Artigo de Alexandra Baldeh Loras*, consulesa da França no Brasil, em homenagem ao dia da mulher africana (31 de julho).
O Brasil não tem do que sentir vergonha. De fato, raros são os países que podem se vangloriar de ter elegido sucessivamente à presidência – e por dois mandatos consecutivos – um filho de analfabetos e uma mulher, confiando também a liderança do Supremo Tribunal Federal a um negro. Por outro lado, tendemos a esquecer de que quatro ex-presidentes do Brasil eram afrodescendentes: Nilo Peçanha, Campos Sales, Rodrigues Alves e Washington Luís.
Nestes casos, falar de um milagre brasileiro não é fazer mal uso desta expressão. Porém, e apesar de outras trajetórias exemplares como a de Marina Silva, os mais altos cargos brasileiros continuam pouco acessíveis para quem é mulher, pobre e negra.
Assim, a condição da mulher negra no Brasil parece não ter tirado proveito do formidável progresso social que a sociedade brasileira conquistou desde a volta da democracia.
Toda a população, e particularmente as classes sociais mais desfavorecidas, sem dúvida se beneficiou do boom econômico dos últimos 15 anos. As mulheres negras, especialmente atingidas pela pobreza, não foram excluídas deste progresso. Mas as estatísticas mostram que a sociedade brasileira continua ainda dominada pelos homens: as mulheres representam somente 6% dos conselhos de administração no Brasil. E, ser negra, parece duplamente prejudicial à mulher: em um país em que é negra mais da metade da população, somente são negras 1% das advogadas e menos de 1% das médicas.
A história, a escravidão e as condições socioeconômicas explicam objetivamente esse desmantelamento persistente da condição da mulher negra no Brasil.
A estas explicações se agregam fatores psicológicos que também freiam a evolução da condição da mulher negra e a mantém no status de uma cidadã de segunda classe (ou até de terceira classe, uma vez que os negros, independente de seu gênero, já ocupam esta segunda classe de cidadão) com muitas nuances; é como se, para muitos no Brasil e em outros lugares, a mulher negra permanecesse antes de tudo, se não como um objeto erótico, uma mulher para fins reprodutivos, condenada a educar sozinha seus filhos de pais múltiplos e às vezes desertores, e proscritas a empregos menos gratificantes e pagos com salários mais baixos.
Uma vez mais, percursos individuais brilhantes podem ocultar esta realidade ou menos dissimular sua amplitude.
Mas todos os estudos infelizmente apontam para a mesma direção: as chances de crescer na sociedade são reduzidas quando somos mulher e negra.
São culpados pela situação os preconceitos, o conservadorismo desta ordem social estabelecida; as mídias também, que veiculam sem questionamentos esta imagem caricatural de uma mulher negra vestida em trapos, em uniforme branco ou, nos melhores dos casos, em rainha seminua de bateria de escola de samba.
Mas são culpados também aqueles que reproduzem esse tipo de conduta e a falta de formação uma vez que a proeminência da história se transforma em resignação e submissão, impedindo à mulher negra de se projetar de outra forma e cada vez mais alto, ao invés de transmitir este sentimento de auto-depreciação até aos seus filhos.
Elas poderiam, contudo, explorar a lista de personalidades femininas, intelectuais e negras (que apresento ao final deste artigo) como fonte de inspiração atual para reconquistarem sua autoestima e assim também desconstruir a narrativa atual na qual a mulher negra é muitas vezes representada nas mídias audiovisuais a través de sua “inteligência física”: esportista, dançarina, cantora, empregada doméstica, amante de um homem casado… Nós devemos desconstruir e amenizar estas crenças para dar lugar a nosso potencial intelectual e a nossos talentos que têm que poder se expressar em todos os espectros da sociedade.
Mas esse não é um quadro só negativo e há esperança. As mentalidades evoluem e os comportamentos mudam. Os progressos são reais. As mulheres negras têm a taxa de presença em universidades que mais aumentou nos últimos dez anos (+58%), com todos os efeitos positivos que este movimento irá gerar.
Para retomar a expressão que Irene Natividade usa a respeito das mulheres, eu diria: “as mulheres negras, nós não estamos onde gostaríamos de estarmos, nós não estamos onde deveríamos estar, mas também não estamos mais onde nossas ancestrais estavam”.
Porém, se progressos reais foram alcançados, resta um longo caminho a percorrer. É o dever da sociedade, de forma coletiva, e o dever em especial dos atores e das instituições que podem melhor fazê-la evoluir, mas é também o dever das mulheres negras de se levantarem individualmente para fazerem valer seus direitos.
É tempo para as mulheres afrodescendentes no Brasil de “ter um sonho”, como Martin Luther King. E de realizá-lo.
(*) Alexandra Loras é francesa, filha de pai africano. É consulesa da França em São Paulo, ativista do movimento social e membro do Conselho África do Instituto Lula.
