Leia íntegra da entrevista do ex-presidente Lula à rádio Conexão 98 FM, de Palmas (TO)

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Na terça, 19 de abril, o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva concedeu entrevista ao vivo à rádio Conexão 98 FM, de Palmas (TO).

Confira a íntegra da conversa com os apresentadores Júlio Prado, Luiz Armando Costa e Cleidiana Brasil, do programa Live 98.

Júlio Prado: Muito bem, muito obrigado por aceitar o convite, de participar aqui da Live 98 conosco, presidente Lula. Eu quero começar aqui esse bate-papo com o senhor já te fazendo a seguinte pergunta: ontem no fim da tarde, começo de noite, a Eurásia, aquela consultoria norte-americana, publicou um estudo, uma pesquisa que repercutiu bastante hoje, sobretudo, ao longo do dia e no fim da manhã aqui no Brasil, onde aponta que o senhor teria aí 70% de chance de vencer as eleições na corrida eleitoral em outubro. No mesmo estudo, a Eurásia publicou que o presidente Jair Bolsonaro também cresceu 5% e teria 25% de chance. Só que a Eurásia tem um histórico de erros também nessas previsões que ela faz. Aí eu pergunto para o senhor, o senhor está animado com o número ou está preocupado com o número?

Luiz Inácio Lula da Silva: Luiz Prado, eu só queria cumprimentar a Cleidiana, queria cumprimentar o Luiz Armando, e dizer que eu estou acostumado a participar de eleições. Eu já perdi muitas eleições, já ganhei muitas eleições, eu não me encanto e nem me entristeço com pesquisa.

Veja, eu tenho um trabalho a fazer, a campanha está começando, eu acho que nós temos todas as condições de ganhar as eleições pelo histórico do que nós fizemos nesse país durante o tempo que nós governamos, pela qualidade de vida que foi oferecido ao povo do estado de Tocantins e ao povo de todo o território nacional. Eu tenho a convicção de que nós temos todas as condições de ganhar as eleições.

Eu estou muito otimista, eu vou ter o lançamento da minha pré-candidatura no próximo dia 07 de maio aqui em São Paulo. E depois eu pretendo percorrer o Brasil. Eu não quero ficar fazendo live, eu quero percorrer o Brasil, quero abraçar, quero beijar, quero cumprimentar o povo de cada estado brasileiro. Porque é essa conexão química da relação entre os seres humanos que vai fazer com que o povo decida para quem votar em 02 de outubro de 2022. E eu estou convencido que nós seremos merecedores da confiança do povo brasileiro.

Queria aproveitar e cumprimentar o Paulo Mourão, eu comecei aqui vendo o Paulo Mourão sentado aí, depois ele desapareceu, eu falei tem mágica nesse programa porque o Paulo Mourão desapareceu. E agora você apareceu. Estou à disposição meus amigos, à disposição, não tem pergunta difícil não, tem pergunta indiscreta, perguntem o que vocês quiserem, se eu não souber eu peço para o Paulo Mourão responder.

Luiz Armando: Presidente, Luiz Armando, tudo bem?

Luiz Inácio Lula da Silva: Tudo bem Luiz Armando.

Luiz Armando: Presidente, o Solidariedade hoje, o Paulinho da Força anunciou uma aliança com o PT, com o grupo aí do PT, e essa federação, aliás, vai ser uma aliança. Falta o que agora para vir o PSD e o MDB? Porque é uma eleição bipolarizada, é uma terceira via, e na verdade divide, porque nós estamos diante de, ou ditadura ou democracia. O senhor vê avanços, o senhor vê possibilidade de atrair mais partidos em prol da democracia no país?

Luiz Inácio Lula da Silva: Olha, eu vou continuar conversando com todas as forças políticas, Luiz Armando, porque nós vamos ter o final das convenções partidárias no mês de junho. E eu estou tendo que conversar porque, veja, o que está em jogo na verdade, você disse bem, é a continuidade de um modelo de governança fascista, em que você tem um governo que não conversa com ninguém, que você tem um governo que não manda sequer no orçamento da União, porque o orçamento é um orçamento dirigido pelo presidente da Câmara e pelo presidente do Senado.

Você tem um presidente que não conversa com sindicato, que não conversa com empresários, que não conversa com prefeito, que não conversa com governador, que não conversa com o movimento social como um todo. E que odeia a democracia, odeia a civilidade, odeia direitos humanos.

Então, o país está precisando de alguém que coloque um pouco de paz nesse país. Uma reflexão madura sobre a fraternidade, solidariedade, crescimento econômico, desenvolvimento, geração de emprego, distribuição de renda, coisas que precisam ser discutidas no Brasil. E eu tenho a graça de ter recebido a ajuda primorosa de Deus de ter feito o melhor governo que esse país conheceu, do ponto de vista da inclusão social.

Então, eu não acredito que surja a terceira via, acho que vai ser uma eleição polarizada. Mas a gente não tem que ter medo de polarização, você viu o jogo polarizado entre Flamengo e São Paulo domingo, você viu a polarização entre o Liverpool e Manchester City na Inglaterra, ou seja, a polarização existe sempre que tem duas pessoas disputando, dois times jogando, dois países em conflito, ou seja, o que é preciso é que a gente diga para o povo o que está em jogo.

O que está sendo jogado é a recuperação do Brasil, a reconstrução do Brasil, a volta da democracia, a volta da tranquilidade, a volta da cultura, a volta da Educação, a volta do desenvolvimento científico, é isso que nós precisamos de volta no Brasil, e eu acho que é isso que vai vencer o processo eleitoral.

Luiz Armando: Presidente, hoje nós temos mais de 14 milhões de desempregados, e essa reforma trabalhista, que foi feita na época do Temer, ela parece que não resolveu muita coisa, não é, parece que o desemprego fez foi aumentar com essa reforma trabalhista. O senhor tem uma proposta para isso? Como é que o senhor está pensando nisso?

Luiz Inácio Lula da Silva: Luiz Armando, eu tive a felicidade de ser dirigente sindical entre os anos 70 e os anos 80, e eu sempre briguei com os empresários para que a gente não tivesse uma reforma trabalhista a ponto de você querer destruir tudo aquilo que a classe trabalhadora acumulou de conquista desde 1943 com a introdução da CLT.

Lamentavelmente o que eles fizeram foi a destruição dos direitos conquistados, oferecendo ao trabalhador um nada, oferecendo ao trabalhador um emprego intermitente, oferecendo ao trabalhador a ideia do empreendedorismo como se você entregar comida numa moto, numa bicicleta, se você trabalhar no Uber, fosse empreendedorismo, sem que o trabalhador não tenha nenhum direito, nenhuma seguridade social, não tem descanso semanal remunerado, não tem férias, não tem 13º, não tem Natal, não tem Ano Novo, ou seja, nós voltamos quase que a um tratamento do tempo da escravidão.

