, que a Justiça Federal, através da Suprema Corte, disse que o Moro era mentiroso, disse que o Dallagnol era mentiroso, e disse que todos os processos contra mim foram uma farsa. Isso já está dito pela Justiça, pela Suprema Corte, você poderia ter começado fazendo essa pergunta. 

A segunda coisa que você poderia perguntar para mim é se é verdade que devolveram 1 bilhão para a Petrobrás, mas verdade que destruíram 4 milhões e 400 mil postos de trabalho. A verdade é que deram um desfalque no Estado de 58 bilhões de reais que deixou de ser arrecadado pelas empresas que foram quebradas. A verdade é que se deixou de arrecadar para esse país 270 bilhões de reais, que deixou de ser investido. Porque a Lava Jato não teve outra tarefa senão a de prestar contas ao Departamento de Justiça dos Estados Unidos, tentar destruir a indústria de óleo e gás neste país, tentar fazer com a Petrobras o que eles fizeram, destruindo a indústria de óleo e gás, a indústria naval e a indústria de engenharia brasileira. 

Então, é importante que a gente coloque muito claro: Você sabe por que a gasolina está cara? Você sabe por que o óleo diesel está caro? Você sabe por que o gás está caro? É porque esse Brasil tinha uma grande distribuidora chamada BR, que foi privatizada e agora você tem mais de 400 empresas importando gasolina dos Estados Unidos ao preço de dólar, quando nós temos autossuficiência e produzimos petróleo em reais. É isso que a Lava Jato fez no país, é isso que já está nos autos do processo, e é isso que já está na decisão da Suprema Corte. 

Você sabe o que acontece de verdade? É que a imprensa pactuou tanto com as mentiras do Moro, com as mentiras do Dallagnol, que a imprensa tem dificuldade de reconhecer o erro que cometeu. Eu acho que seria tão importante, tão honesto, alguém da imprensa falar: olha, eu queria pedir desculpa para o presidente Lula, porque nós acreditamos em todas as mentiras que o Moro contou, em todas as mentiras que o Dallagnol contou, e nós divulgamos e não era verdade, então quero pedir desculpa. Como eu sei que isso não vai acontecer, porque desculpa é uma coisa que precisa ter muita grandeza para utilizar a palavra desculpa, é preciso ter muita grandeza, é preciso ter muito caráter para usar a palavra desculpa, eu vou trabalhar com isso o resto da vida, tentando explicar para a sociedade o que foi a farsa e a mentira da Lava Jato nesse país.

Júnior Moreira: Presidente, eu estou querendo falar de futuro, poderia ter feito todas essas perguntas. Como é que faz para mudar, para ser diferente?

Luiz Inácio Lula da Silva: Veja, primeiro, quem fez para mudar foi o PT. Se você é um jornalista como eu acho que é, muito inteligente, muito preparado, você vai perceber que todos os mecanismos de proteção ao Estado Brasileiro e de combate à corrupção foram feitos no PT. 

Qual era a diferença entre o nosso governo e agora? É que no nosso governo qualquer denúncia contra qualquer pessoa era investigada. Hoje, qualquer denúncia é transformada em silêncio, qualquer pergunta é colocada embaixo do tapete, qualquer denúncia desaparece. Cadê o Queiroz? Cadê a rachadinha do filho do Bolsonaro? Cadê o dinheiro das vacinas, que o Pazuello montou uma quadrilha para comprar vacina? Tudo isso está arquivado. E ainda o presidente Bolsonaro, por Decreto, coloca em sigilo o Pazuello por 100 anos.  Ele colocou em processo de segredo por 100 anos. Então, a diferença é essa, é que no nosso tempo, qualquer denúncia contra qualquer pessoa era investigada. E, hoje, qualquer denúncia contra qualquer pessoa é arquivada. É o presidente da República querendo indicar ministro seu amigo, é o presidente da República querendo trocar diretor-geral da Polícia Federal. Essa bandalheira que está havendo no nosso governo não havia. Os diretores da Polícia Federal eram profissionais de muita seriedade que ficava lá, o procurador que eu indicava não era escolhido por mim, era escolhido pela própria categoria. Essa é a diferença básica. Mas quem fez todas as leis de proteção e de combate à corrupção foi exatamente o governo do PT.

Eustáquio: Ex-presidente Lula, há uma possibilidade muito grande do senhor fechar uma chapa tendo o ex-governador de São Paulo, Geraldo Alckmin, como vice. E ele era do PSDB, adversário histórico do PT. Inclusive, o senhor ganhou as eleições de 2006 contra Geraldo Alckmin, ex-governador de São Paulo. O senhor não acha uma incoerência agora o senhor tê-lo como vice, sendo que o senhor criticou durante muitos anos o PSDB?

Luiz Inácio Lula da Silva: Meu caro, me diga uma coisa: se você não votou em mim na eleição que eu concorri e quiser votar agora, você acha que eu vou recusar porque você não votou em mim? Olha, se eu tive uma divergência com o Alckmin porque ele foi candidato contra mim, eu tinha divergência com o meu irmão Frei Chico, quando a gente jogava bola, porque eu jogava num time e ele jogava no outro. Ora, se eu for colocar a divergência política eleitoral em algum momento como paradigma para eu fazer política, é melhor eu não ser político. 

Nós temos que saber qual é o momento que você está disputando, o que está em jogo, o que você pode construir, o significado das alianças políticas que você faz. Não é o fato de eu ter sido oposição ao Fernando Henrique Cardoso que eu vou deixar de conversar com o Fernando Henrique Cardoso, com o Serra, que eu vou deixar de conversar com o Serra, sabe?! Eu tenho amizade histórica com essa gente. E se em algum momento a gente teve de lados opostos, não quer dizer que  a gente  não pode estar do mesmo lado em determinadas circunstâncias. 

