Emocionado, o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva discursou por mais de uma hora em sua segunda fala pública sobre os acontecimentos desta sexta-feira (4). Lula foi à quadra dos Bancários, no centro de São Paulo, onde mais de três mil pessoas se reuniram em solidariedade ao ex-presidente.
“Hoje foi uma ofensa pessoal, ao meu partido, à democracia, ao Estado de Direito”, disse.
O ex-presidente falou sobre as conquistas do Brasil em seu governo e sobre a tentativa de uma parte da elite reescrever a história. “Negros, índios, empregadas domésticas, a juventude da periferia, todos começaram a ser mais respeitados em nosso governo. E esse legado, que estou contando para vocês, a mídia quer apagar. Quer que vocês esqueçam. Agora dizem que a crise acontece porque investimos nos mais pobres”. “Querem transformar a importância política do meu governo em uma relação com umas empresas da Lava Jato”, alertou.
Alguém vai ter que me dar o apartamento
Lula falou também sobre as perguntas que foram feitas em sua condução coercitiva, que em nada diferiam das perguntas já feitas em outros dois esclarecimentos que Lula fez à Justiça quando foi convocado de forma regular.
“Eu vou na chácara dos meus amigos porque meus inimigos não me convidam. Se a Globo me convidar pra ir lá no triplex deles em Paraty eu posso ir”, afirmou.
“Eles estão julgando um apartamento que é meu, que não é meu. E se for meu, eles vão ter que me dar. Só tem um jeito de o apartamento ser meu. É alguém comprar e me dar. Como eu não comprei e não quero comprar. A imprensa não me deu e não quer me dar. Que a Globo ou o Ministério Público me dê o apartamento.
Eles dizem que é minha uma chácara que não é minha. Que é do Fernando Bittar, filho do Jacó Bittar, que é meu companheiro de 40 anos no sindicato e no PT. E que comprou uma chácara com o dinheiro da sua poupança, pra garantir que eu tivesse um lugar para descansar quando eu deixasse a Presidência. Pago com cheque administrativo! Não que eu não pudesse pagar. É que eles não me ofereceram [a venda], eles compraram. Compraram e falaram: “Lulinha, use… use!” Eu comecei a usar. E isso virou minha! Eu não posso usar… [Para Rui Falcão] não me convide para ir dormir na sua casa, que eu não posso dormir. Imaginem vocês!
Aí eles vêm dizendo uma série de coisas, ou seja, alguém vai ter que me dar a chácara também. Eu espero que quando terminar esse processo eu tenha um apartamento e uma chácara que eu não tenho hoje.
Então, não adianta eu ficar dizendo que eu não tenho, se eles dizem que eu tenho. Não adianta. Eles pegaram um barco de três mil reais e transformaram num iate. Coitada da Marisa. A Marisa trabalha, gente, desde 11 anos de idade ela começou a trabalhar como empregada doméstica e de babá. A Marisa comeu o pão que o diabo amassou, porque eu nunca tive tempo de cuidar dos meus filhos. Ela é que cuidou dos meus filhos!”
Pelo Brasil
Lula disse ainda que a violência que ele sofreu hoje o anima para falar cada vez mais e viajar o Brasil. “Se vocês queriam alguém para animar a militância, acharam esse alguém. Estou à disposição dos partidos e dos movimentos, estou avisando aqui. Basta me convidar”.
“Se alguém pensa que vai me calar com perseguição e denuncia, não sabe que eu sobrevivi à fome. Tenho consciência do que eu posso fazer por esse povo e tenho consciência do que eles querem de mim”, disse.
Ouça a íntegra do discurso:
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