O ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva participou na noite desta segunda-feira (13) do debate de lançamento do livro “10 anos de governos pós-neoliberais no Brasil – Lula e Dilma”. Em sua fala, Lula disse que o maior legado que deixou em sua presidência não foi nenhum dos programas sociais de êxito, mas sim ter mostrado que é possível “governar de forma republicana sem aqueles que me odiavam”. Para o ex-presidente, “o palácio, que até então era para reis e rainhas, banqueiros e grandes empresários, continuou sendo. Mas com uma diferença: é que lá entravam também os índios, os hansenianos, os moradores de rua, os favelados, fazendo com que, pela primeira vez, aquela fosse uma casa de todos e não apenas de uma parcela da população brasileira”.
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Lula participou do debate com o economista Marcio Pochmann, presidente da Fundação Perseu Abramo, da filósofa Marilena Chauí e do sociólogo e organizador do livro, Emir Sader.
O ex-presidente lembrou das 74 conferências nacionais que fez, “sobre todos os temas que vocês possam imaginar. E eu ia lá para ouvir mais do que falar”. Nessas conferências, Lula abriu as portas do planalto para catadores de recicláveis, de hansenianos, para deficientes visuais acompanhados de cães-guia, e para os sem-teto, entre outros.
Sobre as críticas que recebeu desde o início de seu governo, Lula foi direto: “eu tinha consciência que meu problema com parte da elite política desse país e da elite da imprensa brasileira era meu sucesso. Se eu fracassasse, eles falariam bem de mim: ‘coitadinho do operário. Coitadinho chegou lá, mas não tem culpa, não tava preparado, não fez nossa escola’.”
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Lula provou que não era preciso esperar o bolo crescer para depois dividir
O economista e atual presidente da Fundação Perseu Abramo lembrou de mudanças estruturais pelas quais o Brasil passou. E fez um mea-culpa em nome dos economistas, que apostaram durante décadas que era preciso primeiro crescer para depois dividir o bolo, ideia que Lula provou estar errada. “Em 1980, o Brasil era a oitava economia do mundo, enquanto um em cada dois brasileiros vivia em condição de miséria”, lembrou. “No ano 2000, já tínhamos caído para a 13ª posição entre as maiores economias do mundo, atrás do México na América Latina, tínhamos 11 milhões de desempregados”, disse, enquanto lembrou que o Brasil vive situação próxima ao pleno emprego atualmente.
Mudanças que não foram conquistadas nem com 60 anos de movimento feminista
A professora Marilena Chauí citou o Bolsa Família, o Prouni e a criação de uma nova classe trabalhadora no Brasil como exemplos da transformação que o Brasil viveu. Para Marilena Chauí, “o efeito do Bolsa Família para as mulheres, conseguiu alterar o conceito e o modo de operação da família de um jeito que seis décadas de feminismo não conseguiram”. No programa Bolsa Família, é a mulher quem recebe o cartão com o benefício, e ela tem autonomia para escolher como gastá-lo. A professora diz ainda que o criticado Prouni, ao lado do Enem e das cotas estão preparando uma revolução na educação brasileira no longo prazo, ao serem capazes de acabar com a indústria do vestibular e provocar uma reestruturação do ensino. Por fim, ela lembrou que o Brasil tem agora não uma nova classe média, mas uma nova classe trabalhadora como sujeito político de comportamento bastante diferente da classe média tradicional.
O livro
Essencialmente uma reflexão sobre os rumos da política brasileira na última década, o livro ofereçe um panorama dos desafios enfrentados pelo País. Além de trazer uma rara e inédita entrevista com o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, a obra reúne 21 artigos de alguns dos principais intelectuais engajados e ativamente envolvidos na política dos últimos anos.
Clique aqui para saber mais detalhes sobre o livro, no site da editora Boitempo.
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