A menos de um mês das eleições, os brasileiros se enchem de esperança por um futuro melhor. Porém, para ao menos 684 mil famílias, esse futuro jamais será completo. São os órfãos da covid. Centenas de milhares de pessoas que perderam a mãe, o pai, os avós e até mesmo os filhos para a doença. Pelo menos 400 mil dessas mortes estão na conta de Bolsonaro. Ele sabotou pessoalmente a compra de vacinas, estimulou o uso de medicamentos ineficazes, boicotou medidas de proteção a idosos e fez piada com quem estava morrendo. Jamais esqueceremos.
Bolsonaro trabalhou ativamente para que milhares de brasileiros morressem. Tanto fez que conquistou uma medalha mórbida: o Brasil foi o pior país do mundo na gestão da pandemia. Somos 3% da população mundial e tivemos 10% dos mortos por covid na pandemia. Em um governo Lula isso não teria acontecido. Como Bolsonaro conseguiu?
Quando a pandemia de covid-19 foi decretada, em março de 2020, havia pouca informação sobre as formas de contágio e ainda não existia vacina. Por se tratar de uma infecção viral, transmitida pelo ar de maneira semelhante à da gripe, a única medida sabidamente eficaz era diminuir as aglomerações humanas.
Bolsonaro negou a gravidade da doença, acusou a mídia de estar exagerando e imediatamente começou a boicotar o isolamento social e o uso de máscaras. Àquela altura, eram as duas únicas medidas conhecidas para barrar a doença. Bolsonaro insistia em não usar máscara, promovia aglomerações e vociferava contra o STF e os governadores e prefeitos que tentavam evitar mortes.
A falácia de Bolsonaro insistia que era preciso mover a economia a qualquer custo, mesmo que esse custo fosse a morte de brasileiros.
Enquanto demonstrava sua insensibilidade e desprezo pelas mortes, dizendo: “Não sou coveiro” e “Quer que eu faça o quê?”, Bolsonaro espalhava fake news a favor da cloroquina. Ele foi um dos principais responsáveis por incentivar o uso de medicamentos inúteis para combater a covid, como a cloroquina e a ivermectina. Até o jornal bolsonarista R7 admitiu que usar cloroquina aumentou as mortes de quem estava com covid, em abril de 2021.
Além de mentir para os brasileiros, Bolsonaro obrigou laboratórios do Exército a produzirem o medicamento, o que se revelou uma operação, além de inútil, fraudada e superfaturada.
Laboratórios do mundo inteiro desenvolveram e testaram, em tempo recorde, vacinas para conter as mortes por covid. No final de 2020, Astrazeneca e Pfizer já tinham vacinas seguras e eficazes e tentaram, em vão, vender lotes para o Brasil. Durante meses, Bolsonaro ignorou mais de 100 emails da Pfizer oferecendo vacinas. Esse número veio a público na CPI da Covid, que em 2021 revelou outros escândalos, como a tentativa de compra de uma vacina indiana Covaxin mediante propina.
Além do boicote às medidas de proteção da população, a demora de Bolsonaro em comprar vacinas foi responsável por 400 mil mortes evitáveis durante a pandemia.
Dia 8 de dezembro de 2020 a Inglaterra começou a vacinar seus cidadãos. A vacinação no Brasil só começaria quase dois meses depois, 17 de janeiro de 2021, por um esforço da Fiocruz e do Butantan, instituições públicas de Saúde.
A vacinação começou a conta-gotas e contra a vontade de Bolsonaro. Em março de 2021, com mais de 260 mil mortos, ele se irritou com a busca pelo imunizante: “Vai comprar vacina, só se for na casa da sua mãe”. Antes de o Senhor da Morte assumir a presidência, o Brasil era um dos países com melhor sistema de vacinação do mundo, com campanhas de vacinação em massa periódicas e bem sucedidas. Sob Bolsonaro, o Brasil amargou meses de vacinação vagarosa e escalonada por comorbidade e, depois, por idade, enquanto milhares de pessoas morriam.
Bolsonaro é insensível. Nunca demonstrou pesar pelas vítimas da covid. Além do “Não sou coveiro” e do “Quer que eu faça o quê?”, também desdenhou da necessidade de comprar vacinas pediátricas. Em dezembro de 2021, quando 618 mil brasileiros já tinham morrido pela doença, ele disse: “Não tá havendo morte de criança que justifique [a vacina pediátrica]”.
A covid matou duas crianças menores de 5 anos por dia no Brasil. Os dados são da Fiocruz. Ao todo, 1.439 crianças morreram por Covid-19 nos dois primeiros anos da pandemia no país. Nada que tire o sono de Bolsonaro. Nem a morte dos filhos, nem a morte dos pais.
Em dezembro de 2021, outra pesquisa trouxe dados desoladores: o Brasil tinha 282 mil órfãos da covid, ou seja, crianças e adolescentes que perderam tanto a mãe quanto o pai para a doença. Ainda não existe uma política nacional de reparação ou apoio a esses brasileirinhos. Sob Bolsonaro, nada indica que haverá.
Em setembro de 2021, um estudo publicado pelo jornal da USP mostrou que, no Brasil, as mulheres negras foram as principais vítimas da covid. O estudo analisou dados do ano anterior e confrontou as diferenças por raça, gênero e tipo de ocupação. Mesmo exercendo as mesmas ocupações, a mortalidade pela covid-19 é diferente para homens e mulheres, entre pessoas brancas e negras.
Mulheres negras morrem mais de covid-19 do que todos os outros grupos (mulheres brancas, homens brancos e negros) na base do mercado de trabalho, independentemente da ocupação. O estudo também mostrou que homens negros morrem mais por covid-19 do que homens brancos, independentemente da ocupação.
Trabalhadores agrícolas, autônomos do comércio e trabalhadores dos transportes foram os que mais morreram, em números absolutos. Em números relativos, líderes religiosos, trabalhadores da segurança, da saúde e das artes e cultura foram as maiores vítimas da covid-19 em 2020.
E daí? Dirá Bolsonaro. Para o senhor da morte, órfãos da covid são como prêmios na estante.
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