Atraído pelo irmão Frei Chico, apelido dado pelos colegas em razão da calvície em estilo franciscano, Lula visita pela primeira vez o Sindicato dos Metalúrgicos de São Bernardo do Campo e Diadema, então presidido por Afonso Monteiro da Cruz. Diz considerar a política sindical muito chata, com discussões desnecessárias, a ponto de preferir ficar em casa vendo novela. Os principais temas em debate eram assistencialistas, como construção de colônia de férias e melhoria do departamento médico. A partir do ano seguinte teria início o chamado milagre econômico, quando a recessão seria substituída pela expansão inflada graças a empréstimos estrangeiros e ao aumento da dívida externa. Muitos operários do ABC recebiam bons salários e gozavam de um padrão de vida próximo ao da classe média, o que desmotivava a mobilização política, em especial entre os operários nordestinos, cientes do quanto a vida poderia ser pior e temerosos de perder o emprego. Após assistir às primeiras assembleias, no entanto, Lula passa a se entusiasmar com as disputas e com os debates acalorados entre bons oradores. Agora, sentia-se como se estivesse diante de uma partida de futebol.
“Eu queria só ser um bom profissional, ganhar meu salário, viver minha vida. Ter filhos. Nada disso de ser liderança sindical me passava pela cabeça.”