O ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva defendeu nesta terça-feira (22) uma mobilização nacional para assegurar que crianças pobres que tiveram atrasos no aprendizado e rendimento escolar durante a pandemia, por falta de computadores e acesso à internet, consigam recuperar as perdas e se igualar aos colegas que acompanharam as aulas remotas sem dificuldades.
“Nós vamos ter que ter uma revolução de comportamento de todos os educadores desse país, de toda a sociedade para a gente recuperar essa distância e fazer com que as pessoas mais pobres voltem a um grau de conhecimento igual a todos os outros brasileiros. Na minha cabeça, todas as crianças, independentemente de pobres ou ricas, têm que ter a mesma oportunidade e essa oportunidade é dada num banco de escola”, afirmou em entrevista à Rádio Passos, de Minas Gerais.
Em suas manifestações públicas, assim como em encontros temáticos que faz com especialistas e ex-ministros, Lula tem demonstrado grande preocupação com o que considera um sério problema decorrente do distanciamento social imposto pela pandemia do coronavírus e que pegou desprevenida parcela da população que não tinha condições adequadas para garantir que os filhos se adaptassem à realidade de aulas à distância, totalmente dependentes de recursos tecnológicos que muitos não têm.
“Estamos com problema sério agora. A volta às aulas depois da pandemia vai ter dois tipos de crianças na escola. As crianças mais pobres estão dois anos mais atrasadas que as crianças mais ricas. As crianças de classes média que puderam ter computador em casa, que puderam assistir aulas normalmente à distância, vão voltar em um nível e as crianças pobres voltarão num outro nível porque ficaram dois anos sem aula”, disse, lembrando frase célebre do educador Paulo Freire sobre a importância da igualdade de oportunidades e acesso à alimentação para bom rendimento das crianças. “Paulo Freire falava que toda pessoa que come é inteligente. A fome às vezes aguça e às vezes consome parte da inteligência das pessoas”.
Educação foi prioridade nos governos do PT
O ex-presidente voltou a lembrar dos feitos dos governos petistas na educação e lamentou o fato de o segmento ter deixado de ser prioridade no atual governo. Em vez de investimentos crescentes, da creche à universidade, como nos tempos petistas, a educação passa por um processo de esvaziamento. “Estão destruindo tudo porque estão cortando o orçamento da educação, cortando o orçamento das universidades e não estão escolhendo mais o reitor que os professores e os alunos querem. Estão escolhendo aquele que ele quer, numa falta de democracia sem precedentes”, disse.
Além da construção de 19 novas universidades e criação de programas que viabilizaram o acesso, como Prouni, Fies e Reuni, Lula lembrou das escolas técnicas e institutos federais construídos por todo o país com o intuito de que elas resultassem em desenvolvimento para as regiões onde estavam inseridas. “Tenho orgulho de dizer para todo mundo que a elite brasileira fez 140 escolas técnicas em 100 anos, desde a primeira feita por Nilo Peçanha, em 1909, em Campos dos Goytacazes, até o dia em que eu tomei posse como presidente. No governo do PT, fizemos quase 550 novas escolas técnicas mais os institutos federais”.
“É preciso que as pessoas tenham acesso às oportunidades”
Lula lembrou de outros feitos como aumentar em quase cinco vezes o orçamento da Educação, o PAC da Ciência e Tecnologia, a Universidade Afro Brasileira e a Unila (Universidade Federal da Integração Latino-Americana), assim como o Brasil ter atingido a 13ª posição no ranking de publicações científicas em revistas especializadas.
“Fiz uma reunião com ex-ministros da Educação e Ciência e Tecnologia, essa é uma tarefa que a gente vai retomar muito. Não há na história da humanidade um país rico sem antes ter investido na educação, sem antes ter investido em ciência e tecnologia. Esse país pode, ele tem grandeza, ele tem povo inteligente. É preciso apenas que as pessoas tenham acesso às oportunidades e quem deve garantir é o Estado Brasileiro, são os governos”.