O ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva recebeu o título de Doutor Honoris Causa da Universidade Federal de Sergipe (UFS), na cidade de Lagarto, na manhã desta segunda-feira (21). Este foi o 31° título que o ex-presidente recebeu.
Emocionado, Lula falou sobre os investimentos em educação durante os últimos 13 anos, que permitiram mudar a realidade do ensino público no Brasil e, principalmente, na região Nordeste. “O número de matrículas nas universidades brasileiras passou de 3,5 milhões para cerca de 8 milhões no período que vai de 2003 a 2014. O Nordeste tem hoje 20% dos alunos universitários do Brasil, ultrapassando pela primeira vez a região Sul”, ressaltou o ex-presidente.
Durante seu discurso, Lula destacou os números da expansão do ensino superior em Sergipe: de 45 mil vagas em 2004, para 80 mil em 2013. Só na UFS, a oferta de vagas passou de 10 mil para 26 mil, e chega hoje a 33 mil, somando os alunos do ensino à distância.
Para Lula, negar o acesso da maioria ao ensino público de qualidade sempre foi uma forma de perpetuar a desigualdade. “O acesso ao ensino de qualidade, em todos os níveis, é um direito de cada cidadão ou cidadã, desde a mais tenra idade. Os países e as sociedades que assim compreendem são aqueles que conduziram seus povos a uma vida mais digna”.
Para ver as fotos da cerimônia em alta resolução, acesse o Flickr do Instituto Lula.
O ex-presidente lembrou ainda o processo de criação do campus da UFS em Lagarto e disse que a instituição é um “belo exemplo da construção de uma universidade pública inclusiva, de qualidade, que estimula a busca do conhecimento e se integra à realidade social de sua região”, disse Lula.
Veja como foi a entrega do título de Doutor Honoris Causa em Sergipe:
Confira o discurso do ex-presidente na íntegra:
“Magnífico reitor, meus amigos, minhas amigas,
Agradeço de coração o título de doutor Honoris Causa conferido pela Universidade Federal de Sergipe. Quero compartilhar esse título com a comunidade acadêmica da UFS e com todos os que lutaram e continuam lutando pela educação pública de qualidade no Brasil.
Foi esse esforço coletivo que nos permitiu iniciar, nos últimos anos, uma grande mudança na realidade do ensino público no Brasil, especialmente no Nordeste do País. Como vocês sabem, o número de matrículas nas universidades brasileiras passou de 3,5 milhões para cerca de 8 milhões no período que vai de 2003 a 2014. Na região Nordeste, a oferta de vagas no ensino superior passou de 790 mil, em 2004, para 1 milhão e 600 mil em 2013.
Isso foi possível graças a programas como o REUNI, o Prouni e o novo Fies, que ampliaram a oferta de vagas e garantiram o acesso e financiamento do ensino superior a uma grande parcela da população que não podia exercer esse direito.
Na região Nordeste, a oferta de vagas no ensino superior passou de 790 mil, em 2004, para 1 milhão e 600 mil em 2013. Somente nas universidades públicas, o número passou de 318 mil para 508 mil no mesmo período. O Nordeste tem hoje 20% dos alunos universitários do Brasil, ultrapassando pela primeira vez a região Sul.
Das 18 novas universidades criadas no meu governo e no governo da presidenta Dilma, sete foram localizadas em 28 cidades do Nordeste do país. Esse investimento, não tenham dúvida, é parte do nosso compromisso para superar as desigualdades regionais e corrigir uma injustiça secular com o povo nordestino.
Magnífico reitor, meus amigos, minhas amigas, os números da expansão do ensino superior em Sergipe são expressivos: de 45 mil vagas em 2004, para 80 mil em 2013. Só na UFS, a oferta de vagas passou de 10 mil para 26 mil, e chega hoje a 33 mil, somando os alunos do ensino à distância.
A UFS expandiu-se em quatro novos campi pelo interior do estado: Glória, Lagarto, Laranjeiras e Itabaiana. Cumpre, dessa forma, um dos principais objetivos do Reuni, que é levar a universidade aonde o povo está, oferecendo oportunidades aos jovens que antes tinham deixar a terra e a família para estudar na capital.
Há duas outras características que distinguem a UFS no panorama universitário brasileiro. Em primeiro lugar, a vocação para a pesquisa equalificação do corpo discente. Em 2003, a UFS tinha 600 professores e apenas 6 cursos de pós-graduação. Hoje, tem 68 cursos de pós-graduação e 1.400 professores, dos quais 1.200 são doutores.
A outra qualidade essencial desta universidade é sua opção pelas politicas socialmente inclusivas. A UFS foi das primeiras no Brasil a adotar o sistema de cotas para alunos vindos do ensino público, os filhos do povo, que hoje constituem mais de 65% do seu corpo discente.
O desempenho desses alunos, como ocorre nacionalmente, é igual e em muitos casos superior aos dos demais, o que responde bem aos preconceitos contra eles e contra as políticas inclusivas de modo geral.
Meus amigos, minhas amigas, o campus da UFS em Lagarto é um belo exemplo da construção de uma universidade pública inclusiva, de qualidade, que estimula a busca do conhecimento e se integra à realidade social de sua região.