O Alckmin ainda não definiu o partido que vai entrar, eu ainda não defini a minha candidatura porque eu devo definir agora no começo de abril, quando terminar todas as conversas com os partidos políticos. E aí eu vou construir uma chapa para ganhar as eleições, e mais importante, para governar o Brasil. Porque mais importante do que ganhar as eleições, é você ter certeza da dificuldade que você vai pegar esse país, e você ter que reconstruir. Um país que tem uma inflação de dois dígitos, um país que tem 14 milhões de desempregados, um país que tem 19 milhões de pessoas passando fome, mais 116 milhões com algum problema de insegurança alimentar porque não consegue comer as calorias e as proteínas necessárias todo dia, um país que tem mais de 30 milhões de pessoas com trabalho intermitente, pessoas que não têm carteira assinada, pessoas que não têm direito à férias, pessoas que não tem descanso semanal remunerado, pessoas que não têm nenhuma segurança social. Esse país tem que ser reconstruído, e quem pode reconstruir esse país são as pessoas que conhecem o país, pessoas que vieram do mundo do trabalho, pessoas que conhecem o mundo sindical, pessoas que têm coragem de conversar com prefeito, de conversar com governador. 

Hoje, nós temos um país que o presidente não conversa com prefeito, não conversa com governador, não conversa com sindicato, não conversa com índio. Agora mesmo, ontem, foi aprovado na Câmara ou no Senado a lei para fazer garimpagem na terra indígena. Então, eu tenho que aproveitar um programa como esse, Edilene, para dizer o seguinte: se eu for presidente da República, não terá garimpo em terras indígenas, e ponto pacífico.

Edilene: E se o senhor for de novo presidente da República…

Luiz Inácio Lula da Silva: Os índios não são intrusos, eles estavam aqui antes dos portugueses chegarem. Então, nós não temos que importuná-los, nós temos que dar a eles o direito de viver decentemente, dignamente, cuidar da Floresta Amazônica, porque talvez seja mais importante para a humanidade cuidar da Floresta Amazônica do que tentar achar um pouco de ouro nas terras indígenas. 

Katia Pereira: Agora, a gente precisa falar de assuntos caros aqui para Minas Gerais, do ex-presidente Lula, já foram muitas as promessas sobre o metrô, a BR 381 até hoje não foi concluída. Agora nós temos também aqui o nosso polêmico Rodoanel. Por que acreditar que essas obras vão sair do papel, que elas vão ser concretizadas? Agora, por exemplo, nós estamos vendo problemas com concessões de rodovias que estão sendo desenvolvidas por problemas atribuídos ao PAC. Por que acreditar que essas obras vão sair do papel?

Luiz Inácio Lula da Silva: Eu vou dar um dado para você, para vocês poderem saber. No PAC 1 e PAC 2, no tempo do meu governo e da Dilma, nós concluímos 729 obras em Minas Gerais, 980 obras no PAC 1 e 2, que estavam em execução com mais de 50%, sendo 131 com mais de 90% concluídas em 2016. O dado concreto é que poucas vezes na história houve uma relação entre o Governo Federal como houve do governo Lula com o governo de Minas Gerais. Eu posso dizer para vocês aqui sem o conhecimento de causa, eu não tenho números aqui, mas eu posso dizer para vocês, nunca antes na história do Brasil, um presidente da República e um governo colocou tanto dinheiro e fez tantas parcerias para fazer política de inclusão social em Minas Gerais como o PT. 

A gente não pode esquecer mais que nós tiramos mais de 1 milhão e 400 mil pessoas da extrema pobreza de Minas Gerais. A gente não pode esquecer que a gente saiu de 23 para 65 Institutos Técnicos Federais, a gente não pode se esquecer que a gente fez três novas universidades em Minas Gerais, a gente não pode esquecer que o Programa Luz para Todos atendeu quase 400 mil pessoas com mais de 1 bilhão e 400 milhões investidos, sabe. 

Eu tenho noção do que nós fizemos em Minas Gerais, tenho noção da grandeza de Minas Gerais e do que falta fazer em Minas Gerais. E é por isso que eu tenho dito em várias entrevistas, se eu voltar a ser presidente da República, a primeira coisa que eu quero fazer é uma reunião com os 27 governadores dos estados, independente do partido ele pertença para a gente decidir quais são as obras de infraestrutura mais necessárias em cada estado, levando em conta a questão da Educação, levando em conta a questão da Saúde, e a questão da Segurança Pública. Eu quero decidir isso junto com os governos, portanto, eu vou fazer um alerta a quem é candidato ao governo: não precisa gostar de mim, não precisa ser de um partido próximo porque, eu não tenho problema de conversar com prefeito de qualquer partido ou de governador de qualquer partido. Eu nunca fui a um estado sem passar pela sede do Governo Estadual, eu nunca fui a um estado sem fazer inauguração sem a presença do governador, mesmo quando o governador em Minas Gerais era o Aécio, que era oposição a nós. Porque o respeito institucional é uma coisa necessária para que a gente possa viver democraticamente, de forma sadia. Eu fiz isso, eu duvido que tenha um prefeito do PSL, um prefeito do Democratas, um prefeito do PSDB que diga que um dia o Lula o tratou mal porque ele pertencia a um outro partido político. Eu aprendi com a minha mãe que respeito é bom, eu gosto de dar e gosto de receber. E será assim, se eu voltar a governar esse país. Porque o que conta na verdade são os interesses da sociedade e não os interesses de alguém que tem um mandato.