O gabinete do ódio e suas milícias digitais têm promovido ataques incessantes de fake news contra o sistema eleitoral brasileiro nas redes sociais. Segundo o estudo Desinformação On-Line e Contestação das Eleições, feito pela Diretoria de Análise de Políticas Públicas da Fundação Getúlio Vargas (DAPP-FGV), só no Facebook, entre novembro de 2020 e janeiro de 2022, foram 394.370 postagens sobre fraude nas urnas eletrônicas e voto impresso auditável.
Ou seja, ao longo de 15 meses, os bolsonaristas postaram cerca de 888 posts por dia só sobre esse tema, o que equivale a mais de 1 post por minuto. E quem são as pessoas que passam 24 horas falando sobre isso? Políticos eleitos (curiosamente pelas mesmas urnas que eles contestam), pagos com o dinheiro do contribuinte para servir aos interesses reais da população. Ao invés de resolver problemas dos eleitores que os escolheram, preferem fazer campanha baseada em desinformação, uma vez que desde 1996 nenhuma fraude contra as urnas foi comprovada.
O primeiro emissor da mentira que as urnas eletrônicas estão sujeitas à fraude é o próprio Jair Bolsonaro que, por conta de suas falsas denúncias, teve seu nome incluído no inquérito em que o STF investiga as milícias digitais. O ocupante do cargo máximo do Poder Executivo deixa a fome voltar a crescer enquanto se preocupa em desinformar a população em posts nas redes, lives, declarações e pronunciamentos.
Segundo o estudo, 43% das mentiras mais populares sobre o tema entre os anos de 2020 e 2022 são da página de Bolsonaro, que ainda figura entre os perfis que mais têm interações nas publicações com as notícias falsas sobre urnas eletrônicas e voto impresso.
Mas, obviamente, ele não está só na publicação de mentiras nas plataformas sociais. O presidente aparece em quarto lugar, ficando atrás dos deputados federais Carla Zambelli (PL/SP), Bia Kicis (PL/DF) e Filipe Barros (UB/PR) – todos bancados com salários e verbas de gabinete vindos dos cofres públicos.
A deputada federal bolsonarista Carla Zambelli é a campeã das postagens. De longe, é a pessoa que mais publicou sobre o assunto, com 1.576 publicações, ou seja 105 posts por mês – uma média de 3,5 a cada dia. Utiliza seu mandato público diuturnamente para espalhar desinformação. O conteúdo sobre o tema atraiu 7.961.826 em interações.
Conhecida defensora de Bolsonaro, ela já utilizou verba pública para passear em evento político nos Estados Unidos. Também mobilizou sua estrutura para fazer campanha contra a vacinação das crianças e dos servidores públicos. Por conta disso, foi multada por litigância e má-fé pela Justiça de São Paulo.
Além de ser o segundo maior disseminador de inverdades sobre urnas eletrônicas, com 261 mensagens que atraíram 4.884.829 interações, o deputado paranaense Filipe Barros é acusado pela Polícia Federal (PF) de ter vazado para Bolsonaro um inquérito que investiga suposto ataque hacker ao TSE. Com isso, ele, segundo a acusação, buscava fabricar falsa notícia de que tal ataque teria sido feito contra as urnas eletrônicas. Como informa o relatório da PF: “na condição de funcionários públicos, revelaram conteúdo de inquérito policial que deveria permanecer em segredo até o fim das diligências”.
A parlamentar Bia Kicis, que foi presidente da Comissão de Constituição e Justiça (CCJ) da Câmara Federal, além de integrante do mais fanático batalhão de choque de defesa dos bolsonaristas, figura em terceiro lugar na lista dos disseminadores de mentiras sobre as urnas eletrônicas com 256 mensagens e 6.855.975 interações.
Além de normalizar o uso de mentiras nas eleições em uma CPI, a deputada contratou empresas de tecnologia com verba de gabinete para ampliar a disseminação de desinformação sobre o sistema eleitoral brasileiro.
Ela contratou duas empresas, a R$ 6,5 mil, para ajudar na divulgação do projeto do voto impresso auditável, do qual ela é autora, muitas vezes utilizando táticas de desinformação e fake news. As empresas Inovatum e GoHawk receberam dinheiro público para gerenciar uma comunidade de Telegram e uma página de cadastramento, respectivamente.
Antes disso, segundo a Agência Pública, ela utilizou verba pública para contratar o marqueteiro Sérgio Lima, que teria sido responsável por suas redes sociais, conhecidas pela divulgação de eventos antidemocráticos e pela desinformação sobre vacinas e contra as urnas eletrônicas.
Kicis e outros deputados do PSL à época foram os primeiros clientes da empresa de Sérgio, a Inclutech Tecnologia de Informação, no começo de 2020. Até fevereiro do mesmo ano, a companhia ainda atuava no setor de cosméticos. Sua atividade econômica foi alterada, na Junta Comercial de São Paulo, de “comércio varejista de cosméticos, produtos de perfumaria e de higiene pessoal, lojas de variedades” para prestar serviços publicitários.
A parlamentar bolsonarista também foi a primeira cliente da Produtora Futuro e da BM Gestão de Mídia Sociais, criadas em janeiro e março, respectivamente. As duas são da pequena Cornélio Procópio, no interior do Paraná.
A BM Gestão de Mídia Sociais foi registrada em nome de Lindara da Silva, que, segundo ela, é sogra do verdadeiro dono do negócio, Humberto Bernardino da Silva, conhecido como Beto Morato, filiado ao MDB desde 1985 e militante do movimento Nas Ruas. Já Izael Tomaz, dono da Produtora Futuro era suplente de verador do PSDC e teria aberto novo CNPJ só para prestar serviços à Bia Kicis.
Com baixo comprometimento com a verdade, a parlamentar do DF foi recentemente suspensa do Instagram por “repetidas violações às regras da comunidade” e foi bloqueada por sete dias no YouTube por divulgar conteúdo falso sobre a vacinação infantil.
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