O ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva reuniu-se nesta quinta-feira (18) com integrantes das pastorais de base da Igreja Católica, com quem discutiu a conjuntura atual do país e os desafios postos à sociedade para continuar reduzindo as desigualdades sociais no mesmo ritmo que na década passada.
Com a participação do bispo D. Pedro Stringhini, da diocese de Mogi das Cruzes e da Confederação Nacional de Bispos do Brasil, e de Gilberto Carvalho, atual presidente do Conselho do Sesi, o grupo reuniu representantes da entidade de ação social da Igreja, a Cáritas, e das pastorais da Terra, dos Imigrantes, Operária, da Rua, Carcerária e da Criança e do Adolescente, e também o pastor Cloves Oliveira, da Assembleia de Deus de Mogi das Cruzes.
“Este encontro ocorre em um momento muito fortuito, junto com uma encíclica do papa Francisco sobre o meio ambiente que é também muito humana, que compreende o acesso à comida, o direito à terra”, disse Paulo Vannuchi, diretor do Instituto Lula e ex-ministro do Direitos Humanos, que abriu as falas em nome do Instituto. “Aqui, também, há grandes parceiros e inspiradores dos meus tempos de ministro dos Direitos Humanos”, concluiu.
D. Pedro reafirmou a prioridade das questões sociais para o momento que o Brasil atravessa. “É importante reconhecer o senhor e os avanços em seus oito anos de governo. Mas, diante da crise atual, esse esforço tem de ser continuado”, ressaltou. Entre os debates públicos mais preocupantes, o bispo ressaltou a proposta de redução da maioridade penal de 18 para 16 anos, em análise na Câmara dos Deputados.
“Realizamos um grande debate sobre o assunto na Câmara Municipal de Mogi, e, em determinado momento, me surpreendi com a presença de um grupo de jovens que não conhecia. Para nossa surpresa, eram jovens a favor da redução da maioridade penal, e jovens da periferia”, relatou. “Comentamos na Igreja como os novos seminaristas estão mais conservadores. Não só eles. Eles estão inseridos numa juventude mais conservadora, uma juventude mal informada, manipulada pela mídia”, ponderou.
Apesar dos novos obstáculos que se interpõem às lutas sociais, porém, D. Pedro ressaltou que o grupo que veio conversar com Lula é o “mais combativo”.
“Nos tempos bons, é muito fácil fazer diagnóstico. Nos tempos ruins, não. Mas temos de ter consciência que a democracia e a liberdade estão em jogo com todo esse ódio à solta. É o ódio que faz um jovem da periferia ser a favor da redução da maioridade penal sem saber que isso se trata de suicídio”, afirmou Gilberto Carvalho.
Na opinião do ex-secretário-geral da Presidência da República no governo Dilma, é necessário “romper a barreira” interposta por parte das empresas de comunicação brasileiras entre o povo e os sindicatos, movimentos e entidades sociais e partidos. “Eles não nos combatem pelos nossos erros. Eles nos combatem fundamentalmente pelos interesses feridos, sobretudo o desejo de lucro do mercado financeiro”, refletiu.
Entre críticas a parte do setor privado brasileiro, em especial bancos e instituições financeiras, o padre Julio Lancelotti, da pastoral do Povo da Rua, ressaltou que “pagamos o preço por crescer economicamente, mas não humanamente”. “Os sintomas disso são o individualismo, o ódio. A última encíclica do papa critica também os bancos, o capitalismo, esse sistema que causa muita destruição. Precisamos de mais rebeldia contra o sistema, e buscar alternativas”, pontuou.
Confrontado com críticas à “acomodação” de governantes e parlamentares petistas, o ex-presidente afirmou que também é preciso retomar o “sonho petista”.
“Ainda hoje, com todas as notícias negativas contra nós, ainda somos o partido mais popular nas pesquisas. As pessoas sonham que o PT volte a ser o que era, e se existe esse sonho, vamos torná-lo realidade”, disse Lula. “Ainda hoje, com todas as notícias negativas contra nós, ainda somos o partido mais popular nas pesquisas. As pessoas sonham que o PT volte a ser o que era, e se existe esse sonho, vamos torná-lo realidade”.