Então, o que eu quero fazer? Eu quero fazer, eu recebi um documento do movimento sindical, todas as centrais sindicais me apoiaram, para que a gente, não é que a gente faça a revogação, porque ninguém quer de volta o passado, o que a gente quer é reconstruir uma relação de trabalho moderna, que leve em conta o mundo do trabalho de hoje, que leve em conta os avanços tecnológicos. Mas os trabalhadores precisam ser tratados com respeito, com direito. Os trabalhadores não podem ficar refém sem ter nenhuma seguridade social.

Então, os dirigentes sindicais me entregaram isso, e eu vou criar uma mesa de negociação, uma mesa de negociação entre governo, empresários e sindicatos, se for necessário chamaremos até as universidades para que a gente construa uma nova relação de trabalho mais civilizada, mais moderna, mais humanitária do que a que nós temos hoje.

Luiz Armando: Presidente, eu não poderia deixar de fazer essa pergunta porque vejam aí, o barril do petróleo sobe, o dólar sobe, o combustível sobe, a inflação sobe. O barril de petróleo desce o preço, o dólar cai, mas o preço do combustível nem a inflação caem, presidente. Fazer o que, presidente?

Luiz Inácio Lula da Silva: Ora, fazer o quê? Fazer a administração. Veja, o Brasil não tem nenhuma necessidade de estar com os preços vinculados ao dólar e ao preço internacional. Eu só queria te lembrar, Luiz Armando, que em 2008 quando veio a crise do subprime e depois da crise do Lehman Brothers, ou seja, você está lembrado que o barril do petróleo chegou a 147 dólares, e o litro da gasolina que você colocava no teu carro aí na cidade de Palmas era apenas R$ 2,60.

Não tem nada a ver a guerra da Ucrânia, o preço internacional com o preço do Brasil, nós somos autossuficientes, o petróleo é prospectado em real, as sondas são feitas em real, os trabalhadores ganham salário em real. Portanto, não tem nenhuma explicação você dolarizar apenas para aumentar os dividendos para os acionistas, quando, na verdade, uma parte dos dividendos deveriam ser transformados em novos investimentos da Petrobras.

Então eu digo sempre, eu não sei se eles vão fazer logo, mas eles esperem, porque se eu voltar a governar esse país nós vamos abrasileirar os preços do gás, os preços do óleo diesel, os preços da gasolina, porque não tem sentido nesse país alguém pagar R$ 122,00 num botijão de 13 litros, gente cozinhando aqui em São Paulo, no Rio de Janeiro, no meio da rua com fogão de lenha, com tijolo e lenha, ou seja, porque não tem dinheiro para comprar um botijão de gás.

Durante todo o período que eu governei o Brasil nós não aumentamos o gás na Petrobras, o gás tem que ser considerado um bem da cesta básica. É isso que nós temos que fazer. Lamentavelmente nós não temos governo, Luiz Gustavo, nós não temos governo, então é preciso a gente refazer a democracia, reconstruir a governança e fazer com que esse país viva bem.

Júlio Prado: Presidente Lula, o que o senhor está falando é uma realidade nacional, o senhor está falando de um caso, de casos aí em que pessoas precisam usar lenha para cozinhar aí em São Paulo, o senhor imagine aqui na região norte do Brasil, o estado do Tocantins virou uma particularidade que o que a gente vive aqui em Palmas é praticamente um Oásis, mas não precisa andar muito longe, não precisa nem sair da capital para encontrar pessoas que também estão encontrando dificuldades com relação a, por exemplo, ao preço do petróleo. Agora, o preço, o preço de paridade do petróleo, essa política de precificação do preço do barril, aconteceu durante o governo do PT, onde Dilma Rousseff era presidente, quando mudou o modelo de precificação baseado no preço do barril do mercado internacional. Do ponto de vista do empresário, essa mudança no modelo de precificação do petróleo agradou os investidores, e nós sabemos que governar é governar para todos os brasileiros. Como é que o senhor pretende fazer para trazer de volta acessibilidade para a população no preço dos combustíveis e dos subprodutos do petróleo, sem criar uma crise institucional com os investidores? Inclusive nacionais, acionistas, inclusive nacionais. Eu vejo, como é que o senhor vê essa história presidente Lula?

Luiz Inácio Lula da Silva: Olha, quem instituiu a paridade foi o Pedro Parente quando assumiu a presidência da Petrobras. Até então a gente não tinha paridade.

Júlio Prado: 2016, não foi isso? Foi outubro de 2016.

Luiz Inácio Lula da Silva: Deixa eu fazer uma coisa, deixa eu lhe contar uma coisa, eu fui presidente da República oito anos, lidei com a Petrobras, lidei com o preço do gás, com o preço da gasolina, o Brasil tinha a BR que era a mais extraordinária empresa de distribuição de gasolina. Nós criamos a Liquigás, para que a gente pudesse ter um certo controle da distribuição de gás nesse país, eles venderam a Liquigás, convenceram a sociedade brasileira de que se eles começassem a privatizar a BR ia ter mais empresas competindo, que isso iria facilitar a redução do preço da gasolina. E hoje nós ganhamos de presente 392 empresas que estão importando gasolina dos Estados Unidos a preço em dólar.

Então, nós temos que parar com isso. As nossas refinarias precisam voltar a refinar, se for necessário fazer novas refinarias. Nós somos autossuficientes em petróleo, nós não temos que penalizar o povo brasileiro. Não é possível. Não é possível uma pessoa gastar R$ 400,00 para encher um tanque de um Gol, não é possível. Não é possível as pessoas tirarem o carro da garagem para ficar limpando a calota do carro porque não tem mais dinheiro para colocar gasolina. Não é possível, até o preço do álcool estar na altura que está, o álcool não tem nada a ver com a gasolina, não tem que ter paridade álcool e gasolina.

Júlio Prado: Verdade. Verdade, isso é fato, isso é fato.

Luiz Inácio Lula da Silva: Um absurdo. Sabe o que significa isso, Júlio Prado? Isso significa irresponsabilidade governamental. É por isso que eu falo sempre o seguinte, a solução para o problema do país está no fato do país eleger um presidente que tenha, primeiro, credibilidade interna e externa, e que tenha a previsibilidade das coisas que vai fazer e quando anunciar a nação, a nação acreditar. É isso que está faltando ao país. Nós temos um presidente que a única coisa que ele faz é levantar cedo e fazer seis, sete, oito, nove fake news todo santo dia. Ou seja, a maior capacidade gerencial dele é de mentir.

