Lula: Bolsonaro questiona a urna para não ter de governar

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Em entrevista ao jornal Brasil Atual, nesta terça-feira (3), Lula comentou o inquérito que investiga Jair Bolsonaro por ataques ao sistema eleitoral aberto na segunda-feira pelo Tribunal Superior Eleitoral (TSE), que encaminhou ainda notícia-crime para que o atual presidente seja também investigado no inquérito das fake news, aberto pelo Supremo Tribunal Federal (STF). Para Lula, ao agir assim, o Judiciário começa a “colocar as coisas em seu devido lugar”, uma vez que Bolsonaro insiste em discutir temas sem sentido para não assumir a responsabilidade de governar o país em um de seus momentos mais dramáticos.

“Mais grave do que o desrespeito às instituições é o desrespeito à sociedade brasileira que o Bolsonaro mostra. Colocar em xeque a urna eletrônica neste instante histórico, depois de tantas eleições em que não houve uma única prova de corrupção, é procurar pelo em ovo. Ele faz provocações, ele ofende as pessoas, ele agride, desrespeita, mas não governa o país. Você não vê um gesto do Bolsonaro dedicado à governança do país”, afirmou Lula.

Segundo o ex-presidente, quem governa o país hoje é o ministro da Economia, Paulo Guedes, e o presidente da Câmara, Arthur Lira, que não têm preocupação com a população e estão interessados principalmente no desmonte das empresas públicas brasileiras. Enquanto isso, os problemas que Bolsonaro deveria enfrentar são deixados de lado.

“O seu Bolsonaro, quando foi eleito, enganando a sociedade com fake news, dizia que queria governar o Brasil. E ele tem a obrigação de governar o país, de parar de falar bobagem. (…) Ele não cuidou da pandemia, não cuidou e não cuida da fome. No discurso dele não está a questão da fome porque ele sabe que está ligada à questão do desemprego, do salário, do aumento dos preços. O arroz já subiu quase 50%, o feijão, quase 25%, a carne, quase 40%. A gasolina subiu, desde que ele tomou posse, quase 73%, o gás subiu 57%“, listou Lula.

Outra promessa não cumprida por Bolsonaro, lembrou Lula, foi o do combate à corrupção. “Até hoje o (ex-assessor de Flávio Bolsonaro, Fabrício) Queiroz não foi investigado; ele protege o (general Eduardo) Pazuello por 100 anos sem nenhuma base legal, com um decreto. É uma piada que não se sustenta. Qualquer presidente vai ter de abrir isso porque tem lei que regulamenta o que é sigiloso ou não, e não a vontade do presidente de esconder as suas mazelas”, disse. “Bolsonaro dizia ‘ah, a velha política é a desgraça deste país’. E ele, para sobreviver, está tendo uma relação promíscua com a velha política. O relator do orçamento tem R$ 20 bilhões para gastar nessas eleições agora, o presidente da Câmara tem mais R$ 3 bilhões e ainda falta fazer o orçamento para as eleições”, completou.

Reconstrução do país

Lula lamentou que o país tenha passado por um processo de criminalização da política e lembrou que só o diálogo entre os vários setores da sociedade vai permitir a reconstrução do país. “Dedico quase todo o meu tempo pensando como juntar gente para resolver os problemas do Brasil. Hoje, é preciso muita habilidade para juntar os empresários, os trabalhadores, as universidades, as pessoas que pensam no Brasil para encontrar uma solução. Não tem mágica. Você tem que juntar essa gente toda e discutir que Brasil a gente quer”, defendeu.

A democracia, ressaltou, é o único caminho viável. “Toda vez que você nega a política, o que vem depois é pior. Quando você nega a política, o resultado é o fascismo, é a ditadura, é um governo autoritário. A política é extraordinária se exercida democraticamente porque ela permite a alternância de poder. Não apenas a alternância de pessoas, mas de classes sociais. Você pode ter um intelectual, um metalúrgico, um engenheiro, um empresário, um monte de gente que, de forma alternada, pode exercer o poder. É isso que garante a democracia e é por isso que, efetivamente, eu não nego a política e acho que não existe saída para os problemas da sociedade, mundial, fora da política.”

O ex-presidente, etão, pregou que as pessoas pensem em quais candidatos podem ajudar na construção do país que elas querem. “Tem que saber escolher. Por exemplo: você quer uma reforma tributária para que o rico pague mais imposto. Então você não pode votar em rico para ser a maioria do Congresso nacional. Você quer que tenha uma política de reforma agrária, tranquila e pacífica, para que as terras improdutivas no Brasil sejam distribuídas de forma justa. Você não pode votar em 300 deputados ruralistas, você tem de votar em pessoas que pensem como você”, avaliou.

É dessa forma, acredita Lula, que um Brasil mais justo será construído. E deu como exemplo o debate da reforma tributária. “Se a gente quer fazer uma política tributária correta e fazer o Brasil dar certo, temos de fazer duas coisas: uma é colocar o povo no orçamento e outra é colocar o rico no imposto de renda. Porque a verdade é que quem paga imposto de renda neste país é quem trabalha, recebe salário e é descontado na fonte.”

Do site do PT