O ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva começou sua entrevista ao vivo para as rádios Supra FM e 103.5 FM, de Goiás e do Distrito Federal, na manhã de hoje (24), lamentando as notícias da invasão da Rússia contra a Ucrânia durante a madrugada e a falta de negociações diplomáticas para impedir o conflito.
“É lamentável que, na segunda década do século 21, a gente tenha países tentando resolver suas divergências, sejam territoriais, políticas ou comerciais, através de bombas, de tiros, de ataques, quando deveria ter sido resolvido numa mesa de negociação. Acho que ninguém pode concordar com guerra, mas a gente está acostumado a ver que as potências de vez em quando fazem isso sem pedir licença. Foi assim que os Estados Unidos invadiram o Afeganistão e o Iraque. Foi assim que a França e a Inglaterra invadiram a Líbia”, afirmou.
Para o ex-presidente, as divergências entre Rússia, Ucrânia, EUA e Otan, que resultaram no conflito iniciado nos últimos dias, deveriam ter sido resolvidas por meio da diplomacia e intermediadas pela ONU,
“O ser humano tem que criar juízo e resolver as suas divergências numa mesa de negociação, nunca num campo de batalha. Eu acho que é importante a gente repudiar mais uma guerra no século 21, coisa desnecessária que poderia ter sido resolvida se a ONU tivesse mais representatividade, mais força para evitar. Não adianta o secretário-geral da ONU ir para televisão lamentar”, ressaltou.
Segundo o ex-presidente, “as Nações Unidas têm que levar em conta que não têm mais a mesma representatividade que tinham, levar em conta que a geografia política do mundo mudou. É preciso colocar mais países para participar do Conselho de Segurança, ter mais representação da África, da América Latina. É importante aumentar a capacidade de governança da ONU, que não seja uma instituição apenas decorativa”.
Lula criticou também o clima que foi criado especialmente na cobertura das tensões entre Ucrânia e Rússia, assim como a ideia propagada pelo atual governo, de que a visita do presidente Jair Bolsonaro a Moscou, na semana passada, teria servido para aplacar esse conflito.
“Quem acompanhou a imprensa nos últimos dias teve a impressão que teve mais gente instigando a invasão para justificar o seu discurso do que gente falando em paz. Parece até uma piada, o Bolsonaro foi lá falando que ia resolver a paz e agora eu acho que é importante mandar ele lá pra Ucrânia, para ver se ele consegue resolver o problema. Como ele adora falar mentira, fazer fake news, ele foi lá e tentou passar para sociedade que foi lá numa missão. Até hoje a gente nãõ sabe o que ele foi fazer lá”, lembrou. “É uma tristeza estar falando aqui de guerra, eu não me conformo”.