Falando a uma plateia formada por dezenas de graduandos africanos e brasileiros da Unilab, Lula voltou a dizer que o Brasil possui uma dívida com a África que não pode ser paga em dinheiro. O ex-presidente foi escolhido como patrono dos formandos do curso de Humanidades da Universidade da Integração Internacional da Lusofonia Afro-Brasileira no campus dos Malês, em São Francisco do Conde, na Bahia.
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Lula contou que foi ao Senegal quando era presidente, acompanhado do então ministro da Cultura Gilberto Gil e, na Ilha de Goré, visitou a “Porta do Nunca Mais”, que era o lugar onde os africanos escravizados deixavam o continente. Mais de oito milhões deles rumo ao Brasil. “Como mensurar uma dívida dessa? O trabalho que nunca foi pago, a contribuição à cultura, à beleza, ao nosso gingado, nosso jeito de ser?”.
Para uma dívida impossível de ser paga em dinheiro, o Brasil apostou na solidariedade. “Vocês não devem nenhum favor a este país. O Brasil não está fazendo favor, está pagando as horas, os anos e séculos da vida de africanos que foram trazidos para cá e trabalharam até morrer sem ganhar nada”.
O ex-presidente contou das diversas iniciativas em seu governo de colaboração com a África. Lula foi o presidente que mais embaixadas criou na África, as trocas comerciais entre Brasil e o continente africano triplicaram durante seu governo. Citou que o Brasil incentivou a implantação de uma fábrica de remédios contra Aids em Moçambique, instalou um escritório da Embrapa em Gana e levou para a África o Programa Mais Alimentos, que financiava a compra de máquinas agrícolas entre outros projetos.
O ex-presidente assistiu à cerimônia de colação de grau e cumprimentou todos os formandos. Em sua fala, Lula disse que há preconceito contra os estudantes africanos no campus de Redenção, no Ceará. “Certamente se fossem brancos de olhos verdes, não haveria esse preconceito” e completou dizendo que não é possível admitir isso. “Preconceito não é posição política, é doença”.
Para os formandos africanos, que devem agora deixar o Brasil e voltar a seus países para trabalhar ou estudar, Lula deixou um recado: “Voltem para casa, mas não se esqueçam de que o Brasil é uma extensão do continente africano que um dia a geologia separou”.
Os alunos Fernando Colônia, da Guiné-Bissau, e Fabiana Pedreira, do Brasil, foram oradores da turma. Ambos pediram que a Unilab seja ampliada com mais cursos. E Fabiana disse, com beleza: “Agradecemos sobretudo por ter sancionado a lei de criação desta nossa Unilab, possibilitando que as duas margens opostas do Atlântico se reencontrassem, dessa vez em outras condições, para que assim nós, negras e negros, brasileiros e africanos, pudéssemos juntos construir uma nova história, de mãos dadas, à caminho da nossa emancipação política e social”.
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