“Ô senhor policial, aqui, é por causa que aqui em casa não tem nada para a gente comer e eu tô com fome. Minha mãe só tem farinha e fubá para comer”, registra a transcrição do áudio de uma ligação feita à Polícia Militar em Santa Luzia, na região metropolitana de Belo Horizonte. Quem ligou foi um menino de apenas 11 anos que pediu ajuda ao ver a mãe chorar no canto. Um recorte doloroso e inaceitável de um país em que 3 a cada 10 pessoas sofrem de insegurança alimentar. Um país cujo presidente deixou o seu povo à míngua, na miséria, enquanto governa apenas para si e para os seus.
“Não tem justificativa ter 33 milhões de pessoas passando fome em um país que é o terceiro maior produtor de alimento do mundo. O maior produtor de proteína animal, as pessoas comendo carcaça de frango ou pegando osso em açougue. Qual é a explicação que num país desses uma criança vá dormir sem tomar um copo de leite?”, indigna-se o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva diante da calamidade em que se converteu o país sob a gestão de Jair Bolsonaro. O que aconteceu com o país que já deixou o Mapa da Fome, em que comer bem era um direito, e não um privilégio? Não há resposta que dê conta do tamanho da tragédia.
Ao receber o chamado, a PM suspeitou estar diante de um caso de maus tratos infantil. Encontrou o descaso de Bolsonaro. Ao chegar ao local, os agentes encontraram uma casa humilde, limpa e arrumada. Ali, estava uma mãe de cinco filhos, de 46 anos, que sobrevive de bicos e há três semanas não consegue comprar alimentos. A família passa fome, e há apenas água e fubá. Célia recebe o auxílio emergencial, mas acontece que só o auxílio não basta.
A notícia escancara, ao vivo e a cores, o que as estatísticas apontam em seus números frios. No Brasil, a fome tem rosto de mulher. A pobreza, o desemprego, a inflação dos alimentos, a violência e toda a ausência do Estado é sentida sempre primeiro pelas mulheres. São delas as lágrimas que primeiro correm quando a barriga da criança ronca e não há na geladeira o que dar de comer.
Comovidos com a situação, os policiais compraram cestas básicas e outros mantimentos para ajudar a família. Outras pessoas, segundo os veículos de imprensa, também estão se mobilizando para ajudar. O próprio 35º Batalhão da PM é um ponto de entrega de doações. Por algum tempo, os filhos de Célia terão o que comer. A pergunta é até quando.
Até quando o Brasil terá um governo sem qualquer sensibilidade social, um completo descaso para com a vida das pessoas? “Nós temos um presidente que não chorou uma lágrima por 640 mil pessoas que morreram de covid-19, não visitou um hospital. Não visitou uma UTI. Pelo contrário, enquanto as pessoas morriam ele desacreditava. Ele desacreditava nos cientistas brasileiros, nos laboratórios”, disse Lula em Contagem.
Pelas pessoas que estão desempregadas. Pelas pessoas que estão morrendo por falta de remédio. Pelas pessoas que querem viver, que querem comer de manhã, de tarde e à noite. Pelas pessoas que querem passear. Se você não sofrer por isso, o mundo está desgraçado.
Lula
Além do grande contingente de pessoas que não tem nada o que comer, o Brasil tem outras 105 milhões com alguma situação de insegurança alimentar, sem dinheiro para comprar as proteínas necessárias.
Pesquisa recente Datafolha mostrou que quase 70 da população mudou os hábitos para se adequar ao contexto de desemprego, empobrecimento e inflação alta. De um universo de 2.556 pessoas ouvidas em 183 cidades, 20% estão consumindo sobras de carnes, frango ou pele de frango, 61% buscaram marcas mais baratas e 29% compraram produtos perto da data de vencimento.
Situações como essa são inaceitáveis, e já se provou bem provado que a fome não é um fenômeno da natureza, é resultado de escolhas e decisões políticas que deliberadamente excluem uma parcela importante da população de ter acesso a direitos básicos.
O combate à fome deve ter tratado com prioridade e urgência. O povo brasileiro lembra de um passado não tão distante, quando Lula e Dilma eram presidentes, em que a fartura estava diretamente ligada à dignidade. Em que o Brasil saiu do Mapa da Fome, e em que cada mãe de família tinha o que dar de comer a seus filhos. E o povo brasileiro quer esse passado de volta. Poder fazer um churrasco, uma feijoada ou uma bela refeição em família não é motivo para ostentação de alguns poucos, mas direito constitucional de todos e todas.
Não faz sentido o presidente que não trabalha e gasta milhões em dinheiro público lavar as mãos frente ao sofrimento do povo, que passa fome e não tem como fechar as contas do mês. O Brasil não aguenta mais o descaso de Bolsonaro.