O ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva participou, nesta
terça-feira (13), do ato de abertura do 1º Congresso Nacional do Movimento dos
Pequenos Agricultores, realizado no Complexo Vera Cruz, em São Bernardo do
Campo. Ao lado do ministro do Desenvolvimento Agrário, Patrus Ananias, do
secretário de Direitos Humanos da cidade de São Paulo, Eduardo Suplicy, do
prefeito de São Bernardo, Luiz Marinho, e de representantes sindicais de
petroleiros e metalúrgicos, o ex-presidente relembrou que no mesmo local, na
década de 90, realizaram-se os primeiros congressos do Partido dos
Trabalhadores e da Central Única dos Trabalhadores. E reafirmou, em seu
discurso, a necessidade de mobilização no campo e na cidade para construir um
país mais justo.
“É emocionante estar aqui”, iniciou Lula, que, antes da
cerimônia, visitou a área destinada às crianças e a cozinha coletiva montada
para atender a centenas de produtores agrícolas de todo o país acampados no
local. O ex-presidente foi recebido com grito de guerra das crianças: “MPA
mirim, está na luta sim!”. “Foi para gente como nós, como vocês, que criamos um
partido político. Foi para gente como vocês que criamos uma central sindical
combativa. Não fosse assim, se fosse apenas para aplaudir os de sempre, não
teríamos razão para fazer política”, completou Lula.
Em meio a falas que ressaltaram a importância da segurança
alimentar para que um país alcance a soberania, Lula ressaltou o papel
fundamental do investimento social do governo nesse mesmo processo. “Hoje
parece fácil, mas quando lançamos o Fome Zero, enfrentamos muito preconceito.
Até entre os nossos, tinha quem achasse que não ia dar certo. Hoje, o
Bolsa-Família, que era uma das políticas do Fome Zero, é elogiado nos quatro
cantos do mundo. Ainda falta muito, mas quem imaginaria que o Estado brasileiro
algum dia investiria R$ 20 bilhões com programas sociais?”, lembrou.
“Também não acreditavam no Luz Para Todos, mas até dezembro
de 2014, já haviam sido instalados 7,3 milhões de postes no Brasil. Um milhão
de transformadores. Instalamos 1,4 milhão de quilômetros de fiação. E quem
vivia na escuridão do século 18, finalmente chegou no século 21. Programas
assim levaram dignidade às pessoas do Brasil”, afirmou o ex-presidente. “Agora,
também não há nação soberana sem conhecimento da história. A primeira
universidade da América Latina foi inaugurada no Peru em 1554. No Brasil, a
primeira universidade veio apenas em 1912. Não queriam que estudássemos, para
que o futuro fosse decidido pelo ventre; porque dependendo do útero, você já
sabia se o sujeito ia ser engenheiro ou pedreiro”.
Lula ponderou que o mau humor presente ao debate sobre
política hoje no país tem origem entre aqueles que não conseguem conceber um
país com menos privilégios para os mais ricos. “O povo quer liberdade,
dignidade, ser tratado como todos. Governar para o pobre não é caro porque ele
não quer privilégio, quer igualdade de oportunidade, para trabalhar e
produzir”, refletiu. “Então tem que subsidiar o povo, sim! A crise de 2008 já consumiu
US$ 10 trilhões só para salvar o capitalismo. Imagina se esse dinheiro fosse
usado para combater a fome. E não só para lidar com a fome, mas para criar
oportunidades para que as pessoas possam se vestir melhor, passear, comprar um
presente para as crianças”, questionou.
“Tenham certeza de que há quem queira acabar com os
programas sociais. Mas levantem a voz: vocês estão aqui para fazer valer os
compromissos do governo. Vocês são a alma desse país”, arrematou.
Todas as famílias assentadas
Antes de Lula, o ministro Patrus Ananias afirmou que o
governo da presidenta Dilma Rousseff (PT), apesar do cenário econômico adverso,
mantém o objetivo de assentar todas as famílias que hoje vivem em acampamentos
nos país até 2018. “O ser humano não foi feito para viver embaixo de lona. O
ser humano foi feito para viver com dignidade”, afirmou o ministro. “É um
compromisso ousado, mas tão ousado quanto o Fome Zero foi no primeiro mandato
de Lula. Em 2003, em seu discurso de posse, Lula disse que se todo brasileiro
fizesse três refeições por dia, a missão de sua vida estaria cumprida. Pois em
2014, a ONU retirou o Brasil do mapa da fome”, concluiu.
Ananias ressaltou ainda o orçamento do Programa Nacional de
Fortalecimento da Agricultura Familiar (Pronaf), que saltou de cerca de R$ 2
bilhões em 2003 para R$ 28,9 bilhões para o plano safra de 2015. “Não podemos
aceitar essa idéia de que o Brasil está se acabando. Querem interromper nossa
caminhada de emancipação. Mas o Brasil está vivo. Temos de fazer valer o hino nacional:
aos filhos deste solo, és mãe gentil”, concluiu.
Sérgio Gorgen, dirigente nacional do MPA, reafirmou o
chamado por unidade entre trabalhadores da cidade e do campo em torno de um
projeto nacional de inclusão social. “Viemos a São Bernardo porque aqui vocês
começaram a derrubar a ditadura e deram início a uma outra fase deste país. E,
juntos, camponeses e operários, vamos construir novas etapas”, disse. “Nós já
iniciamos a mudança que eles querem impedir. Vamos deixar parar? Não. Temos
outro motivo para estar aqui: nestes estúdios, eram filmados os filmes do
Mazzaropi. Aquele camponês que parecia meio besta, mas era muito esperto. Nós
também até podemos parecer meio bobos, mas não somos”, concluiu.
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