Cleidiana Brasil: Já que o senhor falou em credibilidade, muito boa noite, seja muito bem-vindo aqui no território tocantinense, saiba que o território tocantinense aqui tem um público muito grande que admira o PT, e que são votantes do PT. Inclusive se eu não fizer isso agora eu perco a amizade do Williman, ele pediu: manda um abraço lá para o Lula da Silva, porque se você não fizer isso eu não olho mais na sua cara. Então, eu preciso fazer isso para preservar a minha amizade. E seguindo, eu quero fazer a minha pergunta para o senhor. É Cleidiana Brasil falando aqui, nós tivemos o senhor já como presidente da nação. E eu como mãe, se acontece alguma coisa dentro da minha casa, com os meus filhos, eu não posso usar a justificativa de que eu não sabia do que estava acontecendo. Se eu sou punida pela lei por irresponsabilidade, eu não tenho essa justificativa: ah, eu não sabia que isso estava acontecendo. Por causa dessa grande credibilidade que o senhor tem no estado do Tocantins, o senhor hoje como pré-candidato, chegando à presidência do Brasil, sendo presidente dessa nação de novo, qual é a fala que o senhor tem para o público tocantinense de que o senhor não vai mais deixar acontecer o que aconteceu como nós vimos na história do Mensalão no Brasil?

Luiz Inácio Lula da Silva: Deixa eu lhe falar uma coisa, só queria dizer para você uma coisa, Cleidiana…

Cleidiana Brasil: O senhor manda um abraço para o Williman antes, pelo amor de Deus.

Luiz Inácio Lula da Silva: Um abraço. Um abraço, querida. Deixa ele falar, o que acontece na sala da sua casa, você está na cozinha conversando com o seu marido e você não sabe o que está acontecendo na sala. Está cheio de exemplos, está cheio de exemplos, crianças trancadas no quarto fazendo coisas que o pai jamais imagina que a criança faça. Está cheio de exemplos. Está cheio de exemplo de mulher que é violentada, de mulher que é agredida, de mulher que apanha e o vizinho que mora parede a parede não sabe.

Ora, deixa eu te falar uma coisa, eu tenho uma coisa que eu tenho orgulho que é o seguinte, foi durante o período do meu governo e da presidenta Dilma que nós criamos todos os instrumentos para acabar com a corrupção nesse país. A Lei da Transparência foi nós que fizemos, em que vocês jornalistas poderiam saber o tipo de papel higiênico que era utilizado no Palácio do Planalto. Foi feita, a Lei da Delação foi nós que fizemos. Ora, você só sabe de determinadas coisas quando alguém denuncia, quando alguém pega, ou quando alguém grita. Porque o cara que faz o mal ele não conta para você.

Você está lembrada de que nós fizemos a Lei da Transparência, ou seja, que é uma coisa para deixar o país totalmente aberto para todo mundo saber tudo nesse país. E cada coisa que acontecia no nosso governo eu tinha orgulho de mandar investigar, investigar tudo, só tem um jeito de você não ser punido, é você investigar, é você ser honesto. Olha o que acontece no governo de hoje, você sabia que o Queiroz ainda não foi ouvido pelo Ministério Público? Você sabia que o Pazuello, que fez toda a maracutaia na vacina, foi decretado o sigilo dele por 100 anos? Você sabia que agora foi decretado sigilo da família Bolsonaro por cem anos? Você sabia que todas as maracutaias decretam sigilo por 100 anos?

É a coisa mais absurda que acontece nesse país. Ou seja, se aconteceu alguma coisa, investigue, se alguém cometeu um erro que pague o preço pelo erro que cometeu. Essa é a lógica. E denúncia de corrupção ela só aparece quando você tira o tapete da sala. E não houve nada, não houve nada Cleidiana, no nosso governo que não foi apurado. E sempre será assim, quem não quiser ser…

Cleidiana Brasil: No Tocantins, mudando agora já de assunto, o nosso Tocantins pega aqui um pouco, uma parte aí do território da Amazônia, e nós temos aqui o Matopiba. Falando de economia voltada para esse público, eu queria que o senhor falasse um pouco da sua perspectiva como pré-candidato para esse público, e também para esse grupo de economia.

Luiz Inácio Lula da Silva: Deixa eu te contar uma coisa, Tocantins tem um milhão e meio de habitantes, Palmas deve ter por volta de 300 ou 350 mil habitantes. Nós temos praticamente quase 52% dos jovens de 18 a 24 anos desempregados nesse estado. Ou seja, quem gera emprego no Tocantins normalmente é o estado. Você está lembrada aqui em 2007 eu fui a Porto Nacional, na cidade que o Mourão era prefeito, lançar o projeto do biodiesel. E foi lá que nós começamos a grande produção de soja no estado que hoje exporta muita soja para os chineses e para outros países.

E você sabe que se eu ganhar as eleições, eu, no mês de janeiro, eu quero reunir os 27 governadores de estado, estabelecer com cada governador um compromisso deles levantarem as coisas mais antes para cada estado, para que a gente possa pactuar no primeiro mês de mandato o compromisso de enfrentar esses problemas conjuntamente. O problema não é só do governador, o problema não é só do presidente, o problema não é só do prefeito, os problemas são de todos nós.

Então, o que nós temos que fazer? Pactuar com os governadores, como eu fiz com o PAC em 2007, como eu fiz com o PAC, ou seja, todos os governadores participaram e definiram quais as coisas importantes para gerar emprego no seu estado, de saneamento básico à estrada, ferrovia, hidrovia. Ou seja, é isso que nós temos que fazer para gerar emprego porque somente o emprego dá dignidade à família brasileira.

Não tem nada mais sagrado do que você trabalhar com o resultado e o suor do seu sangue, você levar para casa o sustento da sua família. Eu fiz isso durante 8 anos, e é isso que dá dignidade ao povo brasileiro, e é isso que eu vou fazer. Porque quando eu fui presidente, nós geramos 22 milhões de empregos com carteira profissional assinada, 22 milhões.

Em 2014, a Previdência Social era superavitária, porque quanto mais gente trabalhando, quanto mais carteira assinada, mais gente contribuindo, mais gente pagando, mais a Previdência será superavitária. Então nós estamos…

Cleidiana Brasil: O senhor acredita que a escolha pelo Geraldo Alckmin será tão acertada quanto à escolha pelo seu primeiro vice-presidente? Que eu tenho orgulho muito grande daquele homem que deixou uma história muito linda na nossa nação.

Júlio Prado: José Alencar.

Cleidiana Brasil: Sim.

