Durante a Conferência Nacional “2003-2013: uma nova política externa”, o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva disse que o Brasil, historicamente, viveu de costas para a América Latina, olhando para a Europa e sem ver a África. “Não sei como isso era possível”. Lula falou durante mais de duas horas a estudantes e professores da Universidade Federal do ABC (UFABC), em São Bernardo do Campo, e as relações com a África foram um dos temas principais do discurso do ex-presidente.
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Lula começou dizendo que o Brasil tem um compromisso moral e ético com a África. Uma dívida com um povo que ajudou a construir nossa nação e que não pode ser paga em dinheiro, mas pode ser paga em solidariedade e em cooperação. “Por isso que eu fui ao Senegal pedir desculpas”, disse. O ex-presidente lembrou que, em seu governo, a corrente comercial com a África passou de cinco para 26 bilhões, conquista que foi alcançada enquanto também aumentava o comércio com os parceiros ricos e tradicionais da Europa e dos EUA.
Cooperação
“O Brasil cresceu muito, mas ainda se vê como um país muito pobre. O Brasil ainda se vê como receptor, e não como doador”, disse Lula. Ele lembrou que o país já é a sexta economia do mundo e que o dinheiro para cooperação internacional ainda é muito pouco. “Sei que o governo está muito empenhado, mas ainda é possível fazer um pouco mais. O nosso dinheiro para esse setor [cooperação] é muito pequeno, quase nada”. Lula também reclamou da burocracia e da dificuldade em investir no desenvolvimento “de quem mais precisa”.
O carinho e a expectativa que os africanos têm pelo Brasil foram mencionados várias vezes durante o discurso. “Ajudar significa, além da solidariedade, botar um pouco de dinheiro, para levar nossa tecnologia, nossa experiência, nossas empresas brasileiras para produzir lá, até para exportar para nós”. Lula lembrou que a África tem um problema sério de energia, uma área em que o Brasil tem capacidade de ajudar. Assim como na produção de alimentos. A Embrapa já identificou, segundo o ex-presidente, muitas similaridades entre o solo da savana africana e do nosso cerrado. “Vocês não sabem, porque são muito jovens, mas há 40 anos o nosso cerrado era tido como imprestável [para o plantio]”. Hoje o Brasil é referência mundial em tecnologia agropecuária tropical, que transformou completamente esse panorama. Assim como nosso cerrado, “a savana africana pode produzir milhões de toneladas para matar a fome. E o Brasil pode ajudar com tecnologia”.
Lula elogiou o trabalho da presidenta Dilma Rousseff, que está trabalhando para destravar as complicações burocráticas da cooperação internacional. “A nossa presidenta teve uma medida extraordinária de criar uma diretoria no Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) para a África. A nossa deficiência foi de tamanha magnitude que só emprestávamos para quem não precisa”, disse.
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