Só neste ano, a “inflação da gasolina” já passa dos 51%. Os resultados desses aumentos se espalham por toda a economia, os combustíveis afetam o custo de todas as mercadorias que precisam ser deslocadas pelo país.
Mais do que uma commodity, o petróleo é um recurso estratégico para qualquer país. Uma crise de combustíveis afeta a capacidade de um país se defender, de hospitais receberem seus pacientes, de políticas garantirem a segurança pública e – não menos importante – de a comida chegar nos mercados e no prato das famílias.
Historicamente, o Brasil tratou quase sempre o petróleo como um produto estratégico. Em 1953 Getúlio Vargas estabeleceu o monopólio estatal na criação da Petrobras. Mesmo os militares investiram em pesquisa e – contrariando os analistas americanos que diziam não existir petróleo na costa – encontraram uma enorme reserva na Bacia de Campos, importante até hoje. No governo FHC houve a quebra do monopólio estatal, em 1995 e a privatização de partes da empresa, apesar da resistência dos petroleiros.
E foi no governo Lula em que a Petrobras atingiu seu maior vigor. Cresceu mais de sete vezes, acumulou lucros recordes de produção, chegou a ser a quarta maior empresa do mundo, ultrapassando gigantes como a Microsoft.
Mais do que uma exportadora de óleo cru, a Petrobras passou a ser uma indutora do crescimento do país. Com a lei de conteúdo local, uma parte de tudo o que a petrolífera comprava precisava vir de fornecedores nacionais. Isso incentivou uma cadeia de centenas de empresas, indo desde fornecedores de uniformes e alimentação para trabalhadores até estaleiros de equipamentos multimilionários como sondas ou navios petroleiros.
Mas tudo isso acabou com o golpe de 2016. O projeto de país que patrocinou o golpe com Temer e continuou com Bolsonaro reverteu a política de investimentos na Petrobras, a transformando em uma mera vendedora de óleo cru. A petroleira foi fatiada e colocada à venda a preço de banana. Apesar de esses negócios serem muitas vezes desvantajosos, entram nos balanços recentes como lucro, simplesmente porque a empresa está se vendendo unidades enormes, que nunca mais darão faturamento à petroleira.
O cientista político William Nozaki, diretor do Instituto de Estudos Estratégicos do Petróleo e Gás Natural Zé Eduardo Dutra (Ineep) conta que a Petrobras colocou à venda oito de suas 13 refinarias, o que representa mais de 50% da capacidade de refino nacional. Ou seja, um país autossuficiente de petróleo, em vez de produzir aqui, pagando salários em real, diminuiu a porcentagem de refino nacional para pagar gasolina mais cara, vendida em dólar lá fora.
Pode parecer um contra-senso. E é mesmo.
O atual presidente Jair Bolsonaro tenta colocar a culpa em governadores, citando em impostos que não aumentaram nesse período. Mas é na própria descrição da missão da Petrobras que está escrito e confesso a causa da disparada nos preços dos combustíveis no Brasil. Desde 2016, a principal missão da Petrobras é “ser a melhor empresa de energia na geração de valor para o acionista”. E é o que ela está fazendo agora, preservando os lucros dos acionistas, enquanto o resto do Brasil paga o pato com combustível caro e a perda de empregos que antigamente eram gerados aqui.
Originalmente postado em https://institutolula.org/politica-de-bolsonaro-levou-a-disparada-da-gasolina
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