Luiz Inácio Lula da Silva: Deixa eu lhe falar uma coisa, eu acho que o Alckmin vai ser um vice excepcional. Primeiro, porque ele tem experiência, porque ele governou o estado de São Paulo cinco vezes, ele foi vice duas vezes do Mário Covas, seis anos praticamente vice. É um homem que eu acho que vai ajudar a consertar esse país. Eu estou convencido que ele será um extraordinário vice. Eu não vou fazer comparação entre o Alckmin e o José Alencar, entre qualquer outra pessoa porque o José Alencar era uma pessoa muito especial na minha vida, muito especial. Eu não vou fazer comparação, porque são dois homens diferentes, idades diferentes, com formação diferente, mas eu tenho certeza que o Alckmin vai me ajudar a fazer esse país voltar a crescer e voltar a ser feliz.

Luiz Armando: Presidente, nos seus dois governos o senhor apostou muito no consumo para movimentar a economia. Isso evidentemente aumenta um pouco a dívida pública. O senhor vê condições de se eleito, nessas atuais circunstâncias, ser possível fazer uso do mesmo expediente para poder movimentar essa economia, tirar o Brasil dessa crise em que se encontra?

Luiz Inácio Lula da Silva: Luiz Armando, você sabe que eu tive discussão durante muito tempo com vários companheiros do PT e fora do PT, que discutiram essa questão do consumo. E eu dizia para eles o seguinte, veja, o que nós fizemos de milagre nesse país foi colocar o povo trabalhador, o povo mais humilde, o povo esquecido do sertão desse país, dentro do orçamento da União.

Quando nós colocamos o povo dentro do orçamento esse povo começou a receber um pouquinho de dinheiro, esse povo começou a consumir. Quando ele começou a consumir o comércio começou a vender, as empresas começaram a produzir mais, o comércio gerava um emprego mas, a indústria gerava um emprego mais, a indústria pagava um salário a mais.

E isso foi criando uma dinâmica na roda gigante da economia, que a economia deu um salto de qualidade. Quando eu criei uma coisa chamada, Luiz Armando, eu criei um programa chamado ‘Puxadinho’. Eu queria criar um crédito na Caixa Econômica Federal para que o trabalhador tivesse uma pequena casa com dois quartos e cozinha aí no Tocantins, ele pudesse fazer uma garagem, ele pudesse fazer um banheiro, que ele pudesse aumentar a cozinha, que ele tivesse uma linha de crédito para ele tomar um pouquinho de dinheiro emprestado e fazer isso.

Quando começou a funcionar o programa você sabe quantas fábricas de cimento foram feitas no Brasil? 10. Antes, o Brasil importava cimento da Polônia e começou então a produzir, autossuficiência. Quando nós fizemos o Minha Casa Minha Vida, então, estourou, porque o Minha Casa Minha Vida foi o maior programa de construção de casas habitacionais para as pessoas mais humildes que esse país já conheceu. Foram mais de 4 milhões de casas contratadas, e isso foi uma revolução nesse país, que acabou, você não está vendo nenhuma casa do Minha Casa Minha Vida no estado do Tocantins por que isso acabou.

Acabou qualquer perspectiva de induzir o crescimento econômico. Então, nós precisamos ter em conta o seguinte: não existe saída para o Brasil se o Brasil não voltar a crescer, ele precisa voltar a crescer. Para que ele volte a crescer, você tem duas coisas a fazer, primeiro, o governo tem que ter iniciativa de colocar dinheiro para movimentar a economia. Ou dinheiro através do orçamento, ou dinheiro através dos bancos de desenvolvimento.

É por isso que quando teve a crise econômica do Lehman Brothers, que eu disse que ia ser uma marolinha, nós colocamos praticamente 500 bilhões de empréstimo para que a gente pudesse dinamizar a economia e terminamos o mandato com a economia crescendo 7,5%.

Então, o que nós queremos fazer é o seguinte: o governo, ele tem que ser o indutor do desenvolvimento, o governo não pode ficar dizendo eu não tenho dinheiro, eu não tenho dinheiro, eu não tenho dinheiro, sabe, isso não resolve o problema.

O governo tem que fazer com que as coisas aconteçam, ou ele convence os empresários a fazerem investimento, ou ele mesmo faz os investimentos. Não tem nenhum problema o governo fazer uma dívida para construir um ativo novo, produtivo.

O que não tem sentido é você fazer uma dívida para pagar uma dívida. Mas você fazer uma dívida para construir alguma coisa nova é saudável ao país. Então, eu só queria te lembrar, só para a gente não deixar os nossos ouvintes sem a informação.

Luiz Armando: Presidente, no estado do Tocantins, no ano passado, um milhão de pessoas foram beneficiadas com o Bolsa Família ou com o Auxílio Emergencial. Então, é um estado onde 55% da população vive na extrema pobreza ou na pobreza. Então são pessoas que dependem muito dos programas sociais. O senhor pretende ampliar esses programas sociais, se eleito? Como o senhor pensa? O Bolsa Família, o presidente mexeu nesses programas. Como que o senhor vê essa situação?

Luiz Inácio Lula da Silva: Nós não vamos comparar, Luiz Armando, o Bolsa Família com o Auxílio Emergencial. Não vamos comparar, porque o Bolsa Família era um programa que ele tinha uma motivação de fazer as pessoas melhorarem de vida. Uma pessoa para receber o Bolsa Família, primeiro o dinheiro é na mão da mulher, segundo, ela tinha que colocar os filhos na escola, tinha condicionalidade. Depois que ela colocava o filho na escola ela tinha que garantir que estava dando vacina nos seus filhos, depois ela tinha que garantir que se ela tivesse grávida, ela tinha que fazer todos os exames que os pré-natais exigem com as mulheres, que as mulheres façam.

Então, era um programa que tinha condicionante, era um programa sério em que o governo não sabia quem recebia, porque era a Caixa Econômica que pagava por um cartão. Não tinha contato com o governo. O que o Bolsonaro está fazendo é um programa de transferência de dinheiro numa perspectiva simplesmente eleitoral. Até quando isso vai durar? Até acabar as eleições? Então, não é possível você criar programas assim. O que você precisa criar são programas perenes.

Mas eu estava dizendo antes uma coisa que é importante dizer para os nossos ouvintes saberem, quando eu cheguei em 2003 na presidência da República, todo mundo dizia que o Brasil estava quebrado, todo mundo dizia que o Brasil não ia se salvar. O Brasil devia, o Brasil tinha uma dívida, o Brasil tinha uma dívida de US$ 30 bilhões com o FMI, o Brasil tinha uma inflação de 12%, desemprego de 12%, tinha uma dívida pública de 65%, e o Brasil não tinha reservas internacionais.

