Por Dilma Rousseff
Em fevereiro de 2018, o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva concedeu entrevista aos jornalistas Juca Kfouri e Maria Inês Nassif, além do professor Gilberto Maringoni e da editora Ivana Jinkings. Na entrevista, que se tornou este livro – A verdade vencerá – Lula fala do Partido dos Trabalhadores, do exercício do poder, do Golpe de 2016 e das mudanças ocorridas no Brasil ao longo dos últimos anos, além da perseguição que passou a sofrer pela Operação Lava Jato, quando virou vítima de lawfare.
Condenado e preso, injustamente e sem provas, Lula foi retirado da arena política, colocado numa cela e impedido de disputar a Presidência da República. Graças à atuação do atual ministro da Justiça do governo Bolsonaro, foi perseguido e caçado até se tornar um preso político. Isso ocorreu em abril de 2018.
Desde então, o Brasil viveu dias ainda mais sombrios, fruto do processo político devastador iniciado com o golpe que me destituiu da Presidência em 2016. Hoje, o país é governado por um neofascista na política e nos costumes, perversamente neoliberal na economia e no campo social.
Uma verdadeira calamidade para um país que passou, a partir de 2003 até o golpe, por um período de progresso, prosperidade e emancipação popular. Graças ao Partido dos Trabalhadores e aos nossos governos, o país traduziu prosperidade em crescimento econômico, distribuição de renda, inclusão social e extinção da fome e redução da miséria a níveis mínimos.
A perseguição a Lula resultou na ascensão dos golpistas e da extrema-direita. O Brasil foi enquadrado ao neoliberalismo e tornou-se laboratório de experimentações retrógradas e reacionárias.
Nestes tempos duros, como já acontecera no mundo em outros períodos históricos, a serpente pariu o neofascismo no maior país da América do Sul. Bolsonaro é fruto azedo da criminalização da política, do golpe que me derrubou e da perseguição a Lula.
O ovo da serpente foi gestado no discurso de ódio, intolerância e preconceito. E cresceu sob a proteção do silêncio obsequioso do Judiciário, que não impôs freios aos abusos da Lava Jato, da complacência ou apoio da imprensa, e do interesse oportunista do mercado.
A Lava Jato foi um dos principais instrumentos do golpe e da vitória da extrema-direita. Foi a linha de frente do lawfare contra Lula. Para atacar sua reputação, vazou acusações sem provas à mídia, intimidou testemunhas, arrancou delações de corruptos por meio de coação, mentiu aos tribunais superiores de apelação e desrespeitou o direito de defesa e o devido processo legal.
Mas o maior abuso da Lava Jato – chefiada pelo juiz federal que agora é ministro da Justiça – foi condenar e prender um inocente que poderia ter conduzido o Brasil a uma saída digna da crise.
A prisão ilegal de Lula sequestrou dos brasileiros o líder capaz de promover um reencontro do Brasil com a democracia e consigo mesmo. Lula teria vencido Bolsonaro em 2018 – era o líder das pesquisas até julho – e impedido o Brasil de passar pelo desastre atual. E justamente por isso foi preso.
A detenção do presidente mais popular de nossa história tornou-se uma ameaça a todos: se Lula pôde ser preso ilegalmente, qualquer um pode ser. Também por isso, sua prisão feriu de morte a democracia. Durante 580 dias, enquanto Lula esteve preso, o Brasil viveu sufocado e a democracia, ameaçada.
Agora, a soltura de Lula, ocorrida em novembro de 2019, acende mais uma vez a esperança de que é possível sonharmos com liberdade para o povo brasileiro.
A luta agora não é apenas pela liberdade de Lula, mas pela nulidade e revogação de todas condenações judiciais – injustas e fraudulentas – impostas a ele.
Isso é fundamental. É que precisamos reunir forças e organizar a resistência para enfrentar o aparato neofascista – militar, judicial e midiático – que ameaça destruir a democracia, trazendo de volta a miséria, entregando riquezas, alugando a soberania brasileira, vendendo empresas estatais e impondo ao povo sacrifício e sofrimento que havíamos superado nos nossos governos.
Lula é, portanto, a voz da resistência. Mais do que nunca, Lula simboliza a luta do país pela democracia e pelo estado democrático de direito.
Lançado em março de 2018, às vésperas do desfecho de uma guerra jurídica sem precedentes que resultaria na prisão política de Lula, “A verdade vencerá: o povo sabe por que me condenam”, reúne uma longa entrevista do ex-presidente concedida aos jornalistas Juca Kfouri e Maria Inês Nassif, ao professor de relações internacionais Gilberto Maringoni e à editora Ivana Jinkings, fundadora e diretora da editora Boitempo.
Reeditado logo após a saída de Lula do cárcere injusto, a Verdade Vencerá conta agora também ganha também o acréscimo dos dois discursos feitos por Lula no Sindicato dos Metalúrgicos do ABC – antes de ser preso e logo após ser libertado -, um carta feita por ele ao Salão do Livro Político, entre outros conteúdos inéditos.
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