O ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva recebeu nesta segunda-feira (29), em São Paulo, uma delegação de parlamentares europeus para debater questões globais do mundo contemporâneo, como as mudanças climáticas e os riscos da democracia, além do avanço de governos autoritários e a necessidade de estabelecer uma cooperação institucional para combater esses problemas.
“Se nós ganharmos as eleições, vai ficar muito claro que o Brasil precisa de parcerias em ciência e tecnologia, participação da construção de um mundo efetivamente limpo”, disse ele. “E o Brasil pode ser protagonista nisso. Se nós voltarmos, nossa parceria será mais forte do que antes, porque nós aprendemos o tanto que é importante manter parcerias, ter relações sérias e respeitosas, sem que ninguém tenha uma hegemonia sobre o outro. Nós queremos parcerias, relação de iguais, onde todos possam ganhar e que ninguém perca”, completou.
Na ocasião, o ex-presidente brasileiro fez um balanço dos últimos acontecimentos políticos, como a vitória dos progressistas Gabriel Boric no Chile, Alberto Fernández na Argentina e Gustavo Petro na Colômbia. “E nós estamos no embate aqui no Brasil para ver se conseguimos recolocar a democracia na governança do país”, disse.
Sobre o conflito na Europa, entre Ucrânia e Rússia, Lula acusou a falta de diálogo. “Não concordamos em hipótese alguma da ocupação territorial de um país por outro. Eu acho que a guerra foi precipitada, faltou diálogo, liderança e interesse para evitar a guerra”, declarou.
Cooperação institucional
Os europeus vieram ao Brasil liderados pela deputada espanhola Iratxe Gracia Perez, que preside o grupo Sociais e Democratas (S&D), que ocupam 154 cadeiras no Parlamento. Segundo a política, o encontro aconteceu com o objetivo de dialogar sobre o futuro e sobre esperança.
“Depois das eleições estamos seguros que uma nova janela de oportunidades se abrirá para o Brasil. Com um presidente como Lula, que devolva a esperança para tantos homens e mulheres que estão vendo como está se deteriorando a imagem do país no exterior”, afirmou.
Perez disse que as lideranças europeias estão preocupadas com o Brasil, justamente por ele ter perdido seu protagonismo no Cone Sul. “O governo de Bolsonaro tem exemplos muito claros, como o enfrentamento à pandemia. O aumento da pobreza depois das grandes conquistas no governo Lula. Estamos vendo os ataques claros e evidentes contra minorias, como as mulheres, a misoginia de Bolsonaro”, disse.
“O Brasil deixou de liderar um papel importante no âmbito global. Cremos que hoje a Europa e a América do Sul vivem uma nova onda de progressismo. A União Europeia, o Brasil e a América do Sul precisam retomar a cooperação institucional, e para isso nós precisamos retomar a cooperação política. Somos aliados naturais, compartilhamos os mesmos valores de justiça, democracia e solidariedade. E apoiar Lula é apoiar o povo brasileiro. É o melhor para o povo brasileiro um governo presidido por Lula”, completou a presidenta do grupo.
Desafio pela paz
Para o economista Aloizio Mercadante, que é coordenador do Plano de Governo da chapa Lula-Alckmin, o planeta enfrenta um gigantesco desafio na luta pela paz, o que demanda maior cooperação institucional.
“Eu gostaria de falar da importância que vocês [parlamentares europeus] possuem na luta pela democracia, contra o fascismo, contra o nazismo, na luta pela reconstrução da Europa. E agora nós vivemos na América Latina um processo de uma extrema direita sem nenhum compromisso com a democracia, com direitos humanos, e vocês são parceiros nessa luta global de uma sociedade civilizada”, disse.
Mercadante também destacou a urgência de combater o aquecimento global. “O Brasil é muito importante para enfrentar os extremos climáticos, um tema que está na pauta e precisa entrar com prioridade na agenda política. Temos um país que tem uma gigantesca responsabilidade pela Amazônia, e um governo que não tem nenhum compromisso com essa agenda. Desmatamento, milícia e crime organizado [estão] na floresta”, completou.
Memorando
Gleisi Hoffmann, por sua vez, observou que somente com cooperação institucional e diálogo será possível construir um mundo melhor. Na ocasião, políticos brasileiros e os europeus assinaram um memorando de colaboração mutua.
“Estou muito feliz e é uma honra para o Partido dos Trabalhadores receber os deputados europeus. É tempo de reforçar nossa cooperação, temos muitas lutas em comum. A discussão da democracia, dos direitos humanos, dos trabalhadores. Nós estamos em conversação sobre um memorando de colaboração que devemos assinar, o que pra nós é um motivo de alegria”, disse a presidenta nacional do PT.
Presente na reunião, o ex-ministro das Relações Exteriores Celso Amorim defendeu uma nova diplomacia brasileira, para que o país volte a ser protagonista no debate internacional. “Estamos antecipando uma mudança, a aliança entre América Latina, América do Sul e Europa, se estendendo a África. É muito importante para enfrentar os grandes desafios do mundo, guerra, mudanças climáticas, desigualdade e pandemia. É isso que nos une de modo geral, o que foi a política externa do ex-presidente Lula e o que será [numa nova eleição]”, completou.
Comitiva internacional
Além da deputada Perez, estavam presentes na comitiva internacional Pedro Marques, vice-presidente do S&D (eurodeputado do PS português); Maria Manuel Leitão Marques, coordenadora S&D da Assembleia Parlamentar Euro-Latino-americana (eurodeputada do PS português); Javi Lopez, copresidente da Assembleia Parlamentar Euro-Latino-americana (eurodeputado do Partido Socialista da Catalunha/Espanha); Andreas Schieder, copresidente do Global Progressive Forum (eurodeputado do Partido Social-Democrata da Áustria); Laura Ballarin Cereza, chefe de gabinete da presidenta S&D.
Também estavam presentes Victoria Martin de la Torre, porta-voz da presidenta S&D; David Capezzuto, assessor de Política Externa, gabinete do presidente S&D; Luca Fossati, assessor do Comitê de Comércio Internacional, Coordenador para Eurolat, Mercosul e América Central; Teresa Mergulhão, chefe de Unidade de Relações Exteriores do S&D; Sergei Stanishev, presidente do Partido Socialista Europeu (búlgaro); Giacomo Filibeti, secretário-geral do Partido Socialista Europeu (italiano); Francisco André, vice-presidente do Partido Socialista Europeu (português).