Mentiras sobre Lula tiveram início há mais de 30 anos; veja as principais

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Não é de hoje que o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva e sua família são vítimas de mentiras e boatos infundados. Não raramente, tais mentiras são repetidas e fomentadas por setores da imprensa, partidos políticos e até funcionários públicos, como promotores e delegados.

Sempre buscando atingir a imagem do ex-presidente, as mentiras costumavam ganhar mais força em períodos eleitorais, sempre com o objetivo de prejudicar o desempenho de Lula nas urnas. Via de regra, a estratégia resulta em fracasso, mas já houve casos em que o golpe baixo atingiu seus objetivos.

De envolvimento com sequestros a propriedade inventada de grandes imóveis, no Brasil ou no exterior. De tráfico de influência a estratagemas para obter favorecimentos jurídicos. Leia, abaixo, a lista de mentiras já inventadas contra Lula, todas devidamente desmentidas com provas ao longo dos tempos.

– “Lula é dono de mansão no Morumbi”

Remonta ao início dos anos 1980 a primeira boataria de grandes proporções de que foi vítima o ex-presidente Lula. À época, ele recém fundara o PT, então um partido de proporções bem mais modestas do que hoje, com poucos mandatos eletivos conquistados.

Era o tempo em que pessoal que panfletava nas portas de fábricas em favor do PT ouvia rumores de que Lula tinha uma enorme mansão no Morumbi, e eram todos do partido uns tolos por acreditar no ex-sindicalista e no partido que fundara.

A boataria só teve fim anos depois, quando a realidade se impôs. Lula jamais deixou de morar em São Bernardo do Campo, desde que para lá se mudou, há cerca de 30 anos. Órgãos de fiscalização e controle, como Receita Federal e Ministério Público, jamais sequer aventaram a hipótese de Lula ser dono de uma mansão no Morumbi.

– A falsa ligação entre Lula e o PT com sequestradores de Abílio Diniz

O empresário Abilio Diniz, ex-proprietário do Grupo Pão de Açúcar –  foi sequestrado na capital paulista, em 11 de dezembro de 1989, entre o primeiro e o segundo turnos das eleições presidenciais de 1989, que estavam sendo disputadas em sua reta final por Lula e Fernando Collor de Mello.

Diniz foi libertado após ficar seis dias em cativeiro. O grupo de sequestradores era formado por quatro chilenos, três argentinos, dois canadenses e um brasileiro, ligados ao Movimento da Esquerda Revolucionária (MIR), que exigia resgate de US$ 30 milhões para libertar o empresário.

Após o estouro do cativeiro, a polícia paulista apresentou camisetas do PT e material de campanha de Lula, que teoricamente teriam sido encontrados em imóveis alugados pelo grupo de criminosos. O material acabou relacionando o Partido dos Trabalhadores à ação do MIR. Fernando Collor, então, fez farto uso do material em sua campanha.

A libertação do empresário aconteceu na véspera do segundo turno da eleição, quando Lula perdeu para Collor. A vinculação dos sequestradores ao PT foi avaliada como uma das causas da derrota do petista. A polícia só encerrou as investigações e colocou fim aos boatos meses depois das eleições, quando Collor já ocupava a Presidência da República.

O jornalista e escritor Mário Sérgio Conti esclareceu os fatos em seu livro “Notícias do Planalto”, publicado anos depois das eleições de 1989. “As investigações posteriores provaram que nenhum militante do PT estivera envolvido no sequestro de Abílio Diniz. Os sequestradores disseram em juízo que policiais civis os torturaram e, antes de os apresentarem à imprensa, os forçaram a vestir camisetas do PT.”

