O Brasil perdeu hoje um dos seus maiores símbolos na luta pela Justiça. Nossa América perdeu a voz destemida que enfrentou ditaduras truculentas e o braço amigo que abrigou centenas de refugiados que eram perseguidos nos países vizinhos. O mundo perdeu um vulto gigante na defesa universal dos Direitos Humanos.
Junto com Marisa, venho expressar com forte emoção o agradecimento de famílias inteiras, lideranças sociais, militantes dos movimentos populares, cidadãos e cidadãs de todas as colorações partidárias que tanto aprenderam com ele em décadas de convivência inspiradora.
Sua coragem sempre foi aquela das pessoas sábias e serenas, que dialogam sem preconceito com qualquer adversário e não enxergam inimigos em seu redor, caráter marcante de um apóstolo da pluralidade e da tolerância.
Sempre teve lado: o lado dos mais pobres.
Assumindo a autoridade de bispo em 1970, destacou-se na defesa dos direitos de presos comuns na zona norte de São Paulo. Poucos meses depois, tornou-se a voz dos presos políticos sobreviventes das torturas, que sempre reconheceram nele a energia contagiante de quem denuncia a violência e desmascara farsas policiais, sem nunca se recusar a bater na porta de um quartel ou dialogar com quem se dispusesse a isso.
Franciscano que era, seguiu o exemplo de seu mestre para seguir uma clara opção preferencial pelos oprimidos em sua Igreja da Libertação. Semeou e cultivou Comunidades Eclesiais de Base, revolucionou a formação dos seminários levando os futuros sacerdotes a viverem nos bairros da periferia. Impulsionou a Pastoral Operária, encorajou o trabalho da Igreja com as crianças, vocação profética de sua irmã Zilda até a morte trágica no Haiti.
Acalentou o sonho da agricultura familiar que conheceu em sua terra natal catarinense, Forquilhinha, como prova cabal e demonstração de que as pessoas do campo não estão condenadas a sofrerem fome e a viverem na miséria.
O Brasil perde muito. Mas não perde nenhum de seus ensinamentos e de suas lições.
Num momento tão difícil de nossa vida nacional, cabe recolher seu legado de dignidade e coerência como inspiração permanente. Cabe resgatar os ideais de esperança que Dom Paulo sempre apresentou como lema de uma vida inteira.
Que descanse em paz. Que busquemos segui-lo em seu bom combate.