Os melhores juristas gostam de repetir o grande lema de Sobral Pinto: “a advocacia não é profissão para covardes”.
Minha amiga Eny, que o Brasil perdeu ontem de manhã, levou à risca a determinação de seu mestre querido, desde os primeiros dias como assistente em seu escritório, quando ainda cursava os últimos anos de Direito no Rio de Janeiro.
Advogada destemida de presos políticos durante a ditadura, foi a voz de mais alto volume nos tribunais de exceção denunciando as torturas implacáveis a que foram submetidos seus clientes. Muitos deles sem condições de garantir qualquer remuneração pelo seu trabalho corajoso.
Como todos já sabem, foi uma das idealizadoras do Projeto Brasil Nunca Mais, que apresentou a Dom Paulo Evaristo Arns, ao lado de Luiz Eduardo Greenhalgh e Sigmaringa Seixas. Integrou a Comissão Estadual da Verdade no Rio e foi responsável por depoimentos indesmentíveis em casos de mortes sob torturas de opositores ao regime de 1964.
O que não se pode esquecer, no entanto, é que manteve até o final de seus dias essa obstinada trajetória de defesa dos Direitos Humanos.
Foi derrotada, como todos os verdadeiros democratas, na resistência ao Impeachment de Dilma Roussef, que preparou o terreno para o desastre civilizatório que representa o governo atual.
Ergueu sua voz em defesa do Direito, quando Curitiba violou deliberadamente a Constituição Cidadã para satanizar a política, viabilizando esse mesmo governo que pode se medir pelas milhares de vidas humanas que o país poderia ter preservado.
Siga em paz, Eny.
Cuidaremos de valorizar seu legado e sua presença.
São Paulo, 5 de janeiro de 2022
Luiz Inácio Lula da Silva