A Polícia Civil estava sob o comando do secretário da Segurança, Luiz Antônio Fleury Filho. A vítima, Abílio Diniz, protestou contra a tortura de seus algozes. Quase um ano depois, em outubro de 1990, o governador de São Paulo, Orestes Quércia, superior imediato de Fleury, disse numa entrevista ao Estado de S. Paulo que durante o sequestro ‘houve pressões no sentido de que se conduzissem as investigações para envolver o PT'”. Já o jornal “O Globo”, após as eleições, deu a manchete: “Sequestro de Abílio não foi político“.
– As mentiras da campanha de Collor sobre a filha Lurian

Poucos dias antes do segundo turno das eleições presidenciais de 1989,  Miriam Cordeiro, ex-namorada do então candidato do PT à Presidência, Lula, apareceu no programa eleitoral de seu adversário, Fernando Collor, para acusar o pai de sua filha Lurian de supostos defeitos morais. Ela o acusara de ser “racista”, “abortista” e de desprezar a filha que tinham tido.

Lula obteve direito de resposta concedido pelo TSE (Tribunal Superior Eleitoral) e, a pedido da própria filha, levou-a para frente das câmeras, onde desmentiu tudo que foi dito. Mas o estrago já havia sido e esta mentira foi mais um episódio a contribuir para derrota de Lula nas urnas em 1989.

Foi só anos mais tarde que a verdade veio à tona. A própria Miriam Cordeiro revelou que fora paga por Collor para caluniar o pai de sua filha naquele programa eleitoral. Sob o título “A vida confortável de Miriam Cordeiro“, reportagem publicada no Jornal do Brasil não deixava margem para dúvidas, tampouco as revelações de Miriam, que afirmou, referindo-se a contas da vida particular: “Eles (equipe de campanha de Collor) pagavam tudo”.

– Filho de Lula é dono da Friboi e da sede de uma faculdade pública

Um boato que se espalhou pela internet e redes sociais é o de que “o filho de Lula é dono da Friboi”. A Friboi é uma das maiores – se não a maior – indústria de proteína animal do mundo. Todas as mudanças em seu quadro acionário são acompanhadas de perto pelo mercado financeiro e pela imprensa econômica. Fosse algum filho de Lula um dos donos da Friboi, não haveria como tal fato não ser de conhecimento nacional, nem deixar de ganhar as páginas dos principais jornais do país.

Mas os fatos não são suficientes para barrar os boatos, que pululam nas redes sociais, sobre a propriedade do filho do Lula sobre a Friboi e muitos outros patrimônios, incluindo aviões, fazendas e até o campus de uma universidade pública.

A própria Friboi já teve que vir a público se manifestar contra a mentira. Já a família de Lula fez até B.O. na polícia na tentativa de conter os mentirosos. Chegaram a ser identificadas pelo menos seis pessoas dentre as que espalham mentiras sobre o patrimônio do filho do Lula.

Eles foram chamados a depor, e cinco compareceram.  Intimados, justificaram suas atitudes dizendo acreditar que os comentários sobre a compra de fazendas e aviões fossem verdadeiros. Desculparam-se alegando que não teriam “pensado na hora de fazer as postagens”. Apenas um dos intimados, Daniel Graziano, filho do dirigente do PSDB Xico Graziano, ex-chefe de gabinete e ex-secretário particular de Fernando Henrique Cardoso. não compareceu. À época, ele era gerente administrativo e financeiro do Instituto FHC.

Ainda sobre “o filho do Lula”, um dos últimos boatos apresentou como casa central de uma “fazenda do filho do Lula,” em Araçatuba (SP), a majestosa sede da Escola Superior de Agricultura Luís de Queirós (Esalq – USP), que pode ser vista na imagem acima.

– “Lula recebeu por palestras que jamais proferiu”

Após deixar a Presidência da República, em 2010, Lula era reconhecido mundialmente como um estadista que acabara de realizar a maior transformação social que o país já vivera. Passou a cobrar para dar palestras o mesmo valor que cobrava o ex-presidente Bill Clinton, e empresas como a InfoGlobo, que edita os jornais O Globo e Extra, não hesitaram em pagar, conforme já publicou a própria empresa, em reportagem nO Globo: “Além de divulgar o evento em seus jornais, a Infoglobo arcou com os custos dos palestrantes, inclusive do ex- presidente Lula”.

