O ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva encerrou na última terça-feira (19) uma viagem de seis dias pela África. Avançando com o trabalho de diálogo e cooperação que iniciou ainda antes da Presidência, Lula se encontrou com presidentes e ex-presidentes, ministros, partidos políticos, empresários e sindicalistas de Guiné Equatorial, Gana, Benin e Nigéria. O ex-presidente retorna à África em julho, para um seminário sobre combate à fome promovido pela FAO, União Africana e Instituto Lula, que acontece nos dias 1 e 2, em Adis Abeba, na sede da União Africana.
Na visão do Instituto Lula, há um imenso potencial para ampliação da cooperação em políticas públicas para combate à fome e à pobreza, comércio de bens e serviços, e investimentos em infraestrutura no continente africano. O Brasil tem – e pode compartilhar – tecnologia em agricultura tropical, geração de energia, biocombustíveis e experiência em programas sociais.
O sucesso das políticas de combate à pobreza e à fome, e a mudança de postura nas relações com os países africanos transformaram Lula em uma figura conhecida e admirada na África. Durante a viagem, o ex-presidente recebeu a Ordem Nacional do Benin, mais alta condecoração do país; participou de um debate sobre combate a fome ao lado de John Kufuor, ex-presidente de Gana e ganhador, ao lado de Lula, do World Food Prize 2011 e também do seminário Nigeria Summit 2013, organizado pela revista britânica The Economist. Lula foi convidado pelos governos de Benin e Guiné Equatorial para assistir à apresentação de seus planos de desenvolvimento em infraestrutura e economia para empresários brasileiros. Na Nigéria, última escala da viagem, Lula encontrou ainda Wole Soyinka, escritor e dramaturgo nigeriano, primeiro negro a ganhar o Nobel de Literatura, os presidentes das duas centrais sindicais nigerianas e esteve presente ao anúncio oficial de parceria para atuação na Nigéria entre empresários brasileiros e nigerianos.
A Iniciativa África do Instituto Lula trabalha em sintonia com as iniciativas do governo brasileiro para compartilhar as experiências na área social e de sustentação da democracia que tiveram sucesso no Brasil; incentivar investimentos no continente africano que garantam transferência de tecnologia e contratação de mão de obra local; divulgar no Brasil informações sobre a África da atualidade, moderna e em crescimento, com todo o seu potencial e oportunidades e ampliar o intercâmbio social, político e cultural entre instituições, fundações, empresas e personalidades do Brasil e dos países da África. Em sua mais recente viagem, o ex-presidente atuou em todas essas frentes.
Desde o início de sua vida pública, como líder sindicalista e candidato de oposição, Lula fez viagens à África e à América Latina, defendendo a solidariedade entre os povos, a democracia e a paz. Coerente com essa trajetória, o governo Lula (2003-2010) mudou a prioridade da política externa brasileira e trabalhou para ampliar as relações entre o Brasil e os países africanos e latino-americanos Foram 33 viagens presidenciais à África, com a criação de 19 novas embaixadas. Agora, no Instituto que leva seu nome, o ex-presidente elegeu a África e a América Latina como prioridades de trabalho.
Para saber mais sobre a iniciativa África do Instituto Lula clique aqui.
Guiné Equatorial – O desafio da Democracia e a busca de parceiros para crescer com criação de empregos – 14 de março
Lula iniciou sua viagem em Malabo, capital da Guiné Equatorial, onde se encontrou com o vice-presidente Ignácio Milan Tang e participou, junto com representantes de empresas brasileiras e autoridades do governo local, de uma apresentação do “Plano Nacional de Desenvolvimento Econômico e social – Horizonte 2020”. A Guiné é um país de população pequena (720 mil habitantes), com Índice de Desenvolvimento Humano (IDH) abaixo da média mundial, na 136º posição do ranking global (junto coma Índia), mas a produção de petróleo combinada com a pequena população fazem do país o maior PIB per capita da África (US$ 14.854,00), maior até mesmo do que o brasileiro. Em seu discurso no país, Lula ressaltou a “necessidade da manutenção da paz como melhor caminho para o desenvolvimento e fortalecimento das instituições democráticas em todo continente”.
