Em entrevista à Telam, Lula afirma que as universidades desempenharão um papel na redefinição da empregabilidade dos jovens, que hoje não têm esperança
O ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva afirmou que a geração de empregos deve ser a prioridade dos governos, para criar oportunidade para os jovens e assegurar que a sociedade viva em paz e em harmonia, com menos violência contra a mulher, a juventude e os negros. Para ele, o estado está muito ausente das necessidades do povo e precisa cumprir suas obrigações.
Em entrevista à Bernarda Llorente, da emissora pública argentina Télam, Lula disse que a humanidade terá que se reinventar e criar oportunidades de trabalho para os jovens, adequadas com as demandas da indústria digital. “Temos que acreditar na formação profissional dos jovens. As universidades desempenharão um papel na redefinição da empregabilidade dos jovens, que hoje não têm esperança. Temos que ter a humildade de reunir todos os setores da sociedade e tentar oferecer a esses jovens a segurança de que terão um futuro com formação profissional. Se assim não for, não teremos saída em curto prazo para lidar com a juventude”, declarou.
O ex-presidente defende que Brasil, Argentina e países da região reúnam universidades, empresários e governos para enfrentar o desafio do novo emprego. Ele destacou que a chamada indústria de dados, hoje dominada por Estados Unidos e China, vive uma guerra tecnológica. “Eles têm 90% das informações dessa indústria, que transformará seres humanos em algoritmos. Em outras palavras, eles vão decidir muitas coisas por nós. Eles vão pensar por nós. Isso é muito ruim e muito desagradável. Que devemos fazer? Argentina, Brasil e os países da região devem aproximar universidades, aproximar empresários e governos para tentar enfrentar os desafios do novo emprego que temos que criar”.
Forte política de inclusão social
Lula disse que o pobre precisa estar no orçamento e precisa ser tratado não do ponto de vista sociológico, filosófico ou acadêmico, mas do coração. “Quando o governo se senta na mesa com os ministros para decidir o orçamento, tem que saber qual é a parte dos pobres. Se deixar para dar para os pobres o que vai sobrar, não vai sobrar nada porque a elite burocrática vai tomar tudo”.
De acordo com ele, para governar com forte política de inclusão social é preciso romper barreiras e brigar com determinados setores para conseguir fazer distribuição de renda. “Os pobres terão que ser a solução e não o problema. Quando eles participarem, eles serão a solução”, disse em conversa com a jornalista Bernarda Llorente, presidente da Télam.
Para o ex-presidente, o grande desafio é fazer com que o pobre seja respeitado na economia, na política, na educação, na cultura e na cidadania. “Ninguém defende que as pessoas sejam pobres. O que queremos é que elas saiam da pobreza, passe para a classe média e possa consumir o que produzem. É preciso melhorar a vida do povo brasileiro e acabar com a desigualdade e com a fome”, disse acrescentando que quando o pobre trabalha e tem um pouco de recurso, vira consumidor e faz com que a economia cresça.
De acordo com Lula, para conseguir governar e fazer as mudanças necessárias para transformação social, é preciso fazer alianças. “É mais fácil ganhar uma eleição do que governar. Governar você vai tentar colocar em prática sua teoria e nem sempre é fácil”. Por isso, disse, é preciso convencer as pessoas de que quando se vota num presidente, é preciso eleger também uma bancada no Congresso que pense igual a ele. “Só a vontade do presidente não resolve”.
Recuperar o Brasil e reorganizar a América Latina
Lula defendeu a unidade da América Latina e a união dos países da região, criando instituições multilaterais fortes para fazer contrapeso à guerra tecnológica entre Estados Unidos e China e negociações comerciais melhores com as diversas regiões do mundo. “Precisamos recuperar a possibilidade de fazermos a diferença como um bloco homogêneo forte. Precisamos fortalecer instituições multilaterais que nos coloquem em posição de independência em relação ao mundo”. Como exemplo, ele defendeu a criação do Banco do Sul, a interação tecnológica entre as universidades e a recriação do Conselho de Defesa da América do Sul.
De acordo com o ex-presidente, os limites para construção da aliança é a defesa da democracia. A aliança será construída com base num programa que possa despertar no povo trabalhador a certeza de que a economia vai crescer, vai ter mais empregos e que ele vai usufruir dos benefícios desse crescimento.
Assista à entrevista de Lula para Bernarda Llorente, do programa Mano a mano, da Télam: