O ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva exortou as empresas brasileiras a “vender seu peixe” em países africanos e disse que o país deve atuar como um “mascate”. “A gente não vê mascate vender muito na avenida Paulista [em São Paulo], mas ele vende muito na periferia”, disse Lula, durante o encerramento do seminário “As relações do Brasil com a África, a nova fronteira no desenvolvimento global”, promovido pelo Valor, nesta quarta-feira (22), na Confederação Nacional da Indústria, em Brasília.Ele assegurou que sempre defenderá investimentos do país no continente africano. “Não cobrarei um centavo de ninguém para defender empresa brasileira em qualquer parte do mundo. Desde que ela faça coisa lícita, pode contar comigo”, prometeu.
“Em qualquer país da América do Sul, quando você liga a televisão em um quarto de hotel, você vê canal árabe, chinês, japonês e não vê um brasileiro. E vocês sabem, quem não se comunica, se estrumbica”, completou, arrancando risadas da plateia ao citar o apresentador de TV já falecido Chacrinha.
Para Lula, as empresas brasileiras “não podem repetir os erros que os Estados Unidos e Inglaterra cometeram no fim do século XIX e início do século XX”, e os empresários devem “colocar negros africanos para serem diretores de nossas empresas”.
Ele explicou que quando era operário, na década de 70, os diretores das empresas eram estrangeiros. “Nas fábricas da Volkswagen, acima de peão, era tudo alemão. Ou seja, a gente não podia passar de peão.”
Para Lula, “os investimentos brasileiros devem se guiar por parcerias com empresários africanos, no respeito à lei e nos direitos dos trabalhadores”. Além disso, o Brasil “deve incentivar a transferência de tecnologia e oferecer contrapartida social, contratar mão de obra local”.
Lula atacou as “empresas que chegam na África e não contratam trabalhador de lá”. “Quando elas saem, não fica um trabalhador formado. O Brasil não pode repetir esse jeito de se relacionar com a África”, frisou.
O ex-presidente ressaltou a importância do relacionamento com os países africanos, dizendo que o “apoio maciço” do continente foi “fundamental” para a recente vitória do embaixador brasileiro Roberto Azevêdo para dirigir a Organização Mundial do Comércio (OMC). Lula disse esperar que ele retome as negociações da Rodada Doha. “É melhor que a gente faça um acordo único e garanta que mais comércio possibilite a melhoria de vida para as pessoas.”
O ex-presidente frisou que “tudo o que um país produtor precisa é de consumidor”. “E quanto mais pobre consumir, mais chance temos de vender”. Para ele, não se trata de ideologia. “Aqui não tem Keynes, Marx, Lênin, ninguém. Foi inserir o pobre no Orçamento da União que a economia brasileira deu um salto de qualidade. Na hora que colocamos os pobres pra comprar iogurte, tomar leite, comprar carne, frango, roupa, a economia brasileira deu um salto.”
Ele criticou a política de países europeus. “O que não pode acontecer é a tese da [chanceler alemã] Angela Merkel. Quanto mais aperto fiscal, mais desemprego, como está acontecendo na Europa.”
Para o ex-presidente, a África vive um período de “renascença” e, do ponto de vista da organização e criação de instituições multilaterais, “o continente africano está mais evoluído que a nossa querida América Latina”. Ele citou como um “enorme passo” o lançamento do programa de desenvolvimento da infraestrutura da África, que prevê investimentos de US$ 360 bilhões até 2040, e que, segundo ele, é norteado pelo “mesmo espírito do Programa de Aceleração do Crescimento (PAC)”.
O seminário teve público de cerca de 350 pessoas, entre empresários, diplomatas brasileiros e africanos, e outros representantes governamentais. Os palestrantes apresentaram a África como o continente de maior oportunidades no mundo, que quer deixar de ser um “coitadinho” que recebe ajuda humanitária para ser um grande destino de investimentos em áreas como infraestrutura, mineração, agricultura e bens de consumo.
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