O plano “Horizonte 2020” trata do desafio do país de evitar a chamada “doença holandesa”, termo econômico que se refere ao fenômeno que ocorre quando a exploração dos recursos naturais impede o desenvolvimento do setor manufatureiro. Tendo isso em vista, o governo local procura parceria com empresas estrangeiras para desenvolver setores industriais e de maior impacto na geração de empregos: energia, pesca, agricultura, ecoturismo e serviços financeiros. A ideia é passar de uma “prosperidade herdada” da exploração do petróleo — feita principalmente por empresas norte-americanas — para uma “prosperidade criada” com o desenvolvimento da infraestrutura, da proteção social, da educação e das atividades econômicas do país.
No setor de energia, o governo da Guiné Equatorial pretende ampliar o refino e a produção de derivados no próprio país e a também distribuição para a África, além de melhorar a infraestrutura de abastecimento de energia elétrica dentro do país. Na pesca, o objetivo é aproveitar o fato de que o território marítimo do país é 10 vezes seu território terrestre para construir uma forte indústria pesqueira que atenda ao consumo da própria Guiné e exporte para os países vizinhos, como Camarões e Gabão. E na agricultura, o país quer multiplicar por cinco sua produção agrícola, modernizando um modelo que hoje é praticamente restrito à subsistência, com pouco suporte técnico.
Gana – Segurança alimentar e cooperação na tecnologia agrícola – 15 e 16 de março
Na sexta-feira, 15 de março, Lula chegou a Gana, onde foi recebido pela diretora-geral da Organização das Nações Unidas para Agricultura e Alimentação (FAO), a cabo-verdiana Maria Helena Semedo, e seguiu para um encontro com o presidente John Dramani Mahama, na Flagstaff House, a sede do governo do país, em Acra. Esta foi a terceira visita de Lula a Gana, e Mahama já esteve no Brasil também três vezes. Na última delas, assistiu a uma palestra de Lula no 5º Fórum Ministerial de Desenvolvimento, sobre combate à pobreza, no ano passado em Brasília.
O presidente Mahama ressaltou a importância do Brasil e de outros países do Sul para o desenvolvimento de Gana. Como exemplo, citou o escritório da Embrapa na África, criado durante o governo Lula, e que fica Gana. “Gana é um país de renda baixa, que está tentando fazer a transição para se tornar um país de renda média. E por isso há uma necessidade de uma grande expansão da infraestrutura econômica e social. Há hoje uma crise na Europa e nos Estados Unidos e por isso estamos buscando ampliar os financiamento e investimentos com os países dos BRICS (Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul).” Leia a matéria completa sobre o encontro de Lula e Mahama aqui.
Lula também deu uma palestra para autoridades locais e empresários brasileiros e ganenses. Ele falou sobre sua experiência no governo e seu trabalho na política externa para ampliar relações com a África e a América Latina. Depois da palestra, houve um jantar para promover a integração entre empresários dos dois países.
No sábado, Lula participou de um debate organizado pela FAO sobre segurança alimentar, ao lado do ex-presidente ganês John Kufuor, que ganhou, junto com Lula, o World Food Prize em 2011 (leia mais sobre o prêmio em Lula e John Kufuor recebem World Food Prize nos EUA), por suas conquistas na modernização da agricultura de Gana. Lula enfatizou sua crença de que a experiência brasileira pode ajudar muito os países africanos. “Eu tenho a convicção de que as políticas públicas que fizemos no Brasil têm a cara da África. Tem que ser adaptado em relação a cada realidade e cultura, mas podem ser implantadas na África.” Assistiram ao debate especialistas, acadêmicos, líderes de movimentos sociais e estudantes, entre eles Aeaah Fred, secretário-geral da União dos estudantes da África (All-Africa Students Union).O conteúdo do debate, com o áudio das falas dos dois presidentes pode ser acessado aqui.
O ex-presidente também visitou o escritório da Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa) no continente africano, que foi inaugurado por Lula em 2008. Sediado em Acra, o escritório e é o ponto de contato para o desenvolvimento de 21 projetos em vários países africanos para auxiliar no aperfeiçoamento da agricultura no continente. Apoio para modernização agrícola é uma das maiores demandas africanas para o Brasil, conforme países como Gana e Nigéria tentam ampliar sua produção de arroz, cana-de-açúcar e outros alimentos. Mas os projetos de cooperação e o desenvolvimento de produtos, disseminação de tecnologias e assistência técnica da Embrapa na África ainda está em fase embrionária e o potencial de desdobramento de projetos de transferência de tecnologia e conhecimento, com intercâmbio de técnicos e empreendedores é imenso.