O que é que nós fizemos em três anos? Nós pagamos o FMI, fizemos uma reserva internacional que o Brasil nunca tinha tido na sua história de 370 bilhões de dólares. Nós somos o único país que fizemos superávit primário durante todo o período do PT, e nós reduzimos a dívida pública interna de 65% para 32%, aumentando o salário mínimo todo ano e fazendo a maior política de inclusão social que o Brasil já viu, e que Tocantins já viu. Não é apenas o Brasil, a política social no Tocantins, ela foi muito forte, a inclusão, não apenas do Bolsa Família, mas das coisas que nós fizemos aí no Tocantins, as políticas sociais, as políticas de distribuição de renda foi uma coisa muito forte.

E isso precisa continuar a ser feito, inclusive com obras do PAC para desenvolver as cidades. Porque a gente não pode pensar na cidade pedindo dinheiro para o Governo Federal, a gente tem que pensar que o país rico, a cidade também tem que ser rica, o estado tem que ser rico, não pode ser apenas o Governo Federal dando esmola para prefeito, não. Os prefeitos precisam ter projetos e o governo tem a obrigação de garantir.

Porque é na cidade que está o problema, é na cidade que a pessoa estuda, é na cidade que as pessoas ficam doentes, é na cidade que as pessoas precisam de médico, é na cidade que as pessoas ficam desempregadas. Então, nós temos que fazer uma governança compartilhada entre o Governo Federal, Governo Estadual e prefeitos, para que todos possam viver bem e estarem bem.

Luiz Armando: Mas presidente, com essa dívida pública, a dívida da União, como é possível obter recurso para investimentos, presidente?

Luiz Inácio Lula da Silva: Olha, eu não sei se você tem acompanhado o que aconteceu na Europa com a pandemia. O Banco Central Europeu colocou 700 bilhões de euros no mercado, ou seja, ele alargou a base monetária da União Europeia para poder ter recursos para ajudar a se desenvolver. O presidente Biden colocou quase US$ 5 trilhões. Aqui no Brasil, quando o governo fez o Auxílio Brasil, você está lembrado, ele não precisou inventar dinheiro, o dinheiro que ele utilizou era o dinheiro das reservas que nós criamos nesse país, comprado de dólar a R$ 1,60, quando o dólar chegou a quase R$ 6,00, tinha dado um rendimento de quase R$800 bilhões.

Então, se você fizer um empréstimo, se o Tesouro fizer um empréstimo para fazer uma obra nova, um ativo produtivo, um ativo que aumente a performance do país, essa dívida, não tem problema, ela será paga quando estiver funcionando e a obra realizada. O que não dá é para você ficar paralisado: ah, a minha geladeira quebrou, e fica olhando a geladeira, ela está quebrada, coitadinha da geladeira. Não, eu tenho que consertar a geladeira, o Brasil tem que ser consertado e quem vai consertar é um governo que saiba como consertar. É chamar os empresários e discutir um programa de desenvolvimento e de investimento, é ter credibilidade no exterior para conseguir convencer empresários a virem investir em projetos novos, projetos rentáveis, projetos que signifiquem melhoria da qualidade de infraestrutura desse país.

Quando eu era presidente, o Brasil era o segundo, o terceiro e às vezes o primeiro país a receber investimento direto, porque quando as coisas estão bem, o mundo inteiro quer investir. Então, é preciso ter projeto. Qual é o projeto que tem o atual governo? Qual é o grande projeto de desenvolvimento? Qual é o grande projeto de infraestrutura? Não existe. Se não existe projeto, não existe investimento, a única coisa que eles sabem é colocar o patrimônio público, que é do povo, à venda. Eu vou vender a casa do Luiz Armando, vou vender a casa do Júlio Prado, eu vou vender a casa da Cleidiana. Não, não é para vender o que está construído, não, é para fazer coisa nova, para gerar novos empregos, para gerar novos patrimônios, para gerar mais riqueza para o país. É assim que a gente faz as coisas acontecerem.

Luiz Armando: Presidente, deixa eu fazer um, só um parêntese aqui, você que ligou o rádio agora, agora são 6:42 minutos, você que, eventualmente, está nos acompanhando no trânsito, na volta para casa, na ida para a faculdade, enfim, na ida para o trabalho também, muita gente saindo para trabalhar agora, nós estamos aqui na Conexão 98.1 entrevistando ao vivo, direto de São Paulo, o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva dentro do nosso projeto Conexão com o Voto. O presidente Lula que gentilmente aceitou o nosso convite para estar conosco aqui, nós fizemos convites para dentro, aqui nessa casa já passaram senadores, deputados, pré-candidatos ao Senado, a Câmara dos Deputados, enfim, representantes da Justiça Eleitoral. E muito nos honra transcender aí a divisa dos estados e tratar em nível nacional, recebendo um entrevistado da sua estirpe, presidente Lula, sabe, muito nos honra. Fizemos o convite também para outros presidenciáveis aí, para Ciro, para presidente Jair Bolsonaro, para Dória, enfim, para a Tebet, Simone Tebet, enfim, as pessoas que estão figurando nessa corrida presidencial. Vamos trazer também ao longo dos dias aí outros entrevistados. Agora, presidente Lula, o senhor falou de crescimento, o senhor está falando de crescimento, falando de retomada de crescimento, geração de emprego, num dia em que o FMI anunciou a redução, uma volta aí na perspectiva de crescimento na economia mundial, era uma perspectiva de 4.5, se minha memória não estiver me traindo, anunciou aí uma redução num patamar para 3.2 pontos percentuais, encolhimento em PIB e tudo, isso em nível mundial. E o Brasil evidentemente não está fora dessas projeções. O senhor está falando de projeto também, projeto administrativo. Como é que o senhor pretende lidar, se eleito, com a classe empresarial, presidente Lula? Visto que muitos dos empresários têm defendido o Brasil a fora de uma forma muito, eu diria, emocional, às políticas do presidente Jair Bolsonaro. Como é que o senhor pretende estabelecer, o senhor que é um homem aí do diálogo e já deu mostras para isso em outros momentos, como é que o senhor pretende estabelecer esse diálogo com essa classe? Já que como o senhor disse bem, o Brasil acontece é nos municípios, e eu concordo com o senhor.

Luiz Inácio Lula da Silva: Júlio Prado, eu disse, eu esqueci uma coisa que eu preciso falar para vocês três, pelo amor de Deus, senão eu vou apanhar.

Cleidiana Brasil: Então fala que a gente está aqui para ouvir o senhor, viu, até às 19 horas.

