Data reconhecida pela ONU, 2 de novembro marca o Dia Internacional pelo Fim da Impunidade dos Crimes contra Jornalistas. No Brasil, a liberdade de imprensa está cada vez mais ameaçada, segundo atestam relatórios internacionais: sob Bolsonaro, o Brasil tornou-se um país de liberdade de expressão restrita e, apenas em 2020, foram 464 ataques diretos de Bolsonaro (e seus ministros) a jornalistas. A participação de Bolsonaro no encontro de líderes do G20 também foi marcada por agressões a jornalistas por parte do presidente brasileiro e de sua comitiva. O presidente deu mais demonstrações de sua incompetência e de seu isolamento e decidiu repetir o que já fez tantas vezes: atacar o mensageiro.
Enquanto outros líderes davam entrevistas coletivas, Bolsonaro foi fazer o que sabe de melhor: se encontrar com apoiadores próximo à embaixada brasileira, no centro do Roma. O presidente, repetindo o que faz aqui no Brasil, tratou os jornalistas com grosseria, e seus seguranças usaram violência contra quem tentou fazer perguntas.
O correspondente da Globo, Leonardo Monteiro, recebeu um soco no estômago foi empurrado com violência ao questionar por que o presidente não participou de alguns eventos do G20. Antes disso, Bolsonaro perguntou “É a Globo? Você não tem vergonha na cara…”.
Jamil Chade, repórter do UOL, movimentou as redes sociais ao filmar a violência contra os colegas e postar no Twitter, tentando identificar o agressor. Mas ele também foi reprimido com violência por um segurança, que torceu seu braço e levou seu celular. Não é possível identificar se os agressores são policiais ou seguranças particulares.
Vale frisar que Chade tem coberto a mposição internacional de Bolsonado ao mandatário brasileiro no encontro do G20, e não sem razão. Ele contou aos brasileiros sobre a posição lamentável de isolamento de Jair. No Twitter, publicou “Mundo oferece a Bolsonaro mesmo tratamento dado a ditadores e párias”. A forma como tratou os jornalistas faz acreditar que o mundo está certo.
Antes desse infeliz encontro, a jornalista Ana Estela de Sousa Pinto, da Folha de S. Paulo, foi empurrada diversas vezes e orientada a se afastar do local. A ação foi conduzida por seguranças e policiais italianos.
Jamil Chade, junto a outros repórteres agredidos, formalizaram uma denúncia, em Roma, pela agressão sofrida. “Em 21 anos como correspondente, foram 70 países e vários presidentes. Mas violência em cúpula foi a primeira vez”, disse em seu perfil no Twitter.
Nem o Itamaraty e nem a Secretaria de Comunicação da Presidência deram qualquer resposta sobre o ocorrido. Mas isso também não surpreende. Bolsonaro, como líder autoritário que é, nunca escondeu seu ranço pela imprensa séria e comprometida com a verdade. O presidente governa por meio de fake news espalhadas pelas redes sociais. A imprensa é um entrave ao seu governo de mentiras.
Para além disso, a polícia italiana partiu para a violência contra manifestantes contrários a Bolsonaro durante sua passagem por Pádua, na Itália. Policiais usaram jatos d’agua e cassetetes contra o grupo que protestava. Ao menos uma mulher foi presa.
A Federação Nacional dos Jornalistas (FENAJ), maior representação da categoria no Brasil, condenou a ação. Disse que o comportamento de Bolsonaro “caracteriza uma institucionalização da violência contra jornalistas, que significa um atentado à liberdade de imprensa e, portanto, à democracia”. Apontou também que, “ao agredir jornalistas e ao permitir que seus auxiliares também o façam, o presidente comete um crime e deve ser responsabilizado por isso”.
Brasil: país de liberdade de expressão restrita
O Relatório Global de Expressão 2021, elaborado pela organização internacional Artigo 10, concluiu que, além de mentiroso contumaz, Bolsonaro ataca a imprensa e sufoca a liberdade de expressão no Brasil.
Sob o seu governo, nosso País tem liberdade expressão restrita, ficando abaixo de lugares como o Haiti, nesse quesito.
Somente em 2020, foram 464 ataques diretos a jornalistas feitos pelo presidente, ministros e assessores próximos. O Brasil é um dos países que mais apresentou queda no indicador de liberdade de expressão no mundo: passou de um dos países com maior pontuação, em 2010, para um país em crise de democracia e expressão.
E isso é confirmado pelo relatório de Variações da Democracia da Instituição V-Dem, ligado à Universidade de Gotemburgo, na Suécia. O documento aponta que o Brasil é um dos cinco países com maior declínio democrático no mundo.
Atualmente, o Brasil é considerado um país com liberdade de expressão restrita, em escala elaborada a partir de 25 indicadores. Nos governos do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva e do PT, o país era considerado lugar de livre liberdade de expressão, com 89 pontos em uma escala de 0 a 100. O cenário de restrição de liberdades vem sendo desenhado desde o golpe de 2016: em 2015, o índice era de 86. O golpe derrubou o número para 73, e as restrições vêm aumentando ainda mais sob a batuta autoritária de Bolsonaro. Em 2020, o índice foi de 52 pontos, uma queda de 37 pontos em 10 anos.
Informação é poder e tem tudo a ver com democracia e liberdade. Ao atacar a imprensa e os jornalistas, Jair não só desrespeita profissionais que estão exercendo seu direito ao trabalho, como coloca em risco a integridade física deles e o direito à informação de todos nós. Precisamos todos, como sociedade, estarmos atentos e fortes, contra esses arroubos autoritários. Os estômagos socados e braços torcidos também são nossos.