A violência política não surgiu agora mas, nitidamente, aumentou no Brasil com a ascensão do bolsonarismo. Quando um político fala abertamente em “metralhar”, “eliminar” e “matar” seus oponentes e isso é tolerado, o embate deixa de acontecer no campo das ideias e se transforma em crimes reais. Os assassinatos de Marcelo de Arruda, em Foz do Iguaçu (PR); Benedito Cardoso, em Confresa (MT) e Antônio Carlos Silva de Lima, em Cascavel (CE) são exemplos. A agressão à Estefane Laudano, em Búzios (RJ), e a uma mulher grávida em São Gonçalo, também. Violência política não é democracia e precisa acabar. Basta!
A execução de Marielle Franco, em 14 de março de 2018, é a expressão máxima violência da política. Mulheres são especialmente atingidas, sendo vítimas desde assédio e ameaças até atentados, como mostrou uma pesquisa realizada pelo Instituto Marielle Franco em 2020. Das 142 lideranças políticas ouvidas, 78,1% das candidatas negras relatou ter sofrido algum tipo de violência virtual (ofensas, ameaças e envio de nudes), além de fake news (5,4%), assédio e outros abusos.
Nas eleições daquele ano, foram registrados 362 casos de violência política direcionada a pessoas candidatas, segundo relatório da Missão de Observação Eleitoral da Organização dos Estados Americanos (OEA). Hoje, a situação não está melhor. Candidatas mulheres ainda são vítimas de ameaças e atentados e sofrem perseguição de milícias digitais que reproduzem as ofensas de Bolsonaro às mulheres, como reportou o coletivo AzMina. São vítimas, também, de desrespeito à lei eleitoral, já que nova partidos não repassaram o fundo mínimo a candidatas esse ano, como determina o TSE.
A violência política ameaça a democracia e pode vitimar qualquer pessoa
Candidatos são vítimas constantes de ameaças, em diferentes níveis de gravidade. O ex-presidente Lula é alvo recorrente de ameaças bolsonaristas. A Justiça paulista determinou a apreensão do celular de um morador de Catanduva, no interior de São Paulo, suspeito de ser o responsável por ameaças de morte feitas ao ex-presidente nos meses de março e abril deste ano. É importante, mas é pouco.
Não apenas candidatos e parlamentares são vítimas desse tipo de violência e ameaças, comuns em regimes fascistas.
A mídia tradicional erra quando chama da “polarização” um cenário no qual os bolsonaristas matam e os militantes da esquerda morrem. Isso não é polarização, é barbárie.
O Brasil já é o quarto país do mundo que mais mata ativistas ambientais, segundo a Global Witness. A ambientalista e ativista indígena Txai Suruí não está errada ao dizer: “Floresta em pé, fascismo no chão”.
Estamos a poucos dias das eleições mais importantes das últimas décadas. No dia 10 de julho, o guarda municipal e tesoureiro do PT em Foz do Iguaçu, Marcelo Arruda, foi assassinado a tiros em sua festa de aniversário por um bolsonarista. O crime comoveu o país e aumentou o alerta para a violência política e representa tudo o que não queremos para o país.
Muitas vezes, as vítimas dos crimes cruéis de violência política são pessoas pobres, cujas mortes geram menos espanto e mobilização social. Morador da área rural da cidade matogrossense de Confresa, Benedito Cardoso dos Santos, apoiador de Lula, foi assassinado brutalmente a facadas e machadada, após uma discussão política com um colega de trabalho bolsonarista, no dia 7 de setembro deste ano.
A revista Fórum listou diversos casos semelhantes desse tipo de crime, desde 2018, com o assassinato de Mestre Moa do Katendê.
No último mês, a sequência de novos casos confirma que já passou da hora de darmos um basta na violência política. O caseiro de sítio Antônio Carlos Silva de Lima foi morto em um bar em Cascavel, no Ceará, após dizer que votaria no ex-presidente, no sábado (24). O assassino havia entrado no local e perguntado quem iria votar em Lula. Ao responder, levou uma facada fatal na costela.
Um dia antes, na sexta-feira (23), Estefane Laudano foi agredida com uma paulada na cabeça em um bar em Angra dos Reis, no Rio de Janeiro, ao tentar apartar uma briga após um bolsonarista ter insultado o grupo de Estefane e, sendo expulso do local, retornar com o pedaço de madeira para agredir os militantes petistas.
Na segunda-feira (26), uma mulher grávida foi vítima de agressões de bolsonaristas e, ao cair no chão, foi atendida e levada para atendimento médico. O agressor gritou “aqui é guerra”. Não é. Aqui é democracia. Como a presidente do PT Gleisi Hoffmann afirmou em nota sobre o ocorrido, “Bolsonaro incentiva a violência mas não vamos cair nessa”.
Não vamos. Temos uma eleição para vencer e um país para reconstruir.