Luiz Inácio Lula da Silva: Eu queria mandar um abraço, eu queria mandar um abraço para o Luizão, o pai do Paulo Vieira, eu queria mandar um abraço, e o seu tio Pablo, porque eu estava esquecendo do Paulo Vieira. E também mandar um abraço aqui, sabe para quem? Para o nosso Paulo Mourão, para o Célio Moura, para o Zé Roberto do PT, para a Amália Santana, para o deputado estadual do PCdoB Ivory Lira e Luana Ribeiro, para o deputado estadual e presidente do PV, Cláudia Lelis, ou seja, os partidos da aliança local, Fábio Ribeiro, presidente estadual da rede, e o professor Rogério Xerente, presidente estadual do PSOL. E um abraço a todos os companheiros, sabe, que estão nessa luta democrática que nós estamos empenhados. Deixa dizer para você uma coisa, eu não acredito, Júlio Prado, estou falando para você mesmo aqui, eu não acredito que tenha qualquer empresário sério defendendo a política de desenvolvimento do Bolsonaro.

Cleidiana Brasil: Cuidado, senão o senhor vai ofender alguém aí, hein.

Luiz Inácio Lula da Silva: Não existe política de desenvolvimento do Bolsonaro, o que existe é uma política de venda daquilo que foi construído ao longo de tantos e tantos anos, porque não tem política de desenvolvimento, não tem projeto industrial. Júlio, eu estava fazendo uma fábrica de uréia em Três Lagoas, no Mato Grosso do Sul, estava com mais de 80% pronto, eles paralisaram. Nós estávamos fazendo uma fábrica de amônia em Uberaba, eles paralisaram.

Júlio Prado: Minha cidade. Aliás, o senhor me permita fazer um parêntese aqui, eu não posso deixar de fazer.

Cleidiana Brasil: Agora o Júlio não se aguenta, gente.

Júlio Prado: Eu não posso deixar de fazer, esses dois aqui, Luiz Armando e Cleidiana Brasil, presidente Lula, ficam pegando no meu pé porque eu digo que tudo que acontece no Brasil passa pelo Triângulo Mineiro. Agora o senhor me cita Uberaba na entrevista, eu não posso deixar de registrar.

Cleidiana Brasil: Agora ele vai falar assim: não, a cachaça, a cachaça mineira é a melhor.

Júlio Prado: Lá da Mata Velha, que o senhor conhece.

Cleidiana Brasil: Ele ainda dá um lugar ainda.

Luiz Inácio Lula da Silva: É de Salinas. Aliás, se vocês quiserem um dia, visitem o Museu da Cachaça em Salinas, tem um museu, é uma coisa poderosa.

Mas como estava dizendo, Júlio Prado, o problema nosso é o seguinte: é que como você não tem governo, você não tem projeto. Quando você não tem projeto, não há investimento, não há como defender o governo brasileiro lá fora. Lá fora, o governo não tem relação com ninguém. Ele foi chamado pelo Putin, inventou aqui na rede que ele ia lá para salvar a guerra, está lembrado? Eu vou lá… Ele fez até um Twitter que tinha Jesus Cristo atrás dele dizendo: vai meu filho e acaba com essa guerra. Ele foi e disse que a guerra tinha acabado, e a guerra parece que não acaba mais.

Ou seja, não existe credibilidade nenhuma por parte desse governo. Lamentavelmente. O país é um país extraordinário, o Brasil não tem contencioso com nenhum país do mundo, o Bolsonaro abriu contencioso com a Venezuela, abriu contencioso com a França, abriu contencioso com a Argentina, ou seja, abriu contencioso com os Estados Unidos. Ele não aceitou a vitória do Biden.

Cleidiana Brasil: Mas aí quando o Júlio pergunta para o senhor a respeito dessa tratativa com esses empresários que hoje eles apoiam a política econômica que o Jair Bolsonaro tem trabalhado no Brasil, ele pergunta para o senhor: qual é o caminho da sua tratativa para poder trazer…

Júlio Prado: Criar uma conexão com essas pessoas. Estabelecer um diálogo.

Luiz Inácio Lula da Silva: Deixa eu lhe dizer uma coisa, Júlio. Eu tenho comigo oito anos de legado de presidência da República. Oito anos de relação com toda a sociedade brasileira. Eu duvido que tenha um empresário que tenha deixado de ganhar dinheiro no meu governo, seja pequeno, médio ou grande.

Eu duvido que tenha um produtor rural que tenha deixado de ganhar dinheiro. Essa gente pode não gostar do PT porque não gosta do PT, essa gente pode não gostar do Lula porque não gosta, mas eles sabem que foi o Lula, quando presidente da República em 2008, que editou a Medida Provisória 432/2008 para salvar eles fazendo um acordo da securitização da dívida de 89 bilhões de reais.

Eles sabem que quando eu era presidente a gente tinha o FINAME, eles compravam dessas máquinas modernas que tem quase 1 quilômetro de largura. Ou seja, pagando 2% de juros, e hoje eles pagam 18% de juros. É a única coisa que o Bolsonaro se vangloria que fez para ele, foi fazer um Decreto liberando arma. Eu se voltar à presidência, eu vou fazer decreto doando livros, livros, livros didáticos, para que as pessoas sejam mais cultas, para que as pessoas estudem mais, para que as pessoas possam se qualificar profissionalmente.

Cleidiana Brasil: Nós estamos vivendo no Brasil um processo de desindustrialização. O senhor tem algum, está sendo feito algum projeto observando isso? Porque quando a gente fala desse processo de desindustrialização, ele não é recente, já tem muitos anos que o Brasil ele vem, até criando leis para poder beneficiar esse processo. E aí acaba fazendo com que a economia brasileira fique refém de outros países como a China, por exemplo. E que a gente não demoniza a China, mas gostaríamos de estar produzindo mais aqui no Brasil. O senhor tem produzido algum estudo nessa área para poder apresentar isso para os brasileiros?

Luiz Inácio Lula da Silva: Para isso, Cleidiana, para você se transformar num país industrial, é preciso que você tenha a competência de fazer investimento em ciência e tecnologia. É preciso que você faça mais universidades, é preciso que você faça mais escolas técnicas. Quando eu estava na presidência, o Brasil conquistou o 13º lugar na produção de artigos científicos nas revistas especializadas. Porque nós fizemos muito investimento em ciência e tecnologia, isso acabou, as universidades hoje não tem dinheiro para cortar a grama da porta da universidade, as escolas técnicas estão falindo. Só no estado, o Tocantins tem 11. Onze novas escolas técnicas de 11 cidades, que algumas delas não estão nem conseguindo colocar os alunos dentro.