Heroínas, intelectuais, políticas e personalidades negras brasileiras:
– Dandara Dos Palmares:
https://pt.wikipedia.org/wiki/Dandara
– Teresa de Benguela :
https://pt.wikipedia.org/wiki/Teresa_de_Benguela
– Antoinieta de Barros :
https://pt.wikipedia.org/wiki/Antonieta_de_Barros
– Benedita da Silva :
https://pt.wikipedia.org/wiki/Benedita_da_Silva
– Janete Rocha Pieta :
https://pt.wikipedia.org/wiki/Janete_Rocha_Pietá
-Jurema Batista :
www.youtube.com/watch?v=s8agaOvWGKU
– Rosario Bezerra :
www.teresina.pi.leg.br/pagina/vereador?id=18
– Maria Olivia Santana :
https://pt.wikipedia.org/wiki/Olívia_Santana
Luciana lealdina de Araujo :
https://books.google.com.br/books?isbn=8574582255
Lelia Gonzales :
https://pt.wikipedia.org/wiki/Lélia_Gonzalez
https://www.youtube.com/watch?v=jDz8xFII544
Sueli Carneiro :
https://pt.wikipedia.org/wiki/Sueli_Carneiro
https://www.youtube.com/watch?v=UO_JWau8R7E
– Beatriz Nascimento :
https://pt.wikipedia.org/wiki/Beatriz_Nascimento
https://www.youtube.com/watch?v=-L6IUfOBZAQ
– Jurema Wernec :
– Cidinha da Silva :
cidinhadasilva.blogspot.com
– Djamila Ribeiro :
http://blogueirasnegras.org/author/djamila-ribeiro/
– Jarid Arraes :
jaridarraes.com
– Aline Djokic :
http://blogueirasnegras.org/author/aline-djokic/]
– Aline Ramos :
http://blogueirasnegras.org/author/aline-ramos/
Carolina de Jesus :
https://pt.wikipedia.org/wiki/Carolina_de_Jesus
https://www.youtube.com/watch?v=mLkJy86VU84
– Conceicao Evaristo :
http://blogueirasfeministas.com/2011/11/conceicao-evaristo/
– Ana Maria Goncalves :
https://pt.wikipedia.org/wiki/Ana_Maria_Gonçalves
– Ruth de Souza :
https://pt.wikipedia.org/wiki/Ruth_de_Souza
https://www.youtube.com/watch?v=aVauImGNUSc
Raquel trindade :
https://pt.wikipedia.org/wiki/Raquel_Trindade
– Livia Calmon :
jornalista na tv globo
– Elisa Lucinda Campos Gomes :
https://pt.wikipedia.org/wiki/Elisa_Lucinda
– Marina Silva :
https://fr.wikipedia.org/wiki/Marina_Silva
Joyce Silva :
https://pt.wikipedia.org/wiki/Joice_Silva
– Enedina Alves Marques :
– Arany Santana :
http://www.bahiaja.com.br/imprimir_noticia.php?idNoticia=30882
– Renata Felinto :
https://afroretratos.wordpress.com/renata/
– Zézé Motta :
https://pt.wikipedia.org/wiki/Zezé_Motta
– Theodosina Ribeiro :
http://primeirosnegros.blogspot.com.br/2009/08/n1-na-politica-paulista.html
– Luislinda Valois :
https://pt.wikipedia.org/wiki/Luislinda_Valois
– Eunice Aparecida de jesus Prudente :
http://direitousf.blogspot.com.br/2009/11/eunice-aparecida-de-jesus-prudente.html
– Ivone Caetano
http://odia.ig.com.br/noticia/rio-de-janeiro/2014-05-26/primeira-desembargadora-negra-do-tribunal-de-justica-denuncia-racismo.html
– Thais Araujo
https://pt.wikipedia.org/wiki/Ta%C3%ADs_Ara%C3%BAjo
– Glória Maria
https://pt.wikipedia.org/wiki/Gl%C3%B3ria_Maria
– Jéssica Ipólito
– Mãe Menininha
https://pt.wikipedia.org/wiki/M%C3%A3e_Menininha_do_Gantois
– Clementina de Jesus
https://pt.wikipedia.org/wiki/Clementina_de_Jesus
– Luisa Mahin
https://pt.wikipedia.org/wiki/Lu%C3%ADsa_Mahin
– Antonieta de Barros
http://www.palmares.gov.br/?page_id=8258
– Nilma Lino Gomes
https://pt.wikipedia.org/wiki/Nilma_Lino_Gomes
– Matilde Ribeiro
https://pt.wikipedia.org/wiki/Matilde_Ribeiro
– Negra Li
– Luana Hansen
http://blogueirasnegras.org/2013/08/30/entrevista-luana-hansen/
– Maju
https://pt.wikipedia.org/wiki/Maria_J%C3%BAlia_Coutinho
– Marta
https://pt.wikipedia.org/wiki/Marta_(futebolista)
– Leci Brandão
http://www.lecibrandao.com.br/
– Fabiana Claudino
https://pt.wikipedia.org/wiki/Fabiana_Claudino
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