Lula, Dorothy Stang, Bolsonaro, Bruno e Dom

Compartilhar:

Em 12 de fevereiro de 2005, numa estrada de terra de difícil acesso a 53 quilômetros de Anapu (PA), a missionária católica Dorothy Mae Stang foi assassinada com sete tiros, por defender os sem-terra. Irmã Dorothy atuava na região amazônica desde a década de 70 na resolução de conflitos relacionados à posse e à exploração da terra. Os mandantes do crime, os fazendeiros Vitalmiro Bastos de Moura e Reginaldo Pereira Galvão, foram presos e condenados.

O crime gerou comoção nacional e chamou a atenção internacional para os conflitos fundiários na Amazônia. Desde o primeiro momento, o então presidente da República, Luiz Inácio Lula da Silva, cuidou pessoalmente da ação do governo federal no Pará.

Em viagem oficial a países da América do Sul, Lula encurtou sua visita a Paramaribo, capital do Suriname, e voltou ao Brasil. Ainda do Suriname, o presidente recebia relatórios diários sobre o assunto por meio da ministra do Meio Ambiente, Marina Silva. De lá, ele anunciou a mobilização de tropas do Exército para “garantir a ordem pública e o estado de direito” no Pará.

Lula instalou de pronto um gabinete de crise no estado. Foram interditados 8,2 milhões de hectares de florestas na região e o presidente determinou a criação, pelo Exército, de um Disque-Denúncia para auxiliar nas investigações. Dois mil homens das Forças Armadas se deslocaram para a região a mando de Lula. Essa força-tarefa resultou na prisão, oito dias depois do crime, de Amair Freijole da Cunha, o Tato, intermediário, e Rayfran das Neves Sales, autor dos disparos.

“É abominável que as pessoas ainda achem que um revólver 38 seja a solução para um conflito, por mais grave que ele seja”, disse Lula na sua primeira declaração após os fatos. Como deve ser, o presidente imediatamente condenou os crimes e ações violentas em conflitos, cobrou esforços das instituições responsáveis por investigar e se solidarizou com familiares e amigos da vítima.

“Nós não descansaremos enquanto não prendermos os assassinos. E mais do que isso, prender os mandantes pada que a gente mostre claramente que no nosso governo não tem impunidade, que a Amazônia é nossa, e que nós vamos tomar conta do nosso território com soberania, sem vacilação. O lugar que está reservado a esses cidadãos, tanto aos assassinos como aos mandantes chama-se cadeia”, declarou Lula no programa Café com o Presidente sobre o caso de Dorothy Stang.

Desumanidade e falta de ação

Em sentido oposto, e com a desumanidade e falta de empatia que lhe são peculiares, o presidente Jair Bolsonaro desdenhou do indigenista Bruno Pereira Araújo e do jornalista inglês Dom Phillips, até então desaparecidos na região do Vale do Javari, no oeste da Amazônia.

A reação primeira do presidente foi culpar a dupla e taxá-la de irresponsável por exercer seu trabalho. “Duas pessoas apenas, em um barco, em uma região daquela, né, completamente selvagem, é uma aventura que não é recomendável que se faça. Tudo pode acontecer. Pode ser um acidente, pode ser que eles tenham sido executados”, disse.

Mesmo após a confirmação das mortes de Dom e Bruno, Bolsonaro manteve a postura antiética e antipatriótica. “Esse inglês era malvisto na região. Ele fazia muita matéria contra garimpeiro, a questão ambiental. Então naquela região, muito isolada, muita gente não gostava dele. Ele tinha que ter mais do redobrado a atenção para consigo próprio”.

Não era de se esperar uma reação diferente de quem, mesmo antes de ser eleito, prometeu “dar uma foiçada” na Funai. Como muitas das barbaridades que prometeu, o presidente concretizou a destruição do órgão que deveria pensar em estratégias de proteção dos povos indígenas.

O governo federal não tratou com prioridade que devia o caso de Dom e Bruno. Comitê da Organização das Ações Unidas (ONU) avaliou que a resposta do governo ao desaparecimento foi extremamente lenta. No dia 6 de junho, o Comando Militar da Amazônia (CMA) informou, em nota divulgada à imprensa, que tinha condições de cumprir missão de busca na região amazônica, mas que aguardava ordem do Escalão Superior.

Diante da falta de atuação, foi preciso que a Justiça determinasse ao governo federal que reforçasse os trabalhos de busca e enviasse, imediatamente, helicópteros, embarcações e equipes de buscas para procurar indigenista brasileiro e jornalista inglês.

Foram as comunidades indígenas que iniciaram e lideraram as primeiras missões de busca e resgate. Sem a participação ativa dos povos da região, a Polícia Federal e os demais órgãos certamente não conseguiriam encontrar os corpos, o barco e os pertences dos dois. Esse esforço, no entanto, foi ignorado pela Polícia Federal em coletiva de imprensa realizada em Manaus para anunciar a solução do caso.

Postura

Conflitos na região amazônica sempre aconteceram. A diferença entre os dois casos é a postura dos presidentes. Com Lula, a vítima nunca foi culpabilizada. Já antes do crime contra Stang, diante dos conflitos na região amazônica, as ações conjuntas de fiscalização ambiental entre o Exército e o Ibama foram intensificadas. A Amazônia era protegida e tratada com foco na soberania nacional. Lula e o PT foram responsáveis não apenas por reduzir o desmatamento da Amazônia em 80%, mas também por promover a proteção ambiental e o fortalecimento das instituições.

Com Bolsonaro, não há dúvida de que os assassinatos de Dom e Bruno resultaram diretamente de sua gestão ambiental fracassada, que promoveu o desmonte não apenas da Funai, mas do Ibama e de outros órgãos que cuidam da matéria. É também consequência da defesa desenfreada que o presidente faz das ações criminosas na Amazônia, promovendo e incentivando o garimpo ilegal e a pesca e caças proibidas. Além disso, Bolsonaro enfraquece e ameaça os órgãos de fiscalização e investigação que ousem denunciar malfeitos.