Então, o que é necessário fazer? Veja, o Brasil já teve 30% do seu PIB ligado a indústria, hoje é 10%, nós perdemos 20%. Por que nós perdemos 20? Porque nós perdemos o momento, a oportunidade de fazer investimento em ciência e tecnologia como a Coreia fez quando, como os Estados Unidos fez, como vários países europeus fizeram. Não adianta a gente ficar reclamando, nós precisamos tirar o atraso e fazer investimento para que a gente possa daqui a 10 ou 15 anos a gente ter uma nova geração, uma geração de pesquisadores, de engenheiros, de cientistas, para que a gente possa discutir nichos, nichos de indústrias que possam ser competitivas no mercado internacional. O Brasil não quer ficar apenas sendo exportador de commodities, o Brasil quer produzir também produtos de valor agregado. Por exemplo…

Cleidiana Brasil: Na verdade, isso nos transforma reféns de outros países, não é?

Luiz Inácio Lula da Silva: Eu vou te dar um exemplo. Quando eu cheguei na presidência da República, a relação do Brasil com a Argentina, a relação, o fluxo comercial entre Brasil e Argentina era de apenas US$7 bilhões. Quando eu deixei, eram US$39 bilhões. E sabe o que o Brasil vendia para Argentina? Não era carne, não era soja, não era milho, eram produtos de valor agregado, eram produtos industrializados. Porque se o Brasil não pode competir com a Alemanha, a gente pode competir com outros países. Acontece que as nossas indústrias vão fechando porque a economia não cresce. Então, o problema da China, o que nós temos [que fazer] é estabelecer acordos com a China para que haja um equilíbrio na balança comercial. Hoje, o Brasil tem um superávit com a China muito grande. Eu não sei se você sabe, Cleidiana, o Brasil deve ter uma relação comercial com os Estados Unidos hoje por volta de 30 bilhões, e com a China é 100 bilhões.

Luiz Armando: Presidente, eu queria trazer o senhor para a nossa aldeia de volta aqui, só um pouquinho mais.

Júlio Prado: Falar um pouquinho do Tocantins.

Luiz Armando: Trazer para a nossa aldeia aqui.

Cleidiana Brasil: O nosso povo.

Luiz Armando: O PT, em todas as eleições aqui, o PT tem saído vitorioso nas eleições de candidatos para presidente nos últimos 12 anos, desde a sua eleição. Só que não consegue eleger candidatos majoritários. Este ano, nós temos um candidato competitivo, muito competitivo, que é o deputado Paulo Mourão, que foi deputado federal, presidente da Comissão de Finanças da Câmara dos Deputados, então uma pessoa, ex-prefeito. Só que, vejam bem, o partido, no estado, só tem essa, por enquanto, não há reconhecimento de negociação do resto da chapa majoritária, do senador, do vice-governador. Isso não pode atrapalhar, ou está dentro do programado, dentro do planejamento do partido essa composição aí com aliados do estado?

Luiz Inácio Lula da Silva: Luiz Armando, não é por falta de vontade de conversar, porque eu acho que não tem nenhum estado que tenha uma figura mais doce do que o Paulo Mourão para negociar. Ele é todo jeitoso para negociar, sabe. Acontece, acontece que nós estamos tentando fazer os acordos necessários. A gente não pode ter pressa, tem conversa que você faz e que você não pode anunciar, porque a pessoa não quer que anuncie por causa do seu partido. Mas você pode ficar certo que o Paulo Mourão vai apresentar a chapa completa de deputados estaduais e federais, vai apresentar o nosso ou a nossa candidata ao Senado, e um candidato a vice e vamos disputar as eleições. E eu quero te dizer uma coisa de pronto aqui, de pronto, sem conhecer nenhuma pesquisa, é que nós vamos ganhar as eleições no estado de Tocantins.

Cleidiana Brasil: Dessa forma Paulo Mourão, então, tem toda a prioridade do PT no estado do Tocantins?

Luiz Inácio Lula da Silva: Eu acho que seria uma honra para nós ter um homem da qualidade do Paulo Mourão governador de Tocantins, um homem bem sucedido na vida, um homem que fala com o coração, um homem que pensa com o coração, um homem que tem sentimento, ou seja, é disso que o povo está precisando, o povo não está precisando de bravata, de nego que grita, de nego que berra, de nego que ofende, de gente bruta, nós estamos precisando de gente tranquila, de gente que tem um carinho, que tem fé, que tem harmonia para dar para esse povo.

Você veja um negócio, no Tocantins, quanto é que está o quilo de pão, o quilo de comida? O pão francês em um ano aumentou 144% na cidade de Palmas, a cenoura aumentou 120 % em no ano, uma dúzia de ovos subiu 49% em um mês, e o salário do povo quanto é que subiu? O preço médio do gás no Tocantins é de quase R$ 130,00, como é que é possível? O preço médio da gasolina é quase R$ 8,00, R$ 7,50. Ora, como é que é possível a gente viver numa situação dessa? Então, é preciso ter um governo que tenha sentimento, que tenha a sensibilidade de fazer com que as pessoas recebam aquilo que a inflação está tirando deles.

Luiz Armando: Presidente, voltando à chapa, o senhor já declarou ser simpático a senadora Kátia Abreu. Só que a senadora Kátia Abreu está no PP, do ministro Ciro Nogueira, não é? Haveria a possibilidade da senadora Kátia Abreu compor com o PT? Me parece que o senhor já andou dando declarações de que, de ser simpático a senadora Kátia Abreu que foi ministra aí do governo do PT.

Luiz Inácio Lula da Silva: Eu fui solidário à Kátia Abreu porque a Kátia Abreu foi muito solidária à presidenta Dilma Rousseff, mesmo quando estava no Senado e depois quando ministra da Agricultura da Dilma. Mas é o seguinte, a Kátia Abreu, se ela quiser fazer um acordo com o nosso querido Paulo Mourão e quiser participar da nossa chapa, a gente não tem problema nenhum de conversar com a Kátia Abreu. Seria muito bem-vinda. Agora, se ela fizer outra opção de sair com outra chapa, lamentavelmente, a gente vai estar em palanques diferentes. Mas isso não faz com que eu não a respeite, porque eu a respeito muito por conta do comportamento dela de solidariedade à companheira Dilma Rousseff.

Júlio Prado: Muito bem, o papo está muito bom, a repercussão incrível aí no Brasil inteiro, audiência absoluta, sabe. O presidente Lula é uma pessoa muito querida por muita gente.

Luiz Inácio Lula da Silva: Eu quero dizer que eu tenho a noite inteira.

