O sonho da casa própria, acalentado pela maioria dos brasileiros, está mais difícil de ser realizado. Num cenário de inflação e juros altos, o financiamento ficou mais caro e as condições para obtenção de crédito mais difíceis.
Com base em dados da Melhortaxa, empresa que compara taxas de financiamentos imobiliários, o portal UOL revela que o financiamento de um imóvel de R$ 300 mil em 30 anos ficou R$ 90 mil mais caro, no intervalo entre março de 2021 – quando a Selic era de 2% ao ano- e maio deste ano, quando a taxa básica de juros chegou a 12,75% ao ano.
A reportagem detalha que num imóvel de R$ 300 mil, com 80% do valor (R$ 240 mil) financiado, o crédito custaria R$ 490 mil ao fim das 360 prestações, numa conjuntura de juros a 2%. Para conseguir o crédito numa instituição financeira, o interessado precisaria comprovar uma renda de R$ R$ 6.532,22.
Neste mês de maio, o mesmo imóvel de R$ 300 mil, com financiamento de 80% do valor em 360 prestações, custa R$ 580 mil ao fim dos 30 anos. A pessoa interessada em contratar o empréstimo precisaria comprovar renda 25% maior, de R$ 8.184,59.
A reportagem diz que a principal consequência da conjuntura é a restrição ao crédito, levando os consumidores a desistirem do projeto casa própria.
Em declaração à reportagem, Paulo Chebat, CEO da Melhortaxa no Brasil, diz perceber uma inversão. “As pessoas que precisam do empréstimo não conseguem, e quem busca o crédito só porque tem uma aplicação que rende mais no banco é aprovado. Desde o final de dezembro percebemos uma diminuição nas negociações de financiamento”, afirmou.
O levantamento, feito a pedido do UOL, simulou a diferença de custos, considerando juros a 2% ao ano e a 12,75% ao ano, para imóveis de R$ 300 mil, R$ 500 mil, R$ 750 mil e R$ 1 milhão. Em todos os casos, muito acima da possibilidade das classes mais pobres da população, há aumento das prestações iniciais e finais e maior dificuldade para fechamento da operação de crédito.
Governos petistas priorizaram direito à moradia
A questão da habitação foi prioridade nas gestões petistas. Além de ter dobrado o acesso ao crédito imobiliário nos governos Lula, um dos marcos do segundo mandato do ex-presidente foi a criação do Minha Casa Minha Vida, maior programa habitacional do Brasil criado para enfrentar o déficit habitacional, especialmente das famílias com menor renda, que completa 13 anos em 2022.
Entre 2009, quando o programa foi lançado, e 2016, quando o golpe tirou a presidenta Dilma Rousseff do poder, foram contratadas 4,2 milhões de casas e entregues 2,7 milhões, beneficiando cerca de 10 milhões de pessoas em 96% dos municípios brasileiros.
Do total entregue, 52% foram para famílias com renda de até R$ 1.600, 39% para renda de até R$ 3.275 e 9% para famílias com renda entre R$ 3.275 e R$ 5000.
O volume de investimentos em habitação gerado no Brasil pelo Minha Casa Minha vida foi sem precedentes. Durante os governos petistas, o programa alavancou um montante da ordem de R$ 300 bilhões, impactando significativamente a economia. O MCMV gerou 1,7 milhão de empregos diretos e indiretos. O número de empresas de construção imobiliária cresceu 48% e o seu faturamento aumentou 54%, segundo dados do IBGE.