Uma delegação de jovens lideranças da IG Metall, central sindical alemã, visitou o Instituto Lula em São Paulo na tarde desta terça-feira (27). Eles foram recebidos pelo presidente do Instituto, Paulo Okamotto, e pelo ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva.
Numa conversa que durou cerca de duas horas falou-se sobre a solidariedade histórica dos metalúrgicos alemães com o movimento sindical brasileiro, o golpe parlamentar-midiático no Brasil, o fortalecimento do Partido Social Democrata (SPD) alemão, relações internacionais e sobre o ataque aos direitos dos trabalhadores que têm ocorrido no Brasil.
Instituto
Após o término de seu segundo mandato, Lula elegeu como eixos principais de trabalho no Instituto Lula o fortalecimento das relações do Brasil com a América Latina e o intercâmbio de tecnologias sociais com a África. Esses dois temas vieram à tona em perguntas dos alemães que queriam saber como o Brasil poderia encontrar uma alternativa para o crescimento sem depender das grandes potências.
O ex-presidente contou que uma das marcas de seu governo foi a diversificação dos parceiros comerciais. Ao mesmo tempo em que o fluxo comercial com a Europa e os Estados Unidos dobrava, o Brasil ganhava novos mercados na Ásia, na América Latina e na África. “Os países mais desenvolvidos sempre compraram apenas commodities do Brasil. Mas nós queríamos exportar também nossa indústria. Não temos condições de concorrer com a Alemanha, mas descobrimos que podíamos ser fornecedores de produtos industrializados aqui na América Latina e na África, por exemplo”.
A política externa ativa do Brasil foi em boa parte responsável pelo sucesso da economia nos anos Lula. O Brasil era respeitado lá fora, virou um exemplo para países africanos e conseguiu exportar automóveis, tratores, tecnologia agrícola e foi responsável por grandes obras em diversos continentes. No período dos governos progressistas no Brasil foram gerados 22 milhões de empregos, 70 milhões de pessoas passaram a ter conta em banco, 36 milhões saíram da extrema pobreza e 40 milhões ascenderam de classe social. Durante 12 anos todas as categorias organizadas tiveram aumento real de salário, o salário mínimo cresceu e a massa salarial média teve um aumento real de 3% ao ano.
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“Mas agora estamos vendo desaparecer todas essas conquistas”, lembrou Lula. “Hoje o grande desafio é evitar que os trabalhadores percam os direitos conquistados após a redemocratização no Brasil”.
As notícias recentes não são animadoras. O parlamento aprovou recentemente a lei de terceirização; o Executivo passou uma lei que define um teto para os gastos públicos que vai precarizar especialmente a saúde e a educação; há uma tentativa de desmonte da Petrobras, que atende apenas aos interesses das grandes petrolíferas mundiais, com o fim da lei da partilha, a tentativa de venda de ativos, o fim da política de conteúdo nacional… E há um desejo expresso de mexer na Previdência Social, que foi superavitária desde 2004, justamente porque o país investiu em desenvolvimento, emprego e salário.
Esperança
O ex-presidente Lula insiste que há ainda muito espaço para o Brasil crescer e que incluir os mais pobres no orçamento da União é certamente uma parte desta solução. “E chegou a hora de avançar no legado e discutir um novo padrão de governança, de desenvolvimento, ambiental, de democracia… O Brasil tem ainda muito espaço pra crescer, inclusive para ser um protagonista no cenário mundial”.