O escritor moçambicano Mia Couto e o jornalista e escritor angolano José Eduardo Agualusa manisfestam apoio à democracia no Brasil. “Seguimos atentos, apoiando a liberdade, o amor pela diversidade, o respeito pelo outro”, afirmam.
Leia o manifesto na íntegra:
O Brasil nasceu de um passado de escravatura, violência racial e genocídio. Essas marcas estão ainda vivas. Apesar de tudo, o Brasil é um lugar de afetos profundos e de integração daquilo que parece estranho e diverso. Durante anos o Brasil foi, para nós, uma escola de vivência e de sensibilidades.
No Brasil recolhemos vozes que, afinal, eram as nossas. No Brasil fizemos eternos amigos e no Brasil encontramos, enfim, a nossa segunda pátria. O Brasil e os brasileiros inspiraram profundamente a nossa escrita, não existem palavras para dizer o quanto somos devedores do universo criativo da grande nação brasileira.
Não fomos apenas nós que encontramos no Brasil essa fonte de ensinamento. Angolanos e moçambicanos buscam no Brasil essa luz de quem há mais tempo faz seguir em frente.
É com grande temor que vemos que esse Brasil pode estar em risco de desaparecer. A tolerância está sendo substituída pelo ódio, o gosto de escutar o outro e o desejo de integrar a diferença parecem viver os seus últimos dias. Temos a crença de que nenhum pretenso salvador da pátria substitui o exercício da democracia e das instituições brasileiras. Estamos certos de que, como diz a canção, o Brasil reconhece a queda, se levanta, sacode a poeira e dá a volta por cima.
Seguimos atentos, apoiando a liberdade, o amor pela diversidade, o respeito pelo outro. Estamos com o Brasil que aprendemos a amar e que não queremos perder.
Não ao ódio, sim à democracia!
Sim à democracia, não ao ódio!