Projeto de venda da Eletrobras é precário e contraria interesses da sociedade

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Fotos: Ricardo Stuckert

Após reunião com o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, nesta sexta-feira (11), o grupo de ex-ministros e especialistas da área econômica reafirmou preocupação com as dificuldades que a população brasileira está enfrentando por causa do aumento do custo de vida e a falta de ação do governo Bolsonaro. Lula se encontrou com o grupo na Fundação Perseu Abramo para discutir a alta da inflação e o peso dos combustíveis e da energia elétrica na composição dos preços.

Além da alta dos combustíveis, o grupo abordou a decisão equivocada do governo Bolsonaro de privatizar a Eletrobras. O presidente da Fundação Perseu Abramo, Aloizio Mercadante, alertou que o projeto do governo para a venda da estatal é precário e contraria os interesses da sociedade. Com a transferência da estatal de energia para a iniciativa privada, disse, o Estado perderá a capacidade de regulação e de gestão do setor. “Vai acontecer o que está acontecendo com a Petrobras. Vamos ter tarifas abusivas que prejudicam não só as famílias, prejudicam a competividade do país”, afirmou Mercadante, durante coletiva à imprensa, ao lado da presidenta Nacional do PT, Gleisi Hoffmann, e do senador Jean Paul Prates.

Eles destacaram a importância de o TCU, que está analisando a proposta de venda, impedir esse grave equívoco contra os interesses nacionais. A presidenta do PT afirmou que, se efetivado ainda este ano, o processo de privatização da Eletrobras teria que ser revisado, num eventual novo governo petista. “É um crime de lesa-pátria no país. Aliás, a gente já tem ação no Supremo sobre isso, fez representação no TCU”, disse Gleisi, acrescentando acreditar que o governo não conseguirá concluir o processo neste ano, mesmo se aprovado no TCU.

 “Está complexo e é um modelo muito ruim que eles fizeram, muito ruim. Agora, eu acho que seria prudente, para quem está querendo comprar, que esperasse. Pode ser que a gente não volte ao governo e eles concluam essa barbaridade, mas, se nós voltarmos, nós temos obrigação com o país de rever um processo desse”.

Gleisi alertou para incompatibilidade do processo, considerando o preço que eles estão estipulando, o patrimônio que vai ser entregue e o papel fundamental que a Eletrobras tem para o desenvolvimento do Brasil. “São duas empresas fundamentais, Petrobras e Eletrobras. Não tem como fazer desenvolvimento nesse país se as duas empresas não estiverem dentro de um projeto de Estado brasileiro”.

O senador Jean Paul Prates ressaltou que o processo é facilmente reversível, recomprando o controle.  “Ninguém vai fazer nada traumático. Todas essas coisas que estão sendo feitas agora, felizmente, têm solução e solução não traumática”.

O senador enfatizou que o projeto não tem sequer uma análise de impacto tarifário, para se avaliar quanto a privatização afetaria as famílias brasileiras. “Vender a holding do sistema elétrico e não ter nenhuma análise de impacto de tarifa é o absurdo dos absurdos. É disso que a gente está falando. E é isso que a gente vai passar o resto do ano denunciando e apresentando soluções”, disse, destacando a importância de mostrar para o setor produtivo também que “isso é bom para todo mundo”.

Petrobras

A reunião desta sexta-feira teve participação da ex-presidenta Dilma Rousseff, dos ex-ministros Nelson Hubner e Luiz Dulci, do ex-presidente da Petrobras José Sergio Gabrielli, e de outros quadros técnicos dos governos petistas. 

Sobre a Petrobras, o posicionamento é o de que os preços dos combustíveis no Brasil não devem ter paridade com os preços internacionais. Segundo o presidente da Fundação Perseu Abramo, a alta descontrolada dos combustíveis está associada à política de paridade, agravada pela forte valorização do câmbio.  “Isso tem significado tarifa abusiva, penalizando fortemente a sociedade. Quem paga a conta mais alta são os mais pobres pelo peso que o transporte coletivo tem na renda familiar”, disse Mercadante.

Gleisi Hoffmann disse que a política de reajustes da Petrobras é uma extorsão do povo brasileiro. “Cobrar combustíveis como estão cobrando e colocar a centralidade na distribuição de lucros e dividendos é inverter o papel que a Petrobras sempre teve na história do Brasil, de ser um instrumento do desenvolvimento.  Por que temos que dolarizar? Você dolariza a parte que vai importar, aquilo que você precisa de complemento, que você não consegue produzir e pode ter uma média de preço internacional.  Isso é muito grave e está custando muito caro ao povo brasileiro, pagando uma das gasolinas mais caras, e o diesel e o gás de cozinha”.

A dirigente do PT também enfatizou o impacto da alta de preços na inflação, gerando perdas para todos os lados e disse que é preciso fazer a sociedade brasileira entender o que realmente aconteceu na Petrobras durante os governos petistas e o que está acontecendo agora. “O que temos que esclarecer é isso. A Petrobras está sendo assaltada é agora para os interesses privados de gente que está levando altos lucros. Isso tem que mudar. Não pode ficar assim. O povo brasileiro não pode pagar esse preço”.