Em plenária com partidos políticos e movimentos sociais, no fim da tarde de hoje em Juiz de Fora, em último compromisso de agenda de três dias em Minas Gerais, o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva defendeu a valorização do trabalho das mulheres que se dedicam às funções domésticas, cuidando da casa e da família. Segundo ele, muitas são tratadas como se fossem escravas, num país que já aboliu a escravidão.
“Não aceitamos mais a mulher ser tratada como objeto de cama e mesa. A mulher é maioria nesse país. A mulher tem que ser respeitada na política e fora da política. Às vezes, vejo reportagem e jornalista pergunta a uma dona de casa, a senhora trabalha? Ela diz não. Como é possível uma pessoa que toma conta de uma casa, que lava banheiro, lava cozinha, lava e passa roupa, prepara o filho para a escola, faz o almoço e a janta, dizer que não trabalha?”
O ex-presidente disse ser preciso modificar essa impressão de que a função doméstica não é trabalho e criar condições para que as famílias vivam bem e com dignidade, com casa, educação de qualidade, da creche à universidade, e emprego para os filhos melhor do que o dos pais. “A gente quer vestir bem, comer bem, estudar bem, morar bem, quer que a família vença. Quer, na verdade, viver em paz”.
No discurso, Lula afirmou que o Brasil andou para trás, desde a saída do PT do poder, perdeu posição no ranking das maiores economias do mundo, reduziu o salário do trabalhador e deixou o povo em situação de arrocho. “Ninguém consegue comprar um botijão de gás, ninguém consegue mais encher o tanque de um carro, ninguém consegue colocar óleo diesel. A gente vai num supermercado ou na feira, pega o produto, pergunta o preço e vai deixando para trás porque a gente não pode pagar”, disse, creditando o descontrole à irresponsabilidade do governo, já que metade da inflação resulta de preços controlados, como energia elétrica, diesel, gás e gasolina. “Esse presidente é um fanfarrão, ele só sabe contar mentiras nesse país”.
Lula agradeceu o apoio de Juiz de Fora e Zona da Mata e se mostrou emocionado com falas de representantes de movimentos sociais durante o encontro.
A líder comunitária Adenilde Petrina, do coletivo Vozes da Rua, disse que Lula deu continuidade à caminhada dos ancestrais dela e ensinou que as pessoas pobres precisam ser protagonistas e donas das histórias. “Outra coisa que aprendi com o Lula foi que os negros, pobres, periféricos não podiam mais continuar no fundão da fábrica, no quartinho de empregada entregue à própria sorte. A gente se empodera na caminhada, foi conseguido na luta política, na luta social. Lula foi a nossa estrela, que iluminou e mostrou um caminho para nós”.
Maria Aparecida Oliveira, da Associação de Recicláveis, agradeceu as políticas de Lula que beneficiaram o catador e disse que teve oportunidade de um lugar para morar e de vida digna por causa dessas políticas. “Orgulho de ter alguém como o Lula que defende o direito do pobre e do morador de rua. Ele luta”, disse.
Em resposta, Lula afirmou que isso é o que ele sonhou para o Brasil, que os mais humildes deixassem de ser coadjuvantes e passassem a ser sujeitos da história. “Quando eu vejo uma senhora negra fazer o discurso que essa mulher fez, quando eu vejo uma catadora de material reciclável fazer o discurso que ela fez, eu sou obrigada a agradecer a Deus e dizer a humanidade tem jeito, a política no Brasil tem jeito, porque o povo começou a falar, o povo começou a gritar, o povo começou a reivindicar”.
Em fala curta, para dar a vez a Lula, a prefeita Margarida Salomão (PT) disse que o encontro em Juiz de Fora era uma festa democrática, um ato de amor que a cidade tem pelo país e que é representado pela vida e pela luta de Lula. O deputado Reginaldo Lopes, líder do PT na Câmara e anfitrião da visita de Lula a Minas, lembrou do legado do ex-presidente e disse ser preciso voltar a dar oportunidade de trabalho para os brasileiros, especialmente para os jovens que vivem em desalento.