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O que está por trás do Ebola

Na semana passada, o Instituto Brasil
África reuniu em Fortaleza, Ceará mais de 200 autoridades do Brasil e do
continente africano a fim de discutir alternativas na área de infraestrutura
entre o os dois lados do Atlântico. Nos dois dias do 2º Fórum Brasil África,
muitos investidores brasileiros relataram que o retorno do investimento na
África é maior do que em qualquer outra região emergente do planeta. A
explicação, de acordo com a maioria dos especialistas se baseia principalmente
no grande potencial de consumo de sua população, estimada em mais 1,1 bilhões
de pessoas(com perspectivas de chegar a 2 bilhões em 2050), proporcionando às
empresas uma força de trabalho maior do que até mesmo a China ou a Índia.

Durante o evento, ficou evidente que
a África tem testemunhado alguns saltos tecnológicos notáveis. Uma década
atrás, infraestrutura de telecomunicações era quase inexistente. Hoje, uma em
cada seis pessoas possui um telefone móvel, cujos benefícios vão muito além de
uma comunicação fácil. A África foi pioneira no uso de mobile banking,
demonstrando como as novas tecnologias podem oferecer serviços financeiros
vitais para a população sem conta bancária. De forma criativa, o dinheiro móvel
(créditos nos celulares) elimina a necessidade de dinheiro físico em áreas
rurais, onde os serviços financeiros são limitados.

Dentre as conclusões apresentadas por
representantes de muitos governos da África, agentes de organismos brasileiros
e empresários, se destacam as oportunidades de parcerias em diversas áreas nos
próximos anos no setor de infraestrutura. Por outro lado, o rápido crescimento
econômico do continente e da urbanização também está criando novos desafios,
notadamente por que a expansão econômica está ocorrendo não apenas nos centros
urbanos, mas em pequenas cidades. E um desses desafios, senão o mais importante
neste momento é condição e de saúde da população e a assistência médica
inadequada.

Agora, os países africanos de forma
integrada, através de ações isoladas e coletivas, precisam enfrentar de
urgentemente seus problemas internos, e assim evitar o duplo fardo das doenças
transmissíveis e não transmissíveis, o que certamente poderia comprometer o
potencial económico do continente. E para o combate ao problema, três áreas
críticas e imprescindíveis devem ser abordadas:a tecnologia,a infraestrutura e
educação.

Como exemplo prático, juntando a
revolução da telefonia móvel citada anteriormente, a empresa Novartis através
do uso de mensagens de texto e o mapeamento eletrônico está trabalhando com
cinco governos africanos e alguns parceiros do setor privado na distribuição de
medicamentos e monitoramento da malária em áreas rurais.

Antes, os pacientes precisam se
deslocar aos postos de saúde para descobrir que os medicamentos que precisavam
não estavam mais em estoque. Agora, graças ao SMS, os medicamentos vitais podem
ser rapidamente redistribuídos para onde eles são mais necessários.

Outro eficiente exemplo é apresentado
pela brasileira Fiocruz que na década 1990 iniciou suas atividades de
cooperação com os países de língua portuguesas da África através do envio de
instrutores para ajudar a divulgar recomendações sobre a saúde pública. Em
2005, a empresa expandiu suas atividades com o objetivo de fornecer a
capacidade institucional de cada país para criar a sua própria governança da
saúde pública e construir seus sistemas. Recentemente a Fiocruz começou as
operações de sua unidade de produção de antirretrovirais em Moçambique.

Um segundo aspecto fundamental da
melhoria dos cuidados de saúde em África é infraestrutura. Boas linhas
ferroviárias, estradas e portos permitem que os produtos e serviços sejam
amplamente distribuídos a um custo menor, e para beneficiar de economias de
escala. Esse é um componente essencial do desenvolvimento econômico de qualquer
país. Aqui, cabe destacar que muitas empresas brasileiras já estão oferecendo
alternativas de melhorias infra estruturais em diversas regiões de África. Mas
o espaço ainda está bastante aberto para aquelas que ainda não atravessaram o
Atlântico.

Finalmente, a educação deficiente
também afeta a saúde. Embora a África represente um sétimo da população do
mundo, a Organização Mundial da Saúde denuncia que o continente tem um quarto
do número global de doenças, contando com apenas 2% dos médicos de todo o
mundo. Sem surpresa, muitos problemas de saúde resultam de ignorância sobre
doenças e higiene básica. 

A educação, indiscutivelmente, é uma
das ferramentas mais poderosas para reduzir a pobreza e gerar inclusive um
crescimento econômico sustentável. Neste sentido, as parcerias público-privadas
estão ajudando a mudar este quadro.

A título de exemplo, cito a
iniciativa conjunta do Instituto Terra, ONU e várias empresas privadas que
decidiram treinar e implantar até o ano 2015 um milhão de agentes comunitários
de saúde na África Subsaariana com o objetivo de levar tratamento básico e
cuidados preventivos, além de rastrear surtos de doenças.

A África certamente está na agenda
global e agora com os muitos óbitos causados pelo vírus do Ebola o continente
está (deveria estar muito mais) no centro das discussões. Esta semana a
Organização Mundial de Saúde reuniu em Genebra, Suíça, mais de 200
especialistas para revisar os recentes desenvolvimentos em possíveis
tratamentos para o Ebola e discutir as possíveis curas e vacinas para a doença
mortal.

Algumas vacinas estão sendo
desenvolvidas por pelo menos três empresas e os testes em humanos estão
programadas para começar até o final deste ano.

Na contramão da eficácia dos
resultados, de forma paliativa, na última quarta-feira, a ONU informou que
destinaria 600 milhões de dólares para fornecer os materiais necessários para
conter e propagação de combate de Ebola. No mesmo tom, as autoridades de saúde
dos EUA dizem que a chave para a contenção do surto será aumentar o número de
centros de tratamento de Ebola, fornecendo equipamento de proteção para os
trabalhadores de saúde e monitoramento dos contatos de pessoas infectadas.

Não restam dúvidas que o continente
africano está cada vez mais mostrando sinais de sua promessa, e as soluções
inovadoras para melhorar a saúde de seu povo são essenciais para que o
continente mostre o seu potencial.

Além de filantropia, as ações exigem
novos modelos comerciais que resolvem problemas de saúde, ajudem a economia a
crescer, e beneficiem aqueles que investem no futuro da África.

Publicado originalmente em: http://www.opovo.com.br/app/opovo/mundo/2014/09/06/noticiasjornalmundo,3310438/o-que-esta-por-tras-do-ebola.shtml

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