Júlio Prado: Mas, infelizmente eu preciso, a gente precisa terminar o programa. Mas o senhor abriu esse programa dizendo que o senhor não quer participar só de live, que o senhor quer correr pelo Brasil. E eu quero deixar, além do meu agradecimento presidente Lula, o convite para que na sua passagem, nas suas andanças, na sua passagem pelo Tocantins, essa conversa não aconteça por uma live, a gente tem a tecnologia para fazer o que hoje ajuda a levar a mensagem para mais pessoas, mas o senhor é muito bem-vindo aqui no Tocantins e bem-vindo aqui nos estúdios também. Que a nossa próxima conversa seja aqui no tête-à-tête, que a gente sente para discutir as políticas do Brasil.

Luiz Inácio Lula da Silva: Eu prometo a você que eu vou ao Tocantins fazer campanha para o Paulo Mourão e ele vai fazer campanha para mim. E ainda vamos fazer uma entrevista tête-à-tête.

Júlio Prado: Muito bem. Muito bem. Eu quero agradecer muito a sua prontidão em parar para conversar conosco, estar conosco, muito obrigado presidente Lula.

Luiz Inácio Lula da Silva: Júlio Prado, o Paulo Mourão tem que entregar para vocês tudo o que foi feito no meu governo em Tocantins, para vocês saberem de cor e salteado quantos metros de ferrovia nós fizemos no nosso governo.

Paulo Mourão: Rodovias.

Luiz Inácio Lula da Silva: Você sabe que no governo Sarney, no governo Fernando Henrique Cardoso, no governo Collor de Mello, toda a Ferrovia Norte-Sul só foi feita 215 quilômetros, no nosso governo, no meu e no da Dilma, nós fizemos praticamente 1.300 quilômetros de ferrovia. Isso está registrado, escrito. Você sabe que quando eu deixei a presidência, eu fui no cartório registrar tudo o que eu tinha feito para passar para universidade. Tudo que tinha sido feito, para entregar na universidade porque eu queria que as pessoas soubessem cada coisa que a gente tinha feito, quantas casas nós fizemos, quanto de dinheiro nós emprestamos, quanto de dinheiro do BNDES, quanto metros de asfalto, quantas estradas, quantas estradas vicinais. Eu duvido que tenha um governo no país que diga que o Lula teve qualquer problema de preconceito partidário com ele. Duvido.

Cleidiana Brasil: Quero deixar o meu abraço para o senhor e dizer que nós estamos tendo uma audiência aqui do pessoal da universidade do Estado do Tocantins, A Unitins, eu faço Serviço Social lá, e o pessoal do serviço social está todo mundo ligado na sua entrevista. Muito obrigada, um grande abraço, e que você tenha uma caminhada aí próspera, uma caminhada boa pelo país, e que as pessoas possam te ouvir mais vezes. E vai ser um prazer ter você aqui do lado aqui para a gente, nessa cadeira que o Paulo Mourão está, para a gente falar assim, olhando olho no olho.

Luiz Inácio Lula da Silva: Isso. É disso que eu gosto.

Paulo Mourão: Presidente, mas eu queria lembrar ao senhor antes da despedida, de que não só a Ferrovia Norte-Sul, mas a Ferrovia Leste-Oeste, que foi implementada e idealizada pelo governo do senhor, a Ferrovia Transnordestina, que terá um impacto muito forte ao Tocantins. A BR 10, que é uma BR muito importante federal aqui no estado, a BR 242, a BR 235, todas elas integram os estados do Maranhão e do Pará. E temos ainda um processo muito forte de políticas sociais do campo da Educação, a nossa cidade de Porto Nacional é hoje o polo do agronegócio e da agroindustrialização, e um polo universitário, também com universidades e institutos federais tecnológicos. Nós temos aqui a cidade de Luz e Mangues, que implantou o sistema intermodal da Ferrovia Norte-Sul que era para ser no Maranhão, e o senhor com a habilidade, com essa capacidade de aglutinar, de fazer todos os estados e regiões desse país terem sido contemplados com políticas públicas de desenvolvimento, o senhor trouxe a intermodal da Ferrovia Norte-Sul para a cidade de Porto Nacional, no Parque do Distrito de Luz E Mangues. O senhor implantou aqui um projeto de assistência social aos quilombolas, as kalungas, as nossas comunidades indígenas, Apinajés, Xerentes, Carajás, governo nenhum nunca olhou para isso. E o senhor criou aqui também um projeto de desenvolvimento sustentável em defesa do equilíbrio ambiental, o senhor criou aqui a cadeia de lagos, o senhor criou aqui as hidrelétricas que deu a garantia do desenvolvimento a esse país com fornecimento de energia hidrelétrica, Serra da mesa, Hidrelétrica São Salvador, Hidrelétrica Luiz Eduardo de Magalhães, Hidrelétrica do Estreito, o senhor fez a revolução acontecer nessa região norte, passando pelo Tocantins. E é por isso que esse povo te ama, Lula, é porque você cuida de todos nós, e nós precisamos cuidar mais do nosso povo brasileiro e em especial o Tocantins. É isso que nós esperamos, Deus te proteja.

Luiz Inácio Lula da Silva: Obrigado Paulo, rapaz, eu nunca vi um cara tão preparado para ser governador como o Paulo.

Júlio Prado: Muito bem presidente Lula, eu quero agradecer então, a gente está estourando aqui o nosso horário, mas olha, muito obrigado, o senhor é bem-vindo vindo ao Tocantins vamos, as portas estão abertas aqui, essa aqui é uma casa do diálogo. Obrigado pelo bate-papo de hoje, viu.

Luiz Inácio Lula da Silva: Um abraço Júlio, um abraço Luiz Armando, um abraço Cleidiana, um abraço Paulo Mourão, que Deus abençoe vocês.

Luiz Armando: Um abraço, presidente.

Cleidiana Brasil: Amém.

Júlio Prado: Muito bem. Senhor Paulo, muito obrigado também por sua participação aqui hoje conosco.

Paulo Mourão: Só se você me permitir, Julho, dia 07 de maio, o presidente Lula estará sendo lançado como pré-candidato oficial da Frente dos Partidos, o PT, o PCdoB, o PV, o PSB e tantos outros, Solidariedade. Eu queria convidar a todos que aqui estiveram presentes pudessem nos assistir dia 07 de maio, quem puder comparecer em São Paulo para prestigiar, presenciar esse momento da reconstrução do Brasil e da transformação e da conquista da felicidade do povo brasileiro. Muito bem, está feito o convite aí. Luiz, obrigado pela participação no programa de hoje, o meu companheiro aí do Projeto de Cobertura Eleitoral. Foi um papo bom, eu acho que é uma contribuição para esse processo democrático. Cleidinha, obrigado também pela sua participação.

Cleidiana Brasil: Beijo.

Júlio Prado: Eu quero agradecer…