Além de ser uma referência no ensino, o campus tornou-se parte integrante do Sistema Único de Saúde, numa região com 250 mil habitantes, devolvendo ao povo de Sergipe os investimentos feitos no projeto, da ordem de R$ 68 milhões.
É realmente inovador um projeto que integra o ensino universitário à política de saúde pública do Estado, dentro de uma avançada concepção de ensino, que alia a prática à teoria e elabora o conhecimento na construção dos avanços sociais.
Quero compartilhar pelo Brasil a experiência de Lagarto, em que os alunos participam da rede do SUS desde o primeiro ano do curso. Inicialmente, acompanham as equipes de Saúde da Família, na vigilância sanitária, passando em seguida a atuar nas unidades básicas de saúde, sempre desafiados por seus professores a identificar problemas e formular soluções, como parte essencial do aprendizado.
O coroamento desse processo é a atuação dos formandos no Hospital Regional de Lagarto, que foi doado pelo governo de Sergipe à UFS e está em fase final de transferência para a rede nacional de Hospitais Universitários.
Com 155 leitos instalados, o hospital realiza 6 mil atendimentos e 200 cirurgias por mês nas áreas de urgência e emergência. Ao se completar a transferência para a UFS, o futuro Hospital Universitário deve ser equipado para dobrar o número de atendimentos e incluir os de alta complexidade.
E é preciso destacar, por fim, o impacto positivo do novo campus na dinâmica da economia local. Somente os salários dos professores, técnicos e demais servidores da UFS fazem circular cerca de R$ 100 milhões por ano no município de Lagarto, que se transformou em novo polo de comércio e serviços.
A ideia de criar o campus de Lagarto nasceu das justas reivindicações da comunidade universitária e do povo Sergipe, para oferecer novas oportunidades aos jovens. Mas a ideia não teria saído do papel se não fosse a liderança de uma pessoa muito especial: Marcelo Deda. Ele era governador de Sergipe em junho de 2009, quando assinamos o convênio que permitiu a instalação do Campus de Lagarto, no âmbito do REUNI, o programa que recuperou as universidades federais brasileiras e duplicou a oferta de vagas.
Deda conseguiu articular os instrumentos dos governos federal e estadual e da Prefeitura de Lagarto, para que o novo campus pudesse funcionar no mais breve prazo possível. As obras começaram em 2010 e hoje temos aqui 8 cursos da área de saúde com 1.700 alunos, 150 professores e 120 técnicos administrativos.
Marcelo Deda tinha verdadeira inquietação por tornar realidade seus compromisso com o povo sergipano, e nisso foi um exemplo para o Brasil. Foi um político integralmente dedicado a transformar a realidade brasileira.
E ao falar dele nos lembramos de outro grande líder político que Sergipe revelou, o também saudoso companheiro José Eduardo Dutra, que foi senador e presidente da Petrobrás. Minhas homenagens a Marcelo Deda e José Eduardo Dutra. Eles fazem muita falta ao Brasil.
O acesso ao ensino de qualidade, em todos os níveis, é um direito de cada cidadão ou cidadã, desde a mais tenra idade. Os países e as sociedades que assim compreendem são aqueles que conduziram seus povos a uma vida mais digna.
Historicamente, não foi o que ocorreu no Brasil, desde os tempos da colônia, passando pela monarquia e ao longo da maior parte do período republicano. Os espanhóis chegaram a Santo Domingo em 1492, com Cristóvão Colombo. E em 1538 já existia lá a primeira universidade das Américas. O Peru e o México tiveram suas primeiras universidades em 1551. A Colômbia, em 1662.
E foi só em 1922 que o Brasil teve sua primeira Universidade, reunindo escolas das principais áreas de conhecimento. Naquela época, a Argentina já estava fazendo sua primeira reforma universitária.
Até a metade do Século XX, a maioria da população brasileira ainda era analfabeta. O acesso ao ensino básico só foi realmente universalizado agora, no século XXI, e assim mesmo com boa parte das escolas em condições precárias.
Negar o acesso da maioria ao ensino público de qualidade sempre foi uma forma de perpetuar a desigualdade. Elites retrógadas mandavam seus filhos estudar na Europa enquanto negavam ao povo brasileiro esse direito sagrado, porque sempre temeram o caráter libertador da Educação. Foi o gradual aumento da consciência política do nosso povo que nos permitiu conquistar avanços no acesso ao ensino, como as cotas e o PROUNI.
Garantir esse direito é obrigação do Estado, e foi por isso que investimos tanto no ensino público, em todos os níveis, ao longo de nosso governo. Triplicamos o Orçamento do Ministério da Educação, em valores reais, porque entendemos que o dinheiro aplicado no ensino não é gasto: é um investimento no nosso povo, o melhor investimento que qualquer país pode fazer. Fizemos isso por entender que a democracia é real quando um pai de família sabe que seus filhos, por meio da Educação, terão oportunidade de uma vida melhor.
A vocês que conquistaram essa oportunidade, tenho apenas um pedido a fazer: não desistam, por maiores que sejam as dificuldades e os desafios. Não desistam nunca de sonhar com um futuro melhor.
Muito obrigado.”