O ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva participou no fim da manhã de hoje, 10 de março, de um ato em São Paulo com mulheres de mais de 20 entidades, entre movimentos sociais, populares e sindicais, e representantes de seis partidos de esquerda e centro-esquerda (PT, PSB, PSOL, PCdoB, REDE e PV), debatendo temas nacionais sob a ótica feminina, mas também pensando no futuro. Em seu discurso, Lula defendeu o fortalecimento do Estado brasileiro para reconstruir o país. Para ele, recuperar o Brasil das crises atuais não será tarefa fácil.
“Este país precisa de gente que goste do povo, de gente que faça o país crescer, que faça a distribuição da riqueza, que construa coisas para a sociedade e junto com a sociedade. Portanto, não pensem que, se eu voltar a ser presidente, acabou a tarefa de vocês. Pensem bem, porque se me elegerem, vão ter que começar a trabalhar para construir a democracia e o mundo que todos nós sonhamos”, afirmou.
O ex-presidente reconheceu que as instituições brasileiras estão feridas. “Fico pensando aonde nós chegamos, o Congresso Nacional chegou a construir um orçamento secreto, em que o presidente da Câmara tem mais poder na política de investimento do país do que o presidente da República. Nunca na história desse país a gente teve uma presidente da república tão incompetente. Me parece que ele foi preparado a vida inteira para agredir, provocar, é só gesto de dar tiro. O Brasil não precisa disso”.
Lula reforçou algo que vem dizendo, que sua eventual candidatura à Presidência da República não seria apenas um projeto pessoal ou do PT, mas um projeto para devolver o Brasil a uma situação melhor, não apenas retomando políticas dos governos do partido, mas aprimorando o que havia sido feito.
“A tarefa de reconstruir este país não é de um partido, muito menos de um presidente. A tarefa de reconstruir este país é uma tarefa da sociedade brasileira, não pode ser a candidatura de Lula pelo PT, a candidatura tem que ser de um movimento que queira reconstruir a democracia de verdade neste país, reparando os defeitos das coisas que nós deixamos de fazer, para construir coisas melhores. Se for para fazer apenas igual, eu não preciso voltar, é preciso mais conquistas para a sociedade. Porque essa gente ignorante que faz parte da elite brasileira precisa saber que, para uma sociedade mais justa, não é aquela que eles podem tudo e os outros não podem nada, é aquela que todo mundo pode um pouco”, declarou.
Previdência social
Ao falar de destruição, o presidente destacou a reforma da previdência. “A narrativa era que a previdência era deficitária, era que não poderia suportar. Nunca disseram que, até 2014, a previdência era superavitária e ela será sempre superavitária sempre que tiver milhões e milhões de brasileiros trabalhando e não despregados, como estão hoje. Mas eles construíram a narrativa e não foi ninguém do movimento sindical e ninguém que era contra a reforma para a televisão. Era sempre a mesma narrativa que era preciso diminuir e diminuir nas costas do povo trabalhador, nas costas do aposentado. Foi assim também com a reforma trabalhista, nunca levaram ninguém para defender os trabalhadores, era sempre contra. Era sempre a narrativa para construir a podridão do mundo que eles querem para o trabalhador. Sempre foi assim. E eles venceram as narrativas”.
Na presença de lideranças de diversos movimentos populares, ele defendeu a inclusão como principal ferramenta para melhorar a vida do povo brasileiro. “O mundo justo que nós queremos é que o filho de uma companheira como uma seringueira do Maranhão tenha a mesma oportunidade de sentar no banco da escola que o filho do dono do seringal e que eles disputem quem vai ser doutor ou não”, disse.
Rediscutir o papel da Petrobras
Lula também criticou as tentativas de venda de empresas estatais importantes de setores estratégicos, como a Petrobras, os Correios e a Eletrobrás, e defendeu um fortalecimento do Estado brasileiro. “ A gente vai ter que dizer que, se a gente voltar a governar o país, a gente vai rediscutir o papel da Petrobras. A Petrobras era exportadora de gasolina, eles destruíram a Petrobras por conta da Lava Jato e a Petrobras tem hoje 400 empresas importando gasolina dos Estados Unidos e a gente pagando preço em dólar, se nós somos autossuficientes com o pré-sal. Qual a explicação? Não tem explicação a não ser a subordinação da soberania brasileira aos interesses mercantilistas daqueles que tentam destruir a Petrobras, daqueles que venderam os gasodutos que nós construímos, que querem privatizar os Correios, o Banco do Brasil, o BNDES, a Eletrobrás”.
Para o ex-presidente, o principal instrumento para implementar mudanças na sociedade é com um Estado investidor. “Vocês acham que se a Eletrobras estivesse na mão de um empresário, ele faria o Luz Para Todos como nós fizemos, investindo 20 bilhões para levar energia para o povo que vivia à base do candeeiro? Não. Só pode fazer isso o Estado, se o Estado tiver compromisso com a sociedade. E a gente precisa ter coragem de dizer e eu quero que as pessoas ouçam, eu não quero um Estado subalterno, eu quero um Estado forte para ter poder de decisão”, explicou.
Participação de todos
Para Lula, a volta da participação popular nas tomadas de decisão do governo é uma condição essencial para um retorno ao crescimento e a recuperação da sociedade.
“Vocês precisam saber que se eu voltar a ser presidente, vocês vão ter que governar junto, vocês vão ter que participar das decisões públicas porque eu não acredito que tenha nenhum ser humano capaz de sozinho fazer as coisas. Este país tem que ser reconstruído, temos que pegar cada coisa que foi destruída e reconstruir. A luta não será fácil, não existe essa de já ganhou. Eleição a gente só sabe o resultado depois da operação”, ressaltou.
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