O ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva classificou a reforma trabalhista, que está em curso no Congresso Nacional, como uma verdadeira “bomba de Hiroshima” para o trabalhador brasileiro, nesta terça-feira (25), em entrevista concedida ao programa Jornal da Cidade, da Rádio Cidade, do Rio Grande do Norte. Ele também contou à repórter Anna Ruth que vai dar início a viagens pelo nordeste do país “para conversar com o povo do nordeste”.
“Eles não estão fazendo uma reforma, estão destruindo o que os trabalhadores conquistaram na última reforma. Está mais para uma bomba de Hiroshima”, afirmou. Para ele, a reforma não deve ser feita de cima pra baixo. “Eu fui líder sindical muito tempo e nós nunca nos recusamos a discutir uma reforma trabalhista, mas tem que ser em igualdade de condição entre trabalhadores e empregadores”.
Lula também criticou o fato do governo jogar nas costas do trabalhador os resultados de sua incompetência por não conseguirem gerir a previdência. “De 2004 a 2014, a Previdência e a Seguridade Social eram superavitária. Isso porque criamos 22 milhões de empregos, o salário aumentou em 74% e formalizamos mais de 6 milhões. Na medida em que o governo não cresce o salário não aumenta, o desemprego aumenta, diminui a arrecadação. Você não pode jogar nas costas do trabalhador a responsabilidade de arcar com falência da previdência”. Para o ex-presidente, quem propôs essa reforma não conhece a realidade dos aposentados e servidores inativos desse País.
Nordeste
Durante a entrevista, o ex-presidente contou que pretende dar início a uma série de viagens pelo Nordeste e disse que não se governa o País apenas de Brasília. “Vou fazer uma viagem pra conversar com povo brasileiro outra vez, para sentir o palpitar de nosso povo, a consciências de nossas mulheres”.
Lula destacou as conquistas e os avanços ocorridos no Nordeste durante seu governo, citando a Transposição do Rio São Francisco, que vai levar água para 12 milhões de pessoas, a construção de aeroportos e a melhoria na vida de quem se beneficiou dos programas sociais do governo do PT como Bolsa Família, Minha Casa Minha Vida e Mais Médicos. “Eu tenho autoridade para cuidar do povo, eu sei cuidar do povo, entendo a alma dele. Fiz a transposição porque eu, com sete anos, já carregava pote de água na cabeça. O Nordeste brasileiro não pode ser reconhecido pelo analfabetismo, pela fome, pela seca”. Sobre a transposição, ele disse que antes de seu governo faltava vontade política para reunir os três estados e chegar a um consenso. “Eu resolvi acabar com essa brincadeira colocando o Zé Alencar, o Ciro Gomes para definir projetos. Podíamos ter acabado em 2012, mas o dado concreto é que resolvemos um problema crônico que existia há mais de 300 anos, desde Dom Pedro II”.
Pesquisas
Durante a entrevista, Lula foi questionado sobre uma declaração do ex-presidente FHC sobre todas as últimas pesquisas divulgadas que trazem Lula na dianteira. O tucano teria dito que as pesquisas são apenas “projeções”, de acordo com a repórter da Rádio da Cidade, Anna Ruth. “Certamente meus adversários não criticariam as pesquisas se eles estivessem em primeiro lugar. Pior que nem em segundo estão. Você vê que nas pesquisas os tucanos desaparecem”, disse Lula. Para ele, as pesquisas mostram que o massacre e a perseguição feitas contra ele não surtem o efeito esperado, que é não deixar ele ser candidato. “Você sabe que apanho todo santo dia, é de madrugada, é no almoço, na janta, na hora da novela, todo santo dia. O que eu acho que preocupa meu adversários, que sonham me destruir para que eu não seja candidato, eh quando fazem uma pesquisa eu apareço em primeiro lugar, eles ficam pensando: o que mais vamos fazer para destruir esse Lula?”.
Lava Jato
Questionado sobre os desdobramentos da operação Lava Jato e se ele tinha alguma preocupação, Lula disse que “quem está mais preocupado são as pessoas da Lava Jato que mentiram e agora estão com dificuldade de provar” as denúncias contra ele. Segundo Lula, desde o início da operação já invadiram a casa do ex-presidente, quebraram seus sigilos fiscal e telefônico, devassaram as conversas com sua família e ainda não encontraram provas. “Se tem um cidadão nesse país que quer a verdade sou eu. Falo isso de coração aberto, se tem uma coisa que tenho orgulho foi de aprender com uma mulher nordestina analfabeta o que é ser pobre e andar de cabeça erguida”.