Vida de Lula

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Em dezembro, Dona Lindu reúne os filhos, vende a casa e os poucos pertences, e embarca num pau-de-arara rumo a São Paulo. Foi graças a uma peça pregada por Jaime que a mãe e os irmãos chegaram ao litoral paulista. Aristides, analfabeto, ditava as cartas que queria enviar para a mulher enquanto o filho, alfabetizado, redigia. Numa delas, dizia que a vida em Santos estava difícil e insistia para que a mulher permanecesse em Pernambuco. O filho fez o contrário. Passando-se por Aristides, orientou a mãe a vender tudo e partir a seu encontro. A família segue o fluxo migratório predominante na época, rumo aos Estados do Sudeste, em franca industrialização. Milhares de retirantes repetiriam o mesmo trajeto nas décadas seguintes, fugindo do clima e da falta de perspectivas na terra natal, carente não apenas de chuvas, mas principalmente de investimentos.Apenas em janeiro de 1952, entraram em São Paulo 23 mil nordestinos. A tendência só seria reduzida na década de 2000, quando políticas de distribuição de renda e de criação de empregos encampadas pelo então presidente Lula fizeram com que o IBGE registrasse, em 2010, um movimento de retenção da população nordestina e também de retorno dos retirantes a seus Estados. O que mais recebeu gente de volta, na ocasião, foi justamente Pernambuco. Após 13 dias de viagem, espremida no caminhão com outros retirantes, a família desembarca no Brás, na capital paulista, e segue para Santos. Um barco os leva finalmente a Vicente de Carvalho, onde reencontram Aristides e Jaime. Assustado, o pai não demonstra alegria ao rever a mulher e os filhos. Pelo contrário, fica nervoso ao dar pela falta do cachorro Lobo, que ficara no sertão.

 “Meu pai era um poço de ignorância. Um dia, em 1952, a minha irmã tinha uns três anos, eu via meu pai comendo pão e a minha irmã pedindo um pedacinho. Meu pai pegava os pedacinhos de pão e ia jogando para os cachorros. Ele não dava para ela. Isso me marcou muito. Na época eu tinha uns oito ou nove anos.”