Precisamos falar dos que morreram para nos garantir democracia, diz Lula em sessão do filme Marighella

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A defesa da democracia foi o tema mais lembrado pelos participantes da sessão do filme Marighella no Sindicato dos Metalúrgicos do ABC, na noite desta sexta-feira (3). Entre os convidados, o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva falou da importância de se contar a história de pessoas que lutaram para que o Brasil avançasse em direção a uma sociedade mais democrática.

“Nós precisamos divulgar, contar, falar o significado da luta de pessoas como Carlos Marighella que morreram para nos garantir a democracia”, disse Lula aos presentes, que puderam assistir ao filme dirigido por Wagner Moura e que retrata a história de vida do ex-deputado, poeta e guerrilheiro brasileiro que foi assassinado pela ditadura militar em novembro de 1969. O filho de Marighella, Carlos Augusto, e a neta, Maria participaram do ato. Atores do filme e lideranças sindicais também estiveram presentes.

Em seu discurso, o ex-presidente ressaltou que a história oficial sonega ao povo conhecer a trajetória heróica de pessoas que resistiram e buscaram construir a democracia no país em várias épocas. “Toda vez que aparece alguém defendendo os humildes, os mais pobres, essa pessoa é tolida. Ela é presa, ela é assassinada, ela é caçada. Assim foi a história da escravidão nesse país. A gente não sabe porque a história oficial não conta”, disse Lula.

Para ele e para vários dos participantes da sessão especial do filme, este processo de omissão das histórias dos lutadores e lutadoras brasileiros faz com que nossa democracia ainda esteja pela metade.

“Esse é um ato pra gente valorizar a democracia e a gente precisa aprender que a democracia é muito maior do que a gente possa imaginar”, disse Lula. “Tem muita gente que acha que democracia é um pacto de silêncio. A gente tem que acatar quem ganhou, não pode protestar, tem que ter uma só religião, o ensino tem que ser de um único jeito. Não. A humanidade é plural, o ser humano é plural. Nós temos diferenças e é nas nossas diferenças que a gente tem que construir a nossa democracia.”

História de Marighella é sonegada

“A verdade sobre Marighella tem sido sonegada da nossa juventude”, disse Carlinhos Marighella. Para ele, o resgate da memória de seu pai feito pelo filme contribui para fortalecer “nosso trabalho e nossa capacidade de construir uma sociedade justa”.

A neta de Marighella, Maria, destacou que o filme tem sido exibido em diversas sessões populares, em espaços dos movimentos sociais pelo Brasil. “A gente hoje está chamando a história, a memória e refundando em cada terreiro do Brasil os nossos sonhos e as nossas utopias”, declarou. “Nós devolveremos a democracia ao tabuleiro da política brasileira, que nos foi tirada no golpe de 2016.”

O longa-metragem Marighella foi impedido de estrear em janeiro de 2020 por conta de um processo de censura disfarçado de burocracia implementado via Agência Nacional do Cinema (Ancine). Para O ator Luiz Carlos Vasconcellos, esta perseguição ao filme acabou contribuindo para que ele ganhasse ainda mais significados. “Não podia ser momento melhor para que a história de Marighella e a verdadeira história desses homens e mulheres seja contada”, disse Vasconcellos, que interpreta Joaquim Câmara Ferreira, um dos fundadores, ao lado de Marighella, da Aliança Libertadora Nacional. Ferreira foi preso, torturado e morto pela ditadura militar em 1970.

Marighella ainda está em cartaz e já é o filme brasileiro mais assistido no ano.