No final da tarde, Lula se encontrou com dirigentes do National Democratic Congress (NDC) e do Fórum Socialista, partidos de centro-esquerda que atualmente estão no poder em Gana. No encontro, de pouco mais de uma hora, Lula conversou sobre o aumento de intercâmbio entre os partidos progressistas da África e da América Latina, em especial o Partido dos Trabalhadores (PT). Lula citou como exemplo o Foro de São Paulo, que reúne diversas forças políticas na América Latina e se comprometeu a conversar com o Partido dos Trabalhadores na sua volta ao Brasil para ampliar o contato entre o PT e o NDC.
Lula também conversou com Samia Nkrumah líder do Convention People´s Party (CPP) e filha do herói da independência e primeiro presidente de Gana, Kwame Nkrumah (1909-1972). Também esteve com representantes da comunidade “Tabom”, descendentes de brasileiros escravizados que retornaram para a África. O ex-presidente os convidou para visitarem o Brasil, onde nunca estiveram. http://www.institutolula.org/em-gana-lula-se-encontra-com-descendentes-de-escravos/
Benin – Homenagem e parcerias – 17 de março
No domingo (17), Lula visitou Cotonou, capital do Benin, país de nove milhões de habitantes, localizado entre o Togo e a Nigéria. Lula teve uma calorosa recepção no aeroporto do presidente Boni Yayi e cerca de 500 beninenses, que fizeram uma grande festa com demonstração de cantos e danças tradicionais. Em seguida, a delegação brasileira foi recebida pelo presidente Yayi e sua equipe. Os brasileiros assistiram a uma apresentação sobre as possibilidades de estreitamento de laços entre os dois países em diversas áreas. Em seguida, Lula foi homenageado em um almoço para cerca de 200 pessoas. Lá, o ex-presidente foi condecorado com a mais alta distinção do país, a Ordem Nacional do Benin http://www.institutolula.org/ex-presidente-lula-recebe-ordem-nacional-do-benin
Lula conversou com representantes das empresas brasileiras que atuam no país, responsáveis, entre outras coisas, pela implantação da primeira frota de ônibus urbano de Cotonou. À tarde, em encontro com cerca de 150 empresários, ministros e autoridades, o governo do Benin apresentou seu plano de desenvolvimento, que envolve a expansão da infraestrutura do país, principalmente em energia e transportes e a modernização agrícola. Atualmente, a principal receita da economia do país são os serviços, já que Benin tem um dos mais movimentados portos da África.
Nigéria – Caminhos para o desenvolvimento da Nigéria, parcerias e intercâmbio de políticas públicas – 18 e 19 de março
O primeiro encontro de Lula na Nigéria, na segunda-feira (18), foi com os presidentes das duas centrais sindicais do país, Abdulwahed Omar, da Nigeria Labour Congress e Peter Esele, da Trade Union Congress. Lula chamou de “absurdo” o fato de não haver, até hoje, contato entre os sindicalistas da Nigéria, o país mais populoso da África, e os brasileiros. O ex-presidente se comprometeu a ajudá-los a ter mais contato com o movimento sindical brasileiro. Leia mais sobre o encontro de Lula com os presidentes das centrais sindicais aqui.
Lula se encontrou, ainda na segunda-feira, com Wole Sooyinka, o escritor nigeriano ganhador do prêmio Nobel de Literatura e o ex-presidente do país Olusegun Obasanjo.
À noite Lula participou da cerimônia que celebrou a parceria para intercâmbio técnico entre o maior conglomerado da Nigéria e empresas brasileiras.
Na terça-feira (19), em Lagos, Lula participou do Nigeria Summit 2013, seminário organizado pela The Economist. O evento reuniu cerca de 600 pessoas, entre gestores de empresas nigerianas e multinacionais com investimentos no país, autoridades nacionais como o presidente Goodluck Jonathan e ministros de seu gabinete, e estrangeiras, como o Embaixador da China para assuntos africanos Zhong Jianhua. No evento, Lula contou sua experiência no governo brasileiro e debateu com Goodluck a agenda com a qual o presidente pretende desenvolver o mais populoso país africano (170 milhões de habitantes). Um dos temas do debate foi a necessidade de ampliação da produção de açúcar do país. Lula convidou Goodluck ou um representante do governo nigeriano para passar alguns dias no Brasil e conhecerem melhor a tecnologia e produção de açúcar e etanol no país. Leia mais sobre a participação de Lula no Nigeria Summit 2013 aqui.
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