A ex-primeira-dama Marisa Letícia Lula da Silva recebeu (in memorian) nesta segunda-feira (27) o 5º Prêmio “Heleieth Saffioti – Mulher Destaque”, concedido pela Câmara Municipal de São Paulo. A honraria é entregue anualmente àquelas que agiram e agem em combate à discriminação social e pela defesa dos direitos das mulheres em São Paulo e no Brasil. Além de dona Marisa, também recebeu o prêmio o grupo “Promotoras Legais Populares”.
A vereadora Juliana Cardoso, presidente da Comissão de Defesa dos Direitos Humanos, Cidadania e Relações Internacionais, presidiu a sessão solene, que foi aberta com a apresentação musical do grupo “Cantadeiras”. Logo depois, tomou a palavra Herberth Ives Bongiovanni , irmão de Heleieth Saffioti, que dá nome à honraria. Ele agradeceu e louvou a existência do prêmio que leva o nome de sua irmã, e lembrou que a família doou para a Unesp (Universidade do Estado de São Paulo) os 15 mil volumes da biblioteca de Heleieth, focada em questões de gênero.
Na sequência, Vera Machado, representante da Marcha Mundial de Mulheres, uma das entidades que escolhe os premiados, destacou algumas das causas que levaram à definição de dona Marisa como uma das agraciadas neste ano: “Ninguém via realmente o papel de dona Marisa: o de não ser nem recatada, nem do lar, mas uma guerreira, que ajudou a construir o Partido dos Trabalhadores e dar suporte a uma Presidência da República. Até o ano passado, nós tínhamos, através do ex-presidente Lula e da presidenta Dilma Rousseff, nós tínhamos políticas de defesa dos direitos da Mulher no país.”
Depois, Marta Baião, líder no Centro Informação Mulher, disse: “Nós, com certeza, temos muito orgulho de Marisa Letícia, gostaria demais que ela estivesse vendo esta nossa homenagem.”
Já a coordenadora da Articulação Popular e Sindical de Mulheres Negras do Estado de São Paulo, Sandra Mariano: “Homenagear dona Marisa é homenagear quem tem na sua trajetória a luta das mulheres. Ela foi a companheira do presidente Lula, seu braço direito e esquerdo, mas não só isso. No ABC (região metropolitana de SP), ela trouxe a força das mulheres para a luta. Quem se pergunta se dona Marisa era feminista, basta ver sua história.”
Depois foi a vez da vereadora Juliana Cardoso tomar a palavra, para dizer: “Nossa companheira Marisa não aceitou o papel de primeira-dama que diminui as mulheres. Ela se dedicou a uma tarefa muito mais ampla, muito além do assistencialismo a que ficam relegadas as primeira-damas belas, recatadas e do lar. Ela ocupou o papel de força de uma mulher que luta, que trabalhou junto com outras mulheres metalúrgicas, que chegou a enfrentar, na rua, o enfrentamento das forças de repressão, na década de 1980. Depois, enfrentou a violência da perseguição ao presidente Lula e sua família, antes, durante e depois do seu governo e da presidente Dilma”.
Finalmente, a arquiteta Clara Ant, diretora do Instituto Lula, concluiu as manifestações de púlpito. Amiga e companheira de luta da família Lula da Silva há décadas, ela recordou as lutas grevistas da década de 1980, quando a residência do casal se transformou em uma segunda sede do Sindicato dos Metalúrgicos do ABC, então sob intervenção do governo federal.
Ela testemunhou: “A Marisa foi filha de benzedeira. Uma casa de benzedeiro é um lar que recebe as pessoas quando elas precisam de abrigo, de anteparo. Isso fez com que a Marisa desde sempre tivesse forças para cuidar de pessoas, para ajudar quem precisa. Quando as pessoas colocam sua própria casa à disposição da sociedade é que a gente vê o quanto são comprometidas com o destino do coletivo, do outro antes de si mesmo”.
A escolha das agraciadas com o Prêmio Heleieth Saffioti é feita pelas comissões de Direitos Humanos e de Promoção e Defesa dos Direitos da Mulher, da Câmara Municipal de São Paulo, além do Núcleo de Defesa da Mulher da Defensoria Pública do Estado de São Paulo, da União de Mulheres do Município de São Paulo, do Centro Informação Mulher (CIM), da Marcha Mundial das Mulheres e da Articulação Popular e Sindical de Mulheres Negras.
Quem foi Heleieth Saffioti
Heleieth Iara Bongiovani Saffioti (1934-2010) nasceu em Ibirá (SP) em 04 de janeiro de 1934. Graduou-se em Ciências Sociais pela Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras da Universidade de São Paulo (USP) em 1960 e dedicou toda sua carreira às questões de gênero e luta pelos direitos da Mulher.
Entre suas principais obras, estão: “Profissionalização feminina: professoras primárias e operárias” (1969); “A Mulher na Sociedade de Classe; Mito e Realidade” (1976); “Emprego Doméstico e Capitalismo” (1978); “Mulher Brasileira: Opressão e Exploração” (1984); “Violência de Gênero: Poder e Impotência” (1995).