Procuradores do Ministério Público Federal no Distrito Federal, no entanto, afirmaram em mais de uma oportunidade que tinham desconfiança de que Lula não havia proferido as palestras que proferiu a empresas ao redor do mundo. Especificamente, afirmavam que Lula não havia proferido duas palestras na Angola, nos anos de 2011 e 2014.

Foi preciso que o Instituto Lula divulgasse a lista completa de palestras, bem como vídeos de algumas delas, proferidas em países tão díspares quanto Inglaterra e Angola, para acabar com a boataria que teve origem no núcleo duro do Ministério Público Federal no Distrito Federal. Clique aqui para assistir à palestra proferida por Lula na Angola em 2011, e aqui para acompanhar a palestra de 2014 do ex-presidente no país africano.

– “Lula é dono de uma mansão no Uruguai”

No ano passado, a revista Isto É, que recentemente viu multiplicar as verbas de publicidade advindas da Presidência da República , publicou reportagem em que afirmava ser Lula proprietário de uma mansão no Uruguai, na praia de Punta del Este.

Sem apresentar qualquer documento que comprovasse a exótica tese, o semanário se baseava em boatos ouvidos de guias turísticos. Em que pese a falta de provas, a negativa do ex-presidente e o fato de Lula jamais ter pisado em Pubta desde que deixou a Presidência, em 2010, a revista não deixou de publicar matéria de capa sobre o assunto. O jornalista da TV Globo Alexandre Garcia, então, deixou-se enganar pelo boato, e passou também a espalha-lo.

Semanas depois, visivelmente constrangido, Garcia publicou um desmentido de si mesmo. O áudio gravado pelo jornalista pode ser ouvido aqui. Já a revista Isto É ainda não se manifestou publicamente sobre o assunto.

– “Lula pediu favores a Gilmar Mendes”; o próprio ministro desmente anos depois

Em junho de 2012, a revista Veja acusou Lula de ter pressionado o ministro do STF Gilmar Mendes para adiar o julgamento do mensalão. Nelson Jobim, ex-deputado, ex-ministro do Supremo e ex-ministro da Justiça e da Defesa, que acompanhou o encontro, e Lula sempre negaram essa versão. Gilmar Mendes deixou a imprensa fazer barulho sobre o assunto, mas quando o Ministério Público quis ouvi-lo sobre o caso, não foi depor.

Anos depois, ao explicar o motivo de ter pego uma carona com o presidente em exercício, Michel Temer, até Portugal, onde o jurista queria passar férias, Mendes acabou provando o que Lula e Nelson Jobim diziam.

Em entrevista ao jornal O Globo, tratando do assunto, ele deixou claro que Lula nunca lhe pediu nada. “Jantei inúmeras vezes com Lula no Palácio da Alvorada, e as nossas mulheres sempre mantiveram um relacionamento de amizade. Mas nunca acenei com facilidades, e Lula nunca me pediu nada”
– As mentiras da vez: tríplex do Guarujá e sitio de Atibaia

Atualmente, a mentira que se conta é a de que Lula seria dono de um apartamento no Guarujá e de um sítio em Atibaia, no litoral e no interior de São Paulo, respectivamente. Líder nas pesquisas de intenção de voto para as eleições presidenciais de 2018, o ex-presidente sabe que o boato não será desmentido de livre e espontânea vontade tão cedo.

Os advogados de Lula não se cansam de provar na Justiça que essas não passam de mais mentiras a serem somadas à extensa lista de que Lula é vítima. Em Atibaia, Lula frequentava o sítio de amigos de décadas da família, mas o sítio não é dele, mas sim de donos reconhecidos que comprovaram a origem dos recursos para compra. E Lula ou sua família jamais foram donos, tiveram a chave ou usaram o apartamento do Guarujá. Lula esteve lá uma única vez, e sua esposa duas vezes, para avaliar se comprariam ou não o apartamento. Mais uma vez, como em todas as outras, o tempo se encarregará de trazer a verdade à tona.