“Em 1994, fui convidado para ver o [Nelson Mandela] no palácio”, relembra o ex-presidente Lula com frequência. “Quando eu cheguei, o povo passava e punha a mão nas paredes do palácio. Eu perguntei ao Mandela: por que tem essa fila de gente para passar a mão na parede?” A história ganha contornos ainda mais emocionantes neste 18 de julho, Dia Internacional de Nelson Mandela, celebrado em referência a sua data de nascimento, e em momentos em que o ódio e a violência política tentam silenciar os que lutam pela verdade e a democracia.
Prossegue Lula: “O Mandela me disse: Lula, esse povo não podia chegar a 10 km daqui, esse povo era massacrado. Agora que eu cheguei, eles podem vir, e, se quiserem, entrar. Eles ganharam liberdade. Só pelo fato de estarem aqui, estou realizado. Esse cara me deu essa lição”. A lição ele jamais esqueceria: “A palavra correta não é governar, é cuidar do povo. Você é eleito para cuidar do povo”.
Na ocasião, Lula fora convidado a ir a Pretoria para um encontro no Union Building, a sede do governo local a que ele se refere na história acima. Após 27 anos de cadeia, Mandela tornara-se presidente e consolidava sua trajetória como uma das mais importantes lideranças políticas do planeta. É sempre com respeito e carinho que Lula se lembra do líder, que conheceu há cerca de 30 anos, e com quem “cada reencontro foi uma nova lição de humildade e de comprometimento com a sorte dos famintos, dos desfavorecidos, dos perseguidos, dos silenciados”.
Mandela será sempre o maior símbolo mundial da paz, da democracia e da inclusão social.
Lula
Ganhador do Prêmio Nobel da Paz, em 1993, Nelson Mandela foi presidente da África do Sul entre 1994 e 1999 e teve uma vida marcada pela luta pela liberdade e contra o regime segregacionista do apartheid, que vigorou oficialmente no país entre 1948 e 1994. Advogado formado pela Fort Hare, Nelson Mandela esteve ligado à luta contra o apartheid desde a sua juventude.
Em 1944, participou da fundação da Liga da Juventude do Congresso Nacional Africano (ANCYL na sigla em inglês), entidade combativa ao regime segregacionista, que promovia atividades que foram desde a desobediência civil, com a “Campanha do Desafio”, à organização de greves de protesto.
Ele foi preso diversas vezes, e em 1964 recebeu uma condenação de prisão perpétua. Ficou atrás das grades até 1990, para depois ser eleito o primeiro presidente negro da África do Sul. Mesmo na cadeia, o líder continuou a inspirar as ações do movimento negro sul-africano. A luta pela sua libertação tornou-se global, com pressões e sanções por parte de organismos internacionais e governos à África do Sul, chamando a atenção para a situação em que vivia população negra do país.
Como bem destacou Lula em carta enviada em 2012, “sua luta mudou a África do Sul, lançou sementes fecundas de democracia por todo o continente africano e inspirou o mundo“.
Em dias desafiadores como esses em que vivemos, precisamos cultivar a memória das lutas e dos exemplos encarnados por Nelson Mandela. Este homem […] comungou com o amor e a esperança de seus irmãos, soube mobilizar as pessoas sem ódio e fortalecer a união de sua gente para enfrentar barreiras políticas e econômicas de seu país. Até então, isso parecia impossível.
Lula em 2012
Aquela não seria a única ocasião em que ambos de encontraram, mas é certamente memória marcante das falas de Lula. Em 2008, ambos estiveram juntos em Maputo, em Moçambique. “Estou muito honrado em receber o presidente Lula. Na minha idade, não me reúno mais com presidentes”, declarou o sul-africano. “Foi uma grata satisfação ter feito parte de uma geração que brigou contra o aparthead e ter me encontrado com Mandela algumas vezes”, relembraria Lula anos depois, em homenagem por ocasião de sua morte. “Tive o prazer de sentir o significado da conquista da liberdade por um povo. Acho que o grande legado de Mandela foi fazer com que as pessoas se descobrissem como força motora capaz de mover a sociedade.”
Ao longo dos anos, foram muitas as trocas, ideais, lutas e acontecimentos que aproximaram a trajetória de Lula da de Nelson Madela. Não à toa, o livro das cartas escritas por Mandela em 27 anos no cárcere foram uma das leituras a que Lula se dedicou nos 580 dias em ficou preso injustamente no prédio da Superintendência da Polícia Federal em Curitiba, vítima da perseguição jurídica e midiática com fins políticos que o manteve fora das eleições de 2018.
Nesse período, Lula jamais aceitou barganhar sua liberdade por sua inocência. Ao deixar o prédio curitibano, disse que saía mais fortalecido, mais corajoso. E a todo tempo reitera: “meu coração só tem espaço pra amor. Porque amor vai vencer nesse país. Não é o ódio que vai vencer nesse País!”
A lição de Nelson Mandela, de luta, perseverança, e de que o perdão pode curar os ódios de uma nação dividida são importantes no Brasil de hoje, onde o racismo ainda é muito forte e onde querem construir um apartheid social que lutamos tanto para diminuir. O ser humano não nasce odiando, ele é ensinado a isso. Então vamos ensinar as pessoas a serem mais justas, solidárias, sem nenhum tipo de preconceito.
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