Visivelmente nervoso, o presidente Jair Bolsonaro mentiu descaradamente em entrevista ao Jornal Nacional exibida ao vivo na segunda-feira (22). Para a surpresa de poucos ou de ninguém, o tom agressivo aumentava quando sua interlocutora era a âncora Renata Vasconcellos. Bolsonaro não consegue controlar o seu machismo.
Em vários momentos, o presidente não conseguia sequer ouvir as perguntas da jornalista sem interrompê-la. Isso quando a escutava. Com dedo em riste, ergueu a voz e tentou distorcer a pergunta, numa estratégia de tentar fazê-la cair em contradição.
Em um desses momentos, o tema em pauta era a atuação sabidamente insuficiente e negligente de seu governo durante a pandemia de covid-19. É público e notório a fala do presidente em que Bolsonaro disse que quem tomava a vacina poderia virar um jacaré. Era mais uma na série de ataques que ele promovia contra a vacinação e as medidas de restrição para o controle da propagação do novo coronavírus, causador da covid-19.
Ao longo de sua vida pública, Jair Bolsonaro sempre se achou no direito de interromper, mandar calar a boca e agredir jornalistas, especialmente as mulheres. Um mapeamento feito pela Associação Brasileira de Jornalismo Investigativo (Abraji) mostra que o Brasil registrou, no ano passado, um aumento de 79% no número de ataques contra mulheres jornalistas ou com viés de gênero. Ao todo, foram 119 ocorrências desse tipo —o que corresponde, em média, a um episódio de violência a cada três dias.
Outra pesquisa, essa divulgada elas organizações Gênero e Número e Repórteres Sem Fronteiras, aponta que 42% das jornalistas mulheres e/ou LGBTs já foram vítimas de violência online por causa do exercício da profissão e 85% se viram obrigadas a mudar o comportamento nas redes sociais como forma de se protegerem de ataques.
Um dos casos mais simbólicos desse comportamento que ameaça também a liberdade de imprensa acabou com a condenação, pelo Tribunal de Justiça de São Paulo, que decidiu que Jair Bolsonaro deveria indenizar a repórter Patrícia Campos Mello, da Folha de S.Paulo, pelo presidente ter insinuado, de forma mentirosa, que ela ofereceu relações sexuais em troca de informações para uma reportagem.
Mas o problema não é só o que Bolsonaro fala, mas o que não faz. O orçamento de combate à violência de gênero despencou ao menor patamar na gestão do atual presidente. Enquanto isso, como define o Boletim de Políticas Sociais do Ipea (Instituo de Pesquisa Econômica Aplicada), desde 2019 instituiu-se um “movimento de desmonte” de políticas públicas para as brasileiras.
Somam-se ao desastre econômico, ao desmonte de programas e a completa ausência de políticas públicas que cuidem de mulheres. O orçamento de combate à violência de gênero despencou ao menor patamar na gestão do atual presidente. O resultado? Em 2021, registrou-se um estupro a cada 10 minutos e um feminicídio a cada 7 horas, mostra o Anuário Brasileiro de Segurança Pública. Neste ano, só no Rio de Janeiro, a Polícia Militar atendeu em média 7 ocorrências por hora de casos de violência contra a mulher.
Na vida pessoal, seu histórico de agressões também é longo. O comportamento agressivo e ameaçador de Bolsonaro vem de muito tempo, e incluem ameaças, xingamentos e até murro.
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