Por todos os estados que tem passado na viagem que faz pelo Nordeste ao lado de lideranças do Partido dos Trabalhadores, Lula não abre mão de se reunir com representantes de movimentos sociais e artistas. “É uma oportunidade que tenho para aprender”, explicou no mais recente desses encontros, no último sábado (21), no Ceará. E Lula não fala isso apenas por dizer. O sucesso de seus governos, ele ressalta a todo momento, se deve às ideias surgidas das conversas com essas lideranças.
“Tive uma Presidência de sucesso por causa da solidariedade de vocês, por causa do povo. As políticas sociais que colocamos em prática não saíram da cabeça do Lula, da Dilma ou da Gleisi (Hoffmann). Elas foram resultado de 74 conferências nacionais que fizemos desde os municípios até chegarmos a Brasília”, lembrou Lula no encontro com os movimentos sociais de Pernambuco.
Se foram os movimentos sociais que indicaram o caminho para que Lula combatesse a fome e a miséria, fortalecesse a saúde, revolucionasse a educação, impulsionasse a cultura e garantisse direitos aos excluídos, serão eles, mais uma vez, que mostrarão como reconstruir o país, tem dito o ex-presidente.
“Quando houve o impeachment, eu sabia que o objetivo não era ficar só na Dilma, mas evitar que as políticas de inclusão social continuassem. (…) E o que está acontecendo? Dezenove milhões passam fome, 34 milhões estão em insegurança alimentar. Este país nunca precisou tanto ser salvo. E ele não vai ser salvo pelo sistema financeiro, pelos grandes empresários do agronegócio. Ele vai ser salvo pelo povo trabalhador brasileiro, que é quem produz a riqueza deste país e precisa voltar a governar este país”, disse no encontro do Piauí. Dias antes, em Pernambuco, havia deixado recado semelhante: “A responsabilidade de reconstruir este país não é dos militares, da elite brasileira. É do povo brasileiro representado por vocês.”
Segundo Lula, no entanto, antes de reconstruir, é preciso explicar ao povo o ataque contra seus direitos. E, mais uma vez, os movimentos sociais são fundamentais nessa tarefa. “Não estamos conseguindo indignar nossa sociedade. Estamos gritando, falando, mas ainda não conseguimos criar uma indignação, fazer o povo compreender que não é normal o que está acontecendo. Fazer o povo compreender que este país estava vivendo bem. Nós precisamos começar a falar mais alto, recuperar a indignação, para salvar nossos filhos e filhas, nossos netos e netas. Este país tem de ser justo e democrático. E nós vamos lutar, porque este país não pode ser destroçado. E não devemos ter medo”, discursou no Piauí.
Ao se reencontrar com os movimentos sociais na viagem pelo Nordeste, Lula acende a esperança e o desejo de luta. “Nós vamos ter mudanças no Brasil. Não merecemos o que estamos passando”, disse, durante o encontro do Ceará, a Mãe Valéria de Ogum Edé. A crença de que os dias melhores voltarão também foi expressa no Maranhão pela coordenadora executiva da Articulação dos Povos Indígenas do Brasil, Sônia Guajajara, que denunciou a intenção do governo Bolsonaro de exterminar os povos originários do Brasil ao lhes negar o direito a território.
Juntos, Lula e os movimentos sociais voltam a pensar o Brasil para, como disse o cantor e compositor Ednardo, no Ceará, acabar com “tudo que não é certo não”, em referência à música Pavão Mysteriozo. “Quero lembrar uma de minhas músicas, que fala de um mistério que existe e que quando derrama suas faíscas, despeja seu trovão, acaba com tudo, modifica tudo que não é certo não. Pavão misterioso é outro pássaro sagrado que Lula também incorpora”, discursou o artista.
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